"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A confusão da atual licença maternidade no Brasil

Foto: Elena Kalis

Olhem como a lei e a falta de organização atrapalham a vida das pessoas.
As novas mães estão tendo que pedir o direito que já lhes é conferido e tendo que instituir advogado que pede 20% do que ganharem. É a lei contra o povo. Como alguém tem direito a algo, mas tem que entrar na justiça pedindo por ele?
Falta de organização, de comunicação e de respeito com as pessoas.

Saibam porque as mães que têm direito a 120 dias de salário maternidade só estão recebendo 30 do INSS.

Explica uma funcionária de um Fórum no Brasil:

O que acontece com respeito à licença-maternidade para a mãe que adota é que a Lei 12.010/2009 (Nova Lei de Adoção), promulgada em 2009, determina a licença-maternidade com período de 120 dias para todas, independente da idade da criança. Porém, o INSS continua a seguir a regra antiga devido ao fato de alegarem a falta de uma norma interna que modifique a LBPS. Assim, as mães que adotam crianças maiores e desejam exercer o seu direito de permanecer mais tempo com seus filhos, necessitam entrar com processo judicial para garantirem o direito que o INSS não reconhece, mas está preconizado na Lei, e a Justiça reconhece.

Quanto ao PEC 30/2007, proposto pela deputada Rita Camata, ainda está tramitando na Câmara dos Deputados, onde amplia para 180 dias a licença-maternidade para todas as mães, adotivas ou não. Inclusive estou cadastrada para saber as atualizações da tramitação desse PEC, pois resta ser aprovado pelo Senado, sem emendas. Caso contrário, retorna para a Câmara para as devidas correções.


Postado Por Cintia Liana

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A versão italiana do "Psicologia e Adoção"

Foto: Google Imagens

Agora o "Psicologia e Adoção" tem um irmão gêmeo, o "Psicologia e Adozione". A versão italiana é igualzinha, só muda o idioma.
Dá uma passadinha lá para conhecer e indique para os seus amigos italianos.
Um abraço.

Por Cintia Liana

Relação de vinculação

Foto: Google Imagens

Por Mafalda Teixeira

A vinculação é a necessidade de criar e manter relações de proximidade e afectividade com os outros, de o bebé se apegar a outros seres humanos para assegurar protecção e segurança. Esta relação é uma necessidade básica/primária que é decisiva para o desenvolvimento físico e psicológico do bebé.

Para assegurar estas relações de proximidade com as figuras de vinculação/protecção, os bebés recorrem a determinados esquemas comportamentais como chorar, sorrir, mamar, etc.

Investigação de Bowlby:
Bowlby desenvolveu um conjunto de investigações sobre as relações entre as perturbações de comportamento e a história da infância. Concluiu que a proximidade física do progenitor é uma necessidade inata, primária, essencial ao desenvolvimento mental do ser humano e ao desenvolvimento da sociabilidade. Defendeu que a vinculação aos progenitores responde a duas necessidades: protecção e socialização.

Outras investigações – Teoria da Vinculação
Uma psicóloga canadiana que trabalhou com Bowlby e que desenvolveu a teoria da vinculação concluiu que se a relação com os pais gera segurança, na medida em que o bebé está certo que a relação se mantém para além da separação, a criança sente-se mais livre para descobrir o mundo, para estabelecer outras relações. A partir de uma experiência em que a investigadora registou o efeito da separação e do reencontro de bebés com as suas mães, distinguiu 3 categorias de vinculação:

•® Vinculação Segura – os bebés choram e protestam pela ausência da mãe e procura o contacto físico logo que ela se aproxima de novo (vinculação ideal)
•® Vinculação Evitante – os bebés parecem indiferentes à separação da mãe e ao seu regresso
•® Vinculação Ambivalente/Resistente – os bebés manifestam ansiedade mesmo antes da mãe sair e perturbação quando as abandona, hesitando entre a aproximação e o afastamento dela quando esta regressa

A qualidade das primeiras vinculações influencia as relações que a criança vai estabelecer no futuro. Estas serão como que um modelo do que se pode esperar dos outros.

Para estudar a relação dos bebés com os pais, a investigadora realizou a mesma experiência com o progenitor masculino e concluiu que o sofrimento era maior quando a mãe deixava a criança e a alegria maior quando ela voltava. Em idades precoces, a mãe parece mais importante.

Algumas críticas foram feitas relativamente à forma como se retiraram as conclusões da experiência, sobretudo se não se tiver em conta, para além de outros factores, as condicionantes de ordem cultural e socioeconómica.

A figura de Vinculação
O bebé estabelece laços de vinculação com a pessoa mais próxima que permanentemente cuida dele. Esta pessoa não terá de ser forçosamente a mãe biológica. Outros cuidadores podem substituir a mãe: há agentes maternantes, como os pais, outros familiares e outros elementos sociais que desempenham esse papel, funcionado como figura de vinculação.

Na sociedade actual em que as crianças estão inseridas em jardins-de-infância, são favorecidas outras relações que nos permitem falar de vinculações múltiplas.

Vinculação e Equilíbrio Psicológico:
O envolvimento físico e emocional que se estabelece na relação mãe-bebé permite que a criança cresça equilibradamente para fazer face às necessidades e dificuldades do dia-a-dia.

A mãe, ao interpretar e ao responder satisfatoriamente às necessidades orgânicas e aos estados emocionais do seu filho, não só disponibiliza prazer e satisfação no presente como influencia muitos aspectos da sua constituição psicológica, do seu espaço psíquico no futuro.

As representações relacionais que se constroem durante a primeira infância contribuem para a estruturação da sexualidade. A boa qualidade da relação com a mãe manifesta-se numa relação mais equilibrada com o seu próprio corpo, sem tensão e inibições excessivas, o que leva a uma maior proximidade com os outros significativos.

A um processo de vinculação securizante corresponderá uma melhor regulação emocional: favorece a confiança em si próprio, a capacidade em ultrapassar as dificuldades, em se sentir bem consigo mesmo e com os outros. A confiança que se pode estabelecer nestes primeiros vínculos permitirá gerir com mais segurança os desafios que as interacções com os outros implicam. Assim, um vínculo seguro e confiante propiciará interacções sociais positivas e seguras, aumenta a confiança nos outros.

Individuação – necessidade primária de o ser humano criar a sua própria identidade, a sua individualidade, de se distinguir daqueles com quem mantém laços de vinculação.

Na base do processo de individuação está a vinculação. São as figuras de vinculação que favorecerão o processo de individuação, ao desenvolverem relações de segurança e de confiança com o bebé. É o sentimento de segurança e de confiança em saber que os pais permanecem que motiva a criança a ousar explorar o meio, a afastar-se – princípio do processo de autonomia.


Com o devido crédito ao autor e publicação da fonte


Postado Por Cintia Liana

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Filhos são do mundo

Foto: Google Imagens

Por José Saramago

Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autônomos, libertos, até de nossas ordens. A partir de certa idade, só valem conselhos.

Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto aquele bebê que um dia levamos na barriga. E a maioria de nós pais acredita e tenta fazer isso. O que não nos impede de sofrer quando fazem escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios sofrem pelas escolhas que recomendamos.

Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem.

Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.

Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo! Então, de quem são nossos filhos? Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.

E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento? Não deveriam retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice? Pensar assim é entender os filhos como nossos e eles, não se esqueçam, são do mundo!

Volto para casa ao fim do plantão, início de férias, mais tempo para os fllhos, olho meus pequenos pimpolhos e penso como seria bom se não fossem apenas empréstimo! Mas é. Eles são do mundo. O problema é que meu coração já é deles.
Santo anjo do Senhor...

É a mais concreta realidade. Só resta a nós, mães e pais, rezar e aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das nossas 'crias', que mesmo sendo 'emprestadas' são a maior parte de nós !!!

"A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver "
José Saramago


Postado Por Cintia Liana

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Casais gays prestes a obter conquista

Foto: Google Imagens

22/02/2011 | Fonte: Jornal Estado de Minas

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decide amanhã se as regras do direito de família podem ser aplicadas a casais gays. Apesar de a Justiça brasileira, em todas as instâncias, cada vez mais reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo, o tema ainda carece de uma jurisprudência mais clara. Em muitos processos envolvendo relacionamento de pessoas do mesmo sexo, a união homossexual tem sido reconhecida como sociedade e não como família, por isso o julgamento de amanhã pode consolidar a posição da Justiça brasileira em torno do assunto.

O caso envolve um homem que se separou de seu parceiro depois de 11 anos de vida em comum. Ele ganhou na primeira instância da Vara de Família da Justiça gaúcha o direito à partilha do patrimônio do casal, todo registrado em nome do ex-companheiro, e o direito ao pagamento de pensão alimentícia. Em recurso ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a pensão alimentícia foi suspensa e a divisão de bens mantida, no entanto, o parceiro que foi obrigado a dividir o patrimônio de bens recorreu.

Sua defesa alega que a decisão do TJRS viola artigos do Código Civil que reconhecem a união estável apenas como homem e mulher e também os que tratam de sociedade de fato. O recurso quer que o STJ declare a incompetência da Vara de Família para o caso e solicita que os bens sejam partilhados conforme demonstrada a contribuição efetiva de cada parceiro. O nome dos envolvidos na ação é sigiloso.

Em razão da relevância do tema, o caso vai ser julgado por um colegiado de 10 ministros responsáveis por todos os casos relativos a Direito de Família e Direito Privado. Segundo o STJ, esse processo foi remetido a tal colegiado para uniformizar o entendimento da corte superior sobre o assunto e criar uma jurisprudência consolidada a respeito em todas as turmas da corte. O processo é relatado pela ministra Nancy Andrighi, que em outros casos já se mostrou favorável ao reconhecimento da união homossexual à luz do direito de família.

Para o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, a Justiça como um todo precisa entender que a união gay não é um negócio, sujeito às regras de constituição de sociedade. "A união gay não é uma mera junção de interesses financeiros." Segundo ele, em várias instância a Justiça, para não reconhecer que existem famílias homossexuais, fica "dourando a pílula" e tratando o assunto como se fosse puramente financeiro. "Apesar de as dificuldades que ainda existem, a justiça vem dando decisões favoráveis à nossa causa. Vamos continuar na batalha, pois queremos o reconhecimento de nossos direitos civis", afirma Toni Reis.

Adoção enfrenta entrave

Em Minas Gerais, um médico e professor universitário de 59 anos briga na Justiça para conseguir regularizar a adoção de um menor que vive sob sua guarda desde 2007. Vivendo há 30 anos uma união gay, Paulo Mourão iniciou em 2007 um processo de adoção de um menor em Coronel Fabriciano, Vale do Aço. No ano passado, depois de um estudo social sobre a situação do menino na família, a Justiça local deferiu o pedido de adoção, mas manteve os vínculos do menor com a mãe biológica. "Uma família não precisa necessariamente ter uma figura materna", disse ele.

De acordo com o médico, esse foi o argumento usado pela Justiça de Fabriciano para manter o vínculo do menor com a mãe. Com essa decisão, o nome da mãe do menino, com que o pai adotivo nunca se encontrou, continua na certidão de nascimento do menor e nada pode ser feito sem o seu consentimento da Justiça. "Meu filho tem um pai adotivo e mãe biológica, que sequer se conhecem."

Ele afirma que "curiosamente", três das irmãs de seu filho foram adotadas na mesma comarca e em todos os processos a mãe biológica foi destituída dos seus poderes sobre as filhas. "Ou seja, a mesma mãe foi tratada de uma maneira nos processos de adoção por casais heterossexuais e de outra no processo de adoção por um homem solteiro e declaradamente homossexual. Isso é uma demonstração flagrante de preconceito e discriminação", reclama Mourão, que mora no Rio de Janeiro com o companheiro e o filho.

Segundo ele, além dos problemas de ordem prática, como, por exemplo, não poder viajar para o exterior sem a autorização da Justiça, porque não detém a exclusividade sobre a guarda da criança, a decisão ainda traz problemas de ordem emocional. "Nosso filho ficou abalado com essa decisão. Ele não quer mais contato com a mãe nem com a família biológica." O caso de Mourão tramita no Tribunal de Justiça de Minas Gerais em sigilo. A expectativa do médico é que o julgamento ocorra até agosto.



Postado Por Cintia Liana

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Continuação - "Procuram-se pais"

Foto: Elena Kalis

A prioridade para adotar no Brasil é de casais brasileiros residentes aqui e depois de casais brasileiros que moram no exterior. Eliminadas essas possibilidades, as crianças maiores de 5 anos podem ser encaminhadas para a adoção internacional. “Procuramos uma família para uma criança, e não uma criança para uma família”, esclarece Antonio Carlos Berlini, diretor da ONG Humanitária Amici dei Bambini para o Brasil e advogado e presidente da Comissão Especial de Direito à Adoção da OAB-SP. O processo pode levar de um a três anos. O casal encaminha o pedido à autoridade de seu país, e o juiz indica uma entidade de adoção. Os adotantes são preparados por psicólogos e assistentes sociais. A entidade faz um cruzamento de informações com alguns países, indicando as crianças que poderiam se adaptar à família. Se o casal aceitar a sugestão, um dossiê com suas informações segue para o país escolhido. No Brasil, a entidade local faz a habilitação junto à Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional (Cejai), que avalia o pedido e o encaminha ao juiz estadual. O casal entra na lista de estrangeiros habilitados à adoção. O juiz autoriza que a criança seja apresentada aos “novos” pais por meio de fotos. Diante da resposta positiva do casal, a vinda dele ao Brasil é liberada. A entidade providencia o primeiro encontro de pais e filhos na vara ou no abrigo. Começa o estágio de convivência, que leva no mínimo 30 dias, período fundamental para que pais e filhos se aproximem. Ao final da convivência, o promotor dá um parecer e o juiz emite a sentença final. Mais 15 dias para providenciar a documentação e eles podem viajar. O acompanhamento continua por dois anos com relatórios que devem ser enviados para o Brasil a cada seis meses.

Fonte: http://claudia.abril.com.br/materias/4638/?pagina6&sh=31&cnl=32&sc=

Postado Por Cintia Liana

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Continuação - "Tinha sonhado tanto com ele"

Foto: Revista Cláudia. Soleda, Yves e Leandro.

A espanhola Solédad, 50 anos, vive na França desde 1963. Há 22 anos, conheceu o francês Yves, 48, apaixonaram-se e há 12 dividem o mesmo teto.

Mãe do policial Julien, hoje com 27 anos, do primeiro casamento, Solédad queria muito ter um filho com Yves. Foram três tentativas de gravidez interrompidas.

A ideia da adoção surgiu, mas Yves não se entusiasmava, talvez por ainda nutrir a esperança de ter o próprio filho. Em janeiro de 2003, ele revelou o desejo de adotar uma criança. Os dois iniciaram, então, o processo burocrático. Sem exigências de etnia, o pedido foi encaminhado ao Brasil pela associação autorizada pelo governo francês, a Edelweiss. “Tudo o que queríamos era uma criança para amar e fazer feliz”, resume a mãe.

Começava a espera. Cada toque de telefone fazia o coração daqueles pais bater mais forte. Espalharam a notícia para os amigos e a família, prepararam um quarto lindo, colorido e cheio de brinquedos para o filho. Quantas vezes fui chorar naquela cama me perguntando: ‘Quando você estará aqui, meu pequeno?’ ”, lembra Solédad.

Em maio de 2006, um e-mail da associação avisava que haviam encontrado um menino de 5 anos, hiperativo e sociável. “Tínhamos 24 horas para dizer se queríamos. Logo respondemos sim”, conta ela. Poucos dias depois, ela recebeu em casa fotos do menino. Mais quatro meses e eles desembarcaram em Guarulhos (SP) na manhã do dia 15 de setembro. No início da tarde, foram levados ao orfanato para o tão aguardado encontro. Tinha sonhado tanto com ele, imaginado a doçura de sua pele, seu cheiro, o som da sua voz... os minutos pareciam horas”, relembra Solédad.

Quando Leandro chegou ao local onde o esperavam, ele se jogou nos braços de Yves. “Foi a primeira e única vez que vi meu marido chorar. Em seguida, ele me abraçou e ficamos assim, chorando e nos tocando por alguns minutos. Todos os nossos esforços e a espera haviam sido recompensados e os momentos de tristeza e dúvidas tinham chegado ao fim.”

Léandro tinha 5 anos e 8 meses naquela ocasião. As primeiras horas de convivência foram tranquilas, mas no dia seguinte o menino começou a se rebelar. Passou a evitar os carinhos da mãe e lhe dirigir palavrões quando se deu conta de que ela entendia o que ele dizia por ser de origem espanhola. A cada repreensão, ele respondia com mais agressividade. Com Yves, o comportamento dele não se alterou. “Comecei a pensar que ele nunca iria me amar, que a adoção não daria certo”, admite Solédad. “As quatro semanas de convivência programadas transcorreram assim, mas Yves e Solédad perceberam que o menino estava testando-os para saber até que ponto eles o queriam, se seria amado apesar do mau comportamento. Léandro já havia sido adotado uma vez por brasileiros que o devolveram ao abrigo.

No final de outubro daquele ano, a família retornou à França. Uma grande surpresa os aguardava no aeroporto. Estavam todos lá, parentes e amigos, ansiosos para conhecer o novo membro da família. Dali em diante, as férias tinham terminado e era preciso encarar a realidade. Léandro continuava a rejeitar Solédad ao mesmo tempo que se aproximava cada vez mais de Yves, o que acabou gerando conflitos entre os pais. “Fiquei com ciúme daquela cumplicidade”, confessa a mãe. Pouco a pouco, as tensões se acalmaram, e a família encontrou seu ritmo de vida normal.

“No primeiro dia de aula, diante da escola, ele apertava nossas mãos, até que ouviu um colega gritar ‘C’est Léandro qui est arrivé’ (Léandro chegou). Todos vieram recebê-lo e vimos o alívio em seu rosto. Em oito meses, ele já dominava o francês e nunca mais quis falar português. Percebemos que desejava ser como os outros. A única diferença é a cor de sua pele.

Ele é gentil, afetuoso e adorado pelos amigos”, descreve a orgulhosa mãe. “Sempre dizemos a ele que, aconteça o que acontecer, nós estaremos aqui e que o amamos muito. Quando perguntamos a ele se nos ama, ele afirma com toda força: ‘Oui’. Tenho certeza de que o destino armou esse encontro para nossa maior e grande felicidade.”



Postado Por Cintia Liana

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Continuação - "Adoção de crianças brasileiras por estrangeiros"

Foto: Elena Kalis

A linguagem do amor e do olhar

Alguém já teve a oportunidade de acompanhar um nascimento quádruplo? Pois eu, repórter, tive essa alegria. E o local do belo acontecimento que testemunhei numa cinza manhã de quarta-feira, em plena e atípica primavera paulistana, não era habitado por médicos nem enfermeiras. Tampouco tinha salas de parto e berçários. Um hotel na zona sul de São Paulo hospedava Marco*, Bruna*, Cecília* e Carolina*. Marco e Bruna, os pais. Cecília e Carolina, as filhas. Um casal de italianos na faixa dos 50 anos, juntos há 18, visivelmente felizes e unidos. Elas, duas meninas brasileiras de 6 e 7 anos, abandonadas pela mãe em um abrigo. Eles, cheios de amor para dar aos filhos que não conseguiram ter de forma natural, e elas precisando do afeto e dos cuidados paternais que a vida nunca lhes proporcionou. Naquela manhã nublada de novembro, Marco, Bruna, Cecília e Carolina estavam se reconhecendo no estágio de convivência. De um total de cerca de 50 dias que dura esse período, aquele era o 17º. O apartamento já tinha ganhado vida e estava tomado por brinquedos espalhados pelo chão e pelas vozinhas das meninas. Entre expressões por vezes assustadas com a constatação de que o sonho estava se concretizando, Marco e Bruna contaram a bela história desde o início. Há cerca de cinco anos, o casal partiu para a adoção depois de algumas tentativas malsucedidas de gravidez. Na Itália, o pedido é dirigido simultaneamente para adoção nacional e internacional. Eles não especificaram gênero, características físicas, nacionalidade, raça, mas se dispuseram a adotar uma ou duas crianças. Foram dois anos de preparação psicossocial até o telefone tocar, no dia 9 de agosto, com a notícia. “Estávamos no início das férias e a sede da entidade, a Amici dei Bambini, ligou informando que tinha encontrado as duas crianças no Brasil”, lembra Bruna. A nova tanto esperada causou um susto. Na hora, o impacto para mim não foi tão positivo”, confessa Marco. “Depois de algum tempo, fui me acalmando. Algo acendeu em mim e veio a emoção.” No final de outubro, os italianos desembarcaram em São Paulo – primeira vez no Brasil – para conhecer as meninas, cujos rostinhos tinham visto por fotos. “No caminho até a instituição, não conseguia parar de imaginar o que iria acontecer em alguns minutos”, lembra o pai. A mais velha e extrovertida, Cecília, foi logo abraçando a mãe. “Quando a vi de pertinho, achei que ela parecia menor do que na foto. Impossível descrever o primeiro abraço. Foi como um nascimento”, conta Bruna, emocionada. Emoção que só se intensifica a cada dia de convivência com as filhas. “Não é fácil, viu?”, diz Marco. Claro que não. Tudo é novidade, para eles e para elas. Afinal, eles estão se conhecendo, cada qual com sua personalidade, seus medos, suas dúvidas e desconfianças. Motivos não faltam para Cecília e Carolina: elas já haviam sido adotadas por um casal brasileiro e foram devolvidas depois de terem presenciado muitas brigas. A figura masculina, rara nos abrigos, ainda causava estranheza. “Elas ficam com vergonha”, diz Marco. No início, elas disputavam quem se aproximaria dele primeiro, até que o conflito virou briga. Peguei as mãozinhas delas, juntei às minhas e às da Bruna e disse: ‘Esta é uma família, e aqui não se deve brigar’. Foi uma surpresa, porque elas não foram castigadas.” Crianças que são, as meninas pintam e bordam. Sujam a camiseta, desarrumam o banheiro, derramam suco... O casal vai se acostumando com a rotina de dividir o espaço com as pequenas. O trabalho é longo, eles sabem. A mãe, mais paciente; o pai, mais rígido. Equilíbrio fundamental para quem educa. “Um dia, para nos agradar, elas lavaram todo o banheiro com o detergente da louça”, contam os dois, orgulhosos. Nesta fase de reconhecimento, a língua é ainda a maior barreira para o convívio. Eles falam pouco o português, mas elas já não se apertam tanto com o italiano dos pais. “É a linguagem do amor”, garante Bruna. “E do olhar, que é internacional”, emenda Marco.


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Aguardem a continuação da matéria nos próximos dois posts.


Postado Por Cintia Liana

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cintia Liana também é citada no site da Revista Cláudia

"Adoção de crianças brasileiras por estrangeiros"

Crianças brasileiras precisando de pais que as acolham e amem. Casais estrangeiros em busca dos filhos que não puderam gerar. Quando essas duas realidades se cruzam, há uma explosão de sentimentos: amores represados, alegrias, conflitos, incompreensão. Superados os obstáculos, nascem novas famílias – e uma esperança para meninos e meninas que tinham perdido a capacidade de sonhar

Silvia Braccio

Foto: Revista Cláudia

Ter um filho é uma das decisões mais importantes que se pode tomar na vida – senão a maior delas. O que dizer de quem opta por acolher um filho gerado em outro ventre? E o que dizer ainda de alguém que escolhe amar uma criança crescida, que já viveu em seus 5, 6 ou 7 anos experiências de rejeição, abandono, falta de amor? E se esses meninos e meninas ainda falarem outra língua, tiverem sido criados até ali em uma cultura completamente diversa? É desse cruzamento, de crianças que não encontraram no próprio país uma família que as acolhesse e de casais estrangeiros ávidos por doar todo seu amor ao filho que a vida não lhes deu de maneira natural, que surge a adoção internacional. Pode haver doação maior? Pessoas que não raro atravessam um oceano e movem fundos e mundos para exercer o papel de pais. Mergulham em um universo duro de dossiês e argumentos para provar que, sim, têm amor, condições psicológicas e financeiras para resgatar dos abrigos crianças abandonadas e transformá-las em filhos do coração. “O pré-requisito para uma adoção de sucesso é o desejo de amar”, resume Cintia Liana, psicóloga especialista em adoção e família, que já acompanhou mais de 50 processos internacionais no Brasil. “Há muitos preconceitos em torno da adoção de crianças mais velhas. É preciso transformar o desejo do filho ideal no do filho possível.” Qualquer adoção é baseada no princípio de que um casal não tem que ter um filho, mas toda criança tem que ter uma família. CLAUDIA apresenta quatro histórias de casais estrangeiros que sempre acreditaram nisso.

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Um encontro escrito nas estrelas

Eles eram o número 146 da lista de adoção. Queriam uma menina, recém-nascida, de olhos azuis. Era o ano de 1997, e os franceses Claude* e Francine*, que viviam no Brasil desde 1989 por causa do trabalho dele, já tinham a cidadania brasileira. Entraram, por isso, na fila nacional. Na planilha de informações que tiveram que preencher, se dispuseram a adotar duas crianças. Pronto, informação preciosa para fazê-los pular da 146ª para a sexta posição. Foram nove meses de espera até o anúncio de que dois meninos gêmeos estavam à espera de novos pais. A resposta tinha que ser dada no mesmo dia. “Liguei na hora para Claude e, se tivesse dito que eram três crianças, ele aceitaria do mesmo jeito”, acredita Francine. Faltava aguardar a aprovação do juiz, o que poderia levar uma semana. “Eu ligava todos os dias para saber se ele havia decidido, até que veio a confirmação oficial.” A história de Claude e Francine destoa de outros pais estrangeiros porque eles adotaram bebês – o que não costuma acontecer na esfera internacional, que recomenda a adoção de crianças maiores de 5 anos. Os meninos tinham 3 meses e se encontravam na extinta Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem). Eram prematuros, estavam doentes, tinham asma e bronquite. “Foi amor à primeira vista.” Chegaram em casa com os dois bebês e encararam uma rotina enlouquecedora. “Ficamos quatro anos sem dormir”, conta Francine. Breno* tinha refluxo e alergia ao gato da casa, o que eles só descobriram depois de muitas noites insones. O menino não ganhava peso e, quando mamava, vomitava em seguida. Alain* crescia normalmente, mas demonstrava uma clara rejeição pela figura feminina: só queria saber do pai. “Para ele, todas as mulheres eram mães que poderiam machucá-lo e abandoná-lo”, explica Francine. Já Breno parecia ter medo de tudo e passou um ano sem esboçar um sorriso. Hoje, aos 13 anos, Breno e Alain preferem não conversar sobre a adoção, mas sempre souberam de suas origens. Claude contava uma história: “Era uma vez em São Paulo dois meninos procurando pais e dois pais em busca de dois filhos... até que nos encontramos.”

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Foto: Revista Cláudia. Catherine e Dayane na festa de 13 anos.

Mãe solteira por adoção

Sempre quis ter filhos, mas até os 40 anos isso não me preocupava. Um dia, despertei para o fato de que ainda poderia estar em tempo. Aquela ideia começou a martelar na minha cabeça, só que nem namorado eu tinha. Optei, então, pela adoção. Tenho absoluta certeza de que os laços de sangue não são fundamentais para sustentar relações fortes.

Aqui na França, trabalho como terapeuta ocupacional na reabilitação de crianças com deficiência motora e sei bem o que representa ser pai ou mãe. Comecei o processo em fevereiro de 2001 e passei nove meses me preparando por meio de encontros com assistentes sociais e psicólogos. É um período muito importante de reflexão que mexe demais com a gente. Com tudo aprovado pela Justiça, encontrei uma entidade que aceitou meu dossiê – não era tão simples assim para uma mulher solteira.

A Edelweiss, associação autorizada pelo governo francês, me colocou em contato com casais que haviam adotado crianças brasileiras. Queria uma criança em idade escolar, em torno dos 7 anos. Meu pedido seguiu para o Brasil em junho de 2002. E ali começou o infindável período de incertezas, inquietudes e esperança. Já haviam me prevenido de que a espera levaria em torno de dois anos.

No dia 15 de julho de 2003, um telefonema mudou minha vida para sempre. Lembro de cada detalhe daquela ligação: “Temos uma menina de 7 anos que se chama Dayane”. E ainda era uma menina. O presente não poderia ser mais completo. Eu poderia pensar e dar a resposta no dia seguinte. Por que esperar mais? Para ver uma foto? Eu já me sentia mãe dela. Quinze dias depois, parti para o Brasil. Não lembro absolutamente nada da viagem, dormi as 12 horas de voo. Cheguei ao Rio de Janeiro e segui para Vitória, no Espírito Santo. Na manhã seguinte, mais três horas de viagem me levariam ao encontro da minha filha em uma cidadezinha do interior. E voilà, a minha menina estava diante de mim, me descobrindo à medida que eu a descobria. A vontade era de abraçá-la, mas fui conversando calmamente até que ela me pegou pela mão e me levou para conhecer o orfanato. Assim, de mãos dadas, pegamos um táxi de volta a Vitória. Dentro do carro, a primeira coisa que me pediu foi que a levasse à Itália para encontrar sua melhor amiga, que havia sido adotada por uma família de lá. Em seguida, adormeceu deitada sobre as minhas pernas. Fiquei completamente seduzida por aquela maneira tão genuína de afeto, de confiança, de me chamar de “mamãe”.

Ali começava nosso estágio de convivência de cinco semanas, no qual experimentei momentos fantásticos e também difíceis. Ora Dayane se deixava abraçar, paparicar, me pedia para ser sua mãe, ora ela entrava em pânico porque não se fazia compreender e me rejeitava. Felizmente, esse momentos se alternavam num mesmo dia. Findo o estágio de convivência e com os documentos em mãos, era hora de embarcar de volta para a França. Muitas descobertas por vir: a casa nova, a família, os amigos, os animais – temos dois gatos e uma cachorra, a Caipirinha (Caipi), a escola, o novo ritmo de vida.

Vieram os momentos de desânimo. A escola lhe parecia difícil demais, o sol fazia falta, mas sempre conversamos muito sobre tudo. Dayane é bem franco-brasileira, orgulhosa de suas origens, mesmo que as diferenças às vezes pesem um pouco. Nossa vida juntas virou a minha de cabeça para baixo, mas era exatamente o que eu mais desejava. Me preocupo, às vezes fico chateada por ela, sou uma mãe exigente em alguns pontos, liberal em outros. Como a minha vida seria triste sem Dayane! Nossa ligação é tão evidente que fica até mesmo difícil lembrar que ela teve que ser construída. Hoje, com 14 anos, ela me faz lembrar de mim mesma quando reage dessa ou daquela maneira. Ora, claro, ela é minha filha.

Catherine, 50 anos

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Nos próximos posts colocarei todas as outras etapas da matéria.

Adoção internacional
Um encontro escrito nas estrelas
Mãe solteira por adoção
A linguagem do amor e do olhar
Tinha sonhado tanto com ele
Procuram-se pais

Postado Por Cintia Liana

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Argentina descobre irmã gêmea em programa de TV

Foto: Elena Kalis

Separadas no nascimento, Mirta Santos e María Fernández não sabiam da existência uma da outra e se reencontraram aos 50 anos.

24 de janeiro de 2011 | 7h 39

Mirta e María (direita) foram separadas logo após o nascimento

Duas irmãs gêmeas argentinas separadas no nascimento e criadas por famílias adotivas sem saber da existência uma da outra, se reencontraram aos 50 anos de idade graças a um programa de TV.

Mirta Santos e María Dolores Fernández cresceram em cidades afastadas, a primeira na cidade de Neuquém, na Patagônia, e a outra na província de Buenos Aires.

Ambas acabaram descobrindo que eram adotadas e passaram a buscar mais informações sobre sua família biológica.

Mirta soube que tinha uma irmão gêmea através da mãe adotiva, que lhe contou isso pouco antes de morrer.

"Eu tive filhos gêmeos e desconfiei que poderia ter uma irmã gêmea, já que os médicos dizem que é congênito", disse Mirta à rádio Cadena 3, de Córdoba.

Já María Dolores ficou sabendo de que tinha uma irmã por conta própria. "Sempre suspeitei que era adotada. Um dia peguei minha certidão de nascimento e procurei as testemunhas de meu registro em cartório. Descobri que eu tinha uma irmã gêmea", disse ela.

As duas acabaram se encontrando graças a uma aparição em um programa de TV. Mirta tinha participado de um programa, dizendo que procurava uma possível irmã gêmea.

"Uma amiga da minha filha disse que viu uma mulher parecida comigo na TV. Fui atrás das imagens e quando a vi parecia que era eu mesma na tela da televisão", disse María Dolores.

Férias

Na semana passada, as duas se encontraram e passaram férias com as respectivas famílias no lugar onde nasceram, Mina Clavero, em Córdoba.

As duas contaram que já se identificaram na primeira conversa telefônica, antes mesmo do primeiro encontro pessoalmente.

"Foi incrível ouvir a resposta de Mirta quando a perguntei se ela é feliz. E ela disse que sim e que não tem rancor porque foi adotada. Ao contrário, agradece aos que a adotaram. Eu também penso da mesma forma", disse María Dolores.

Mirta disse que elas são "iguais na forma de pensar e nos gestos", apesar de terem sido educadas em ambientes diferentes.

As duas afirmaram que o objetivo agora é conhecer sua mãe biológica, que tinha menos de vinte anos quando as entregou para adoção.

Hoje, afirmaram, ela teria cerca de 70 anos de idade. "Sabemos que a época, quando nascemos, era outra e por isso a entendemos e só queremos conhecê-la e poder abraçá-la", disse María.

As duas disseram ainda que vivem uma etapa de "lua de mel" e que conversam "sem parar" porque têm muito assunto "para colocar em dia".

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Postado Por Cintia Liana

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Abrigos deveriam ser solução provisória para menores abandonados

Foto: Elena Kalis

Quinta-feira, 06 de novembro de 2008, 15h44
Magdalena Bonfiglioli
São Paulo/SP

Termina no próximo sábado, 9, o prazo para que os juízes de todas as varas da infância do país preencham o Cadastro Nacional de Adoção. Os juízes deverão inscrever todas as crianças disponíveis para adoção e todos os candidatos a adotar. Esse cadastro vai agilizar o processo de adoção de crianças internadas nos abrigos.

O Canção Nova Notícias exibe esta semana uma série especial de reportagens com o tema "Adoção, um ato de amor". Esta série você revê aqui, no noticias.cancaonova.com. Nesta primeira reportagem, a expectativa daqueles que crescem nos abrigos a espera de uma família.

Assista à reportagem



O abrigo é uma situação provisória ou, pelo menos, deveria ser. Uma medida de proteção enquanto a família não volta à sua família de origem. Quando a volta pra casa fica inviável, começa o processo para colocar a crinaça em disponibilidade de adoção. É um processo demorado e a criança vai crescendo no abrigo.

Nem todas estas crianças estão disponíveis à adoção e nem sempre estão perto de quem gostaria de adotá-las. Foi tentando diminuir estas distâncias que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou o Cadastro Nacional de Adoção, uma lista de todas as crianças disponíveis no Brasil e de todas as pessoas que desejam adotar. os juizes de todas as varas da infância deverão alimentar este cadastro com informações.

Você confere hoje, às 19h30, no Canção Nova Notícias o drama de voluntários de instituições que se apaixonam por crianças abrigadas e a história de crianças que ninguém quer adotar.



Postado Por Cintia Liana

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Conheça histórias de crianças que ninguém quer adotar

Foto: Google Imagens

Sexta-feira, 07 de novembro de 2008, 14h59
Magdalena Bonfiglioli
São Paulo/SP

O Cadastro Nacional de Adoção, que deverá estar pronto no próximo sábado, 8, já tem 15 mil casais inscritos e mil e quinhentas crianças cadastradas. Esse número deve crescer quando os juízes do Brasil inteiro enviarem as informações de todas as varas da infância. Na segunda reportagem da Série Doação, um ato de amor, você vê o drama dos voluntários que se apaixonaram por crianças dos abrigos e as histórias dos menores que ninguém quer.

Assista à reportagem



Os abrigos estão lotados de crianças e a fila de adoção demora para andar. Qual a explicação para isso? Muitas destas crianças ainda tem uma chance de voltar às suas família de origem, mas, muitas outras já poderiam ter um novo lar se os casais não fizessem tantas exigências.

A preferência dos casais que querem adotar são os bebês e do sexo feminino. Quanto mais velha a criança, menor é a chance de ser adotada. Se ela tiver um problema de saúde, pode ser que nunca consiga uma nova família.

Para as crianças que ninguém quer, a possibilidade de ganhar uma nova família vem em geral daqueles que convivem com elas e passam a amá-las. São os voluntários das instituições. Acontece que muitos juizes não vêem com bons olhos os candidatos que nunca entraram numa fila de adoção, mas se apaixonaram por uma criança do abrigo.

O Canção Nova Notícias exibe hoje a última reportagem da série sobre adoção. Você verá a alegria de quem abriu a casa e o coração para receber filhos adotivos e a história de crianças que ganharam uma nova vida através deste ato de amor.


Postado Por Cintia Liana

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Madonna e Mercy

Foto: Google Imagens. Madonna e sua filha Mercy.

RIO - Madonna está enfrentando uma ação judicial aberta pela família de Mercy James, sua filha adotiva. Os parentes biológicos da menina, adotada no Malauí, alegam que a cantora não cumpriu a promessa de mantê-los regularmente em contato com a filha. Madonna adotou Mercy James em 2009, depois que a mãe da menina, de 14 anos, morreu dias após dar à luz.

A família de Mercy afirma que não viu a criança desde a adoção, apesar das promessas da popstar, e busca a reaproximação com a menina através da Justiça. "A família de Mercy me encontrou várias vezes durante o ano passado e eles estão bastante chateados. Eles têm uma lembrança forte de ouvirem que eles poderiam ver Mercy e manter contato regular com ela - e que, quando ela for adulta, voltaria a viver com eles no Malauí", explicou Emmie Chanika, diretor do Comitê de Libertação Civil do país.

"Parece que houve um acordo verbal entre a família e os representantes de Madonna. Já consultei um advogado em nome da família. Obviamente poderão haver problemas pois não há acordo escrito, mas o advogado está cuidando disso", explicou Chanika. "Estou preparando uma carta ao advogado de Madonna, Alan Chinula, para intervir a favor da família e a pedir para que Madonna deixe Mercy encontrar seus parentes biológicos. Nenhum de nós deseja um confronto judicial embaraçoso e caro, que poderia humilhar ou aborrecer Madonna. A melhor saída seria um acordo para deixar Mercy encontrar os seus regularmente", finalizou. As informações são do site Contact Music.


***
Você adotaria seu filho pensando em "devolvê-lo" quando ele se tornasse adulto? Sinceramente, muito estranho... Um acordo de vida entre Madonna e a família de origem onde a pessoa mais importante não foi consultada, a criança.

***
Então veio a explicação. Uma mãe me escreveu:

Oi, Cintia.

Eu não li a reportagem completa, mas me lembrei que na época da adoçao, foi comentado que a menina vivia há muito tempo no abrigo e NUNCA ninguém da família foi visitar. Ela estava abandonada pela família.

Quando a familia foi contactada a respeito da adoção, concordaram, mas quando souberam quem ia adotar começaram a fazer como se realmente se importassem com a menina.
Eu duvido que a Madonna tenha prometido este tipo de contato e realmente não acredito que uma pessoa por ser muito famosa, faça as coisas, obrigatoriamente, "à margem da lei". Acredito que a familia biológica esteja querendo ganhar vantagens em cima da Madonna.

Bjs.

Postado Por Cintia Liana

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Em nome dos órfãos

Foto: Google Imagens


Edição de sábado, 22 de janeiro de 2011

Dilma cria comissão para determinar regras adotadas em casos de crianças que perdem as famílias em catástrofes

O governo federal criou um comitê para elaborar normas e regulamentos para atender às crianças que perdem pais e familiares em tragédias naturais, como a que arrasou a região serrana do Rio de Janeiro. O grupo, coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência e inicialmente formado por três pastas ligadas à Presidência, tem como primeiro teste quatro irmãos, órfãos após as enchentes em Nova Friburgo e Teresópolis, no Rio. Sem familiares sobreviventes da tragédia, eles foram levados para abrigos e recebem atendimento psicológico. Mais tarde, serão encaminhados para a adoção.

O primeiro encontro do comitê responsável por normatizar o atendimento a crianças e atendimentos ocorreu ontem, no Palácio do Planalto. As secretárias de Direitos Humanos, Maria do Rosário, Integração Racial, Luiza Bairros, e Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes sentaram à mesa com a presidente Dilma Rousseff e traçaram o primeiro esboço dos trabalhos. No Rio de Janeiro, os trabalhos de identificação e amparo às crianças órfãs depois daenchente têm ficado a cargo do Poder Judiciário e do Ministério Público.

A presidente recomendou às três ministras que preparem um estudo para situações emergenciais, que inclua a União, estados e municípios. O trabalho ainda terá integrantes dos ministérios de Saúde, Educação, Casa Civil, Justiça e Desenvolvimento Social. ´O Brasil precisa ter infraestrutura, estar preparado pra discutir moradias, áreas de risco, tudo o que já foi discutido, mas também precisa de atendimento humano e a abordagem a essas crianças`, explica Rosário.

O principal trabalho do comitê de atendimento às vítimas de catástrofes será intensificar a identificação das crianças e adolescentes abrigados em Nova Friburgo e em Teresópolis. O maior receio é de que a situação caótica vivida pelos dois municípios propicie adoções ilegais, algo vivido pelo Haiti depois do terremoto do ano passado. Ao todo, seriam quase 3 mil jovens desabrigados. ´Nossa prioridade, quando há familiares adultos da criança, é deixá-la com a própria família. Caso isso não seja possível, como no caso dos quatro irmãos órfãos, elas são encaminhadas para um programa de família acolhedora. O Rio de Janeiro já tem um rol de famílias inscritas e registradas como aptas a lidar em situações emergenciais. Uma delas irá cuidar dessas crianças`, disse Rosário.

Recursos

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai emprestar R$ 400 milhões para financiar o setor produtivo das cidades da região serrana. A Medida Provisória, assinada por Dilma Rousseff, entrou em vigor ontem e tem o objetivo de auxiliar a compra de máquinas e equipamentos, além de obras de construção para reerguer a economia dos municípios devastados pelas chuvas. Micro e pequenos produtores terão 10 anos para pagar o empréstimo, com juros de 5,5% e carência de dois anos. Segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, a avaliação das documentações será facilitada pelo banco.

O DIÁRIO DE PERNAMBUCO


Postado Por Cintia Liana

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O ciclo recursivo do abandono

Foto: Google Imagens

Considerações Finais do estudo "O ciclo recursivo do abandono" de Juliana Fernandes Pereira e Liana Fortunato Costa

Gostaríamos de ressaltar, para concluir, as três principais conseqüências do processo de fragmentação e abandono da rede de atendimento, identificadas a partir da investigação: a) a ausência de alternativas à institucionalização: “A família se desorganizou e elas se viram em situação de completo abandono, né? (...) Quer dizer, a sociedade, o governo, a Vara da Infância encaminha, né? Não tem outra saída, elas têm que viver em instituição.” (Beloto); b) as dificuldades para trabalhar com a reintegração familiar: “A gente tem muito pouco apoio na rede social, a gente que trabalha na Justiça, pra estar encaixando e melhorando a situação de vida das pessoas pra ter os filhos de volta.” (Luíza); c) e, finalmente, as dificuldades para trabalhar com a colocação de crianças maiores e adolescentes em lares substitutos: “Já teve o abandono dos pais e está tendo o abandono do Estado.” (Luíza).

O efeito mais grave do quadro observado é a continuidade do “abrigo depósito” — a exemplo da Roda dos Expostos — no qual crianças tornam-se adolescentes abandonados pela família, pelo Estado e pela sociedade. Em última instância, sofrendo as tensões do ciclo de abandono vivido nos diferentes níveis do sistema de atendimento, estão, portanto, a criança e o adolescente que, diariamente, enfrentam a ruptura dos laços afetivos construídos na instituição e a ação do tempo, que diminui substancialmente as possibilidades de retorno à família de origem ou encaminhamento para um lar substituto. Dessa maneira, como explica Enriquez (1991, 77), o modelo real pode diferir substancialmente “do arcabouço estrutural criado para lhes dar vida”, ou seja, “Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta” (Art. 19) (ECA) e, ainda, “o abrigo é medida provisória e excepcional” (Art. 101, § único).

A principal contribuição da investigação se refere à necessidade de ultrapassarmos a visão reducionista do abandono — como relacionado apenas à díade família/criança ou adolescente — para se atingir uma visão mais complexa e contextualizada do fenômeno. Desse modo, o mesmo não deve ser visto apenas sob a ótica das relações familiares, mas compreendido como um processo co-construído, do qual participam também o contexto social, institucional, jurídico, econômico, político e cultural brasileiro. É notável a situação de vulnerabilidade das famílias e de crianças e adolescentes abrigados quando a rede de atendimento não consegue responder à demanda que deu origem à intervenção da Justiça.

A ausência de uma política de atendimento profícua, de órgãos e profissionais qualificados que possam atender às prerrogativas do ECA dificulta, assim, a realização de um trabalho eficaz, seja de reintegração familiar ou de encaminhamento para lar substituto. Tais aspectos contribuem substancialmente para que se instale um processo gradativo de um abandono co-construído, que priva crianças e adolescentes institucionalizados do direito à convivência familiar. Desse modo, o próprio modelo de tratamento do abandono em nossa realidade acaba contribuindo para a instalação de um ciclo recursivo do abandono que re-vitimiza crianças e adolescentes, transformando-os nos “Filhos do Abrigo”, como outrora definiu Beloto.


O ciclo recursivo do abandono
Juliana Fernandes Pereira e Liana Fortunato Costa
lianaf@zaz.com.br
"Juliana Pereira é Mestre em Psicologia Clínica e Psicóloga colaboradora do Projeto Aconchego: Grupo de Apoio à Adoção de Brasília e do Programa de Apadrinhamento Afetivo de Crianças e Adolescentes Institucionalizados. Liana Costa é Psicóloga, Terapeuta Familiar.

Trabalho baseado na dissertação de mestrado intitulada “A Adoção Tardia frente aos Desafios na Garantia do Direito à Convivência Familiar” - realizada pela primeira autora sob a orientação da segunda - defendida na Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil, em Maio de 2003.

Para ler estudo completo:


Postado Por Cintia Liana

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Nas Trilhas de João e Maria

Foto: Google Imagens

Por Lídia Weber

Breve reflexão sobre o abandono de crianças no Brasil

Em um país não muito distante, numa época de grande carestia, viviam um lenhador, seus dois filhos e a madrasta deles – muito malvada e sem coração, um jargão da representação das madrastas das histórias infantis. Chegou uma época em que o preço das coisas subiu demais, a comida foi acabando e a mulher teve a cruel idéia de diminuir os gastos abandonando João e Maria no meio da floresta. O pai ficou com o coração partido mas acabou concordando com a esposa.

Um dia de inverno de 1997 na cidade de Curitiba. Eram 6h30 quando uma moradora do bairro de Uberaba ouviu um som parecido com um choro de criança. Ao verificar no terreno baldio existente ao lado de sua casa, avistou um bebê recém-nascido junto a um monte de lixo.

Sofia é uma menina de 10 anos de idade e mora em orfanatos desde os dois anos. No seu prontuário consta que a sua mãe, que tinha mais três filhos, a deixou lá "somente por um tempo, até encontrar um emprego". Hoje Sofia tem o adjetivo de "institucionalizada", pois sua mãe nunca mais voltou para buscá-la. Ela não sabe responder porque está morando em um orfanato e não lembra nem de sua mãe nem de seus irmãos. Nesses oito anos, ela já morou em três instituições diferentes e nunca recebeu visita de ninguém. Quando lhe perguntamos qual era o seu maior desejo, o maior presente que ela poderia ganhar, Sofia respondeu: "Uma família". Depois de alguns segundos pensativa, ela completou: "eu queria alguém que me chamasse de filha, queria dormir numa cama aconchegante e ser feliz para sempre".

Três dramas humanos. Três histórias. Qual é a mais improvável? Sempre ouvimos dizer que a arte e a literatura representam a vida, e isso também ocorre, diretamente ou simbolicamente, em historietas infantis. Para compreendermos os determinantes das duas histórias verídicas, tão próximas do conto de fadas escrito pelos Irmãos Grimm no século passado, é preciso não esquecer da realidade brasileira. Não é possível analisar somente as variáveis psicológicas e emocionais da mãe que abandona, especialmente quando ela mora em um país onde boa parte da população pode ser considerada abandonada pelo Estado. Ainda assim, como é possível que uma mãe, que tenha carregado um filho em seu próprio corpo jogue-o no lixo ou deixe-o em uma instituição e nunca venha sequer visitá-lo? Como podemos definir "abandono"? Entrega, renúncia, desamparo? Uma mãe que entrega o seu filho para adoção é diferente daquela que joga o seu filho no lixo?

Essa é uma questão cuja resposta é extremamente complexa e é preciso tomar cuidado para não se julgar esta atitude somente como uma transgressão moral (Ariès, 1978 e Badinter, 1980) ou um distúrbio patológico (Martínez Ruiz & Paúl Ochotorena, 1993; Audusseau-Pouchard, 1997). Existe uma rede de determinantes, tais como as de nível sócio-econômico, estrutrais, psicossociais, culturais, entre outras. É preciso analisar não somente a mãe que abandona, mas as condições abandonantes de sua existência.

E as condições sociais do Brasil?... O Brasil está na 10ª posição em relação à economia internacional, mas, apesar do desenvolvimento econômico a sua estrutura social não sofreu evolução, fazendo com que se tornasse o campeão mundial da desigualdade. De acordo com dados do Banco Mundial, temos a pior concentração de renda do planeta, pois 10% dos mais ricos detém 54% da renda nacional; a concentração de terra ainda é maior do que a concentração de renda: a metade das terras está nas mãos de 2% dos proprietários. Os dados mostram que 59% da população são pobres e excluídos; existem 19 milhões de analfabetos no país; quase quatro milhões de crianças entre 5 e 14 anos trabalham (o que é proibido pela Constituição), geralmente num processo de exploração de mão de obra barata, e deixam de conhecer a infância e, estamos em segundo lugar no mundo em relação à prostituição infantil, que geralmente passa de mãe para filha, num processo de escravidão virtual.

O que pode levar uma mãe a chegar ao ponto de desistir de um filho e deixá-lo em um terreno baldio? A questão não é simples: exclusão, impossibilidade de abortar legalmente, incredulidade em relação às autoridades competentes que poderiam levá-la a entregar o filho nos Juizados da Infância e da Juventude, medo, ausência de amor, falta de estrutura familiar, desespero... Como nesses casos, a mãe dificilmente é localizada, torna-se impossível traçar seu perfil, mas é possível traçar um paralelo com o perfil das mães que doam o seu bebê para adoção: solteira, mais de 20 anos, educação primária incompleta, trabalha esporadicamente como empregada doméstica e não conta com o apoio da família extensa. Geralmente ela engravida em uma relação eventual e, na maior parte dos casos, essa mãe doadora já teve outros filhos, que também foram doados ou estão em instituições.

Talvez a organização psíquica de uma mãe que não vê perspectivas em melhorar de vida e que não tem espaço nem para o sofrimento, comece a desmoronar. Essa mãe que a todo momento está recebendo claras mensagens sociais de que ela não tem como sair do seu estado de miséria, cujas necessidades básicas e direitos como cidadã estão fora do seu alcance e que está sob uma doutrina de dominação, tem grande probabilidade de fazer coisas violentas e primitivas. É uma perpetuação de um ciclo cruel: o abandonado abandona. Não lhe foram proporcionadas chances de construir vínculos sócio-afetivos em sua existência.

O abandono de crianças nos orfanatos é um tragédia de igual proporção. A princípio, a institucionalização foi criada com o objetivo de "proteger a infância", mas o que tal medida consegue de fato é somente a segregação/exclusão de "produtos sociais indesejáveis. Estimativas não oficiais indicam que cerca de um milhão de crianças estão sendo atendidas por instituições, eufemisticamente chamadas de Unidades de Abrigo, sendo a maioria mantida por entidades religiosas. Na primeira pesquisa (Weber e Kossobudzki, 1996) realizada com a totalidade das crianças e adolescentes de um Estado do país (Paraná) os dados revelaram que a maioria absoluta dos internos (64%) têm entre 7 e 17 anos e o que menos há nesses orfanatos são crianças órfãs. Somente 5% são órfãs bilaterais e somente 14% das crianças vieram de um lar onde o pai e a mãe estavam vivendo juntos. O restante dos internos provém de famílias monoparentais, chefiadas por mulheres (a maior parte foi abandonada pelo marido e outra parte refere-se à mães solteiras). Assim como na história de João e Maria, a crise do abandono nos orfanatos é desencadeada, primordialmente por "falta de recursos financeiros". Assim como no conto de fadas existe a bela casa da bruxa, na vida real as crianças vão para instituições e recebem cama e comida. No caso da história infantil, a bruxa quer devorar as crianças. No caso da realidade, a própria vida encarrega-se disso.

A princípio o internamento é colocado como uma medida a curto prazo. No entanto, como a existência de outros meios que auxiliem estas famílias a manter os filhos junto de si são ainda incipientes, a prática da institucionalização tem se mostrado um incentivo ao abandono. Crianças e adolescentes institucionalizados, que estavam há mais de um ano sem receber visitas de sua família, foram entrevistados (Weber, 1996) e verificou-se que cerca de 70% deles nunca receberam visitas e, os outros 30%, receberam algumas visitas no início, mas elas cessaram por completo. Geralmente a família desaparece para não ser encontrada pelo Serviço Social. Ainda existe outra tragédia na vida dessas crianças: o descaso das autoridades competentes (Instituições de Abrigo, poder Judiciário e Promotoria Pública) em relação à tutela dessas crianças. Supõem-se que se não foi possível um retorno à sua família de origem, se elas estão abandonadas, então podem ser colocadas para a adoção, certo? Errado. Apesar de estarem esquecidas nas instituições, de não receberem visitas de sua família e do seu maior desejo configurar-se na adoção, somente 8% dos pais dessas crianças foram destituídos do pátrio poder e somente elas estão legalmente disponíveis para adoção. As outras crianças, que nunca sequer receberam uma visita de suas famílias, não são consideradas oficialmente "abandonadas", pois seus pais ainda detém o pátrio poder. Poderiam ser classificadas como "esquecidas", "filhos de ninguém", "filhos do Estado" ou alguma outra expressão que possa defina a falta de compreensão sobre o desenvolvimento infantil, a lentidão burocrática e o desapreço dos poderes constituídos.

O Brasil, apesar de ter sido o último país a acabar com a escravidão e com a Roda dos Enjeitados foi o primeiro país a criar uma lei específica para crianças e adolescentes após a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança em 1989. Em 1990 foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente, um dos mecanismos mais avançados do mundo de proteção à infância, fruto de uma grande mobilização da sociedade civil. No entanto, percebe-se que não basta haver leis se os mecanismos sociais que produzem as tragédias não são modificados. Na história de João e Maria, os dois irmãos conseguiram escapar da instituição, digo, da enganosa casa da bruxa, voltaram para casa e para seu pai (a madrastra havia morrido). O bebê encontrado no terreno baldio foi levado a um hospital, está fora de perigo e existem muitos candidatos à sua adoção. A menina Sofia continua na casa da bruxa, digo, na instituição. Ela é considerada uma "criança inadotável" aqui no Brasil. Ela, como Pandora, tem sempre esperança...

Para haver mudanças significativas, é preciso uma conscientização social para um compromisso verdadeiro, e não virtual, de todos os segmentos da população. E o psicólogo deve fazer parte deste compromisso. E mais ainda. O compromisso do psicólogo não deve ser apenas de natureza assistencialista ou paternalista. A sua participação deve ser em ajudar a promover esta consciência social frente à exclusão. Não adianta somente revoltar-se, ou como ressalta Jabor (1997), dizer que a injustiça é sempre feita pelos "outros" e sentir-se salvo por ter-se indignado e esquecer o assunto. Todos os "excluídos" querem ser constantemente lembrados. É preciso falar deles, pensar neles, e procurar encontrar meios de engajamento, principalmente quando se fala de crianças. Denunciar as injustiças e repensar a miséria e a tragédia cotidiana dessas crianças é uma reivindicação dos direitos da infância, mas também e simplesmente o direito à infância. Todos nós, os "incluídos", psicólogos principalmente, devemos parar de dizer que nós não sabíamos...

Referências Bibliográficas:
Ariès, P. (1978). L'enfant et la vie familiale sous l'Ancien Régime. Paris: Editions du Seuil.
Audusseau-Pouchard, M. (1997). Adoptar um hijo hoy. Barcelona: Editorial Planeta.
Badinter, E. (1980). L'amour en plus. Paris: Flammarion.
Jabor, A (1997). Sanduíches de realidade. Rio de Janeiro: Objetiva.
Martínez Roig, A & Paúl Ochotorena, J. (1993). Maltrato y abandono en la infancia. Barcelona: Martínez Roca.
Weber, L.N.D. (1996). Des enfants sans famille au Brésil. XXVI Congrès International de Psychologie. Montreal, 16-21 août.
Weber, L.N.D. & Kossobudzki, L.H.M. (1996). Filhos da solidão: institucionalização, abandono e adoção. Curitiba: Governo do Estado do Paraná/Secretaria da Cultura.

Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Psicóloga (CRP 08/0774); Professora e Pesquisadora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná; Mestre e Doutora em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo.

Fonte: http://br.geocities.com/jeanprofessor/doutrina.html


Postado Por Cintia Liana

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Desânimo com o Processo de Adoção

Foto: Google Imagens

Depoimento de Cida Vasconcelos

Somos, eu e meu marido, um casal saudável, com 44 e 45 anos respectivamente, que tivemos a frustração de não poder gerar nossos próprios filhos biológicos, mas não desistimos e mesmo depois de muita frustração, dor e sofrimento com gravidezes e perdas, decidimos adotar, não como uma saída para nossa frustração, isso é muito claro pra nós, pois, apesar do desejo, somos felizes em nossa vida do jeito que ela é e queremos um filho ou filha pra sermos mais completos, mas não por sermos incompletos. Acreditamos na vontade Divina e esperamos nele o nosso futuro.
Mas, apesar disso tudo, e tendo seguido o processo de qualificação e "entrada na fila" como manda o figurino, é, neste momento de desânimo com a burocracia, lentidão, aparente falta de interesse e dedicação do nosso Judiciário com este processo.

Estamos há exatos 14 meses entre entrevistas, visitas, documentação, telefonemas e visitas ao Fórum e nem sequer entramos na fila. Teoricamente fomos qualificados pela psicóloga e pela assistente social, mas nada do Sr. Digníssimo Juiz se dar ao trabalho de pelo menos nos notificar de algo. Isso porque, além do mais, optamos por uma criança mais velha, sem restrição de cor, origem, doenças, etc. Isso mesmo, não somos o casal clichê que quer uma menina branca com menos de 2 anos. Ao contrário.

Não que eu ache que estão escondendo crianças, mas não há real interesse em resolver o assunto. Na minha opinião há desleixo, preguiça e falta de interesse, pois queremos adotar, temos condição e disposição, principalmente emocional e não nos dão NENHUMA satisfação, como se estivéssemos pedindo um favor ao sistema, quando estamos apenas solicitando um serviço deste sistema pago por nós mesmos.

É difícil acreditar em quem tem recessos de 3 meses no ano (não sei se Vara de Infância tem, mas no geral é o que vemos), em funcionário 9 às 6, quando a maioria de nós que é trabalhador privado e que recolhe os salários deles, fica às vezes 14 horas num escritório contando impostos pra este sistema emperrado e sem noção.

É revoltante ouvir matérias e artigos em revistas e televisão falando das crianças carentes nos abrigos, ir ao Fórum e ter que ouví-los dizendo que buscam em primeiro lugar o interesse das crianças e saber que no fundo estão se lixando em fazer um pouco mais do que cumprir tabela e ainda se sentirem os benfeitores do mundo.

Estas crianças poderiam estar bem melhor e nós, os casais mais felizes, se eles, os "servidores" públicos, fizessem melhor e mais eficientemente o seu trabalho, fazendo valer os nossos impostos e trabalho.

Desculpem, mas definitivamente, só crendo em Deus pra seguir adiante. Não se pode crer em mais nada, muito menos no sistema e neste Governo tacanho.
Obrigada por este espaço, é muito difícil falar e pelo menos saber que há um lugar específico para isso.
Bos Sorte e fiquem com Deus.



Postado Por Cintia Liana

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Justiça: Brasil - Canadá

Foto: Feita por Cintia Liana. Filha de amigos.

Por Sérgio Luiz Junkes*

Nós estivemos recentemente conhecendo a fundo o funcionamento da justiça canadense em um congresso promovido pela Associação dos Magistrados Brasileiros. Enfoco neste artigo aspectos relacionados à área da infância e juventude. O sistema canadense é muito similar ao brasileiro. Lá também vigora o princípio da proteção integral.

Os adolescentes, entre 12 e 18 anos, são, via de regra, inimputáveis e a eles, em último caso, pode ser aplicada uma medida de segregação de liberdade em local apropriado equivalente à internação.

A diferença é que a internação do adolescente infrator lá pode durar até cinco anos, enquanto no Brasil este limite é de três. Também lá é possível determinar-se que o adolescente cumpra a medida de segregação na própria casa, dela só podendo sair para ir à escola ou para praticar alguma atividade extracurricular.

De pendendo da gravidade do ato infracional, por exemplo, um homicídio, é possível requerer-se ao juiz que o adolescente seja julgado como adulto, ou seja, como imputável, recebendo uma pena igual a um adulto.

No tocante à adoção, existe um cadastro de pretendentes, tal como aqui no Brasil. Todavia, é possível a adoção intuitu personae, em que uma mãe entrega diretamente a outra pessoa o seu filho para ser adotado. Existe um trabalho muito forte e muito bem sucedido por parte da Justiça da Infância e Juventude canadense nas seguintes áreas: Justiça Terapêutica, Justiça Restaurativa e Mediação.

Há um grande respeito e preocupação no sentido de que os usuários do sistema de justiça da infância e juventude sejam bem atendidos e com todo o conforto. Em resumo, apesar de pequenas diferenças legais, constata-se que a efetivação dos direitos da infância e juventude é uma realidade no Canadá. Falta, principalmente, ao Brasil a estrutura necessária para cumprir a legislação.

* Juiz da Infância e Juventude de Joinville
Diário Catarinense de 26 de janeiro de 2011 | N° 9062

Postado Por Cintia Liana