"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

É preciso libertar as mães!

Texto e Foto capturados do Blog Mimami
Por Constança Ferreira
“É preciso libertar as mães das teorias. É preciso libertar as mães das tabelas com horas. Das aplicações de telemóvel que apitam a avisar que é hora do bebé comer. Ou de mudar a fralda. Ou de dormir. É preciso libertar as mães dos palpites e conselhos que as fragilizam. Dos “especialistas” e seus métodos “infalíveis”. De todos aqueles que paternalisticamente lhes dizem, ainda que mais ou menos subtilmente, que estão a fazer tudo mal.
É preciso libertar as mães da pressão de que têm que saber logo tudo. Ou que têm que acertar à primeira.
É preciso libertar as mães da ideia de que os seus bebés não sabem nada. De que precisam de ser orientados em tudo. De que os bebés não sabem o que é melhor para eles.
- Os bebés sabem sim o que é melhor para eles. E o melhor para eles em quase todas as situações é estar junto à mãe. Por isso o pedem.
– É preciso libertar as mães da ideia de que o bebé precisa de “aprender a dormir”. Ou a “autoconsolar-se”. Ou que é preciso incentivar o bebé a ser autónomo mal sai da barriga.
Sim, o bebé será autónomo um dia.
Provavelmente no dia em que deixará também de ser isso mesmo: um bebé.

(e esse tempo chega tantas vezes rápido demais)
Mas, para já, este é o tempo para estarem juntos. Os bebés humanos não são, por determinação biológica, autónomos. Eles precisam das mães.
- Há muitos motivos para ser assim. Entre eles conta-se a sobrevivência da espécie. Mas falaremos melhor sobre isso noutra ocasião.
Para já, é preciso dizer às mães que os bebés precisam delas porque é mesmo assim. Não porque a mãe esteja a fazer algo de errado. E é preciso libertar as mães do medo dos “vícios e das manhas” para que o colo que o bebé lhes pede não lhes pareça uma prisão.
É preciso libertar as mães de quem acha, mais ou menos dissimuladamente, que os bebés são pequenos seres manipuladores. É preciso libertar as mães da pressão “para não ceder”. É preciso libertar as mães da ideia de que um choro de fome é mais importante que um choro assustado que pede colo ou aconchego no meio da noite.
E é preciso.. não… é urgente libertar as mães da desconfiança para com os seus bebés.
Porque ninguém se apaixona desconfiando.

Porque no fundo, o que é preciso é libertar o coração das mães.
Só assim, sem medos nem reservas, o coração das mães poderá ser tão inocente como o coração dos seus bebés.
Então depois, depois de libertarmos o coração das mães, é preciso libertar-lhes os braços. Libertá-los das tarefas domésticas que possam ser feitas por outros. Libertá-los da pilha de roupa para engomar. Libertá-los das visitas que esperam lanche.
Libertar os braços das mães é urgente.
Porque se os braços das mães estiverem libertos, elas terão muito mais vontade de os colocar em volta dos seus bebés.

E o olhar das mães. Também é preciso libertá-lo porque, para que tudo melhore, as mães precisam de um olhar disponível para os seus bebés. Nenhum livro, nenhum manual de instruções, poderá alguma vez falar do nosso bebé, como nos falam os seus pezinhos, as mãos, as bolhinhas no canto da boca, as caretas quando está zangado, a testa franzida quando está a ficar com sono, os estalinhos da língua quando quer mamar ou os barulhinhos que faz enquanto dorme.
As respostas estão todas ali. É ali que devemos procurá-las.
É preciso libertar as mães.
Porque quando uma mãe é finalmente libertada de tudo o que não a ajuda a ligar-se ao seu bebé, acontece a magia.

Acontece a confiança para fazer o que se acha melhor.
Acontecem as respostas às perguntas que nos atormentam: Será que tem fome? Será que tem sono? … Será que eu vou ser capaz?
Sim as respostas chegam.
Mas só, quando, finalmente em liberdade, as mães conseguem escutar e entender a linguagem secreta entre si e os seus bebés.

E saberão que ser mãe não é uma lista de tarefas.
Não é um método.
Não são certos nem errados.

Somos nós.
Diferentes, é certo.
Com medo, por vezes.

Mas ainda assim.
Nós.
Inteiras. Confiantes.
Nós com o nosso bebé nos braços.”
Autora: Constança Ferreira – Terapeuta de Bebés e Conselheira de Aleitamento Materno OMS/Unicef
Fonte: https://espacomimami.wordpress.com/2015/01/22/e-preciso-libertar-as-maes/

O tornar-se mãe e a gravidez do coração

We Heart it
Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado no Guia Indika Bem dia 29 de janeiro de 2015
Adotar uma criança tem diferenças de uma gravidez e essas diferenças não devem ser rejeitadas ou negligenciadas no processo de fortalecimento da identidade da família adotiva. Por outro lado, a espera do filho adotivo guarda algumas semelhanças com a gestação.
As futuras mãe adotivas fazem como as biológicas, elas sonham, querem, imaginam seu futuro filho. O processo de adoção leva a uma gestação emocional que nem toda gravidez leva, pois na adoção existe o momento em que é necessário refletir sobre as expectativas e as motivações que levam uma mulher a desejar um filho naquele período de sua vida. Certamente a equipe técnica das Varas da Infância, com seus estudos técnicos, levará de algum modo as adotantes a amadurecerem seu desejo ser serem mãe, o próprio processo judicial as “obriga”, de algum modo. Se todas as mães, antes de engravidar, tivessem um estágio de reflexão como as adotivas, talvez tudo fosse diferente.
Com a adoção vem um processo de reconhecimento de tudo o que circunda a maternidade. Esse gestar emocional e esse tempo na adoção são importantes para se amadurecer todas as questões relacionadas não só a maternagem e relação com o filho, como também as particularidades oriundas da adoção em si, como perfil do filho desejado, revelação da adoção, posicionamento frente a história anterior do filho, relação com a sociedade e os possíveis preconceitos a serem enfrentados durante e após o processo. Então as futuras mães são “convidadas” e mergulhar num universo totalmente novo, se descobrindo, desconstruindo conceitos e construindo novos e entendendo que um filho não pode vir com outra função que não seja somente o de ser filho. Filho não pode servir como tábua de salvação, filho-companhia, filho-distração, fazer caridade, salvar casamento ou fazer crescer.
Esse processo de quase “tornar-se mãe” normalmente ocorre paralelamente ao processo de habilitação e depois com a espera pela indicação da criança, até quando se encontra com ela e inicia-se o processo de visitação e o período de convivência, nesse momento ocorre o parto “sem dor física” tão esperado. O parto é sem dor, mas existe muita ansiedade e expectativas voltadas para esta espera e este primeiro encontro, que é quando começa a nascer uma mãe. Depois a ansiedade na conclusão da adoção, que pode levar meses ou anos, que é quando a criança ganha uma outra certidão da nascimento, anulando a primeira e torna-se filha legítima da adotante, ou seja, filha perante a lei.
O ato do encontro físico é o mesmo que ocorre com o filho biológico quando nasce. No contato pele a pele, self a self, o amor construído pelo filho imaginado, neste momento, pode ser direcionado para o filho real e aí vai sendo construída uma relação de amor no dia a dia, para isso é preciso maturidade e sobretudo aceitação, entender que para dar certo é preciso abertura para amar e todo o resto vai sendo conquistado com paciência. A criança, quando se sente plenamente aceita, não tem medo de se entregar, pois sente que não haverá um segundo abandono.
Não existem diferenças entre filhos biológicos e adotivos, filho é filho e isso se dá na convivência, na relação em si, o apego vai sendo construído e fortalecido, é assim que ocorre também nas relações consanguíneas.
As pesquisas mostram que os filhos adotados se sentem amado e queridos por suas famílias e sentem seus pais adotivos como os seus de fato. Quando se chega a conhecer os biológicos existe até um estranhamento, ou seja, a parentalidade é construída na convivência, ela não vem no DNA.
As diferenças da gestação biológica e da adotiva estão nas particularidades sobre a forma da chegada do filho e sobre a existência de um passado em outra família, mas todo o resto é igual, assim também é o amor materno na adoção.
As possíveis dificuldades que podem ocorrer com uma criança que foi adotada não é porque ela não é do mesmo sangue dos pais. Todas as crianças têm dificuldades ou apresentam algum problema em algum momento do seu desenvolvimento. O que causam grandes dificuldades são o abandono, a indiferença, a violência e esses aspectos, infelizmente, também encontramos em muitos lares biológicos.
O importante para pais adotivos, que adotam crianças que apresentam dificuldades, é saber encontrar as formas de lidar com as memórias, o desejo de procurar curar as feridas e o amor que se tem no presente.
A gravidez é um processo, mas não é garantia que uma mulher amadureça. Se fosse assim, não existiriam histórias de bebês abandonados de modo tão triste e histórias de mães violentas. Estudiosos mostram que a gravidez não faz de ninguém mãe, pode ser um acontecimento puramente biológico, que varia de uma mulher para outra o modo de sentir, pode transformar uma, mas a outra pode rejeitar o fato. Ao contrário da adoção, onde a espera pelo filho é um forte acontecimento. Na adoção existe a busca, o desejo de amar, o sonho e a reafirmação do desejo de cuidar. Tudo isso é importante no processo de fortalecimento da atitude materna e pode ocorrer tanto na adoção como na gestação, ou seja, toda maternagem consciente é adotiva. Amor é adoção.
Por Cintia Liana Reis de Silva
Primeira Fonte: http://www.indikabem.com.br/filhos/o-tornar-se-mae-e-a-gravidez-do-coracao