"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Pai protesta contra lentidão em processo de adoção

Foto: Google Imagens

Mara Andrich
Anderson Tozato

O advogado de Curitiba Alberto Rau quer adotar quatro meninas, todas com o vírus da aids, mas, segundo ele, pelo fato da Justiça ser lenta não dará tempo delas passarem o Natal com ele e sua família.

Segundo Raw, faz dez dias que a adoção foi autorizada, mas a guarda provisória ainda não foi expedida. Ontem foi aniversário de Raw e ele decidiu acampar em frente às Varas da Criança e do Adolescente, no bairro Santa Cândida, em protesto.

"Deveria haver pelo menos mais duas Varas da Criança em Curitiba para que tantas crianças não ficassem confinadas em abrigos", reclamou. A reportagem procurou a 2.ª Vara, onde tramita o processo de Raw, mas não obteve retorno.


Foto: Google Imagens

Por Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Candidato a pai adotivo de quatro meninas portadoras do vírus HIV passa o dia em barraca na tentativa de acelerar o processo

Publicado em 17/12/2010 | Paola Carriel

O policial federal aposentado Alberto Morais Rau, 53 anos, passou o dia de ontem acampado em frente da 2.ª Vara da Infância, Juventude e Adoção de Curitiba, no bairro Santa Cândida, em protesto contra a demora para a conclusão de um processo de adoção. Rau e a esposa, Aristéria Mo­­rais, estão tentando adotar quatro meninas de 12, 9, 7 e 3 anos portadoras do vírus HIV. Os dois entraram com o pedido em julho deste ano e querem a guarda provisória das meninas antes das férias de fim de ano.

Rau explica que o objetivo do casal é preparar a família para 2011. Eles querem encontrar uma boa escola para as meninas e garantir um atendimento de saúde adequado. O aposentado conta que as quatro crianças estão com expectativa de viajar com os futuros familiares e conhecer a praia. Com dois filhos biológicos com 12 e 18 anos, Alberto e Aristéria conheceram as quatro neste ano em um abrigo. Eles argumentam que já estão habilitados para a adoção e que o processo deveria ser mais célere em função da condição de saúde das meninas e também pelo fato de se tratar de uma adoção tardia (quanto maior a idade da criança, menor é a chance de ela vir ser adotada).

Opinião

Marleth Silva, editora-executiva da Gazeta do Povo, que adotou duas crianças.

Desconhecimento gera conflitos

A adoção de crianças no Brasil está cercada de mal-entendidos e mitos. É verdade que as regras mudaram nas últimas décadas e que a realidade é difícil de compreender – abrigos lotados de crianças e uma espera longa por parte dos candidatos a se tornar pais adotivos são duas coisas que, no mesmo cenário, parecem não fazer sentido.

Mas quem se dispõe a adotar uma criança tem a obrigação de se informar sobre as regras vigentes no país e de tentar compreender a lógica por trás delas. Vamos aos fatos:

Nem todas as crianças abrigadas podem ser adotadas porque as famílias mantêm o poder familiar.

O primeiro esforço do Judiciário é no sentido de manter a família biológica.

Os adotantes não podem nem devem “escolher” uma criança na casa-lar. Aliás, eles devem evitar circular pelas casas-lares se estão se candidatando à adoção.

Não há burocracia envolvida no processo de adoção. O que há (ou pelo menos tem de haver) é um cuidado especial para que adultos entusiasmados (e irresponsáveis) não levem para casa uma criança carente de amor e, meses depois, diante das dificuldades, decidam que tomaram a decisão errada e desfaçam a adoção. Isso é horrível, mas acontece.

Adoção é aceitação e esforço por parte dos adultos, que devem dobrar suas expectativas diante das necessidades reais das crianças. É amor – um amor que não busca o espelho (o filho adotado não “é a sua cara”), mas a surpresa e a descoberta. Amor que não para de crescer e de ficar melhor. Mas que vem sempre cercado de circunstâncias imperfeitas, que começaram quando a criança foi abandonada pela família biológica. Por isso, dos adotantes espera-se serenidade. Do Judiciário, a clareza de que cada mês passado em um abrigo deixará uma cicatriz no psiquismo da criança.

A promotora da 2.ª Vara da Infância, Juventude e Adoção, Mônica Sakamori, explica que as crianças e a adolescente que Alberto Rau pretende adotar não estão juridicamente aptas para adoção. “O Ministério Público vem atuando para que esse processo resulte da estrita observância do devido processo legal e atenda ao superior interesse das crianças.” Mônica afirma que a ação de adoção proposta vem tramitando com o rigoroso cumprimento dos prazos legais.

Para especialistas, o caminho seguido por Alberto não é o adequado. A indicação é que as pessoas interessadas em adotar procurem a vara da infância de seu município e participem do Cadastro Nacional de Adoção, que reúne crianças de todo o país aptas a encontrar uma nova família. Isso evitaria frustrações de ambos os lados – as meninas que Rau pretende adotar ainda não tiveram o processo de destituição do poder familiar concluído, ou seja, há possibilidade de algum integrante da família biológica querer ficar com elas.

O promotor Murillo Digiáco­mo, do Centro de Apoio Opera­cional das Promotorias de Justiça (CAOP) da Criança e do Adoles­cente, argumenta que o processo de adoção não é uma operação matemática e, por isso, os trâmites judiciais existem para resguardar os direitos dos meninos e meninas. Ele lembra que não conhece o caso de Alberto Rau, mas fala de maneira genérica. “O processo judicial evita que a ação seja feita por impulso. A Justiça sempre está interessada no melhor para a criança.” Segundo ele, os pais não podem visitar abrigos e “escolher” os futuros filhos porque a adoção é um gesto de amor e não algo para satisfazer uma necessidade dos adultos.



Postado Por Cintia Liana

domingo, 26 de dezembro de 2010

Irmãos adotados no Brasil se encontram em Milão

Foto: Google Imagens

Nesta sexta, 17 de dezembro, o Mais Você mostrou uma reportagem de arrepiar: a história de quatro irmãos que nasceram em Santo Amaro, bairro muito populoso da zona sul de São Paulo, e tiveram o pai morto num episódio de violência. Gustavo (11), Pâmela (9), Vitória (8) e Natasha (5) foram abandonados pela mãe e pararam num abrigo porque sofriam maus tratos por parte das irmãs mais velhas. As crianças foram adotadas por duas famílias italianas, de Brescia, Milão. A repórter Thaís Itáqui, do Profissão Repórter, acompanhou a história completa, desde o encontro da nova família no Brasil até a ida para o novo país.

Pamela e Vitória foram primeiro para Itália com os pais Luisa e Luca. Já Gustavo e Natasha foram adotados por Cinzia e Paolo. Thaís já conhecia os irmãos há 4 anos e tinha um carinho enorme por eles, assim como por todas as outras que ainda estão no abrigo. “A gente acaba se aproximando muito delas. Quando fiquei sabendo da história, na hora quis mostrar. Pra mim foi mais emocionante porque conhecia a história delas”, contou no estúdio do Mais Você. Além de Thaís, Ana Maria Braga recebeu Iasin Ahmed, juiz da vara e da infância e da juventude de Santo Amaro.

Thaís falou sobre a experiência de conviver com a rotina da primeira semana de uma família adotiva num país diferente, com culturas e costumes distintos. No período de gravação, a proximidade com as crianças a ajudou muito. Eles se sentiam confiantes e à vontade com Thais. Na Itália, as meninas queriam lhe mostrar e contar tudo, afinal ela era a única referência do Brasil que restava para as crianças. Para a repórter, é preciso ter um olhar de responsabilidade social como os italianos tiveram. “Eles estão dando o maior amor do mundo”.

Segundo a comissão estadual judiciária de adoção internacional de São Paulo, 4 mil adoções, em média, são feitas por ano no estado. Desse número, apenas 200 são internacionais. Dados do cadastro nacional de adoção mostram que cerca de 8 mil crianças estão na fila para serem adotadas. 18% negras, 30% brancas e 50% pardas. 71% possuem irmãos. se o número de meninos e meninas que esperam ser adotados é grande, o de casais a procura de filhos nem se fala: são mais de 30 mil. Mas, 84% só querem adotar uma criança. 37% só aceitam crianças brancas, 82% não aceitam irmãos e 78% só aceitam crianças de até 3 anos de idade.

Fonte: Rede Globo, "Mais Você"


Postado Por Cintia Liana

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Brasil tem 8 mil crianças e adolescentes à espera de adoção

Foto: Esta "piccola modela" é Julinha, filha biológica de minha prima Clara Manhã. Feliz primeiro natal, priminha!

De acordo com o último balanço do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), realizado pela Corregedoria Nacional de Justiça, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 7. 949 crianças brasileiras estão aptas a serem adotadas. Ou seja, se encontram destituídas do poder familiar. Os dados, referentes ao dia 3 de dezembro de 2010, indicam também que há 30.378 pretendentes à adoção, já cadastrados.

São Paulo permanece na liderança como o estado com maior número de pretendentes à adoção: 8.020 para 1.538 crianças e adolescentes cadastradas. Já o Espírito Santo lidera em número de crianças e adolescentes à espera de uma nova família: são 2.194 para 493 candidatos a pais, no estado. Já o Distrito Federal indica uma relação mais equilibrada: são 522 pretendentes para 209 crianças aptas à adoção.

O Cadastro Nacional de Adoção foi criado em abril de 2009 para facilitar as adoções. Por meio desse instrumento, os juízes das varas da infância e da juventude recebem informações unificadas sobre os procedimentos de adoção e podem dar agilidade ao processo de adoção. O Cadastro possibilita ainda a implantação de políticas públicas na área.

Por Martha Corrêa
Fonte: Agência CNJ de Notícias

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De qualquer modo, a gente sabe que este cadastro nacional informatizado ainda não funciona nem 50% como deveria. Esperamos por dias melhores e mais organização para podermos dar um futuro digno aos nossos pequenos.

Por Cintia Liana

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Cintia Liana no Programa Point 21 Oficina

No dia 14 de dezembro participei via skype do Programa "Point 21 Oficina", apresentado por Paulo Escudeiro. Foi uma ótima experiência participar do programa via skype e uma honra ser o primeiro skype internacional deles. Me fizeram muitas perguntas sobre adoção, incluindo internacional. Quase no final da entrevista a linha caiu, mas o importante é que a meta foi cumprida e passadas as principais informações.

Quero agradecer o convite da produtora do programa, a jornalista Bianca Namorato, ao apresentador Paulo Escudeiro e a toda a sua equipe que me tratou super bem e com muito afeto.






Postado Por Cintia Liana

domingo, 19 de dezembro de 2010

Outra parte da entrevista para a Revista Cláudia (3)

Foto: Google Imagens

Revista Cláudia - Descreva um primeiro encontro que presenciou entre pais e filho.

Cintia Liana Reis de Silva - O primeiro encontro pode ser uma explosão de alegria como um misto de timidez com sorrisos de felicidade.
Lembro de um em que o casal chegou e encontrou os três filhos brincando. As crianças olharam os pais e contrinuaram com o olhar baixo, tímido, os pais se aproximaram e entraram na brincadeira, logo surgiu a conversa e a pergunta, se queriam ir para o hotel, para poderem estar juntos e brincarem em outro lugar, se tornarem uma família. A criança já bem preparada pode ser liberada já no primeiro encontro e geralmente dá certo.

Revista Cláudia - Como se chega à conclusão de que aqueles pais são adequados àquela criança? Como é feito esse “cruzamento” emocional?

Cintia Liana Reis de Silva - Os pais se preparam para adotar uma ou mais crianças, de idades, sexo e cor já mais ou menos pré definidas, sabendo que algo pode mudar. Uma criança é disponibilizada para adoção internacional na CEJA de algum estado do Brasil, que faz contato com uma entidade cadastrada nesta CEJA e que tenha um casal que deseje adotar aquele perfil de criança.

As informações daquela criança são passadas para a entidade que informa ao casal sobre a criança e um pouco de seu histórico e comportamento, diante disso o casal diz sim ou não.

Ao mesmo tempo a CEJA avalia toda a documentação do casal, avaliações psicológicas, histórico, um verdadeiro dossiê e vê se está apto a serem pais daquele menor.

A CEJA normalmente é composta por um Desembargador Corregedor-Geral da Justiça, que a preside, por um Juiz da Infância e Juventude, por um promotor de Justiça, um representante da classe dos advogados, um representante da classe dos assistentes sociais e um representante da classe dos psicólogo.

Depois que os documentos da criança são juntados ao processo de habilitação do casal, marca-se a viagem ao Brasil onde será o encontro. Tem o estágio de convivência de no mínimo 30 dias em um hotel de escolha do casal, onde recebem regularmente visitas da equipe psicossocial do Juizado. O casal também visita a Vara da Infância para algum procedimento de avaliação, como a avaliação com a psicóloga. Depois são mais 15 dias para toda a tramitação dos papéis da adoção com a sentença do Juiz e emisão de novos documentos da criança, como passaporte e nova certidão de nascimento, mas esse prazo pode variar, depende do processo de vinculação da nova família e da deliberação do juiz responsável.

Revista Cláudia - O que acontece depois que a criança viaja com os pais para a nova casa? Ela continua tendo um acompanhamento psicológico?

Cintia Liana Reis de Silva - Toda a família continua sendo acompanhada pela entidade de adoção internacional pelos 2 anos seguintes, que emite relatórios sobre a atual situação da família para a CEJA.

A entidade na qual eu trabalho atualmente, a Senza Frontiere, procura realizar encontros, reuniões e festas com o objetivo de fazer com que as crianças se sintam familiarizadas e em companhia de outras crianças da mesma nacionalidade. Nessas festas procura-se dar ênfase a língua de nascimento e usa-se temas culturais do Brasil para cronstrução da encontro. Nós damos muita importância no que fará com que a criança se sinta mais segura possível.

Se for preciso acompanhamernto psicológico da família e da criança isso acontece com um psciólogo da entindade ou pode ser com outro de fora.

Revista Cláudia - E quando não dá certo? O que se faz?

Cintia Liana Reis de Silva - Na adoção tem que dar certo, ou depois procurar ajuda para a relação, é um parto que não tem como se voltar atrás. O casal passa a ser pais da criança a serem responsáveis por ela e não há nada que possa anular isso depois, a adoção é uma medida irrevogável, como consta no ECA. O juiz só dá a sentença se tem a certeza de que aconteceu o vínculo inicial de amor que será forte o suficiente para desenvolverem uma forte relação clássica familiar e baseia sua decisão também em cima dos laudos da equipe multiprofissional da Vara da Infância.

Quando se tem um fiho biológico que mais tarde pode apresentar algum problema de comportamento ninguém entrega ele ao Juizado de Menores dizendo que não quer mais, é a mesma coisa com o adotivo. Qualquer criança pode aprensentar algum tipo de comportamento de natureza negativa por algum motivo e passar por fases difíceis e nem por isso um pais deve desistir do filho.

Já atendi muitas crianças com problemas de comportamento e quase todas eram filhas bológicas. Já participei como perita de centenas de adoções de crianças grandes que já conviviam com suas famílias desde pequenas e que não tinham nenhum problema de comportamento e relação.

Sei que o tema adoção traz muitas questões para a criança, mas não por isso ela tem problemas. Se uma escola tem um aluno que é filho adotado e este apresenta problemas de comportamento todos dizem que é porque ele é adotado, mas se a escola tem 50 outros alunos que tem os mesmos problemas que o adotado e são filhos biológicos o problema é por causa de quê?

Revista Cláudia - Existe um prazo para se concluir que deu ou não certo?

Cintia Liana Reis de Silva - Normalamente são 30 dias para se concluir o estágio de convivência e mais uns 15 para a sentença e emisão de documentos, mas um juiz pode determinar um tempo maior, por exemplo, até 3 meses se for necessário, o problema é que os adotantes devem retornar o seu País para voltarem ao trabalho e reiniciarem a vida cotidiana junto a criança, então todos devem trabalhar com eficácia e cuidado.

Revista Cláudia - Você costuma fazer algum tipo de acompanhamento?

Cintia Liana Reis de Silva - No Brasil realizava acompanhamento de crianças, adultos e famílias, não só adotados como filhos biológicos, todos têm questões familiares de base para serem trabalhadas. Aqui na Itália iniciarei os atendimentos também, é uma área muito bonita, é na família onde encontramos muitas respostas para melhorar os dias atuais e a relação com o mundo, pois a família é o nosso primeiro grupo, o nosso primeiro contato com o mundo, com o ser humano, com os modelos de relação e isso deve ser levado muito a sério, escolher ter um filho, seja por via biológica ou por adoção é um escolha muito bonita, mas também de muita responsabilidade, se deve estar preparado para dar base e firmeza para uma vida digna e honesta e, para isso, deve-se antes de tudo ser muito honesto consigo mesmo, estar muito atento às suas limitações e possibilidades.


Por Cintia Liana

sábado, 18 de dezembro de 2010

Entrevista cedida à Revista Cláudia (2)

Foto: Revista Cláudia de dezembro de 2010

Mais uma parte na íntegra da entrevista da Psicólolga Cintia Liana cedida à Revista Cláudia para compor a matéria sobre Adoção Internacional da edição de natal.


Foto: Google Imagens

Revista Cláudia - O que um casal que decide adotar uma criança de outra nacionalidade e, portanto, de cultura e língua diferentes, deve saber?

Cintia Liana Reis de Silva - Deve conhecer a cultura em que a criança nasceu, um pouco da história do País, dos valores, informações sobre como se vive e sobretudo saber valorizar essa cultura a a língua da criança após a adoção, para que a criança fortaleça seu senso de identidade e valorize as suas origens.

Revista Cláudia - Como se preparar para isso?

Cintia Liana Reis de Silva - Aqui na Itália somente casais podem adotar. Solteiros e homossexuais não podem adotar. O casal deve primeiro formular o pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país onde habita. Se considerados aptos a adotar a Autoridade Central emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional, tudo isso de acordo como determina o ECA - Estatuto de Criança e do Adolescente e como também ocorre numa VIJ do Brasil com os brasileiros. Depois disso, escolhe uma entidade que realiza adoções internacionais, entidade esta que mais se adequar ao seu desejo e que trabalhe com um perfil de criança dentro de suas expectativas. Aqui na Itália há mais de trinta delas.
Na entidade de adoção internacional escolhida para mediar a adoção com uma CEJA do Brasil o casal é acompanho durante todo o processo, inclusive no País escolhido, passa por entrevistas com psicólogos e, passa também por reuniões com outros casais que estão se esperando para adotar, onde se podem discutir diversos assuntos relacionados ao tema, visando o amadurecimento das questões da paternidade, maternidade, origem da criança, construção de vínculos, expectativas, medos, anseios e tudo o que se relacione com adoção, além de ouvir depoimentos de pessoas que já adotaram.

Revista Cláudia - Como esses pais são preparados do ponto de vista psicológico?

Cintia Liana Reis de Silva - Em atendimentos com a psicóloga vão sendo trabalhadas e discutidas todas as questões voltadas para adoção, enquanto isso o casal trata de trabalhar também assuntos de sua vida pessoal, com seus respectivos pais, história de vida, para que possam entender um pouco de sua vida presente e o que podem esperar de sua comportamento enquanto pais e como isso pode ser melhorado e amadurecido. Há também os encontros com grupos de discussão e para ouvir depoimentos, como já mensionado na segunda questão.

Revista Cláudia - E a criança? Como ela é preparada? Ela tem que aceitar? Ou ela tem a opção de escolha?

Cintia Liana Reis de Silva - Normalmente a criança é ouvida pelo perito psicólogo da vara da infância sobre o seu desejo em ter uma nova família e se esta família pode ser de outro País. Ela pode ser ouvida como também, a depender da necessidade, se submeter a um breve acompanhamento psicológico. Ela tem direito de escolha, tem que aceitar e desejar a adoção e é o que normalmente ocorre.

Quando trabalhava na Vara da Infância conversava e preparava a criança para entender todas as possíveis mudanças que ocorreriam em seu dia-a-dia, além da nova família, novos amigos e companhias, como língua, cultura, clima e via que isso as facinava, começando por terem pais que estavam ansiosos por vê-las, brincar, conversar, ensinar a língua e depois por pegarem um avião pela primeira vez para conhecerem a nova casa.

Alguns casais antes de chegar mandam através da CEJA (Comissão Estadual Judiciária de Adoção), que cuida da adoção internacional, um álbum de fotos de toda a família, incuindo tios e primos para que a criança se familiarize com os rostos e nomes, além de fotos da casa toda e do novo quarto todo decorado.

Revista Cláudia - Quem escolhe quem, afinal?

Cintia Liana Reis de Silva - Todos se escolhem, é um momento muito bonito o primeiro encontro e a construção dos vínulos de amor e apego durante o período de convivência. Me sinto fortunada porque acompanhava as adoções no Brasil quando trabalhava lá e agora acompanho as adoções daqui, de um outro prisma e é maravilhoso presenciar todas as belas e reais as etapas do desejo, construção e fortalecimento da nova família.

Os pais chegam ao Brasil ansiosos para conhecer o filho esperado, após anos esperando por aquele momento e a criança cheia de felicidade em conhecer os novos pais, eles tão sonhados e desejados. No primeiro contato com carinho, paciência e muita delicadeza o vínculo vai sendo construído com naturalidade, os dias de convivência no hotel fortalecem o contato e dalí o parto acontece, a nova família nasce. É emocionante, um fenômeno grandioso para quem sabe enxergar.

O papel do psicólogo, no momento da adaptação, é de extrema importância. Durante o período de convivência a nova família (adotantes e crianças) é acompanhada em alguns atendimentos psicológicos para se checar a adaptação de todos à nova realidade. Conversa-se com os adotantes, com a criança e se faz as devidas observações do vínculo que vai se estabelecendo, todos também são ouvidos separademante, para que haja mais espontaneidade, principalmente a criança frente ao seu desejo e como está se sentindo. O psicólogo faz perguntas e os adotantes podem tirar dúvidas, é um momento de acolhimento de tudo o que diz respeito àquela nova realidade.

O momento da adaptação é fundamental para o sucesso do vínculo porque acontece a integração de elementos de sentido e de significação que caracteriza a organização subjetiva de um âmbito da experiência dos sujeitos, ação, construção, história, transações, trocas sociais e culturais como configurações subjetivas da personalidade. É um complexo de articulações e possibilidades, processos de ruptura e renascimento, tudo deve ser visto com sensibilidade e não com um olhar determinista, universalista, as coisas acontecem e tudo é bem vindo para que a relação tome sua própria forma e não uma forma mágica aprendida em livros de contos de fadas. (SILVA, 2008)

A família acontece e se vivencia um verdadeiro parto, um filho que nasce, é a possibilidade real da criança, enfim, se tornar filho e os adotantes pais.

Revista Cláudia - Qual é o momento que vocês julgam adequado para que pais e a criança se conheçam?

Cintia Liana Reis de Silva - Quando tudo está organizado para o encontro, todos bem preparados e o desejo deste encontro existe. Normalmente a criança os chama imediatamente de pai e mãe e os adotantes de filho porque já existia o desejo do encontro e do vínculo, depois a relação vai tomando forma.

Revista Cláudia - Como se dá este momento? É acompanhado de psicólogos?

Cintia Liana Reis de Silva - O encontro acontece na Vara da Infância e Juventude que está responsável pelo menor em questão ou pode acontecer no próprio abrigo, isso vai depender da situação, a criança tem que se sentir segura para o enocontro.

Sobre quem acompanha o encontro, isso vai depender de cada procedimento de cada Vara da Infância, não existe uma regra, cada uma atrabalha de acordo com as regras vigentes, determinadas por seu Juiz titular. Mas, normalmente, esse primeiro encontro é acompanhado por uma assistente social e uma psicóloga, de preferência as profissonais que estavam acompanhado a criança em todas as outras etapas de preparação psicossocial.

 
Por Cintia Liana

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

A idade da criança como fator que dificulta a adoção: Realidade ou mito?

Falando novamente sobre adoção de crianças maiores, posto aqui uma entrevista cedida a aluna Caroline Folster, para o seu trabalho de conclusão de curso de Graduação em Bacharelado em Direito pela Faculdade Campo Limpo Paulista - FACCAMP.

Tema: A idade da criança como fator que dificulta a adoção: Realidade ou mito?

Foto: Google Imagens

Caroline Folster - Qual a maior causa de abandono de crianças brasileiras hoje?

Cintia Liana Reis de Silva - Quando eu trabalhava na Vara da Infância e Juventude de Salvador via que os motivos para uma mãe entregar o seu filho para adoção eram a falta de estrutura financeira e falta de apoio familiar e do genitor da criança. Geralmente eram mulheres que já tinham uma história familiar mal resolvida, eram emocionalmente desorganizadas, desestruturadas e sem a capacidade de assumir o compromisso de ser mãe, assim como não tinham uma relação estável com o pai da criança.

Caroline Folster - Como fica o psicológico de crianças abandonadas, ou mesmo tiradas de suas casas por maus tratos?

Cintia Liana Reis de Silva - As crianças sentem muita dor, não entendem o que está acontecendo de fato e nem o por quê passam por aquilo, algumas até sentem culpa por se sentirem o motivo pelo qual a mãe provavelmente será punida, elas acreditam que pode existir uma punição. Experimentam a dor do desamparo, medo de ficar sozinhas sem o amor de quem ama e por não entender bem a dimensão dos fatos.

No sething terapêutico muitas vezes não gostam de falar sobre o assunto, muito menos de uma situação delicada em que passou. Algumas conseguem responder a algumas perguntas, mas geralmente se mostram fechadas para tocar em determinados assuntos dolorosos, só após estabelecerem uma relaçao de maior confiança conseguem se abrir e chorar, mas tudo depende do caráter da criança e de sua abertura para falar.

Caroline Folster - Como a criança se comporta em um processo de adoção? O processo de adaptação com a nova família é difícil?

Cintia Liana Reis de Silva - Normalmente as crianças já desejam a adoção e esperam ansiosas por sua nova família, família esta idealizada e verbalizada sempre.

As maiores nem sempre acreditam que possam ser adotadas, pois dizem que as pessoas só querem adotar bebês. Ficam desesperançosos, mas outros já são mais otimistas.

Dentro do abrigo há crianças que demonstram sentir um pouco de revolta e algumas experimentam extrema ansiedade, mas geralmente sempre estão com um sorriso no rosto, dispostas abraçar a quem chegar e der um pouco de atenção e carinho.

Muitas vezes são atendidas pelo psicólogo (perito) da VIJ (Vara da Infância e Juventude) antes ou acompanhada por psicólogo do abrigo em que está, quando poderá ser feita uma avaliação psicológica para ser anexada ao futuro processo de adoção. Acontece tudo tranquilamente na maioria das vezes, pois o desejo existe e é ele quem faz acontecer a relação de amor e a abertura para que tudo dê certo.

Poucas crianças apresentam um comportamento aversivo ao processo de adoção, pois é normal que queiram uma família a ficar numa instituição.

É claro que quando começa a convivência antes de ser dada a sentença pode acontecer alguns desajustes para que ocorram os ajustes, é natural que algumas coisas aconteçam neste momento de adaptação.

Caroline Folster - Algumas pessoas, não generalizando, tem preconceito com crianças que são adotadas “tardiamente” ou seja, com mais de dois anos. Como é desenvolvimento do psicológico de crianças nessa idade? É possível uma adaptação ocorrer mais fácil?

Cintia Liana Reis de Silva - O que pode dificultar o estabelecimento de um vínculo não é exatamente a idade, mas a forma como a criança lida com suas emoções no período de adaptação, um pouco do temperamento pode influenciar, mas o mais importante é a forma em que o casal ou adotante solteiro vai lidar com algumas dificuldades que possam emergir de ambas as partes no período de adaptação, coisa que é normalíssima, pois estão se conhecendo e formando uma família, flexibilizando, se habituando. Quanto mais preparados a acolher as dificuldades e a superá-las desenvolvendo amor, maiores são as chances de sucesso de uma adoção, seja com uma criança pequena, grande ou até mesmo com uma criança que venha a apresentar extrema revolta, todas elas são capazes de mudar neste período, basta sentir que podem contar de verdade com os adultos e com o amor que desejam receber, que não há pré-requisitos para serem amadas e que não serão abandonadas novamente, elas querem crer nesta nova relação parental, querem não sentir medo de se entregar.

Casais italianos vão para o Brasil adotar crianças maiores, que já esgotaram todas as possibilidades de inserção em família brasileiras. Essas adoções têm sucesso mesmo com crianças acima de 10 anos, porque os casais chegam desejosos e fazem tudo para que a relação dê certo em um mês de convivência e conhecimento em um hotel para o estabelecimento de vínculos antes da audiência final, depois são mais 15 dias, aproximadamente, para a saídas dos documentos e voltam para a Itália . Já ouvi algumas vezes de casais chorando: “não teria filho melhor para nós do que esse”, “é como se ele já fosse nosso a vida toda”.

Devemos desmistificas preconceitos e preparam bem os adotantes, assim nada será dificuldade.

Caroline Folster - Como é realizado o trabalho de psicólogos, perante a nova família e a criança?

Cintia Liana Reis de Silva - Durante o período de convivência a nova família (adotantes e crianças) é acompanhada em alguns atendimentos psicológicos para checar a adaptação de todos à nova realidade. Se conversa com os adotantes, com a criança e se faz as devidas observações do vínculo que vai se estabelecendo. O psicólogo faz perguntas e os adotantes podem tirar dúvidas, é um momento de acolhimento de tudo o que diz respeito àquela nova realidade.

Este momento é muito importante porque acontece a integração de elementos de sentido e de significação que caracteriza a organização subjetiva de um âmbito da experiência dos sujeitos, ação, construção, história, transações e trocas sociais e cultura como configurações subjetivas da personalidade. É um complexo de articulações e possibilidades contraditórias e processos de ruptura e renascimento, tudo deve ser visto com sensibilidade e não com um olhar determinista, universalista, as coisas acontecem e tudo é bem vindo para que a relação tome sua própria forma e não uma forma mágica aprendida em livros de contos de fadas. (SILVA, 2008)

Caroline Folster - Qual sua opinião referente ao tema da monografia?

Cintia Liana Reis de Silva - Penso que este é um tema importantíssimo, pois iniciativas como essas ajudam a desmistificar os preconceitos que ainda insistem em fazer parte do discurso e da mentalidade das pessoas na hora de adotar, é um tema que envolve muitos mitos não só imaginados pelos adotantes, mas também pela família extensa, amigos e companhias que estão em volta daqueles que desejam adotar e que muitas vezes dão conselhos respaldados numa mentalidade baseada nos paradigmas ocidentais, numa visão reducionista do ser humano e determinista.

Precisamos investir na ciência, pesquisa, cultura e informação, usar mais a mídia para fazer o bem e unir os seres humanos em seu próprio benefício, pois as pessoas ainda estão alienadas aos processos sociais, econômicos, culturais, políticos e ideológicos. As pessoas insistem em encaixar as relações numa visão monolítica, elementar, cartesiana, construto-individualista, onde a irregularidade e o singular são marginalizados. Ou seja, o pensamento científico tem sido dominado pelo paradigma da simplicidade, então devemos investir em pesquisa e estudo, ainda mais se vamos ajudar tantas crianças a terem uma família. (Rey apud SILVA, 2008)

Parabéns pelo tema e pelo trabalho! Boa sorte e sucesso em sua profissão, que você possa usá-la para beneficiar a todos.

Referência:
Silva, Cintia L. R. de. Filhos da Esperança: Reflexões sobre família, adoção e crianças. Monografia do curso de Especialização em Psicologia Conjugal e Familiar. Faculdade Ruy Barbosa: Salvador, 2008, 58 p.

Por Cintia Liana

sábado, 11 de dezembro de 2010

Filme Tráfico de Bebês (Baby for Sale)

Foto: Google Imagens

Ano de Lançamento: 2004
Gênero: Drama

Sinopse: Polêmico filme no qual um casal se envolve em uma perigosa operação para desvendar um esquema de tráfico de bebês. Tudo começa quando eles decidem adotar uma criança. Todos os procedimentos são respeitados e tudo parece normal, até que eles descobrem que o bebê que pretendem adotar faz parte, na verdade, de um leilão e só será entregue aquele casal que oferecer a melhor oferta para levar a criança. A partir daí, eles começam uma investigação que os colocará de frente com uma perigosa operação agenciada por bandidos da pior espécie. Sua briga para desmascarar o esquema de tráfico de crianças poderá levá-los a caminhos muito perigosos, mas nem isso vai fazer com que eles desistam de sua importante missão.

Ficha Técnica
Título Original: Baby For Sale
Direção:
Peter Svatek
Roteiro:
John Wierick
Elenco:
Dana Delany (Nathalie Johnson)Hart Bochner (Steve Johnson)Bruce Ramsay (Gabor Szabo)Romano Orzari (Joey Perrotta)Elizabeth Marleau (Janka)
Duração: 90 minutos


Postado Por Cintia Liana

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Possíveis desafios de adotar uma criança mais velha

Foto: Cintia Liana é citada na Revista Cláudia de dezembro de 2010

No mês de novembro cedi uma entrevista à uma das jornalistas da Revista Cláudia, Silvia Braccio. A matéria sobre adoção internacional será publicada na Edição de dezembro de 2010, que pode ser comprada nas bancas de todo o Brasil. Conta ainda quatro bonitas histórias de adoção. 
Como todos sabem, a Revista Cláudia é uma das mais vendidas em todo o País, direcionada a público feminino e com várias matérias de interesses diversos.
Fiquei muito feliz com o convite.
Como na matéria não tem espaço para publicar tudo o que falamos, ao contrário, publica uma pequena parte ou citações, resolvi postar aqui, aos poucos, partes da minha entrevista completa, cedida à jornalista.
Parabéns a revista Cláudia e a jornalista Silvia Braccio pela escolha do tema, que sempre ajuda a desmistificar muitos preconceito e, assim, possiblita mais encontros de amor, entre novos filhos e novos pais.


Foto: Google Imagens

Umas das perguntas da entrevista:
"Adoção Internacional"
Revista Cláudia - Quais os desafios de adotar uma criança mais velha?

Cintia Liana Reis de Silva - O maior desafio antes de adotar uma criança mais velha são os preconceitos e mitos que essa prática envolve. Crenças de que a criança já esteja tranzendo traumas vividos na família de origem e na instituição de onde vem; que já tragam hábitos ou vícios cotidianos difíceis de serem “retirados”. Medo de que a criança não se adapte ou que não reconheça os adotantes como “verdadeiros” pais, que rejeite os mesmos ou queira voltar para os genitores.

Há também a insegurança em achar que só com um bebê irá sentir amor, pois a chegada do bebê poderá se assemelhará ao máximo com um parto e será mais fiel aos meios e ritos “naturais” de se ter um filho.

Todas essas questões são muito corriqueiras, mas são fantasias que surgem da falta de informação e do preconceito. O pré requisito para uma adoção de sucesso é o desejo de amar, sem esse desejo não ocorre nem a adoção de um filho adotivo nem de um biológico, pois para se ter um filho biológico como um filho “verdadeiro” também precisa ocorrer um processo emocional de adoção, de acolhimento daquele ser. A única forma de assumirmos um papel e o desempenharmos bem em sua plenitude é sermos acolhidos e aceitos como tal.

Existem muitas vantagens em se adotar uma criança mais velha, por exemplo, elas desejam conscientemente uma família, já sabem que vêem de uma outra família, mas que por algum motivo não puderam permanecer com ela e precisam de pais substitutivos, estão dispostas a se doar e a amá-los como nunca.

Todas as adoções passam por fases e adotar crianças mais velhas não é mais complicado, o difícil é lidar com adotantes muito exigentes e muito metódicos, temerosos e muito inseguros, porque já bastam as inseguranças da criança, por medo de ser rejeitada mais uma vez, esta sim está ferida, mas com um grande desejo de recomeçar, de amar.

A adoção tardia é um tema que envolve muitos mitos não só imaginados pelos adotantes, mas também pela família extensa, amigos e companhias que estão em volta daqueles que desejam adotar e que muitas vezes dão conselhos respaldados numa mentalidade baseada nos dogmas ocidentais, numa visão reducionista e determinista do ser humano.

Se temos adotantes seguros, dispostos a dar amor e inicialmente não exigir que o futuro filho seja como eles esperam para ocupar este espaço, a criança se sentirá aceita e acolhida em sua totalidade e sentirá que o terreno é seguro para amar esses pais e que pode até desejar ser parecida com eles, pois são dignos deste amor e desta confiança.

Quando fui coordenadora do serviço de psicologia de uma Vara da Infância e Juventude no Brasil, em minhas reuniões, falava muito sobre adoção "tardia", sobre a necessidade de expansão do perfil, da transformação do desejo do filho ideal para o filho possível, pois não importa a idade para se tornar filho, o que conta é o desejo. Assim, via pessoas saindo da sala de reuniões dizendo que iriam direto ao serviço social mudar o perfil, pois adquiriu uma consciência de parentalidade e vínculo que não tinham antes, que não mais esperaria por uma criança que seria abandonada para estar em seus braços, mas que queriam uma criança que já estivesse esperando por eles em algum abrigo. Isso é um presente para mim enquanto profissional, é o melhor retorno, é maravilhoso!

Por Cintia Liana

Poema de Hercília Siqueira

Foto: Google Imagens

Não germinaste no meu ventre, sua sementinha cresceu em um lugar que desconheço, que amo por te fazerem para mim”.
Mesmo longe por algum tempo, nossas vidas se cruzariam, já estava escrito pelo Criador.
Sofrestes bastante o abandono, quem sabe não devias esquecer, na verdade não conseguimos ler nas entrelinhas da vida o por quê?
Não importa o ventre, o alimento que recebestes pelo cordão umbilical, do coração é a força da paixão...
“...Alegrastes com teu sorriso de criança pura e inocente todos que te cercaram antes, e agora nos dá o privilegio de abençoados com suas birras, pureza de criança meiga, graciosa, carinhosa, sua alegria de menina...”

(Hercília Siqueira)

Nota da Autora: Dedicado a todas crianças que ganharam um segundo lar, filhos tão amados quanto os de sangue.


Postado Por Cintia Liana

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Conselho Discute Política de Adoção Internacional

Foto: Google Imagens

01/12/2010 - 13h05min
Agência Brasil

Os integrantes do Conselho das Autoridades Centrais Brasileiras estão reunidos nesta quarta-feira (1º) para debater propostas destinadas a melhorar os procedimentos relacionados à adoção de crianças brasileiras por estrangeiros ou por brasileiros que moram no exterior.

Segundo a coordenadora-geral de Adoção e Subtração Internacional de Crianças e Adolescentes, Patrícia Lamego, um dos principais assuntos tratados na 13ª reunião do conselho é a ampliação da lista das sete nações que têm parcerias com o Brasil. "Há cinco países que querem adotar e nós estamos avaliando a possibilidade, mas o número de crianças disponíveis para adoção é pequeno e talvez não seja do nosso interesse", explicou Lamego. Entre os países estão a Grécia e a Irlanda.

Outras propostas a serem discutidas são destinadas a aperfeiçoar o modelo do relatório psicossocial (que avalia as condições psicológicas da criança) e o monitoramento dos organismos internacionais que atuam no país. A Convenção de Haia, ratificada pelo Brasil em 2000, estabelece que o interessado em adotar criança de outro país deve ser representado por uma entidade estrangeira credenciada.


Postado Por Cintia Liana

domingo, 5 de dezembro de 2010

Filhos de presos sofrem com a negligência e preconceito

Foto: Google Imagens

29/11/2010
Por Felipe Maeda Camargo

Filhos de pai ou mãe presos passam por problemas como preconceito e abandono nos abrigos do município de São Paulo. Tal situação foi observada pela professora Maria José Abrão em sua pesquisa pela Faculdade de Educação (FE) da USP. O abrigo é um lugar que oferece proteção, uma alternativa de moradia para crianças que foram afastadas dos pais por diversos motivos, como violência doméstica, abandono e prisão do responsável.

Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o abrigo é considerado provisório e excepcional, utilizável como forma de transição para posterior colocação das crianças e adolescentes em família substituta. No entanto, Maria conta o caso de um jovem de 14 anos que relatou estar no abrigo desde que nasceu. Seus pais foram presos há 14 anos e, desde então, ele e seu irmão, hoje com 17 anos, ficaram em regime de abrigo.

“O jovem deveria ser reinserido na família com algum parente, isso é feito por intermédio de um trabalho com os familiares. Pela lei, a criança não deveria permanecer por tanto tempo no abrigo. Esta não pode ser uma solução para a criança, mas uma medida paliativa e de urgência”, comenta a professora.

Esse mesmo adolescente também relatou situações de preconceito na escola. Colegas faziam brincadeiras por ele ser filho de presos e até os professores o tratavam diferentemente. Segundo Maria, o exemplo do garoto não é exclusivo. Outras crianças e adolescentes que vivem em abrigos sofrem com diferentes tipos de preconceito. Ao visitar alguns abrigos, a professora percebeu que seus dirigentes e funcionários temiam comentar sobre as crianças filhas de pais encarcerados.

“As crianças acabam sendo penalizadas e estigmatizadas pelo crime do pai ou da mãe”, critica a professora, que aponta dificuldades que elas sofrem também para serem adotadas por causa do preconceito. Mas, ela relata um caso particular de quatro irmãos que tiveram a mãe presa. Um deles será adotado por uma família estrangeira; para que o processo de adaptação ocorra bem, o abrigo em que ele mora trabalha para que ele perca aos poucos a memória de sua mãe. Porém, Maria diz que a criança ainda tem um laço afetivo grande com sua mãe. Ela acredita que essa situação é complexa e pensa que prejudicará a criança.

Restrições

Segundo o ECA, os abrigos precisam preservar os vínculos familiares das crianças e não podem privá-las de liberdade, diferentemente neste aspecto de um internato. Apesar disso, Maria verificou restrições nos abrigos. Neles, não permitem que as crianças façam atividades escolares fora da escola ou do abrigo, além de não poderem visitar amigos fora desses locais.

Além disso, as crianças e adolescentes que conversaram com a professora disseram que não tinham contato com os pais. Somente em um dos abrigos visitados o dirigente admitiu que uma vez levou as crianças para visitarem seus pais na prisão, mas ele disse que a experiência não deu certo. “A criança não escolhe se quer visitar os pais , o adulto decide o que ela faz. Os abrigos estão mais preocupados com a questão de presos dos responsáveis pela criança do que as condições deles como pais”, afirma Maria.

Todos os relatos dos jovens que a professora obteve vieram de um abrigo que ela consultou para um trabalho de disciplina de sua pós-graduação na FE. Já em sua pesquisa, que fez parte de sua dissertação de mestrado pela FE, sob orientação do professor Roberto da Silva, nenhum abrigo permitiu que ela se aproximasse das crianças. De 20 abrigos consultados, somente sete permitiram que ela visitasse o local, com os dados vindos somente por via dos dirigentes.

Maria vê pouca preocupação com o a situação dos abrigos e do cuidado destinado aos filhos de presidiários pelas autoridades e comenta que há poucos trabalhos acadêmicos sobre o assunto. “As crianças filhas de pais presos são invisíveis, socialmente falando: pouco se sabe o que elas pensam, quem são, quantas são e onde estão. É urgente pensar políticas públicas para esse grupo a fim de garantir o direito à convivência familiar e comunitária como preconiza a lei.”



Postado Por Cintia Liana

sábado, 4 de dezembro de 2010

Adoção HIV, Uma Possibilidade de Amor

Foto: Google Imagens

Transmissão vertical pode ser evitada..

Promotora estima que menos de 1%das crianças e adolescentes soropositivos consigam um novo lar

O medo de perder um filho em pouco tempo ou os cuidados e medicamentos necessários aos soropositivos faz com que muitas pessoas ignorem a possibilidade da adoção de uma criança portadora do vírus HIV. Esse medo, porém, impede a vivência de uma bela lição de vida, como definem os pais que deixaram de lado o preconceito.

Não existe um registro exato sobre os números de adoções de crianças e adolescentes com HIV. Os poucos casos são lembrados com alegria por profissionais dos abrigos onde moram os jovens. A promotora de Justiça da 2ª Vara da Infância e Juventude - Adoção, Marilia Vieira Frederico Abdo, arrisca a estimativa de menos de 1% de crianças e adolescentes soropositivos adotados. "Elas não têm chance", lamenta. A promotora conta que, nos cadastros de pais candidatos à adoção, a opção "criança com HIV" sempre é descartada.

Órfãos da Aids ou abandonados pela família biológica ainda recém-nascidos, crianças e adolescentes com HIV crescem em abrigos que dispõem de estrutura necessária para atender ao público. A criação de espaços específicos para os soropositivos não se justifica pelo preconceito ou a preocupação em deixá-los com outras crianças, mas pela infraestrutura -medicamentos, equipe técnica preparada e outros- que oferecem.

Em Curitiba, duas instituições abrigam 50 crianças e adolescentes, que vivem em uma grande família. São elas a Associação Paranaense Alegria de Viver (Apav) e a Associação Curitibana dos Órfãos da Aids (Acoa). "Não os preparamos para a adoção. Proporcionamos uma vida com qualidade, saúde. A adoção é consequência", afirma a coordenadora da Apav, Maria Rita Teixeira. Nos dois abrigos foram contabilizadas, nos últimos 15 anos, pouco mais de 30 adoções.

Lição de vida

A adoção de crianças com HIV segue no caminho contrário ao das outras. Enquanto os pais interessados em adotar se dirigem à vara específica e são apresentados a meninos ou meninas com o perfil que escolhem, a adoção de soropositivos é fruto de uma paixão entre atuantes da área e as crianças.

"Os pais que adotam (crianças com HIV) são pessoas extremamente especiais. Eu digo que quem adota é acima da média, que não vai achar dificuldade em nada, não vê obstáculos", afirma a promotora Marilia. Ela ainda complementa que, diferente do que esperam aqueles que rejeitam a adoção de crianças com HIV, a oportunidade de ter uma família contribui para o bem estar dos jovens. "A carga viral (quantidade do vírus HIV no organismo) baixa drasticamente quando a criança vai para uma família", comemora. "Ela vive muito bem. Só desenvolve a Aids se tem baixa imunidade. São saudáveis, independente do HIV", complementa Maria Rita, da Apav.

A coordenadora da Apav acompanha de perto a melhora que uma família traz às crianças soropositivas. Ela, que considera as mais de 100 crianças já atendidas pela organização como sua família, adotou há dez anos um filho soropositivo, experiência que considera uma "lição de vida". "A adoção nos ensinou a viver, a enfrentar as dificuldades, não ter medo do futuro. O ser humano é muito egoísta, quer satisfazer a vontade de exercer a paternidade, não está preparado para sofrer. Muitos deixam de ser feliz com medo no futuro", afirma.

Transmissão vertical pode ser evitada

Curitiba - Entre cada 100 gestantes com HIV que não fazem tratamento durante a gestação, 30 crianças nascem infectadas pelo vírus, o que caracteriza a transmissão vertical. As chances do vírus da mãe passar para o bebê caem para até 2% quando é realizado o acompanhamento durante o pré-natal.

A transmissão vertical pode ocorrer em três momentos: durante a gestação, na hora do parto ou na amamentação. A maior incidência é referente ao momento do parto, 60 a 70% dos casos. O HIV passa de mãe para filho por meio do sangue e secreções da membrana que protege o feto, rompida nas contrações do parto normal. Em menor índice, a transmissão ocorre no oitavo mês de gestação. Além disso, as mães soropositivas não podem amamentar seus filhos, pois o vírus HIV também é passado aos bebês pelo leite materno.

A transmissão vertical só é comprovada quatro meses após o nascimento da criança. O teste que identifica o HIV é realizado no primeiro mês de vida e repetido após três meses, quando a criança desenvolve sua própria imunidade. Se o resultado for negativo no segundo teste, a criança não foi infectada. Caso o resultado seja positivo nas duas dosagens, a criança possui o vírus HIV.

Iniciativa curitibana

A estrutura de atendimento de gestantes com HIV faz de Curitiba uma pioneira e um exemplo no combate à transmissão vertical. Todas as unidades básicas de saúde da cidade disponibilizam o teste diagnóstico do HIV, também a todas as gestantes atendidas pelo Programa Mãe Curitibana. Durante o pré-natal, elas são acompanhadas e recebem medicamentos para dimunir a carga viral.

De acordo com o coordenador do programa, Edvin Javier Boza Jimenez, os índices de transmissão vertical entre as mães atendidas pelo programa são altos em gestantes usuárias de drogas, prostitutas e moradoras de rua, que não dão continuidade ao tratamento.

As adolescentes também são um público que preocupam a equipe do programa. Muitas delas não se aceitam como soropositivas, começam tardiamente o acompanhamento ou ainda descobrem o HIV durante a gestação, por isso, também abandonam o pré-natal e colocam em risco o combate à transmissão vertical. (C.G.B.)

'Cada um tem uma missão'

Curitiba - Para o adolescente Oliver (nome fictício), ser soropositivo não representa um problema em sua vida. Aos 17 anos, o jovem diz ter chegado à conclusão de que o convívio com o HIV é um sinal. "Já pensei que não precisava ter o vírus, não foi minha culpa, não abusei de nada. Cada um tem uma missão, se tenho HIV é que tenho que fazer alguma coisa", analisa.

Ele nasceu com o vírus, passado de sua mãe pela transmissão vertical. A descoberta aconteceu apenas aos 6 anos de idade, quando a mãe, que não sabia de sua sorologia e, por isso não fez acompanhamento específico para evitar a transmissão vertical, passou mal. Um teste verificou a presença do HIV em Oliver e em seu irmão mais novo, que hoje tem 15 anos.

De personalidade tranquila, Oliver está no último ano do ensino médio e faz um curso técnico em informática. No final do ano, presta vestibular para artes cênicas, para realizar o sonho de ser ator. Além dos compromissos com os estudos, o adolescente também se dedica à organização onde vive desde os 9 anos, a Associação Paranaense Alegreia de Viver (Apav). "Moro aqui, tenho de tudo e posso fazer algo para compensar isso."

O jovem mantém contato com a família, principalmente com a avó, com quem morou até os 6 anos. Mesmo sem a possibilidade de ser adotado, ele acredita que o receio dos pais em relação às crianças soropositivas é resultado da desinformação. "Não que a pessoa seja ignorante, mas não tem conhecimento sobre o assunto e fica com medo de adotar, até medo de pegar na criança. Isso não acontece, é só ter cuidado", explica. Para ele, a adoção é uma opção para ter filhos no futuro, além dos biológicos. Inclusive a adoção de crianças com HIV. "Você adotaria uma criança soropositiva", pergunto. "Com certeza", responde Oliver com brilho nos olhos. (C.G.B.)

Livro mostra dificuldades

Curitiba - No livro "Adoção PositHIVa - Adoção de crianças e adolescentes portadores de HIV/Aids em Curitiba", a jornalista Dayane Carvalho apresenta o dia-a-dia e as dificuldades da adoção de crianças e adolescentes com HIV na Capital.

Sensibilizada pela realidade dos jovens abrigados em casas de apoio, ela conheceu de perto a relação de amor criada com os pais adotivos. "Meu objetivo com o livro é fazer com que as pessoas saibam da possibilidade de adotar um filho HIV positivo. Que elas saibam que uma criança ou um adolescente soropositivo deve ser tratado como qualquer outra criança ou adolescente, deve ter uma vida normal e precisa do carinho de um pai e/ou de uma mãe. Pois o afeto, o carinho e o amor ajudam a aumentar a imunidade do seu organismo, tornando-o mais forte para enfrentar a doença", explica.

Fonte: Folha de Londrina
Autor: Carolina Gabardo Belo
Texto completo disponível em http://www.jusbrasil.com.br/


Postado Por Cintia Liana

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Natal 2010 - Espalhe essa Idéia

Foto: Google Imagens

Que tal fazer algo diferente, este ano, no Natal?
Sim... Natal... daqui a pouco ele chega.
Que tal ir a uma agência dos Correios e pegar uma das 17 milhões de cartinhas de crianças pobres e ser o Papai ou Mamãe Noel delas?
Há a informação de que tem pedidos inacreditáveis.
Tem criança pedindo um panetone, uma blusa de frio para a avó...
É uma idéia.
É só pegar a carta e entregar o presente numa agência do correio até dia 20 de Dezembro.
O próprio correio se encarrega de fazer a entrega.
Imagina uma criança pobre, recebendo o presente que pediu ao Papai Noel...

DIVULGUE P/ SEUS AMIGOS DA LISTA
Na vida, a gente passa por 3 fases:
- a primeira, quando acreditamos no Papai Noel;
- a segunda, quando deixamos de acreditar e
- a terceira, quando nos tornamos Papai Noel


Enriqueça a sua vida fazendo o bem, um simples ato que pode trazer tanta a legria e esperança a um pequeno ser humano.

Postado Por Cintia Liana

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ensinando a Amar

Foto: Google Imagens

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."

(Nelson Mandela)


Postado Por Cintia Liana

domingo, 28 de novembro de 2010

Uma Reflexão sobre o Preconceito atrás da Palavra

Foto: Google Imagens

...isso é o aprendizado. De súbito você compreende algo
que havia precedido vida inteira, mas de maneira nova.

Por Doris Lessing

Em nosso dia-a-dia costumamos utilizar muitas expressões e termos que denotam preconceito sem que tenhamos plena consciência disso. Assim, as novelas, os meios de comunicação de massa e as propagandas estão repletos de chavões preconceituosos, muitas vezes mascarados em sátiras e situações engraçadas, as quais servem simplesmente para manter um determinado status quo que um segmento social acha recomendável. Rimos da mocinha “bonita e burra” de determinado programa de televisão e não percebemos o quanto isso é estereotipado e preconceituoso. Ouvimos e vemos, a todo o momento, expressões que denotam preconceito racial, étnico, estético e muitos outros. É preciso parar para refletir um pouco. Alguns termos transformam-se em diagnósticos de vida. Foi o que ocorreu com o termo “menor”. Menores eram sempre os filhos dos outros, aqueles que estavam na rua, era a cultura menorizada. O nosso filho era sempre uma criança ou adolescente, mas o filho do outro, do menos favorecido era um “menor”. Tomando consciência desse fato a sociedade aboliu o termo menor e passou a chamar todos os filhos de crianças e adolescentes, culminado com o fim do código de menores e com a promulgação do Estatuto da Criança e Adolescente.

Com os discursos e a literatura das famílias adotivas tem acontecido algo semelhante, onde se percebe, por trás da semântica, e que fazemos aqui uma moção para que isso seja modificado. Algumas pessoas perguntam para a mãe adotiva se “essa é a criança que você pegou para criar”; se a família possui filhos biológicos e adotivos, as pessoas costumam apontar para um deles e perguntar: “é esse o seu”?; Ou ainda, após saber da adoção, pessoas podem perguntar, mas “você conhece a mãe verdadeira dele”? Todas essas frases demonstram uma falta de esclarecimento associada ao preconceito em relação à esta constituição familiar.

De maneira geral, quando se fala em família adotiva, utiliza-se a antítese “família verdadeira”, “família natural”, “família legitima”. Temos por convicção, por força dos dados científicos, que a família adotiva não é artificial não, mas é tão verdadeira e legitima quanto a outra. Sua essência não é diferente, mas somente a contingência de como foi constituída. Então, sugerimos que sejam utilizados os termos família de sangue, família biológica, família de origem em contraposição à família adotiva. Da mesma forma, quando se fala em filho adotivo, a antítese mais comum é falar “filho verdadeiro”, “filho natural”, “filho legítimo”, “filho meu mesmo”. Sugerimos que sejam utilizados os termos filho de sangue e filho biológico, pois o filho adotivo não é artificial, nem falso ou ilegítimo e é filho mesmo dos seus pais adotivos!

Texto extraído de WEBER, Lídia. Laços de ternura. 2.ed. Curitiba: Juruá Ed, 1999. p.124-125.



Postado Por Cintia Liana

sábado, 27 de novembro de 2010

Adoção: Um ato de amor

Foto: Google Imagens

Por Zildinha Sequeira

A adoção, mais do que um ato jurídico, é um ato de amor. É reconhecer no filho(a) gerado por outras pessoas, nosso filho(a). Para haver adoção é necessário que tenha havido antes uma situação de abandono e que, por menos sofrimento que tenha sido para a criança, mexe muito. Essa história anterior não dá pra ser modificada, mas dá para se construir uma outra história, pontuada de gestos de solidariedade, respeito, verdade e amor.

Muitos pais, principalmente por medo de provocar sofrimento no filho(a), ficam adiando e, às vezes, não contam que ele é um filho adotivo (segredos exigem omissões e mentiras). Encare a situação com naturalidade e fale a verdade o quanto antes, não deixe que seu filho saiba da adoção por terceiros, isso provoca um sentimento de traição e dor. Aproveite uma situação como a gravidez de alguém próximo, o nascimento de um bichinho, um filme e conte como ele chegou à família e como começou a história de amor de vocês.

Evite falar termos como "filho do coração", pois, filhos adotivos ou naturais, são sempre do coração. Ele nasceu da barriga de alguém que não pode criá-lo(a) e que vocês o escolheram para ser seu filho(a) para o resto da vida.

Cuidado com os mitos
O mito de que os filhos adotivos nunca serão amados como os filhos biológicos ou que eles darão problema, cedo ou tarde, é absurdo e preconceituoso, pois os filhos biológicos também podem apresentar sérios problemas comportamentais. Tudo que pode acontecer ao filho adotivo, também pode acontecer ao filho biológico. Mas, a sociedade tende a ser menos tolerante com as atitudes das crianças adotadas, devido ao preconceito e à falta de informação.

Algo que preocupa os pretendentes à adoção é saber a origem das crianças, saber se elas eram filhos(as) de prostitutas, marginais, delinqüentes,... pois têm receio de que essas características possam ser herdadas geneticamente. Estudos comprovam que "há muito de genética sim, mas nem tanto que não possa ser modificado pelo meio e pela educação".

A maioria das crianças não apresenta problemas em decorrência da adoção, e sim em razão da infância ser um período marcado pelas descobertas e pelos testes de limites, sendo necessário que os pais funcionem como modelo de autoridade e estabeleçam, claramente, os limites aceitos pela família. Contudo, algumas crianças adotivas apresentam dificuldade em aceitar afeto, em conseqüência de uma história anterior de rejeição, e passam a "aprontar todas", querendo testar o amor dos pais, mas, na verdade, tudo o que ela precisa é se sentir acolhida, cuidada e amada para se desenvolver de forma saudável, como qualquer criança.

Um amor conquistado
Para ser pai e mãe, não é necessário que se tenha vivido uma gestação biológica e sim afetiva. Procriar é fisiológico; criar é afetivo. Laços de sangue não são, necessariamente, os mais fortes. Quantas vezes temos mais afinidades com amigos do que com membros de nossa própria família? É a convivência amorosa que gera oportunidade de trocas de afeto, de carinho, de falar, de ouvir, de acolher e de estimular, de orientar e promover crescimento.

Alguns filhos adotivos manifestam o desejo de conhecer seus "pais biológicos", mas, não se preocupe, isso não quer dizer que ele não os ame e nem que deseja mudar de família e sim que deseja conhecer "um pedaço da sua história" para que elabore o fato de que foi abandonado(a) não por não merecer ser amado(a) e sim por ter sido gerado em uma família que não teve condições para criá-lo. É importante que você esteja ao lado do seu filho nesse momento, pois isso faz parte da construção de uma relação baseada na verdade, no respeito e no afeto. Afinal, filhos desejados ou escolhidos serão sempre filhos do amor.

Jornal “O Liberal” - Revista Troppo (Belém 21 de Novembro de 2010)


Postado Por Cintia Liana