"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sábado, 30 de abril de 2011

A família e seus significados 1

Mandy Lynne

1ª parte, na íntegra, da entrevista de Cintia Liana, cedida ao Diário de Pernambuco

Qual a importância da família para uma pessoa?
A família é a principal fonte de afeto e cuidados, fornece base para o contato com o mundo, ela fortalece e ensina. No futuro, o comportamento do jovem dependará, em boa parte, deste contato saudável com as primeiras figuras de apego, assim como será o reflexo do funcionamento do lar, esse funcionamento pode ser saudável ou adoecido. Depende como os pais se comportam, dos padrões familiares, intergeracionais. Se deve buscar crescer emocionalmente antes de se ter um filho e não se tornar pai e mãe com o objetivo de se transformar num adulto, um filho não merece esse fardo, de nascer para fazer um outro crescer.

Uma família tradicional, formada por pai, mãe e irmãos, seria a ideal?
" O modelo de família conjugal, homem, mulher e filhos biológicos, difundido e imposto como o ideal não é o real, o mais forte e nem o principal modelo existente, nem hoje, nem no passado. Havia uma época em que as mulheres eram as chefes de família, separadas, trabalhavam dentro e fora de casa, mas mesmo assim, a literatura da elite dominante insiste em dizer que eram famílias chefiadas e sustentadas por seus homens, neste sentido, tudo indica que os homens também fizeram um pacto de poder." (SILVA, 2011, p. 43)

"De acordo com Corrêa (1981), não seria possível a predominação de um só modelo familiar na sociedade brasileira, tendo em vista a riqueza dos processos sociais, econômicos, políticos e diferentes áreas de ocupação e momentos na história. É um grave equívoco colocar um modelo de família numa obra literária como um modelo absoluto. Dizer que o modelo patriarcal de família era o mais comum entre todas as pessoas não é só negar os fatos históricos, é também esconder a verdade e, mais que isso, é contribuir para uma marginalização das outras formas de família." (apud SILVA, 2011, p. 43 e 44)

Filhos adotados por casais gays poderiam apresentar problemas futuros ou isso é mito?
É um grande mito. As pesquisas mostram que filhos adotados e filhos de homossexuais não têm mais problemas ou dificuldades que os outros. O que gera problemas é o abandono, a rejeição, a indiferença, a falta de compreenção, de amor e isso é algo que vemos também nos lares constituídos por pais biológicos e heterossexuais.

"Quando um filho de pais biológicos comete um crime, ninguém aponta e diz que é porque ele é filho biológico, mas se ele foi adotado o fazem. Nos dois casos ninguém  vai investigar as causas daquele desequilíbrio. Vivemos em uma sociedade onde o mais fácil é rotular e encontrar culpados e não sabedoria para seguir por um caminho desvendando a subjetivdade. As pessoas têm preguiça de olhar para dentro. Quando olhamos para dentro com verdade, lidamos melhor com quem está fora, com o mundo.
Se as pessoas enfrentam os preconceitos, as outras ganham força para se mostrarem e é isso que ocorre hoje, a homossexualidade não é algo novo, nem surgiu no século passado e a adoção é uma prática milenar, as outras conquistas vêem com a evolução da ciência. O que ocorre hoje é que se tem uma maior liberdade para mostrar o que sempre existiu." (apud SILVA, 2011, p. 45)

"Algumas escolas estão acompanhando esta evolução, isso tem que acontecer porque as pessoas estão se mostrando, se arriscando, exigindo respeito e serem ouvidas, elas querem o seu espaço merecido. As escolas que não o fizeram estarão atrasadas e farão como muitos outros grupos, esconderão o que é socialmente menos aceito embaixo do tapete. Como não falar de adoção e homossexualidade nas escolas? Medo? Falta de preparo? Então vamos estudar e nos abrir para o novo! Como não incluir os pais neste discurso? O peso do segredo só traz incômodo, ignorância, intolerância e mais preconceitos."  (apud SILVA, 2011, p. 45)

Como manter a união familiar, seja ela qual for?
Olhando para a necessidade de construção de conhecimento e não de manutenção de preconceitos. É preciso diálogo com sinceridade, transparência e se trabalhar o orgulho, lançando mão de uma terapia famíliar, se necessário.
O autoconhecimento é fundamental e proporciona uma base muito forte para enfrentar e vida e lidar com o mundo. Conhecendo a si mesmo se tem como fazer progressos, melhorar a própria realidade e se educar, como isso o relacionamento com os outros muda também e tudo fica mais fácil. Educar a si mesmo é difícil, por isso se cobra sempre mais do outro. As respostas estão dentro de nós, nós somos os responssáveis pala vida que temos e o que faz ela mudar é a tomada de consciência aliada a atitude.

Referência:
SILVA, Cintia Liana Reis de. Filhos da Esperança: Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos. Agbook: Rio de Janeiro, 2011.


Por Cintia Liana

sexta-feira, 29 de abril de 2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Família tenta na Justiça guarda de criança que foi abandonada pela mãe

Mandy Lynne

Casal, que perdeu dois filhos, começou a cuidar da criança que agora foi levada para abrigo

27/04/2011

Uma família está apreensiva em Alfenas. Uma mulher que teve uma criança no mês passado, resolveu entregá-la direto para um casal, sem passar pela Justiça. A nova família da criança logo entrou com a documentação pedindo a guarda definitiva do bebê, mas agora uma decisão encaminhou o recém-nascido Luiz Otávio para um abrigo.

O promotor Marcelo Fernandes dos Santos entendeu que o casal não poderia ficar com a criança, por ter desrespeitado a Lei de Adoção, determinada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O promotor pediu que o bebê fosse imediatamente retirado da família e a juíza Adriana Freire Diniz Garcia, expediu um mandado de busca e apreensão determinando que a criança fosse levada para o abrigo. Ainda segundo a promotoria, a criança será encaminhada normalmente para a adoção, que já possui cerca de 100 casais na lista de espera. Segundo o promotor, o casal ficou com a criança sem o consentimento da Justiça e agora eles não têm o direito de requerer a guarda da criança.

A advogada do casal informou que vai recorrer em Belo Horizonte. Ela pretende usar como argumento o fato da mãe biológica do menino ter assinado um documento manifestando a vontade de que a criança ficasse aos cuidados do casal Fagner e Gisele. Ela também acredita que o abrigo não é um local adequado para o menino. Já a promotoria diz que o lugar tem totais condições de cuidar das crianças até que elas sejam adotadas.

O casal Fágner e Gisele já perdeu dois filhos. Um viveu no hospital por pouco mais de um ano, antes de morrer. O outro, nasceu em dezembro do ano passado, mas não completou um dia de vida. Luiz Otávio chegou na casa deles com quatro dias de vida e foi tratado como filho legítimo. O bebê inclusive estava sendo amamentado pela nova mãe, Gisele.

Fonte e para assistir o vídeo:


Postado Por Cintia Liana

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Araranguá tem primeira adoção por casal homossexual

Mandy Lynne

18/04/2011

Uma criança de Araranguá é a primeira do Sul do Estado a ter sua certidão de nascimento registrada por duas mulheres graças a uma sentença judicial. Criança, hoje com dois anos, foi adotada pela companheira de sua mãe biológica. Decisão, divulgada esta semana pela Justiça de Santa Catarina, foi tomada pela magistrada Débora Driwin Rigger Zanini. Ela reconheceu o direito da autora depois de ficar comprovada a união da autora com a mãe da criança, em convivência harmônica e pacífica, comprovada por estudo social. As duas mulheres se conhecem e mantém uma relaçã estável desde 2008. Em 2009, a criança nasceu e a autora do processo assistiu toda a gravidez, e prestou auxílio moral e financeiro.

Na sentença, a juiza destaca que "não se pode fechar os olhos para aquilo que acontece em nossa volta, sendo certo que a união homoafetiva é algo público e notório, sendo cada vez mais presente no meio social. Por isso, deve merecer a tutela jurídica, semelhante ao que ocorre com os casais heterossexuais".

Disse ainda que, considerou necessário sepultar "velhos direitos, dotados de matriz preconceituosa", para reconhecer ao casal homossexual os mesmos direitos de qualquer casal heterossexual, em homenagem ao princípio da dignidade humana.



O nosso parabéns à juíza!

Postado Por Cintia Liana

sábado, 23 de abril de 2011

A psicóloga Cintia Liana publica seu primeiro livro

Foto: Capa do primeiro livro da psicóloga Cintia Liana

Queridos amigos e leitores, é com muita alegria que venho anunciar a publicação do meu primeiro livro, editado pela Agbook.

"Filhos da Esperança"
Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos
Por: Cintia Liana Reis de Silva
A psicóloga Cintia Liana, que atua na área de família e adoção desde 2002, já foi perita de uma vara da Infância no Brasil e hoje atua na Itália com adoção internacional, escreve sobre os caminhos da adoção no Brasil, a forma de avaliar os candidatos à adoção e a situação de abandono das crianças, com um olhar crítico e preocupado.
A autora também nos traz a reflexão dos aspectos antropológicos e subjetivos no processo de construção da família, da adaptação do filho adotivo, da revelação da adoção, postura diante da história da criança e sua família de origem, assim como outros pontos importantes deste universo a serem descobertos pelo leitor.
Ela utiliza o pensamento sistêmico como base.
Se trata de um excelente guia de reflexão e amadurecimento não só para quem deseja ter um filho através da adoção e para quem já adotou, mas também para profissionais e estudantes interessados na area, que queiram entender, se atualizar e se aprofundar neste cenário.

Para comprar on line ou visualisar as primeiras 15 páginas, acesse o link:
http://www.agbook.com.br/book/43553--Filhos_da_Esperanca

Foto: Capa completa do primeiro livro da psicóloga Cintia Liana
pela Editora Agbook, Brasil


Por Cintia Liana

Família é prato difícil de preparar

Foto: Gloria's Little Cedars

De "O Arroz de Palma", de Francisco Azevedo

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.

E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.

Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.

Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.

O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é a Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.

Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.


Postado Por Cintia Liana

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Uma tragédia dentro da outra

Foto. Elena Kalis

Por Guilherme Lima Moura

Uma tragédia sem precedentes na história e na alma brasileira. O terrível episódio ocorrido recentemente na escola do Rio de Janeiro traz-nos a todos, imediatamente, um forte sentimento de consternação e compaixão pelo sofrimento de tantos. Nota-se, porém, que um evento como este produz, além de comoção, uma desenfreada busca por explicações e, quase sempre, por culpados. Diante dele, intensificamos nosso raciocínio e construímos nosso discurso com base na expressão linguístico-lógica mais representativa da razão humana: “é por causa de”. Usamos esta sentença para exercer nossa mais intrínseca e distintiva condição humana: a possibilidade de entendermos nós mesmos e o mundo. Não obstante, nem sempre produzimos este exercício de entendimento adequadamente. É quando explicações apressadas surgem aqui e ali; associações de causa e efeito infundadas são precipitadas a esmo; preconceitos infelizes são disseminados. Passa a existir, a partir de então, uma tragédia dentro da outra. A silenciosa tragédia do preconceito. É o que tem ocorrido quase subliminarmente, embora insistentemente, na descrição apresentada na mídia sobre o infeliz autor da tragédia de Realengo: “ele é filho adotivo”. A ênfase dada à condição de filho por adoção, em meio a tantas outras que poderiam ser informadas, deixa no ar um “é por causa de” que sugere a associação entre a filiação adotiva e a criminalidade, os distúrbios psicóticos, a maldade. Na esteira do preconceito, propagam-se nos círculos de convivência por todo canto esta infeliz e infundada conclusão. Filhos e pais adotivos e, sobretudo, candidatos a pais adotivos escutam admoestações pseudo-amigas: “Tá vendo?! Ele é adotado!”, vivenciando constrangimentos lamentáveis. Mas por que tal conclusão é infundada? Por que ela representa um mau uso do “é por causa de”? Porque não possui base racional em nenhuma dimensão lógica ou científica. Porque não se fundamenta em evidência estatística alguma. Porque fere mesmo o senso comum e o bom senso. Tal associação causal entre a especificidade do “fazer-se filho” e o ato criminoso não resiste à lógica. Torna-se preciso aprofundar a reflexão em busca de explicações cabíveis, evitando-se a preguiçosa prática da definição preconceituosa. Se fizermos um levantamento entre malfeitores de todos os tipos, certamente encontraremos poucos casos de adoção, por uma questão estatística: a filiação biológica tradicional corresponde à esmagadora maioria dos casos de filiação. Mas se mudarmos nossa busca e investigarmos quantos daqueles criminosos sofreram algum tipo de abandono afetivo, certamente chegaremos a números assombrosos, embora não surpreendentes. A atitude adotiva consiste no estabelecimento de uma relação de profundo afeto, que inclui o outro na relação como ele se apresenta. Que respeita a diversidade e não se prende a estereótipos e preconceitos. É justamente no abandono afetivo (ocorra ele entre pais e filhos biológicos ou adotivos, ou nos hoje famosos casos de bullying nas escolas) que residem muitas das causas das aflições humanas. O abandono afetivo é a mais cruel forma de relacionar-se com o outro. Pensemos nisso antes de buscarmos explicações para os fatos que nos assombram: em que níveis de falta de adoção, ou seja, de abandono afetivo estamos construindo nossas relações sociais? Eis um “é por causa de” que a vale a pena considerarmos...

*Guilherme Lima Moura é professor da UFPE, pai adotivo e integrante do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção do Recife (GEAD-Recife).


Postado Por Cintia Liana

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Bebê é encontrado no lixo em Praia Grande (SP)

Quarta-feira, 20/04/2011

Bebê de 10 dias é deixado em caçamba de lixo na Praia Grande, SP
SÃO PAULO - Um bebê de apenas 10 dias foi achado em uma sacola plástica, dentro de uma caçamba de lixo na Praia Grande, litoral paulista. A criança foi achada por acaso na caçamba, instalada na frente de uma escola, por um catador de lixo. O homem pediu ajuda na escola para socorrer o bebê, que passa bem e foi encaminhado a um hospital do município. A polícia tenta identificar a mãe da criança.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Jurista defende que indiazinha seja adotada

Foto: Google Imagens

Terça-feira, 12/04/2011

A adoção deve ser a melhor maneira de evitar que a pequena Yiy`y, uma criança indígena da etnia Arauweté vítima de maus-tratos pelos próprios pais, tenha sua saúde ainda mais prejudicada. De acordo com o jurista Zeno Veloso, a justiça brasileira deve tomar uma atitude em prol da defesa da criança. “Nesse caso, apesar de haver um conflito de direitos (direito do índio que está dentro do seu meio cultural e da criança que está sendo vítima de violência), é possível que a criança seja retirada dessa comunidade e destinada à adoção, com a orientação da Fundação Nacional do Índio (Funai)”, explicou.

Veloso esclareceu, ainda, que os indígenas brasileiros que não estão inseridos na chamada “civilização” são considerados incapazes, ou seja, não possuem capacidade civil nem penal e precisam viver sob regime tutelar. “Essa situação faz com que apareçam alguns problemas porque às vezes esses índios acabam por frequentar alguns espaços dos chamados ‘brancos’. E então passa a existir um conflito, um choque cultural”, disse. No caso da pequena Yiy`y, trata-se de índios que vivem em vias de integração, ou seja, não são totalmente isolados.

Perto de completar quatro anos de idade, a menina veio de Altamira, onde fica a aldeia indígena onde vive com os pais. A criança apresentava sinais de maus-tratos e desnutrição grave. Segundo a diretora-chefe da Casa do Índio de Belém, Doris Elenice Oliveira Souza, ela sofre maus-tratos há bastante tempo pelos seus pais, talvez pelo fato de ser portadora de um distúrbio de crescimento que a mantém com idade óssea muito inferior à da idade real.



Postado Por Cintia Liana

domingo, 17 de abril de 2011

Juizado da infância implanta projeto "Caminho Legal da Adoção"

Foto: Mandy Lynne

Com a finalidade de orientar e esclarecer os usuários e profissionais da saúde sobre os procedimentos da adoção e os riscos que permeiam o assédio às mães que desejam doar seus filhos a terceiros, o Juizado da Infância e Juventude da comarca de Porto Velho, por meio da Seção de Colocação Familiar, criou o Projeto Caminho Legal da Adoção.

O projeto pretende estimular a busca por inscrição cadastral dos pretensos pais adotivos, a fim de que se diminua o índice de adoções prontas ou vinculadas (aquelas em que são regularizadas depois que as crianças já estão com os pais adotivos) possibilitando assim, que os habilitados concretizem o processo de adoção conforme ordem do Cadastro Nacional de Adoção, dentro de um menor tempo de espera. Registrar uma criança como filho biológico sem o ser caracteriza crime de falsidade ideológica.

Além disso, por meio do projeto, o setor faz palestras educativas, promove oficinas, fóruns de debates (com a participação de um facilitador/palestrante), elabora e distribui material informativo (folders, cartilhas, banners, cartazes) sobre a temática da adoção ilegal e a lei da adoção nas unidades de saúde materno-infantil e planejamento familiar públicas e privadas, localizadas no município de Porto Velho. As ações são realizadas em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, com a participação de agentes comunitários de saúde e outros profissionais envolvidos no atendimento à crianças e adolescentes.

Experiência positiva

A primeira etapa do projeto foi realizada em março com os profissionais da Maternidade Municipal Mãe Esperança, em Porto Velho, e o resultado, segundo a avaliação dos participantes foi satisfatória, pois proporcionou maior esclarecimento sobre os caminhos a serem seguidos nas situações em que as mães não querem ou não podem ficar com seus filhos. Os próximos encontros ocorrerão nos meses de abril, maio e junho. Envolverão as policlínicas e os postos de saúde do município de Porto Velho.

De acordo com os profissionais da Seção de Colocação Familiar do Juizado, a previsão é de que em 2011 sejam realizados outros 19 workshops, sendo 18 direcionados aos servidores das unidades de saúde do município e 01 para os técnicos do Hospital de Base Ary Pinheiro. Ainda segundo os responsáveis pelo projeto, está previsto um Seminário com a mesma temática, que contará com a participação de profissionais de outros estados com boas experiências nessa área de Adoção. O evento será aberto a todos os profissionais da rede pública e privada de saúde e áreas afins.



Postado Por Cintia Liana

sábado, 16 de abril de 2011

Na filiação adotiva a realidade é outra

Foto: Débora Secco. Google Imagens.

Por Paulo Wanzeller

Depois que escrevi o texto sobre a tragédia no Rio de Janeiro, muitas pessoas me escreveram expressando opiniões, concordando, elogiando, percebi o quanto é bom colocar para fora algo que está preso; uma fala que poderia ser de muitas pessoas, até dizer o que muitos gostariam de ter dito; e que também dizem, quando repassam um texto uma opinião etc. Um desses contatos foi de uma amiga que me chamou a atenção especialmente. Refleti sobre o que ela escreveu e resolvi dividir ...

Não é por falso puritanismo, mas não tinha assistido ao filme “O doce veneno do escorpião”, para quem não sabe é o já “famoso” filme “Bruna Surfistinha”. Logicamente dei um jeito e assisti ao tal filme. Não recomendo. Poupem-se. Não será possível dizer: “a Débora Secco dá um show de atuação”, absolutamente, nada há de novo na miséria humana, no sentido da degradação social, se abrirmos os jornais está tudo lá, álcool, drogas, prostituição, desrespeito e tudo que envolve o submundo. Mas o que tem isso a ver? Nada! O fato é que o filme trás a mensagem subliminar de que a filha adotada, apesar de todas as condições econômicas, sociais e familiares, não se sentia no contexto daquela família, ela não se sentia parte, por isso procurou e encontrou o seu “caminho”. Alguns dirão: “ora mas é a história dela”, “ela foi realmente adotada” e ela “viveu tudo aquilo”. Com certeza ela, a Raquel, já que a Bruna é um cognome, nem se dá conta de que a mensagem negativa está lá. Com certeza os produtores estão “pouco se lixando” se as famílias formadas a partir da adoção se incomodam com mensagens negativas ligadas à adoção. Não interessa a eles. Tudo bem, este texto não é para quem não se importa, mas a nós interessa, e muito. Porque a filiação adotiva é sim especial. E é especial porque se tem como filho alguém que não se liga pelos laços da consanguinidade e nós vivemos em uma sociedade que se importa com a pseudo normose social. O parentesco por adoção se forma sem o envolvimento sexual de quem se torna o pai/mãe e pressupõe uma escolha íntima e não são raras as vezes envolvem perdas, luto e talvez uma consciência de fragilidade. Ora, se é assim, formada a filiação, e estruturada a família, não se espantem os críticos se “descobrirem” que os pais por adoção possuem igualmente um instinto de preservação da prole tão forte quanto os formados a partir da função biológica. A adoção precisa ser explicada aos filhos, é preciso dizer-lhes que a adoção é um ato de amor e que pelo amor o parentesco se desenvolve e se solidifica. Se é impossível preservar os filhos, eles precisam ser orientados. Não se pode calar diante de estereótipos sobre a adoção e silenciar diante dos filhos. São eles, e não os pais o principal alvo das distorções a todo instante nos diversos acontecimentos, por vezes até naturais da vida. Uma coisa é certa, estes exemplos não servem para educar, ao contrário, reforçam um preconceito que há muito vem sendo combatido e que hoje já se percebe menos explicitado.

Aos pais e mães por adoção, não se intimidem diante de exemplos negativos, é preciso estar atento e saber dizer aos filhos que a ficção é produto de uma imaginação, nem sempre criativa e que uma realidade não determina a outra; tais exemplos não servem para direcionar em uma família que tem no amor o principal argumento.

Texto do querido amigo e  companheiro de luta pela "cultura da adoção" Paulo Wanzeller.


Postado Por Cintia Liana

Congresso Internacional da INFAD em Roma, Itália

Foto: Cintia Liana no Congresso Internacional da INFAD em Roma, Itália

Caríssimos leitores,
quero pedir desculpas por não ter escrito e nem programado textos para esta semana. Eu estava participando do Congresso Internacional da INFAD em Roma, aqui na Itália, que por sinal teve assuntos muito interessantes na área de família, infância, adolescência, educação, escola e adoção.
Participaram prifissionais da Espanha, Portugal, Brasil, México e Itália.
Depois venho aqui contar mais sobre o evento.

Um abraço.

Por Cintia Liana

domingo, 10 de abril de 2011

Ser adotivo, é essa a questão?

Foto: Google Imagens

Por Paulo Wanzelleer

Há que se ter coerência na vida!
Uma das coisas mais difíceis é a construção de um novo conceito, seja social ou científico no sentido essencialmente pedagógico. Modificar conceitos; criar novos padrões de comportamento; educar as pessoas dá trabalho, são lutas, movimentos sociais, batalhas silenciosas, até mesmo uma revolução ou tragédia pode modificar um conceito ou uma postura. Os fenômenos sociais estão aí mesmo para provar isso, hoje percebemos que o que antes era apenas “tirar onda” “apelidar” “xingar dando risada” ou mesmo um “zoar com o outro”, hoje, chamamos de bullyng; um novo conceito se formou, veio à tona que humilhar o outro é uma forma cruel de agressão que precisa ser estudada, precisa ser esclarecida a ponto de ser realmente percebida ao menor sinal e precisa, principalmente ser coibida. Mas o que é efetivamente o bullyng? Precisa ter ou atingir efetivamente pessoa certa e determinada? Precisa ser concretizada a certa pessoa? ou a indução psicológica também é bullyng? E as ofensas indiretas, aquelas ditas de “soslaio” também se enquadram neste conceito? Ressaltar esta ou aquela característica de uma pessoa de forma negativa generalizando a peculiaridade é bullyng? É aí que está a sutileza do bullyng indireto.

O Brasil perplexo desde ontem, um desequilibrado psicológica e emocionalmente, digno de misericórdia, é autor de uma das mais terríveis tragédias que o Brasil já teve notícia. E, ele, o autor, imaginem, não foi criado pela mãe biológica, diz a imprensa sensacionalista, ele era FILHO ADOTIVO! Ele FOI ADOTADO quando ainda era um bebê!

Quando é para falar de bullyng, de humilhações entre adolescentes a imprensa vibra, rodas de jornalistas, assistentes sociais, psicólogos, pedagogos são formados para discutir sobre o episódio, até aí está tudo certo. O que não se percebe e nem se dá conta é que generalizar, ressaltar a adoção de forma negativa, seja na imprensa, seja na mídia em geral, também é bullyng, e pior, é uma forma de disseminar uma espécie de bullyng social que sutilmente atinge muitas pessoas de forma generalizada, mas com a mesma crueldade que as situações concretamente postas nos exemplos atuais do bullyng.

É incoerente a imprensa dizer que a sociedade brasileira nunca foi tão aberta à adoção; que crescem os números de pais no Cadastro Nacional de Adoção diariamente, reportagens sobre os “abrigos”, crianças à espera de pais, preconceitos de adotantes quanto às características do futuro filho, tudo se fala buscando divinizar a adoção, chego a ver as lágrimas nos olhos de repórteres quando falam de adoção, mas, se um filho por adoção, comete uma barbaridade; pronto! O que a imprensa diz? ELE É ADOTADO, demoniza-se o instituto, sem se importar que, milhares de brasileiros são filhos por adoção e que durante muito tempo serão olhados como “portadores de genes” iguais aos do algoz de Realengo.

Precisamos nos manifestar, precisamos mostrar que os filhos adotados são milhares e que não estão no abismo do desequilíbrio psicológico motivados pelo processo de filiação, se abrirmos os jornais hoje, amanhã ou depois de amanhã, constataremos que crimes bárbaros não são peculiares da filiação adotiva, e que ser filho adotivo não é a força propulsora da indignidade, do desequilíbrio psicológico.
__________

Parabéns, Paulo!


Postado Por Cintia Liana

sábado, 9 de abril de 2011

Crianças: três adotadas, três rejeitadas

Foto: Google Imagens

Por Leda Nagle
Rio - Esta semana me encontrei com uma amiga que não via faz tempo. Não sei o tempo e, na verdade, nunca tive muita intimidade com ela. Do nada, começou a falar da vida dela, de como estava feliz aos 35 anos, vivendo há um ano uma nova experiência. Adotou três crianças. De 9, 7 e 6 anos. Os irmãos estavam num abrigo porque os pais perderam a guarda por conta do uso de drogas e abandono de incapaz. Enfim, crianças que até um ano atrás eram criadas pela vida, sem escola, sem carinho, assistindo a cenas de violência de toda sorte entre os pais.

Crianças que tinham até comportamento racista de tanto ouvir a mãe, nas brigas com o pai, chamá-lo aos gritos de preto nojento, quando ele bebia o pouco dinheiro da comida. Crianças do interior do Brasil que em apenas um ano de trabalho estão aprendendo a viver e a amar. A amiga está feliz com os filhos, aprendendo muito com eles, e as crianças, felizes com os pais, descobrindo outra vida com eles. Ela me conta ainda que repete, de certa forma, o que aprendeu com a avó que a criou, junto com outros netos, filhos e mais quem chegasse àquela casa simples, no interior do País. Fico feliz por ela e me vem à cabeça o caso das crianças de Curitiba, nascidas de inseminação artificial. Elas também são três, mas os pais só querem duas. Queriam deixar uma para adoção, o hospital onde elas nasceram reagiu, o conselho tutelar foi chamado e o caso está na Justiça. As crianças nasceram prematuras, o pai escolheu duas, pelo peso, depois trocou uma por outra, mas sempre considerando que só levaria duas.

O geneticista que fez a inseminação e trabalha nisso há 36 anos está chocado. A advogada do casal disse que eles se arrependeram. Funcionários do hospital dizem que eles nunca visitaram as meninas, a advogada dos pais alega que a mãe amamentou as três sem discriminá-las, há testemunhas que afirmam que, no quinto mês da gravidez, eles entraram na Justiça para só ficarem com duas das crianças. Avós maternos e paternos foram ouvidos. Já se sabe que o pai é nutricionista e a mãe, economista, e que ambos têm 30 anos e boa condição financeira. O casal pediu a guarda das crianças, baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente, que prioriza o vínculo familiar; a Justiça negou várias vezes. A advogada do casal diz que vai apelar à justiça internacional se não conseguir resolver a questão. E as crianças? Estão num abrigo, à espera da solução. Pobres crianças.

Fonte: O dia


Postado Por Cintia Liana

quarta-feira, 6 de abril de 2011

CNA ainda não agilizou adoções

Foto: Google Imagens

Desde 2008, só 425 crianças ganharam uma família por meio da ferramenta, média de uma a cada três dias. Muitos juízes não alimentam o banco de dados - 01/04/2011

Por Paola Carriel

Desde a criação do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), em abril de 2008, apenas 425 crianças em todo o país ganharam uma família por meio do sistema. O número, que corresponde, em média, a uma adoção a cada três dias, mostra que o cadastro ainda não cumpriu a promessa de agilizar adoções no país. O valor não representa o total de novas famílias porque a ferramenta ainda não é utilizada plenamente pelos juízes – o que deveria ser obrigatório – e ainda ocorrem procedimentos fora do CNA. Além disso, 44% das crianças inscritas desde 2008 deixaram o cadastro sem conseguir uma família.

Apesar do esforço do Conselho Nacional de Justiça (CJN), o cadastro ainda não conseguiu reunir todas as crianças aptas no país. Há estados, como Amapá e Piauí, sem nenhum menino ou menina no programa. Outros, como Acre, Tocantins e Roraima, têm menos de dez inscritos. Em Curitiba, por exemplo, há apenas 16 crianças no sistema, mas cerca de mil vivem nos abrigos da capital. Só está cadastrado quem já tem a situação jurídica definida, ou seja, quando o poder familiar já foi destituído e os pais biológicos não são mais responsáveis legalmente pelos filhos.

Essa situação mostra, na prática, que o Judiciário ainda é reticente em usar o programa. Segundo a nova Lei de Adoção, a utilização de cadastros nacionais e estaduais é obrigatória e o mesmo dizem resoluções do CNJ. Mas o baixo número de crianças inscritas, 4.427, mostra que o CNA ainda não emplacou nas comarcas brasileiras. Além disso, há o problema da superlotação dos abrigos e falta da destituição do poder familiar.

É possível que as 425 adoções realizadas por meio do sistema tenham ocorrido envolvendo pessoas de estados ou municípios diferentes, deixando os casos de pretendentes e crianças da mesma comarca fora das estatísticas. Em Curitiba, por exemplo, a prioridade é encaminhar as crianças para famílias que moram na cidade e elas acabam não entrando no cadastro.

Outro dado preocupante é que, das 8.598 crianças e adolescentes que já passaram pelo CNA, 3.784, ou cerca de 44%, deixaram o cadastro porque chegaram à maoridade sem encontrar uma família. Esse número representa 86% do total de cadastradas hoje, que é de 4,4 mil. Além dos 425 meninos e meninas já adotados, há 196 casos ainda em processo.

OPINIÕES
Na avaliação do juiz auxiliar da corregedoria do CNJ, Nicolau Lupianhes Neto, o número de adoções pelo CNA não é baixo quando se leva em conta as peculiaridades de cada estado. “O cadastro demandou um grande trabalho inicial que começa a mostrar os frutos agora”, afirma o juiz, que considera o CNA uma ferramenta importante para quem trabalha na área da infância e juventude por traçar um panorama sobre os garotos e garotas e possibilitar a criação de novas políticas públicas. Apesar da obrigatoriedade em se cadastrar os pretendentes e as crianças disponíveis para adoção, Lupianhes admite que isso ainda não acontece em todo o país. “Talvez isso ocorra ainda por uma falta de cultura de utilização da ferramenta”, diz.

Ele acredita que a tendência é o número de adoções realizadas pelo cadastro aumentar.
A presidente da Associação dos Grupos de Apoio à Adoção (Angaad), Maria Bárbara Toledo, afirma que o cadastro foi um avanço por introduzir uma uniformização. “Ele conseguiu uniformizar o procedimento em todo o país, e para isso alguém teve de fazer a lição de casa. Hoje a pessoa está habilitada em todo o território nacional e isso é positivo porque a legislação é uma só.”

Maria Bárbara questiona, no entanto, o fato de o CNJ ter decidido inserir no CNA apenas quem já teve o poder familiar destituído. “A luta do movimento é para que ao menos aquelas que já têm uma ação proposta também sejam incluídas”, afirma a presidente da Angaad, que considera positivo o número de 425 adoções desde a criação do cadastro. Ela lembra ainda que o CNA é um banco de dados que precisa ser alimentado, o que exige pessoas comprometidas, e que o cadastro é recente e alguns estados, que ainda estão se adaptando.

MÉDIA ANUAL DE CURITIBA É DE 150 ADOTADOS
Em Curitiba, o ritmo de adoções teve uma queda entre 2009 e 2010, devido a problemas burocráticos do Tribunal de Justiça, e passou de 160, em 2010, para 123 ano passado. Apesar disso, a capital manteve uma média de cerca de 150 adoções anuais. Agora juíza e a equipe técnica da 2.ª Vara da Infância, Juventude e Adoção se prepararam para tentar colocar os processos em dia. Um mutirão foi realizado para rever processos antigos e restaram 362.

O procedimento adotado na vara é oferecer as crianças em situação de adoção primeiro para os pretendentes da capital. Somente quando o garoto ou garota não se encaixa no perfil requerido por nenhum pretendente é feito o cadastro no CNA. O objetivo é possibilitar que o adotado permaneça no município de origem. Para a juíza Maria Lúcia de Paula Espíndola, a nova lei de adoção impactou na destituição do poder familiar, já que agora, além de procurar os pais, a Justiça deve questionar se a família extensa, como tios e avós, quer cuidar das crianças.

ABANDONO - 80 MIL AINDA PODEM ESTAR EM ABRIGOS
Além de ter dado mais transparência ao processo de adoção, o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) mostrou outro problema sobre a infância em situação de vulnerabilidade: o grande número de crianças esquecidas nos abrigos do país. Até hoje não existe um levantamento confiável sobre este dado, mas estimativas apontam que existem cerca de 80 mil meninos e meninas vivendo em abrigos. Eles acabam ficando em um limbo legal, já que não podem viver com a família biológica nem em uma família adotiva.

O abrigamento deveria ser uma medida excepcional, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas pesquisas mostram que muitas vezes isso ocorre por causa da pobreza dos pais. Os responsáveis por essa medida são, na maior parte dos casos, os conselheiros tutelares, mas eles devem sempre contar com o aval do Judiciário.

Esse “esquecimento” das crianças nos abrigos fez com que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criasse um segundo cadastro nacional, direcionado a identificar esses meninos e meninas, mas ele ainda foi totalmente implementado. Esse fator também contribui para o baixo número de garotos e garotas inscritos no CNA, já que as crianças continuam nos abrigos, mas o poder familiar dos pais não é destituído.

DESTITUIÇÃO
Manuela Teixeira de Melo, do grupo de apoio à adoção Quintal Casa de Ana, sediado no Rio de Janeiro, explica que a destituição do poder familiar também é uma decisão difícil para os magistrados, já que a criança perderá completamente o vínculo com os pais biológicos e haverá uma averbação na certidão de nascimento explicando a destituição. Quando há violência o processo é mais fácil, mas muitas vezes a família está envolta em problemas como uso de drogas e álcool e não necessariamente abandonou os filhos. Cortar em definitivo esses vínculos é algo que pode definir a vida dos garotos e garotas, já que a chance para os mais velhos de encontrar uma nova família é baixa.

PREFERÊNCIA É POR BRANCOS E SEM IRMÃOS
O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) ajudou a mostrar estatisticamente como o brasileiro é preconceituoso na hora de adotar. O perfil requerido pelos pretendentes mostra um descompasso em relação aos garotos e garotas disponíveis. Há exigência por crianças pequenas, brancas e sem irmãos, mas no CNA estão disponíveis crianças pardas ou negras e com irmãos.


Só em Curitiba, cerca de mil crianças vivem em abrigos à espera de uma família, mas só 16 estão inscritas no Cadastro Nacional de Adoção.


Postado Por Cintia Liana


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entrevista sobre motivações e perfil dos adotantes e adotados

Foto: Google Imagens

Entrevista para uma estudante da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

1- Qual é o perfil das pessoas que querem adotar crianças?
O perfil é bem amplo, mas podemos dizer que a maioria que adota, entrando com o pedido de habilitação, é composta de casais que têm entre os 30 e 45 anos de idade, pardos, com grau de instrução médio e superior completo ou incompleto.
Para adoções onde as pessoas querem legitimar uma situação de adoção afetiva já existente há anos, é composta de casais e de pessoas solteiras, negras, mulatas e pardas, sobretudo mulheres solteiras que criam um filho que lhe foi “doado”.

2- E qual o principal perfil das crianças a serem adotadas?
A grande procura é para crianças de até 1 ano, mas se encontram dificilmente crianças desta idade para adoção. Hoje em dia muitas pessoas adotam crianças maiores de 3 anos, pardas, de ambos os sexos.
Em Salvador a maioia das crianças é parda, mulata e negra, mas ainda as crianças de cor de pele mais claras são mais aceitas pois têm um tom de pele mais parecido com o dos adotantes, que querem que essa diferença não seja tão marcante entre eles, para que a adoção não se torne tão evidente aos olhos de todos, e que a revelação do vínculo seja uma opção e não uma declaração rotineira.

3- Quais são os principais motivos que levam à adoção ?
Para os adotantes é o desejo de se tornarem pais, somente, e isso acontece naturalmente e plenamente.
Para as crianças, o desejo e a necessidade existencial de terem uma família, de terem amparo, educação e, sobertudo, amor.

4- Há um número de pais pretendentes para adotar bem maior do que o número de crianças para adoção. Na sua avaliação, por que acontece isso?
Acontece porque os adotantes querem adotar crianças diferentes daquelas que estão aptas e disponíveis a serem adotadas, a maioria têm mais de 8 anos e uma parte delas tem algum problema de saúde mental.

5- O que dizer de quem opta por acolher um filho gerado em outra pessoa?
O que leva uma pessoa a adotar é o desejo de ter um filho, de amar e ser amado. Existem motivos que levam uma pessoa a optar por ter um filho adotivo, como infertilidade, sonho movido por motivos altruístas ou uma curciunstância que trouxe a criança para a convivência.
Quem chegou a ter esse desejo entende e sente que ao adotar se pode realizar a maternidade e paternidade em toda a sua plenitude, a criança será vista e sentida como filha, ela não será olhada como filho gerado por outro, ela será amada como gerada daquele amor construído diariamente, as particularidades advindas da realidade adotiva farão parte, mas não será o centro das questões, o amor será o essencial.

6- Na sua opinião, ainda há muitas barreiras psicológicas e sociais em relação a adoção?
Ainda há muitas, mas tenho que ressaltar com entusiasmos que já conquistamos muito espaço nas discussões, mídia, informações e apoio, assim como espaço social como o fortalecimento de instituições, grupos de apoio, encontros para discussões, leis e incentivos, e não irá parar por aqui, cada vez mais as pessoas verão e ouvirão assuntos relacionados a adoção, não só porque ela é necessária para a sociedade, mas porque é uma relação real.

7- Como é feito o trabalho com os pretendentes para adotar e a criança a ser adotada ?
Na Vara da Infância serão feitas as devidas avaliações sociais e psicológicas para subsidiar decisão do Juiz e os adotantes têm que passar por grupos de discussão antes de serem habilitados a adoção.



Por Cintia Liana

domingo, 3 de abril de 2011

Pais fazem inseminação artificial e rejeitam um dos bebês, diz médico

Foto: Google Imagens

01/04/2011 13h03 - Atualizado em 01/04/2011 19h15

Pais fizeram tratamento para o nascimento de dois bebês; nasceram três.
Após o nascimento, pai rejeitou 1 dos bebês; os três foram levados para abrigo.

Três meninas que nasceram por inseminação artificial foram levadas pelo Conselho Tutelar para um abrigo, em Curitiba, depois de serem rejeitadas pelo pai após o nascimento.

De acordo com o geneticista que implantou os embriões na paciente, Dr.Karan Abou Saad, o pai teria rejeitado uma das meninas porque esperava que o tratamento resultasse no nascimento de no máximo dois bebês. As crianças nasceram no dia 24 de janeiro deste ano. A maternidade não quis comentar o assunto.

O médico explicou que nos primeiros exames de gravidez os pais já sabiam que seriam três bebês, mas quando eles nasceram o pai se recusou a levar para casa a terceira criança. Ele foi impedido pelo hospital de levar somente duas crianças. A maternidade acionou o Ministério Público e uma liminar determinou que as três crianças fossem levadas para o Conselho Tutelar. O caso segue em segredo de justiça.

Em entrevista ao G1, Dr. Karan disse também que em 36 anos de profissão nunca tinha visto uma situação destas. "Pra mim é uma novidade, nunca vi um casal rejeitar um filho após um tratamento para engravidar", afirmou.

A advogada da família informou que os pais não querem comentar sobre o assunto porque o caso está em segredo de justiça.



Foto: Google Imagens

01/04/2011 19h14 - Atualizado em 01/04/2011 20h05

Tudo está sendo 'coisificado', diz psicóloga sobre abandono de bebê

Pais não quiseram levar um dos trigêmeos para casa, mas perderam todos.
O MP pediu à Justiça que os bebês fossem para o Conselho Tutelar.

Especialistas em comportamento ouvidos pelo G1 classificaram o abandono de um dos trigêmeos por um casal que esperava dois filhos como “tratar seres humanos como coisas” e “questão maquiavélica”.

Nascido no último dia 24 de janeiro, depois de um tratamento de fertilização, um dos três gêmeos teria sido rejeitado pelo pai – o homem queria deixar o bebê na maternidade, mas foi impedido. As informações são do médico responsável pelo tratamento, o geneticista Karan Abou Saad. Ele disse nunca ter visto algo assim em 36 anos de profissão.

A maternidade não quis se pronunciar sobre o assunto, mas foi a responsável em informar o Ministério Público. As três crianças, por determinação da Justiça, foram levadas pelo Conselho Tutelar. A ação está protegida pelo segredo de justiça.

A psicóloga Clodete Azzolin considera que essa rejeição “é fruto de uma sociedade movida pelo excesso de racionalidade, onde tudo está sendo coisificado, inclusive o ser humano”. Ela diz ainda que “agindo assim, o ser humano se afasta cada vez mais de sua natureza, comprometendo inclusive a manutenção dos instintos naturais”.

Ao explicar o que é “coisificar”, Clodete faz alusão à compra de vasos de flor para a sacada: “Se o entregador chega com três, tenho de mandar um de volta para a loja. Não tem espaço para três, só para dois”.

Nos 30 anos de profissão, o psicólogo Guilherme Falcão repete a história de Saad: “Nunca vi nada assim, nem parecido. Vi, na verdade, bem o contrário. O casal fez tratamento para engravidar, mas o bebê morreu ao nascer. Então eles adotaram duas crianças”.

Para ele, “a questão é muito mais de caráter do que de doença. (...) Mas de qualquer forma o Ministério Público tinha ainda que obrigar esses pais a um tratamento psicológico e psiquiátrico. (...) Alguém tinha que tentar descobrir que coisa é essa de ter obsessão em ter filhos, ao ponto de fazer um tratamento tão caro, e depois abandonar”.

Falcão ressalta que “ninguém sabe os detalhes da história, mas foi uma maneira de descartar um ser humano que não pediu para nascer. Se alguém pode sustentar dois [filhos], pode sustentar três”.

A advogada dos pais dos trigêmeos informou, por telefone, que o casal teria se arrependido e tentaria reaver a guarda das crianças na Justiça.



Postado Por Cintia Liana

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A mãe que pensa em doar o filho

Foto: Google Imagens

Hoje uma possível leitora escreveu um comentário em meu blog, que queria doar o filho dela para adoção, que ainda está na barriga, e pediu a minha ajuda.

Não divulguei o comentário, claro, e pedi ajuda a uma assistente social do TJ do Estado em que a mulher morava (vi pelo prefixo do telefone em que ela deixou para contato).

A assistente social ligou para ela e descobriu que é uma adolescente de 18 anos, com 1 mês de gravidez. Duas outras assistentes sociais do TJ da sua cidade lhe darão o devido atendimento e orientação. A menina grávida se sentiu aliviada por ter este amparo, talvez nem doe mais o filho.

Outra coisa, que isso vem mostrar e a falta de esclarecimento do povo, de não saber que é a Vara da Infância que tem que ser comunicada nesses casos, que filho não pode ser doado assim diretamente a ninguém. Isso deixa a criança e as pessoas envolvidas vulneráveis, a Justiça tem que estar conduzindo tudo, por mais burocrática que seja. 

De qualquer modo, entendo que ela deva ter se sentido protegida e deve ter confiado em mim para me escrever, isso me deixa feliz, significa que passo confiança. Fiquei comovida.

A menina não tem o apoio dos pais e estava assustada com a nova realidade, mas o mais interessante é que ela não pensou em aborto. Isso é legal, se ela não ficar com o filho, deve fazer alguma família feliz e a criança terá um futuro, mesmo sabendo de antemão que aborto e adoção não são "métodos anticoncepcionais".

É importante lembrar que as mães que "abandonam" ou "doam" fazem parte da classe menos vista e respeitada no "universo da adoção". Senti muita compaixão pela menina e quero que ela saiba que a respeito muito por qualquer escolha que faça e sei que fará com o coração. Ela ainda deve saber que muitas coisas podem mudar e esse filho pode fazer a vida dela tomar outra forma, outro rumo, que tudo pode acontecer de bom, mesmo enfrentando dificuldades.

Um abraço para você querida, que teu futuro e de teu filho sejam repletos de muita luz e muito obrigada pela confiança que depositou em mim. Espero que a tenha ajudado de algum modo.


Por Cintia Liana