"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sábado, 30 de abril de 2016

Algumas verdades sobre o Novo CNA

Sobre a matéria que vem antes desse texto:
"Cadastro Nacional muda para tornar adoção menos burocrática"
Link: http://www.psicologiaeadocao.blogspot.it/2016/04/cadastro-nacional-muda-para-tornar.html

We Heart it

Vamos trabalhar com a verdade?

"Algumas verdades sobre o Novo CNA"

Gostei muito da matéria que levanta pontos importantes a serem refletidos e mudados, mas discordo de dois pontos quando o Conselho Nacional de Justiça fala dos benefícios do novo CNA.
Como já expliquei em meu texto para a Revista do SESC São Paulo, "Encontrar 'crianças para os pais' fere diretamente os interesses da criança e vai de encontro ao que preconiza o ECA, pois a lei é inversa, devemos encontrar 'pais para uma criança', consequentemente, esse sistema contraria o princípio da absoluta prioridade dos direitos da criança e do adolescente. Então o Conselho Nacional de Justiça ainda não percebeu que está cometendo um grave equívoco em seu objetivo neste sentido.

Outro ponto é que é colocado na matéria como algo positivo se enviar diariamente indicações. Seria positivo se essas indicações não fossem muitas delas equivocadas e falsas, já que existem muitos erros na criação do novo sistema, segundo pessoas que trabalham com o cadastro.
O principal problema do novo CNA foi a inversão de paradigmas, que é o de buscar filhos para habilitados ao invés de buscar uma família para uma criança. Esperamos que esse terceiro CNA seja melhor que o segundo, porque o segundo é pior que o primeiro.
É uma grande mentira quando se fala que o CNA melhorou. Além do primeiro equívoco de procurar crianças para pais, alguns outros são negativos, como a inexistência da localização dos habilitados pelo CFP; habilitados e crianças estão vinculados ao sistema pelo número do processo, o que gera um burocratização desnecessária; grupos de irmãos não são considerados como um todo, mas devem ser já que são adotados juntos; falta de inserção dos habilitados estrangeiros no CNA; não existe mais o campo anotações; se mantêm a falta de possibilidade dos habilitados e a sociedade civil de ter acesso aos dados básicos contidos no CNA; o novo CNA não informa nem o nome nem o telefone dos habilitados, dificultando desnecessariamente o trabalho das equipes tecnicas, entre outros problemas, tornando o novo CNA ineficaz, burocrático e trabalhoso.
Essa é a realidade do novo CNA, segundo quem trabalha diariamente com ele.



Por Cintia Liana

Cadastro Nacional muda para tornar adoção menos burocrática

"Algumas verdades sobre o Novo CNA"

Gostei muito da matéria que levanta pontos importantes a serem refletidos e mudados, mas discordo de dois pontos quando o Conselho Nacional de Justiça fala dos benefícios do novo CNA.
Como já expliquei em meu texto para a Revista do SESC São Paulo, "Encontrar 'crianças para os pais' fere diretamente os interesses da criança e vai de encontro ao que preconiza o ECA, pois a lei é inversa, devemos encontrar 'pais para uma criança', consequentemente, esse sistema contraria o princípio da absoluta prioridade dos direitos da criança e do adolescente. Então o Conselho Nacional de Justiça ainda não percebeu que está cometendo um grave equívoco em seu objetivo neste sentido.

Outro ponto é que é colocado na matéria como algo positivo se enviar diariamente indicações. Seria positivo se essas indicações não fossem muitas delas equivocadas e falsas, já que existem muitos erros na criação do novo sistema, segundo pessoas que trabalham com o cadastro.
O principal problema do novo CNA foi a inversão de paradigmas, que é o de buscar filhos para habilitados ao invés de buscar uma família para uma criança. Esperamos que esse terceiro CNA seja melhor que o segundo, porque o segundo é pior que o primeiro.
É uma grande mentira quando se fala que o CNA melhorou. Além do primeiro equívoco de procurar crianças para pais, alguns outros são negativos, como a inexistência da localização dos habilitados pelo CFP; habilitados e crianças estão vinculados ao sistema pelo número do processo, o que gera um burocratização desnecessária; grupos de irmãos não são considerados como um todo, mas devem ser já que são adotados juntos; falta de inserção dos habilitados estrangeiros no CNA; não existe mais o campo anotações; se mantêm a falta de possibilidade dos habilitados e a sociedade civil de ter acesso aos dados básicos contidos no CNA; o novo CNA não informa nem o nome nem o telefone dos habilitados, dificultando desnecessariamente o trabalho das equipes tecnicas, entre outros problemas, tornando o novo CNA ineficaz, burocrático e trabalhoso.
Essa é a realidade do novo CNA, segundo quem trabalha diariamente com ele.

Por Cintia Liana

_______________________

Cibele e sua filha Rafaela
Foto: "Fato On Line"

Por Joelma Pereira

Com 33.375 mil famílias habilitadas e 5.502 crianças disponíveis, a conta ainda não fecha. Desse total de famílias, cerca de 70% têm preferência por crianças entre 0 e 3 anos e 26% só aceitam crianças brancas.

Fosse levada em conta apenas a frieza dos números, o Brasil tinha tudo para se tornar um paraíso, no qual não haveria crianças abandonadas, dormindo e esmolando nas ruas. Nesse paraíso, todos os meninos e meninas brasileiras teriam uma família que os acolhesse. Criado para agilizar e auxiliar os juízes das Varas da Infância e da Juventude, na condução dos processos de adoção em todo o país, o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), atualmente, conta uma lista de 5.502 crianças que esperam por uma família, contra 33.375 mil famílias que aguardam pela adoção. Se a demanda das famílias é assim tão maior que o número de crianças esperando adoção, por que, então o problema persiste? Infelizmente, o que se constata é que as famílias idealizam um perfil para as crianças que querem adotar que não corresponde à realidade. 

Para a psicóloga e mãe adotiva Cibele Pacheco da Silva, 38 anos, esses dados são resultados dessa idealização que as famílias criam sobre a criança sonhada. “Na fase do curso de preparação é que a gente vai determinando o perfil da criança desejada. É quase que um check-list com perguntas como idade pretendida, preferência de sexo, preferência de cor de pele e uma infinidade de detalhes que devemos manifestar sobre nossas preferências, até que se feche o perfil”.
Desse número geral das famílias do cadastro, 26% preferem crianças de cor branca, contra 1,72% que só aceitam crianças negras. Cerca de 79% das famílias querem apenas uma criança, ou seja, caso a criança tenha irmãos, essas famílias não estão disponíveis a receber mais de uma criança. É aí que surge outra dificuldade, porque, segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), os grupos de irmãos não podem ser separados. Para a supervisora substituta da área de adoção da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, Niva Campos, as restrições impostas pelas famílias é o maior dificultador do processo.
“Restrições como idade e crianças com irmãos são algumas das dificuldades. Além das crianças com algum problema de saúde. A maior parte do nosso cadastro tem disponibilidade para adotar apenas uma criança e algumas têm irmãos que prezamos pela não separação”, explicou Niva. De acordo com ela, uma família com disponibilidade para receber, por exemplo, três crianças, é rara no cadastro. “Esses descompassos é que acabam dificultando a adoção”.
Após sete anos da criação do CNA (Cadastro Nacional de Adoção), os avanços foram muitos, mas as disparidades ainda mostram o quanto a maioria das famílias que deseja adotar uma criança idealiza uma criança dos sonhos, deixando de lado a realidade dos meninos e meninas que aguardam por uma família.
A idealização das crianças é um problemas, mas os responsáveis pelo sistema de adoção reconhecem que há muita burocracia e falta de agilidade no processo. Um problema que, segundo a corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Nancy Andrighi, vem sendo enfrentado. Ela informou ao Fato Online que um novo sistema do Cadastro Nacional começou a ser implantado no último mês, com o objetivo de facilitar e agilizar o trabalho dos magistrados da Infância e da Juventude. “O novo CNA tem agora um sistema de cruzamento de dados mais efetivo e proativo, localizando perfis afins de crianças e pretendentes, inclusive fora da comarca onde estão cadastrados”, o que poderá facilitar esse encontro entre a criança com o perfil traçado pelas famílias habilitadas.

Sistema de alertas
No último mês foi criado um “sistema de alertas” que permite que o juiz seja automaticamente informado, assim que uma criança é cadastrada, sobre a existência de pretendentes interessados naquele perfil. “Simultaneamente, o juiz que cadastrou aquele pretendente é informado, via e-mail, que uma criança com aquele perfil desejado ingressou no sistema. Assim, os magistrados podem iniciar os procedimentos relativos à adoção imediatamente”, explicou a corregedora.
De acordo com Nancy, as últimas inovações no cadastro diminuem o trâmite burocrático, já que a automação do sistema permite que tanto os magistrados que cadastraram as crianças quanto aqueles que cadastraram os pretendentes sejam informados simultaneamente sobre a existências de perfis afins, podendo, assim, dar mais rapidamente início ao processo de adoção.
Entre 2008 e 2015, foram 4.032 registros de adoções realizadas no âmbito do CNA - com crianças e pretendentes cadastrados, sendo que alguns dos registros contemplam mais de uma criança quando se trata da adoção de irmãos. Além destes, foram efetivados mais 4.359 registros de adoções de crianças cadastradas no CNA, mas com pretendentes de fora do cadastro. Neste último caso, geralmente são crianças que não estão no perfil das famílias cadastradas.
A maior parte dos habilitados que compõe os números do cadastro, 14.976, está na região Sudeste. Dessas pessoas, cerca de 24% só querem crianças brancas, contra 2,48% que optaram pela exigência de criança negra. A região Sul é a segunda maior composição dos números, com 11.751 pessoas na lista, que anseiam pela adoção de uma criança. No entanto, entre os sulistas, a preferência por crianças de cor branca é maior: cerca de 38% desse número. E é o menor percentual entre os que aceitam somente crianças negras: 0,98%.

Das crianças
Das 5.502 crianças e adolescentes que compõe o cadastro, 1.773 são da cor branca, 981 de cor negra, 19 amarela, 2.704 pardas e 30 indígenas. Desse número, 77% possuem irmãos. Além de 1.257 crianças que têm algum problema de saúde, outra realidade dura realidade rejeitada pela maioria do cadastro. Destas crianças com problema de saúde, 438 são portadoras de doenças tratáveis e 159 de doenças não-tratáveis, 211 possuem alguma deficiência física, 465 têm deficiência mental e 89 são portadores de HIV.
Dos atuais 33.375 pretendentes à adoção no CNA, somente 2.617 não fazem nenhuma restrição em relação à criança ser portadora de alguma doença ou deficiência, no entanto, outras restrições são realizadas inviabilizando o fechamento da conta entre famílias e crianças que esperam por adoção.
Entre o total de crianças e adolescentes, 2.407 são do sexo feminino e 3.095 do sexo masculino. Entre a preferência da lista dos que aguardam uma menina estão 10.275, contra 3.213 que preferem menino. Apesar disso, é importante lembrar que, ainda que pareça uma conta fácil de fechar, a maioria das crianças não se enquadram em alguma parte do perfil traçado pelas famílias.
Realidade
Há cerca de seis meses, a psicóloga Cibele conseguiu a guarda de Rafaela, 5 anos. No entanto, não foi pela Vara da Infância de Brasília, onde mora, mas por Goiânia. A história da Cibele é longa. Por conta de uma menopausa precoce, ela não pôde ter filhos biológicos. Desde o início de 2012 que deu entrada no processo, mas só conseguiu entrar na fila há cerca de um ano.
De acordo com ela, a conciliação do seu trabalho com o curso de preparação não estava dando certo. “Na minha época, eram poucas turmas, com quatro encontros em horários estabelecidos pela própria Vara.  Isso já é uma coisa que dificulta um pouco, porque muitas vezes não dá para conciliar com trabalho, estudo”.
Sua posição inicial, na fila de habilitados, era a de 375, logo caiu para 350 e deu uma estagnada. Apesar de já estar com a Rafaela, ela ainda aguarda por mais uma criança. “Eles nos explicaram que se quiséssemos adolescentes era quase que imediato, porque não era o perfil solicitado pelas famílias”, disse. Isso porque, hoje, em Brasília, existem cerca de 88 crianças cadastradas no processo de adoção e dessas, 32 são menores de 12 anos e 56 adolescentes (acima de 12 anos). No cadastro da capital, nenhuma família habilitada está disponível para adotar adolescentes.
O caso da adoção da Rafaela foi paralelo ao processo de Brasília. Rafaela tinha um irmão que, em caso raro, foi separado para outra família. “Ela acabou chegando para a gente porque conhecemos as pessoas que trabalhavam com eles (os irmãos), que conheceram nossa história e nos apresentaram à juíza. Nós já estávamos no cadastro, fizemos tudo de forma legal e dentro de todo o processo ganhamos a guarda com vias de adoção”.
Para Cibele, após a decisão de adotar uma criança foram em busca de histórias e se apaixonaram pelo que ouviram. “Não tem como não se encantar e se apaixonar, porque são filhos que nascem do amor. A adoção é um ato de amor. Muitas pessoas pensam que é um ato de caridade, mas não é. Você não está fazendo pelo outro uma coisa que é boa só para ele. Adotar alguém é dizer para o outro: ‘Olha eu não consigo mais viver sem você’.
Ela explicou que o sentimento na adoção é inverso. “A diferença é que na gestação biológica a situação acontece dentro do corpo. Para uma mãe adotiva, acontece fora. Não é um filho que vai sair de você. Ao contrário, é um filho que está entrando. A cada dia ele entra e vai ocupando o espaço dele. Entender esse processo de adoção é importante.
Instituições de acolhimento
De acordo com ela, um problema que deve ser sanado é o tempo em que as crianças vivem nas instituições de acolhimento, até que estejam disponíveis para adoção. A burocracia com a nova lei dificultou esse trâmite. De acordo com a supervisora da Vara da Infância do DF, entre as crianças que vivem nas instituições, apenas cerca de 10% estão disponíveis para adoção. As outras estão em situações temporárias de conflitos familiares e outras estão em processo de busca por um parente que as queiram.
“Na parte de lei, a gente teria que conseguir uma forma de fazer esse processo bastante efetivo, claro que cuidadoso, responsável, mas de uma forma mais rápida. Às vezes você pega história de crianças que ficam lá três, quatro e até cinco anos no abrigo, quando na verdade ela já podia estar em uma família”, explicou Cibele, referindo-se a Lei de Adoção, que, para ela, coloca a família adotiva na última opção do estado e justifica a lotação nos abrigos, que estão cheios, mas muitas crianças não estão disponíveis à adoção.
O preconceito
Para a psicóloga, algumas pessoas têm receio de falar que o filho é adotado. “Existe um preconceito ainda. Quando eu disse às pessoas que eu ia adotar, ouvi comentários do tipo: ‘Cuidado hein, porque filho adotado mata os pais’. Não é assim. A gente vê na mídia notícias de filhos biológicos também, como a própria Suzane”.
Para ela, a coisa piora quando se trata de adoção de adolescentes. “Logo, as pessoas dizem: ‘Você vai pegar uma criança maior? E como fica a história dela?’. A história dela, todo mundo tem a sua. Eu acho que você trabalhar a ideia de que o convívio, de que o afeto realmente é capaz de produzir vínculo, é a coisa mais importante”.
Como psicóloga, Cibele diz que a questão da hereditariedade precisa ser enfrentada pelas famílias. “É preciso desmistificar essa história de que o hereditário é mais importante do que o convívio, do que o afeto, do que a coisa chamada família. Família não é um título. É uma convivência, é uma vontade de estar junto, de fazer bem ao outro”.
A expectativa da fila
Para Adriana de Oliveira Assis, 45 anos, que aguarda na fila de habilitados da Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal, essa realidade do perfil escolhido pelas famílias existe e é justificada pela questão da aceitação dessa criança no novo lar. “A família precisa estar preparada para receber a criança. Não adianta colocar uma criança fora do perfil desejado, pois essa criança pode não ser aceita, assim como a família pode não ser bem recebida pela criança. São relações delicadas”, disse Adriana.
Na fila há dois anos e oito meses, Adriana acredita que a justiça é ágil, mas o perfil pretendido dificulta. Em um consenso entre ela e o marido, eles decidiram que a criança pretendida teria que ter no máximo três anos. “Eu gostaria de ter uma criança acima de três anos, pois já convivi com essa realidade dos abrigos, mas meu marido acredita que é mais fácil estreitar os vínculos familiares com uma criança menor, além da questão de ter de lidar com as histórias difíceis e de dor que elas carregam”, justifica.
De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção, cerca de 70% das famílias habilitadas tem preferência por crianças entre 0 e 3 anos. Entre as crianças, apenas 216 estão nessa faixa etária.

Fonte: http://fatoonline.com.br/conteudo/4336/cadastro-nacional-muda-para-tornar-adocao-menos-burocratica

segunda-feira, 25 de abril de 2016

As crianças excluídas. Revista E, SESC São Paulo

Meu artigo inédito na Revista "E", do SESC São Paulo, sobre adoção no Brasil.
Em primeira mão para vocês.

Cintia Liana na Revista 'E", SESC São Paulo

 Cintia Liana na Revista 'E", SESC São Paulo




Artigo inédito da psicóloga Cintia Liana Reis de Silva 
para a Revista "E", do SESC São Paulo

"As crianças excluídas"
Por Cintia Liana Reis de Silva

Adoção é uma palavra quem vem do latim adoptare, que significa acolher, cuidar, considerar. É uma das palavras mais bonitas e mais ricas de conteúdo interpretativo do dicionário. A adoção é uma atitude instintiva e complexa, plena de requinte humano e espiritual, onde se acolhe aquele que não veio de você, mas veio para você.

Sou psicóloga e trabalho com adoção de menores desde 2002 e tenho observado que as discussões avançam, aprofundam-se, combatem tabus e educam os mais preconceituosos. E isso se dá graças ao empenho das famílias adotivas, aos grupos de apoio à adoção, a alguns meios de comunicação que tratam do tema de modo responsável e aos militantes brasileiros, que vêm enfrentando desafios, levantando bandeiras, conscientizando a população e não desistem da luta pelas crianças abandonadas por suas famílias.

Mesmo com todas as dificuldades, eu tenho orgulho do meu país, o Brasil. Eu trabalho na Itália desde 2010 e enquanto aqui se discute a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo, no Brasil algumas já adotam. Enquanto aqui só os casais heterossexuais casados com no mínimo 3 anos de convivência comprovada podem adotar, no Brasil os solteiros também podem. Aqui na Itália a adoção é tão burocrática que os casais acabam decidindo realizar uma adoção internacional, que é custosa, quase igualmente lenta e trabalhosa.

O nosso Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA é um dos mais avançados do mundo, entretanto falta aplicar o que está escrito. Há pessoas trabalhando muito para isso, também sabemos que o contingente de pessoal é absolutamente insuficiente para um trabalho de excelência. 

Procurando facilitar o cruzamento de dados entre adotantes e crianças à espera pela adoção, foi criado em 2008 o Cadastro Nacional de Adoção, o chamado CNA, que após 6 anos de sua implementação ainda não funciona como se deve. Em 12 de maio de 2015, a nova versão, chamada de Novo CNA, foi elaborada pela Corregedoria Nacional de Justiça e, embora esse sistema seja uma ferramenta de extrema importância, ele não funciona com eficiência razoável, e o novo CNA trouxe ainda mais problemas e falhas, sem ter solucionado as deficiências do antigo.

Uma das mudanças foi que na prática se passou a encontrar "crianças para pais, o que fere diretamente os interesses da crianças e vai de encontro ao que preconiza o ECA, pois a lei é inversa, devemos encontrar "pais para uma criança". Do contrário coloca-se em risco o princípio da absoluta prioridade dos direitos da criança e do adolescente.

Embora pareça que a dificuldade em concretizar uma adoção esteja somente relacionada à morosidade da Justiça e às burocracias, Karina Machado Rocha Gurgel, servidora da VIJ-DF e mestre em Psicologia, desconstrói esse mito em seu artigo “A realidade sobre a espera pela adoção: a diferença entre o perfil desejado pelos pais adotantes e as crianças disponíveis para serem adotadas”. "Com base em dados coletados do Cadastro de Adoção do Distrito Federal, Karina demonstra que o perfil pleiteado pelos requerentes é inversamente proporcional ao perfil das crianças cadastradas para adoção, uma vez que mais de 90% das famílias preferem crianças de 0 a 3 anos, que correspondem a pouco mais de 8% das cadastradas. Destaca, ainda, que, em âmbito nacional, a situação é semelhante. (Site TJDFT, 2016)

Num artigo no jornal italiano "La Repubblica", em 19 de dezembro de 2012, o presidente da Ai.Bi. - Associazione Amici dei Bambini, Marco Griffini, explica que são 168 milhões de crianças abandonadas em todo o mundo e para entender esse número, "é necessário imaginar colocar em fila indiana, bem pertinho uma da outra: a linha humana que formam dá uma volta no mundo, é longa como a circunferência da Terra".

Não quero causar desconforto, mas é necessário que todos se imaginem quando pequenos e/ou os seus filhos, numa instituição, sozinhos, sendo cuidados por pessoas que eles não conhecem, sem vínculos afetivos parentais clássicos, tendo um contato escasso com o mundo externo, com a convivência diária com autoridades que podem ser punitivas, rotina impessoal, ordem, submissão, silêncio, colegas abusivos, falta de autonomia, etc. As crianças órfãs em todo o mundo vivem uma realidade de desamparo e sofrimento psicológico ao último grau. Imaginem essas crianças gritando e pedindo a nossa ajuda. Não se resolveu ainda o futuro delas porque passa pela tarefa de olhar para as nossas próprias fragilidades, para a nossa criança ferida interna, passa pela necessidade de sentir aquele desconforto no estômago. Mas não é virando as costas fugindo da responsabilidade - para que não nos sintamos culpados em algum nível - é que vamos modificar essa realidade. É mergulhando em nossa essência, tocando em nossa humanidade e reconhecendo a necessidade de mudar. A tarefa é de todos.

Em meu livro "Filhos da Esperança, os caminhos da adoção e da família e seus aspectos psicológicos" (2012, 2ª ed.) eu explico, entre outras coisas, porque todas as crianças são "adotáveis" e como se preparar para a adoção. Se não deve existir um modelo de família ideal para adotar, então porque achar que deve ter um perfil de criança ideal para adoção? Seria cruel. Se espera por um bebê que ainda será abandonado ou por uma criança que já está precisando nesse exato momento de pai e/ou mãe? Por que não pensar nelas agora? Nas crianças reais? Todos nós merecemos ser amados, tendo resistências e dificuldades emocionais ou não. Quem não tem seus traumas e más lembranças infantis? Alguns adotantes fecham um determinado perfil, uma criança de até 2 anos, parecida com eles, saudável, mas seguramente se eles não forem tão rígidos e exigentes e conhecerem uma, duas ou três crianças, fora daquele perfil idealizado e determinado, poderiam se "apaixonar" por elas. Além de esperar muito menos tempo na fila, e entrar nela uma só vez para ter mais de um filho, a adaptação poderia ser tão boa quanto com uma criança menorzinha, porque mais que a idade, tem que existir identificação, empatia e isso pode ser com qualquer uma, é só estar receptivo para esse encontro. Elas também já sabem o que é adoção e a desejam. Ademais, adotando crianças fisicamente diferentes, com uma etnia diversa, eles estariam enfrentando o preconceito, ao invés de se "esconderem" atrás de uma "falsa semelhança", para que a adoção não pareça tão evidente. Trabalhar os próprios preconceitos e das pessoas ao nosso redor é o primeiro passo para isso. Adote a verdade, que adotar crianças mais crescidas e irmãos não é sempre mais difícil. As adoções difíceis são aquelas feitas por adotantes muito exigentes, inseguros, imaturos, que não dão tempo à criança de se adaptar, não a aceitam e não a entendem, que demonstram uma postura ameaçadora de um possível novo abandono ou pode se tornar difícil pela complexidade das circunstâncias, mas tem sempre um grande aprendizado 

Para acontecer uma adoção é preciso o desejo de amar e fazer dar certo, sem falsas expectativas. A vida de cada um é guiada e limitada pelas crenças ocultas. Investir no autoconhecimento e trabalhar os modelos familiares intergeracionais adoecidos faz parte da preparação. leia mais, pesquise. Em meu blog www.psicologiaeadocao.blogspot.com tem dezenas de textos meus e outros mais sobre adoção e psicologia de família.

Educar e cuidar de um filho é trabalhoso, seja biológico ou adotivo, mas o que faz tudo valer a pena é o amor, a capacidade de ver o lado encantador e mágico, de entender essa dialética, de ver a riqueza desse aprendizado. Quem conhece o amor deve ser capaz de educar os filhos e o mundo aos seu redor e só esse amor pode salvar tudo. Reafirmando um trecho de uma de minhas frases, "amar se aprende".



Revista E, SESC São Paulo

Uma verdadeira família

Foto: Bruno Poppe
Retirada, junto com o texto, do Facebook de Rodrigo Barbosa

Esses somos nós. Eu, meu marido Gilberto, e nosso filho, Paulo Henrique. Somos uma família. Conheci o Gil 13 anos atrás. Começamos a falar em adoção faz uns seis ou sete anos, e parte do que nos deixava em dúvida era o que nosso filho poderia enfrentar sendo filho de dois homens. 

Em determinado momento vimos que isso era besteira. Hoje são muitas as configurações de família. E não importa se você é criado pela mãe solteira, pelo tio, pela avó, por dois pais, duas mães, ou mesmo um casal homem-mulher, porque se tem amor, é família. 

Decidimos adotar. O PH estava num abrigo no interior de Minas e trouxemos ele para nossa família em novembro de 2014, quando ele estava completando cinco anos. Nosso moleque de cinco anos.

Hoje fui apresentado a um vídeo onde o deputado Jair Bolsonaro diz que jamais deixaria um filho dele de cinco anos brincar com um moleque de cinco anos adotado por um casal gay.
É um vídeo-compilação que mostra todo tipo de absurdo que ele vive falando por aí. E essa declaração, no meio das outras, chega a ser branda.
Bolsonaro invocou o torturador Bilhante Ustra na votação mais acompanhada pela TV dos últimos tempos. Nessa última semana, ganhou mais cento e tantos mil seguidores em sua página, chegando aos quase 3 milhões de seguidores. Eu tenho apenas 52 pessoas seguindo minha página, mas acho que esse cara não merece esse ibope todo. Aliás, nem eu.
A minha vontade, com toda a mágoa que tenho, é que ele seja varrido da vida política. Mas eu sou a favor da democracia. Em 2010 ele ficou na décima primeira colocação para Deputado Federal no RJ, mas em 2014 ele quadriplicou seu votos e foi o Deputado Federal mais votado no Rio, com 464 mil votos. Quanto mais polêmico, homofóbico, racista ele se torna, mais votos tem. Ele veste um personagem que agrada ao reacionário, mas esse show de horrores que vimos no domingo nos prova que precisamos de pessoas mais preparadas no governo.
Compartilhe se você deixaria seu filho brincar com o menino da foto. Ele é fofo, adora brincar e nem quer saber se o amiguinho é filho do Bolsonaro. 

Compartilhe se você não é do tipo que diria na cara de uma mulher que não a estupraria porque ela é feia. Melhor, compartilhe se você não é do tipo estuprador. 

Compartilhe se você não acha correto que ele leve plaquinhas escrito "queima rosca" para provocar um colega de trabalho.

Compartilhe para que um dos 464 mil eleitores dele mude de ideia nas próximas eleições e para que um dos seus amigos deixe de curtir a página dele.

Ser polêmico saiu de moda, gente. O bacana é ser do bem, ser justo, brigar pelo que acredita.
Foto: A foto é do craque Bruno Poppe, que nos fotografou para a Revista Piauí. Obrigado, Bruno. É uma das nossas fotos mais bonitas.
Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10153472873971867&set=a.103242101866.107525.581586866&type=3&theater

Sem limitações! Dicionário altera definição de "família" para incluir gays


Por Felipe Souza
O termo “família” aparecerá redefinido na próxima edição do Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Segundo o jornal “O Globo”, a redefinição é parte de uma campanha da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio em conjunto com a Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas.
Para fazer a mudança, foi lançada uma campanha online pedindo sugestões do público. A partir delas, e com a ajuda de especialistas, será criada uma definição “sem preconceitos e limitações”. “O mundo é diverso, abrangente e dinâmico. A atual definição de ‘família’ é reducionista e anacrônica. O que desejamos é atualizar esta definição e contribuir para a reflexão sobre quais são os verdadeiros laços que unem as pessoas em forma de família”, defende André Lima, sócio da agência NBS, idealizadora da campanha #todasasfamílias.
Para os idealizadores, a campanha ainda serve como contraponto ao Estatuto da Família – aprovado em outubro do ano passado pela Câmara dos Deputados – que restringe juridicamente a entidade familiar à “união entre um homem e uma mulher, por meio do casamento ou de união estável”.
Fonte: http://pheeno.com.br/2016/04/sem-limitacoes-dicionario-altera-definicao-de-familia-para-incluir-gays/

sábado, 16 de abril de 2016

O "milagre" das constelações familiares e como elas podem mudar destinos

We Heart it

16 de abril de 2016

Por Cintia Liana Reis de Silva

Conheci há alguns anos, mas só há algumas semanas venho lendo muito e me aprofundando ainda mais no método terapêutico fenomenológico das constelações familiares do psicanalista, pedagogo, teólogo e filósofo alemão Bert Hellinger e posso parecer meio categórica, mas sou formada em psicologia desde 2000, especialista em psicologia sistêmica familiar, expert em adoção e venho trabalhando com a "cura da alma" do ser humano há todos esses anos e, após ter constelado, há quase uma semana, posso dizer que para mim, até o momento, não há método mais curativo e rápido. Estou tão encantada com as descobertas de Hellinger que mês que vem iniciarei o curso de formação aqui Roma.

O trabalho de constelações familiares se propõe a mudar destinos tristes e a restabelecer as ordens do amor na família, assim o sofrimento se acaba nas gerações atuais e nas futuras, liberando a todos os que vieram, os que estão e os que virão. Acredito que todas as famílias têm seus pontos a serem curados.

A essência do trabalho de Hellinger é o amor e depois a gente vai entendendo a força que esse amor tem e como ele é capaz de curar. Hellinger, nascido em 1925, com 64 livros escritos e traduzidos em todo o mundo, explica que cada pessoa vive um destino já traçado pelo inconsciente familiar e cada pessoa está presa a esse destino, o que ele chama de enredamento. E esses destinos são repetições de histórias já vividas e trazidas há muitas gerações precedentes, histórias de sofrimentos, dúvidas, dores, medos, limitações, bloqueios, separações, abandono de filhos, problemas de infertilidade, abortos, pessoas excluídas, dependências de álcool ou drogas, problemas financeiros, dívidas, problemas conjugais, abusos, violência, incestos, doenças de ordem física e mental, tragédias, assassinatos, suicídios, acidentes, brigas, desavenças entre irmãos, conflitos com filhos e essas repetições ocorrem como uma forma de buscar uma falsa compensação. Por exemplo, uma família que tem um homicida futuramente perderá um ente assassinado, para cumprir algo que ele chama de consciência de clã. Ou um casal que "compra" uma criança de uma família pobre para adotá-la depois perde um filho biológico em uma fatalidade. Uma herança mal dividida também terá graves consequências futuras. Ele diz que a liberdade de cada um é limitada porque todos os atos exigem consequências e essas consequências já são predeterminadas e aparecem nas gerações futuras. As repetições acontecem também em forma direta e similar, como doenças e outras situações que caem igualmente de geração em geração, na vida de filhos e filhas, que vivem cenários iguais aos dos pais, dos avós, bisavós, como se tivesse uma força que os faz seguir esse mesmo destino, sem conseguir mudá-lo, mesmo com a consciência e com todos os esforços para seguir outra estrada.

O fato é que ele descobriu que se pode evitar que essa sucessão do repetições desnecessárias e sofridas, que só trazem mais dor, chamada de compulsão sistêmica de repetição, pode acabar quando se restabelece as ordens do amor, ou seja, na forma de um ritual em uma terapia, com uma representação em que a pessoa constelada participa em um grupo com outros desconhecidos e um constelador.

O constelador diz para o constelado em pouquíssimas palavras escolher o que ela quer trabalhar, qual é a dificuldade vivida e sentida e delega que ela pegue aleatoriamente no grupo algumas pessoas que representarão os seus familiares. Familiares esses que podem estar envolvidos nesse conflito. Após as pessoas serem escolhidas, e sem saberem nada sobre a vida do constelado, se incia o movimento dentro do campo familiar (morfogenético). Cada representante, que também está ali com o mesmo objetivo de constelar e de resolver seus problemas, começa a se mover e a ir na direção de um ou outro, sentindo uma força que o guia. Também inicia a ter sensações que começam a ser "lidas" pelo constelador, explicando de onde vem o problema, de que geração, por qual motivo ele está ali e até segredos vêm a tona, revelando outras coisas que vão sendo resolvidas. As respostas ficam claras.

Quem representa, de alguma forma, "constela" indiretamente naquele momento também, e tem seus insights, seus momentos de iluminação, de aprendizado, vivendo aquele papel no campo, pois não é a toa que ele lhe foi dado, foi exatamente porque tem algo a ver com a sua história.

Um workshop de constelações dura o dia inteiro e a constelação e o fechamento de cada um do grupo vai de 20 minutos a 1 hora mais ou menos, e se dá quando o constelador pede para o constelado ou para o representante do constelado repetir frases em forma de um ritual de cura, que tem como base um sentimento de libertação e liberação, motivando o constelado a seguir o seu próprio destino, a perdoar, a se desenredar dos prolemas antigos, que são de outras pessoas mais velhas da família, ou até de pessoas já mortas e, a partir daí o constelado já começa a sentir algo diferente. A cada novo dia que ele acorda o sentimento de liberdade é mais forte e com o passar do tempo já se vê tudo de modo mais leve, superando os problemas que antes lhe pesavam demasiadamente nos ombros. Problemas esses que não eram seus e sim do campo familiar, que o escolheu para carregar adiante, e ele, até então, não conseguia se libertar desse papel até constelar.

Eu, particularmente, na constelação trabalhei alguns medos, e tive a confirmação de que esses medos e sentimentos provinham de um evento traumático ocorrido em minha família há mais de 25 anos, em uma geração antes da minha e, após constelar, percebi que todos os sentimentos e lembranças ligadas àquele momento foram tomando outros lugares em minha vida emocional, restabelecendo as ordem, os lugares certos, de modo que os medos foram se dissolvendo e hoje eu sinto que sou a dona do meu destino e tenho força sobre ele.

A propósito, na oportunidade também levei uma ex-paciente minha para constelar, uma alcoolista. Há uma semana ela não bebe. Mas, obviamente, eu e o constelador a aconselhamos a não parar por aí o seu processo de cura.

Hoje existe em mim uma enorme gratidão por Bert Hellinger e por toda a riqueza de seus ensinamentos, desse método que ele deixará para a humanidade. Escrevi esse texto para retribuir o amor que estou sentindo por ele, pela compreensão que hoje tenho da humanidade, pela vida, pela mansidão que estou adquirindo, pela serenidade que está se erradicando em mim, para também contribuir positivamente de algum modo na vida de quem quer mudar, parar de sofrer e ser dono do próprio destino. Não posso guardar isso só para os mais íntimos, já que tenho tanto carinho por tantas pessoas e por pessoas que nem conheço pessoalmente, já que tenho tanta certeza da minha missão, da responsabilidade do meu trabalho, já que tem tantas pessoas que me pedem conselhos, ajuda, uma palavra amiga, hoje vos aconselho a não desistirem,  pesquisem sobre a obra de Bert Hellinger e, na hora certa, tenham a coragem de constelar. Não tenham medo de serem felizes por inteiro.

Por Cintia Liana Reis de Silva

Após 8 meses a ex-paciente continua sem beber e a sua alegria e motivação continuam intactos.

Indicação para primeira leitura:
Constelações Familiares, o reconhecimento das ordens do amor. Bert Hellinger, Editora Cultrix, 2001.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Terapia familiar sistêmica: a terapia que mudou a minha vida


Por Carolina Vila Nova
Constelação Familiar Sistêmica é uma terapia criada pelo psicanalista alemão Bert Hellinger, que ocorre de forma energética e fenomenológica.  A terapia acontece em um local onde haja espaço para um grupo de pessoas e sua movimentação. Há um terapeuta que comanda a sessão, chamada de Constelação. Pouco é falado pelo terapeuta.  E menos ainda pela pessoa constelada (o paciente). A sessão ocorre em forma de movimentos: a energia surge do inconsciente do constelado e um grande fenômeno acontece.
O terapeuta pergunta ao paciente o que ele veio buscar ali hoje. O paciente responde, por exemplo, que precisa resolver um problema em seu casamento. O terapeuta solicita que a pessoa constelada escolha uma pessoa do grupo presente para representá-lo. A pessoa então escolhe alguém e posiciona a mesma no espaço que se tem para a constelação, denominado como campo (geralmente uma grande sala vazia, rodeada de pessoas sentadas à sua volta). O constelado se senta. Em segundos a pessoa que foi colocada no campo como representante começa a se movimentar. Esta pessoa simplesmente sente vontade de agir de uma determinada forma e o faz. Cada gesto tem um significado. E o terapeuta pode ler através desses gestos, os passos seguintes a serem executados. Mais pessoas vão sendo escolhidas, uma a uma, para representar a situação da pessoa constelada. No exemplo citado, se escolheria mais um representante para o cônjuge. Em seguida, representam-se os pais para o constelado e seu cônjuge. Filhos, irmãos e outros podem ser também representados. A ordem das representações e quem acabam sendo representados é sempre orientado pelo terapeuta.
O que ocorre é que os representantes no campo da constelação acabam agindo como atores mágicos, atuando como os personagens da vida da pessoa constelada. Podem-se ver pessoas chorando, gritando, dançando, falando, como se tivesse existido ali um roteiro criado e estudado da vida daquela pessoa. É algo tão real, que chega a parecer mágico.
Uma constelação pode durar trinta minutos, uma hora ou até uma hora e meia. Não existem regras. Existe um movimento energético que todos sentem e o terapeuta além de sentir, interpreta e guia. Através dos acontecimentos mostrados pelos representantes, o constelado vê a sua própria vida passando pelos seus olhos, mas sob uma nova perspectiva: do todo! A constelação familiar sistêmica leva sempre em consideração a importância dos membros da família: pais, avós, irmãos, filhos e netos, além de cônjuges, filhos adotados e quem mais pertencer aquele ciclo familiar. Ninguém nunca pode ser excluído. Ou veem-se as consequências de tal exclusão no mesmo meio familiar.
É possível se descobrir segredos através de uma constelação familiar, uma vez que toda a verdade que cerca a vida de uma pessoa e sua família está impregnada em seu inconsciente. E aí então se manifesta. Por exemplo: pode existir numa família uma criança que foi adotada, que não é legítima, mas que não foi apresentada como tal. Numa constelação, esta informação se revela. Bem como outras.
A constelação familiar é uma terapia intensa, surpreendente. Chega a ser chocante, tamanha verdade que se vê e o pouco que se compreende em sua manifestação. Não apenas a pessoa constelada se beneficia em sua sessão, mas todos os representantes que participam da terapia, pois os representantes acabam sempre sendo escolhidos energeticamente pelo inconsciente do constelado, de forma que aquela pessoa sempre terá alguma identificação em si mesmo com o que virá a representar no campo. Esta também se beneficia: se cura.
Segundo Bert Hellinger, não devemos tentar entender o que acontece numa constelação. Quando se tenta compreender, de alguma forma interrompemos ou atrapalhamos a energia que está no comando da situação. Como seres humanos, confusos e tão pequenos, afirmo que é muito difícil ver tamanha manifestação e não tentar compreendê-la. Mas aos poucos aprendemos a apenas aceitá-la e não mais entendê-la.
Quando uma sessão acaba, pode ser que a mesma tenha indicado uma tarefa a ser realizada, por exemplo: conversar com o cônjuge sobre algo do passado, que transformou aquela união em algo ruim. Ou pode ser que nada mais precise ser feito. A energia liberada ali continua se manifestando. E as mensagens trocadas naquele momento agem como se realmente tivessem acontecido com as pessoas reais ali representadas.
Quando eu mesma fiz a minha primeira constelação, fiquei em estado de choque por alguns dias. Descobri alguns segredos de mim mesma e de demais. Após duas semanas, comecei a perceber grandes mudanças em mim. Com o passar do tempo, percebi que as pessoas envolvidas em minha sessão também haviam começado a mudar em relação a mim e as minhas questões.
A mudança foi tamanha que constelei mais duas vezes, de meses em meses. Esta não é uma terapia que pode ser feita regularmente como a pessoa a ser constelada. Tem que se dar tempo ao tempo, literalmente. Como representante pode-se participar sempre.
Meses após minhas constelações, vi mudanças que nunca, nem como escritora, havia sonhado. Nem em meu pico mais alto de criatividade poderia ter inventado tamanhas reviravoltas em minha vida. Estas que me levaram a um estágio melhor de vida e consciência: autoconhecimento e aceitação. Resignação diante daquilo que é, do que não se muda.
Muito há para se falar da Constelação Familiar Sistêmica. Apesar de adepta à terapia, ainda sinto que apenas duas páginas para se falar do assunto é extremamente pouco. Mas enquanto não me especializo no assunto para a escrita do merecido e sonhado livro a respeito, fica aqui o meu testemunho e desejo, de que todos saibam da existência e poder desta viva terapia.
A Constelação Familiar Sistêmica, a meu ver, é a mais intensa, forte e viva terapia nos dias atuais. Para alguns pode ser que seja intensa e real demais. Ainda assim, vale a pena conhecer e falar com o terapeuta a respeito. E depois, talvez, se decidir por ela!
Fonte: http://www.contioutra.com/constelacao-familiar-sistemica-a-terapia-que-mudou-a-minha-vida/

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Juiz consegue 100% de acordos usando técnica da Constelação Familiar

Foto no site "A arte de amadurecer"
No interior da Bahia, um juiz tem conseguido evitar que conflitos familiares e pessoais transformem-se em processos judiciais com a utilização de uma técnica de psicologia antes das sessões de conciliação. Com ajuda da chamada Constelação Familiar, dinâmica criada pelo teólogo, filósofo e psicólogo alemão Bert Hellinger, o magistrado Sami Storch conseguiu índice de acordo de 100% em processos judiciais onde as partes participaram do método terapêutico.
Durante a Semana Nacional da Conciliação deste ano, que ocorrerá entre os dias 24 e 28 de novembro em todo o país, já estão agendadas 29 audiências cujas partes participaram da vivência de Constelação Familiar. Para o magistrado, o método contribui fortemente para o fim do conflito impactando tanto os atores diretos quanto os envolvidos indiretamente na causa, como filhos e família.
Neste ano, a técnica vem sendo direcionada aos adolescentes envolvidos em atos infracionais, processos de adoção e autores de violência doméstica. Na Vara Criminal e de Infância e Juventude de Amargosa, a 140 km de Salvador, onde atualmente o juiz Sami Storch dá expediente, o índice de reincidência desses jovens ainda não foi mensurado, mas o magistrado acredita que, se fosse medido, esse número seria com certeza menor.
“Um jovem atormentado por questões familiares pode tornar-se violento e agredir outras pessoas. Não adianta simplesmente encarcerar esse indivíduo problemático, pois se ele tiver filhos que, com as mesmas raízes familiares, apresentem os mesmos transtornos, o problema social persistirá e um processo judicial dificilmente resolve essa realidade complexa. Pode até trazer algum alívio momentâneo, mas o problema ainda está lá”, afirma.
O que é Constelação Familiar – A sessão de Constelação Familiar começa com uma palestra proferida pelo juiz sobre os vínculos familiares, as causas das crises nos relacionamentos e a melhor forma de lidar com esses conflitos. Em seguida, há um momento de meditação, para que cada um avalie seu sentimento. Após isso, inicia-se o processo de Constelação propriamente dito. Durante a prática, os cidadãos começam a manifestar sentimentos ocultos, chegando muitas vezes às origens das crises e dificuldades enfrentadas.
Em 2012 e 2013, a técnica foi levada aos cidadãos envolvidos em ações judiciais na Vara de Família do município de Castro Alves, a 191 km de Salvador. A maior parte dos conflitos dizia respeito a guarda de filhos, alimentos e divórcio. Foram seis reuniões, com três casos “constelados” por dia. Das 90 audiências dos processos nos quais pelo menos uma das partes participou da vivência de constelações, o índice de conciliações foi de 91%; nos demais, foi de 73%. Nos processos em que ambas as partes participaram da vivência de constelações, o índice de acordos foi de 100%.
Para Sami Storch, a Constelação Familiar é um instrumento que pode melhorar ainda mais os resultados das sessões de conciliação, abrindo espaço para uma Justiça mais humana e eficiente na pacificação dos conflitos.
A Semana Nacional da Conciliação ocorre todo ano e envolve a maioria dos tribunais brasileiros. Os tribunais selecionam os processos que têm possibilidade de acordo e intimam as partes envolvidas a tentar solucionar o conflito de forma negociada. A medida faz parte da meta de redução do grande estoque de processos na Justiça brasileira – atualmente em 95 milhões, segundo o Relatório Justiça em Números 2014.

Regina Bandeira
Agência CNJ de Notícias


Fonte: http://www.aartedeamadurecer.com.br/juiz-consegue-100-de-acordos-usando-tecnica-da-
constelacao-familiar/

sábado, 2 de abril de 2016

O que é uma Constelação Familiar?

Google Imagens

Por Marise Sampaio Dias


A Constelação Familiar, é uma abordagem psicoterapêutica,  criada por Bert Hellinger. Este trabalho, entre outras possibilidades,  conduz ao reconhecimento das "Ordens do Amor", tornando claros e evidentes os profundos vínculos que unem uma pessoa à sua família e à sua ancestralidade. 

Estamos ligados ao destino da nossa família, incluindo gerações muito distantes, não apenas por herança genética, mas especialmente por vínculos,  laços de amor e lealdade e por aquilo que simplificadamente podemos chamar de "consciência coletiva comum".  

Esta consciência coletiva busca equilíbrio gerando compensações sistêmicas, exigindo a reparação de injustiças cometidas dentro do sistema ou por representantes dele (nos casos de danos provocados a outrem); nesta "reparação"  membros da geração atual são levados inconscientemente a "tentar resolver" situações e/ou a completar  tarefas  que ficaram pendentes nas gerações anteriores.  

Deste modo, problemas que são vividos no presente, podem ter conexão com atuais ou antigos vínculos familiares e expressam, além das tentativas de reparação em busca do equilíbrio, aquilo que chamamos de "lealdades invisíveis".  

Isto é tão poderoso que não precisamos conhecer nem os fatos, nem as pessoas envolvidas, para sermos profundamente afetados pelos seus destinos.

A colocação de uma constelação revela a dinâmica geralmente oculta do sistema familiar. De modo simples e direto, as tensões, conflitos, vínculos e emaranhamentos (repetição de destinos trágicos ou difíceis) são trazidos à consciência.

A situação de vida do cliente, passa a ser vista portanto, a partir de uma perspectiva sistêmica, muito mais  ampla e profunda, do que a habitual visão de sua história biográfica. Com o conhecimento das ordens do amor e reconhecimento das leis que regem os relacionamentos -  as forças que atuam no sistema podem ser  então direcionadas para a cura.

Todos os membros do sistema precisam ser reconhecidos, respeitados e recolocados no seu devido lugar. Quando a ordem, a hierarquia e o equilíbrio sistêmico são reestabelecidos, o amor original pode fluir livremente trazendo consigo a solução que emerge no decurso de uma constelação. 

A força e a profundidade deste trabalho não pode ser descrita, mas é facilmente experimentada e reconhecida por todo aquele que coloca a sua constelação, ou deste processo participa enquanto representante ou observador. 

Muitos paradigmas precisam ser quebrados para que se possa compreender este trabalho de processo aparentemente tão simples. Não é tão fácil conceber que uma Constelação possa promover cura no passado, presente e futuro, desafiando a ideia preconcebida da nossa atuação no tempo e também no espaço: pois que através de representantes ou simples visualização, se pode intervir “naquilo” ou naquele que foi representado” 

As Constelações são hoje realizadas em todo o mundo, e foram ampliadas  para servir também a outros contextos. Têm sido utilizadas com sucesso e eficácia, em outras instituições,  empresas, etc, na busca de solução sistêmicas.


Marise Sampaio Dias é Psicoterapeuta com formação e especialização em Terapia Sistêmica -Casal e Família. Graduada em Core Energetics pelo Institute of Core Energetics- New York- USA. Pós Graduada em Psicossomática pela Escola Bahiana de Medicina e Inst. Junguiano. Formação e Educação Continuada (1300 horas) em Constelações Familiares pelo Helliger- Institut Landshut- Alemanha e pela ISPAB - Institut für Systemische Psychotherapie, Aufstellung und Beratung – München - Alemanha. Atende em consultório particular (terapia individual, casais, famílias e grupos), realiza diversos workshops e supervisiona terapeutas. Coordena, juntamente com Cátia Lymma o curso de formação em Constelações Familiares. Palestrante e Autora de artigos acerca das diversas abordagens nas quais se graduou e co-autora das Cartas das Deusas.

Fonte: http://constelacaofamiliarbahiabrasil.blogspot.it/p/como-as-constelacoes-brotaram-e-criaram.html