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domingo, 3 de abril de 2011
Pais fazem inseminação artificial e rejeitam um dos bebês, diz médico
sábado, 23 de janeiro de 2010
"Adoção ou fertilização assistida?"

Alicia Beatriz Dorado de Lisondo é psicanalista especialista em atendimento em crianças e adolescentes; membro da Associação Brasileira de Psicanálise; Cocoordenadora do Grupo de Estudos e Investigação sobre Adoção e Orfandade na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e ganhadora do Prêmio José Bleger pela Asociación Psicoanálitica Argentina. E-mail: alicia.lisondo@uol.com.br
A Psicanálise de Sigmund Freud sustenta que o ser humano tem uma dimensão inconsciente, incognoscível, com inscrições, com inscrições que se iniciam no útero materno e na primeira infância - registros de experiências emocionais, que, embora desconhecidas, exercem sua força, criam tendências, modelam a personalidade. A sexualidade, o complexo de Édipo, e o inconsciente são os grandes universos da subjetividade humana. A Psicanálise também é um método particular de tratamento e investigação dos processos mentais, que são quase inacessíveis por outro modo. A dimensão inconsciente é explorada na relação entre o paciente e o analista. Este profissional precisa de uma sólida formação, além de condições específicas de personalidade: retidão psíquica. A dimensão psíquica do ser humano não é sensorial - é impossível, por exemplo, ter um raio X da mente humana.
Com essa breve introdução pretendo convidar o leitor a pensar nas complexas configurações emocionais que entrarão em jogo uma vez que o desejo por um filho só poderá ser alcançado via adoção ou fertilização assistida. Essas forças emocionais são tecidas por afetos, fantasias, sonhos, pensamentos, desejos, projetos identificatórios numa longa história. A origem dessas configurações se enraíza nos mitos familiares transgeracionais. A imitação e as brincadeiras da primeira infância - o célebre jogo de casinha - permitem a elaboração dos traumas, incentivam a imaginação, preparam o exercício de papéis, estimulam a criatividade, esculpem a identidade que é reestruturada na adolescência.
FUTUROS PAIS
Ante a busca de um filho, é oportuno que o profissional possa levantar algumas questões como: quais os sentidos deste pedido? Porque surge este pedido neste momento da vida? Além das razões enunciadas pelos solicitantes, que outras hipóteses podem vir a ser conjeturadas na relação com um psicanalista (dotado de uma intuição treinada e uma escuta qualificada), para mergulhar nas complexas configurações mentais? Qual será o lugar psíquico desse filho? Os "futuros pais" revelam tendências psíquicas para fazer face à mudança na identidade para exercer as funções parentais? Os pais pensam revelar a origem ao filho? Entre outras... (Veja quadro Por que um filho?)
O profissional não pode julgar. Sua participação é para compreender e iluminar com humildade, o que pode estar presente e escuro nessa solicitação.
O trabalho interdisciplinar pode ser uma oportunidade para pensar os sentidos específicos e singulares do pedido de cada "futuro pai". Sem deixar de reconhecer a importância das ciências convocadas, a procriação e a adoção não podem ser reduzidas somente à ordem biológica, ou legal. A clinica revela que pode haver mandatos inconscientes transmitidos de uma geração para outra, proibições, inibições, pavores atávicos, lutos não elaborados, um persistente trabalho psíquico de desligamento da vida - esterilidade mental - que dificultam ou impedem a procriação biológica e psíquica. A parentalidade transcende a ordem do biológico. É um fenômeno psíquico. Ter um filho não é garantia de vir a ser pai.
TÉCNICAS DE FERTILIZAÇÃO
Um trabalho preventivo precisa ser instaurado para evitar talvez, as trágicas e traumáticas consequências dos insucessos - as adoções que não promovem o desenvolvimento mental de pais e filhos; as Novas Técnicas de Fertilização Assistida (NTFA) que não conseguem a busca da concepção, ou, ainda, o comprometimento do processo de subjetivação no momento em que o filho nasce. A prevenção de possíveis distúrbios emocionais é possível - entre muitas alternativas terapêuticas que a Psicanálise oferece - por meio de entrevistas psicanalíticas aos pais solicitantes, e mais tarde ao trabalho clínico com intervenções oportunas, em entrevistas com os pais, o bebê, possíveis irmãos. Fertilizar o exercício das funções parentais no início do vínculo com o bebê pode evitar futuras catástrofes.
É possível considerar uma divisão entre técnicas menos cruéis como a inseminação homóloga e as técnicas mais invasivas e cruéis como as que usam gametas de doadores e técnicas de alta complexidade. Cada sujeito produz diferentes significações ante cada uma das NTFA.
Ficção tocante

Cameron Diaz no filme Uma prova de amor, dá vida a uma mãe que gera, por meio de gravidez assistida e fertilização, uma menina para servir como doadora à irmã, que tem câncer. No filme, a garota ao atingir os 9 anos de idade entra com um processo na justiça para ter direito sobre seu corpo, pois esta cansada de servir como suporte para a irmã.
Elas podem vir a oferecer aos solicitantes a realização de um sonho, e da potência questionada ante a impossibilidade de uma concepção natural, e a restauração do narcisismo ferido. A busca de uma linhagem genética conhecida, familiar, pode ser tranquilizadora e propiciar a ilusão de normalidade. Quando a inseminação é heteróloga, o doador é o quarto personagem que se agrega aos outros protagonistas: a mãe, o pai e a equipe médica. Fantasias persecutórias podem ser exaltadas, assim como, as rivalidades - desconhecidas e potentes - diante desse doador que entra nas entranhas da mulher. O feto pode ser interpretado como intruso com atributos sinistros.
Estas técnicas podem favorecer uma dissociação entre a intimidade da sexualidade e a reprodução, mediada por um terceiro: a equipe médica.
FATORES EMOCIONAIS
É importante ter em conta que as NTFA, são procedimentos realizados em um corpo humano de seres subjetivos, com uma história de vida, uma história familiar e uma genealogia. As condições anatômicas e fisiológicas ótimas para a união dos gametas não são suficientes para garantir a fertilização. Há importantes fatores emocionais em jogo.
Por exemplo, uma paciente vive a fertilização assistida - injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide - como um segundo aborto ("ao contrário") provocado na sua juventude. Só que desta vez, ao invés de se retirar um bebê, se injeta espermatozoides. Será que sem trabalhar essa culpa inconsciente, essas fantasias sobre o corpo danificado - fatores importantes da esterilidade enigmática - essa paciente terá condições de acolher o esperma e fecundar? Será que tanto a infertilidade quanto os duros tratamentos, não exercem uma função de castigo diante do crime outrora cometido?
É importante alertar que os NTFA podem não ser eficazes, quando se encontram fortes resistências, proibições inconscientes, culpas, ansiedades, e, paradoxalmente, sabedoria nos pacientes.
ÉTICA E POLÊMICA
As NTFA levantam importantes questões éticas. Elas desafiam a passagem do tempo e das gerações. A ordem natural e as leis de parentesco podem ser transgredidas.
O aluguel de úteros é um exemplo. Uma mulher pode albergar no seu ventre o embrião da filha fecundado pelo genro. O incesto é realizado. A criopreservação de embriões altera a noção de temporalidade. É possível sobreviver à morte. A compra de gametas permite realizar a fantasia de autoengendramento, com o gênero único é possível procriar. É importante estar atento aos procedimentos que permitem a realização de tendências perversas.

O início da relação pais/filhos, em situação de adoção ou fertilização, pode promover distúrbios emocionas de aceitação. O método preventivo mais eficaz são as entrevistas psicanalíticas que dão bases sólidas para evitar futuros problemas de vínculo.
Cabe também alertar que o filho concebido com as NTFA ou adotado, pode vir a ocupar o lugar de herói, "um milagre", "uma maravilha", como se fosse um ser sobrenatural. Quando os pais não podem colocar os necessários limites, de forma gradual, não ajudam a criança a suportar as necessárias frustrações da condição humana. Um filho "todo-poderoso", onipotente e onisciente, não pode alcançar o almejado desenvolvimento emocional, nem fortificar seu mundo interno.
Quando vários óvulos são implantados, esse filho sobrevivente, pode também albergar a fantasia de ser o assassino dos outros "irmãos mortos" antes de nascer.
PORQUE ADOTAR?
Como tentei demonstrar, nem sempre as NTFA são bem-sucedidas. A vivência reiterada de frustração ante o insucesso é um poderoso fator que aprofunda a situação traumática, específica e singular, de cada casal. Cada nova tentativa sem o esperado resultado pode aumentar o buraco narcísico, rebaixar a autoestima, incentivar a depressão essencial, exaltar fantasias persecutórias, provocar estados maníacos, exacerbar a onipotência, recorrer a delírios místicos, de acordo com a estrutura de cada sujeito (veja quadro As NTFA podem ser evitadas).

Filhos adotados, ou concebidos com as NTFA, costumam ser superprotegidos. Contudo, essa proteção exacerbada não consegue alcançar o desenvolvimento emocional necessário, nem fortificar seu mundo interno.
Angústias e ansiedades primitivas catastróficas podem também vir à baila como nos estados de não-integração. Vivências de esvaziamento, despersonalização, desvitalização, morte psíquica, "o corpo fragmentado" podem ser potencializadas. Fantasias persecutórias (ser cortada, envenenada, vítima de maus tratos, retaliada etc.) podem aparecer assim como as edípicas (cônjuge excluído, o médico ocupando o lugar de parceiro sexual e pai do bebê, etc.).
Quando a adoção é o caminho escolhido, o futuro filho pode vir a se conhecer, muito embora ele seja um desconhecido, pela fratura entre bagagem genética, a vida pré-natal; e a futura vida pós-natal.
As NTFA podem ser evitadas
Alguns motivos levam casais a não optar pelas novas técnicas de Fertilização assistida.
a) Pelo medo da dor (em função da manipulação do corpo);b) Os riscos de uma gravidez múltipla;c) A intolerância diante da necessária participação da equipe médica, na intimidade da vida sexual do casal; d) As vivências sinistras de estranhamento diante de procedimentos que desafiam a ordem natural e a leis de parentesco; e) A impossibilidade de suportar e tolerar a espera, as dúvidas, o aleatório; f) Outras possibilidades a investigar.
Cabe a cada ser humano decidir sobre as alternativas possíveis. Cada uma delas oferece desafios existenciais e solicita atenção qualificada, disponibilidade, capacidade de tolerar incertezas, forças reparatórias, e uma estrutura de personalidade madura com capacidade de amor para que um filho concebido por meio da NTFA ou adotado possa vir a se desenvolver.
A adoção pode ser um caminho promissor. A Psicanálise tem preciosa contribuição a oferecer para que o filho adotado tenha um destino diferente ao do trágico herói grego: "Certamente, desde o berço me vêm essas vergonhosas cicatrizes." (Édipo, p. 331).l
Informações complementares do texto:
Fonte: Revista Psique
Assunto: Cultura
Postagem: 24/12/2009
Texto nº: 4924
Fonte do texto, incluindo fotos: http://www.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=4924
Por Cintia Liana
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Cintia Liana No Correio Braziliense

Meu primeiro livro
"Filhos da Esperança"
A autora também nos traz a reflexão dos aspectos antropológicos e subjetivos no processo de construção da família, da adaptação do filho adotivo, da revelação da adoção, postura diante da história da criança e sua família de origem, assim como outros pontos importantes deste universo a serem descobertos pelo leitor.
Ela utiliza o pensamento sistêmico como base.
Se trata de um excelente guia de reflexão e amadurecimento não só para quem deseja ter um filho através da adoção e para quem já adotou, mas também para profissionais e estudantes interessados na area, que queiram entender, se atualizar e se aprofundar neste cenário.
http://www.agbook.com.br/book/43553--Filhos_da_Esperanca
Doando o filho para adoção
Importante
Trabalho numa associação de adoção internacional na Itália e agimos dentro da lei e seguimos à risca todo o procedimento legal.
Neste blog o meu trabalho é abrir a consciência de pessoas que a buscam e orientar pais, crianças e instituições. Isso vai além de qualquer outra coisa. O resto deixo com o Judiciário e profissionais que nele trabalham.
Para outros assuntos estou a disposição sempre.
lembrem-se, o primeiro passo para adotar uma criança é procurar a Vara da Infância e Juventude de sua cidade.
Para citar Cintia Liana e textos postados neste blog
Silva, Cintia L. R. de. Filhos da Esperança: Reflexões sobre família, adoção e crianças. Monografia do curso de Especialização em Psicologia Conjugal e Familiar. Faculdade Ruy Barbosa: Salvador, 2008, 58 p.
Textos de Cintia deste blog:
Silva, Cintia L. R. de. Nome do texto. Disponível em http://www.psicologiaeadocao.blogspot.com/. Acesso em ... de ....... de ......
Outro autor com texto publicado neste blog:
Nome do autor. Nome do texto. Disponível em http://www.psicologiaeadocao.blogspot.com/. Acesso em: ... de ....... de .....
Usem os textos a vontade, mas citem o respectivo autor, enriquece seu trabalho e demonstra respeito.
Sobre Direitos Autorais de Fotos e Textos deste Blog
Algumas minhas com famílias e crianças, todas autorizadas pelos responsáveis, amigos meus do trabalho com adoção, inclusive fotos que ganho de presente de muitos deles.
Outras foram doadas por fotógrafos amigos meus ou achadas no Google, Getty Imagens e Flickr, são imagens que circulam abertamente na internet que uso como meras ilustrações para compor os posts, algumas são encontradas com o nome do fotógrafo ou proprietário outras, geralmente do Google, nem sempre. Quando encontro o nome do proprietário da foto faço questão de expor, afinal dar créditos ao autor é uma questão de responsabilidade e respeito a obra alheia e ao dono.
A maioria dos textos e críticas são de minha autoria, mas os que não são estão com os devidos nomes do autor.
Agradeço a todas as contribuições, sejam elas por amizade ou por identificação com a causa da adoção.
Agradeço também os comentários de todos.
Cintia Liana
Listas e informações

Cintia Liana com 1 ano
Atrevidinha
(Albert Einstein)
(Cintia Liana)
(Cintia Liana)
(Lídia Weber)
(Luiz Schettini Filho)
(Jaime, 2000)
(Cintia Liana)

Cintia Liana vestida de palhaça apresentando peça de fantoches em abrigo de crianças

Foto: Lídia Weber e Cintia Liana em Roma, Itália, no Congresso Internacional da INFAD
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Cintia Liana vestida de palhaça para se apresentar num abrigo de Salvador
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Cintia e sua mãe, Walkíria, animando abrigo de crianças em Salvador

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Cintia Liana e sua mãe, a arteterapeuta Walkíria Andrade, se apresentam em abrigo de crianças

A psicóloga Cintia Liana se veste de palhaça e anima abrigo de crianças

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