"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sobre dormir com o filho e a real independência infantil


Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva 

A vida moderna impõe cada vez mais que a sociedade repita que os bebês devem desenvolver independência e insiste em práticas que conduzem a uma mentalidade de que o contato íntimo mãe e bebê é, de certa forma, prejudicial aos dois, sobretudo nesse ritmo frenético em que vivemos em meio a globalização. As pessoas confundem a importância do contato mãe e bebê com a necessidade de começar a educar e a dar limites. Assim é fácil cair no erro de sentir que esse lado primitivo e instintivo da maternidade é “anormal”, ofensivo à sociedade, que complica e desajuda e, ao final, desrespeita mãe e criança que acabou de nascer e a impede de sentir o calor necessário para ser feliz e se sentir inteira.

Hoje em dia é difícil ouvir a verbo parir e mais difícil ainda ver uma mulher amamentar a sua cria, pois para isso, além de ser necessário muito equilíbrio emocional e privacidade, é também necessário se desapegar de muitas crenças ocidentais e abandonar certos valores, um pouco da vaidade, da imagem, “descer do salto”, esquecer das unhas feitas, achar magnífico o cheiro do leite e, se precisar, se “descabelar” mesmo e ver beleza nisso tudo. Uma mãe que amamenta exala sensualidade.

A espécie humana é a única que não sobrevive sem a atenção de um cuidador, alguém que lhe dê alimento e afeto. É também a única espécie de mamíferos que não está sempre acompanhada da mãe no período da amamentação, assim como a única que não coloca o filho para dormir junto ao seu corpo.

Como já escrevi em meu texto “Aquele abraço negado”, onde mostro a importância de colocar ao máximo o filho no colo, eu também falo da fusão emocional mãe e bebê que vai até o segundo ano de vida, até quando o bebê sente que é uma extensão do corpo dela e sente tudo o que ela sente. A partir dos dois anos ele adquire uma autonomia mais expressiva e significativa e nesse momento entra a figura do pai em cena e vai mostrar o mundo a ele, reivindicando também a companhia de sua mulher, facilitando a separação emocional que é um processo contínuo até o início da adolescência, quando é de fato importante a independência, aí sim o ser humano deve ser mais estimulado a se separar da família e a desenvolver seu próprio Self. Mas uma criança de 6 meses não é e nem deve ser independente, ela deve estar perto da mãe e saciar esse desejo de afeto e de calor.

Penso que a licença maternidade deveria ser de dois anos, seria bom para a criança e bom para a mãe, que após esses primeiros dois anos retoma o seu espaço psíquico e deixa de se ver e se sentir “mãebebê”.

É na primeiríssima infância que ocorre o nascimento de possíveis neuroses e psicoses que poderão eclodir na fase pré-escolar, no contato social cotidiano. Os pais devem estar muito atentos ao que para eles é somente a necessidade de promover independência, manha ou manipulação da criança pequena, mas que para ela podem representar verdadeiros choques emocionais e reais necessidades não compreendidas. Uma criança é diferente da outra e também expressa o que vê e vive em seu ambiente e em seus pais.

Ao contrário do que dizem muitos especialistas, baseados em teorias ocidentais, dormir com os pais pode ser positivo. Se torna negativo quando o casal usa a criança como desculpa para não fazer amor, ou para camuflar um conflito conjugal, desse modo de fato é muito negativo, inclusive dormir em meio ao casal, que simbolicamente não é nada bom. A criança pode dormir ao lado da mãe, com o devido cuidado para não cair da cama e para que ela não role para cima do bebê.
 
Pode ser também uma medida curativa para crianças adotadas que sofreram privação afetiva.
Coloque a mão em seu coração e se pergunte, “dormir com o meu bebê é importante para mim e para ele?”, “de que modo isso pode ajudar no fortalecimento do nosso vínculo e em sua segurança para a vida?”. Pesquisas mostram que as mães têm esse desejo, essa necessidade, mas se sentem em culpa diante de uma tempestade de críticas e conselhos distorcidos. Mas tente não sentir culpa, seja justa! O seu filho é mais importante que todos.

Dos 8 ou 9 meses até os dois anos ocorre a angústia de separação e após esse período a criança está pronta para criar mais autonomia. A mãe é aquela que consegue sintonizar na mesma energia do filho, por causa da fusão, e quando ela se sentir pronta, segura e desejosa para colocá-lo em seu quarto, será uma boa e importante experiência para os três, pai, mãe e filho.

Por Cintia Liana Reis de Silva

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