"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A violência por traz da palmada

We Heart it
Por Cintia Liana Reis de Silva
Artigo publicado no site "Indika Bem" no dia 12 de dezembro de 2013.
Não são exatamente as palmadas que fazem das crianças rebeldes em potencial; não são exatamente elas que formam delinquentes; não são alguns “tapinhas desvalorizados” que fazem um indivíduo se tornar antiético e enraivado com a vida. Apesar de se tratar de agressões físicas "aparentemente brandas", de ser um tipo de violência, o que fere mais, é o que está por trás das palmadas: é o “cala a boca moral”, é a imposição do silêncio, quando a criança diz que algo não vai bem com ela por trás do mal comportamento, que há algo bem desconfortável acontecendo e que nem ela sabe o que é e nem sabe comunicar de outro modo, porque não tem mesmo maturidade para colocar em palavras o seu mal estar.

A birra comunica e o adulto deve metacomunicar. Espera-se que ao menos ele seja maduro e esteja em grau de ajudar a criança em sua comunicação. A palmadinha agride, mas o que agride mais é a falta de interesse, paciência, maturidade e muitas vezes a falta de amor e preparo do adulto para chegar perto do filho querendo descobrir sinceramente o que não é saudável aos seus olhos, mesmo que nessa observação venha a tona uma resposta bem desagradável sobre as crenças deles, que pensam que estão sempre muito certos.

Claro que pais não devem ser super heróis, por trás da palmada também tem o cansaço, o desespero, a falta de tempo, de energia e muitas outras coisas, é necessário paciência com todos para entender e melhorar a situação, mas como aqui falamos do que sente a criança, então continuemos…

A palmadinha dói, mas o que dói mais é a negação, a negligência e a falta de respeito, de preparo, quando a criança tenta falar através do seu comportamento rebelde, e os pais não a entendem, e nesse momento perdem a oportunidade de ensiná-la a observar a si mesma e a compreender que pode buscar respostas em seu íntimo, que pode procurar aprender a falar o que a aflige, a expressar-se sem receio ou vergonha, sem precisar sentir medo de ser reprovada ou transformar sua tristeza em raiva na forma de “birra”. Ensiná-la que abrir o seu coração é saudável e que pode confiar em seus pais, na capacidade de diálogo e compreensão desses, que pode confiar naquela relação de amor.

As birras infantis, a raiva, guardam em seu plano de fundo um descontentamento, um sentimento conflitante. As crianças não fazem birra constantes quando estão satisfeitas, verdadeiramente felizes, quando se sentem ouvidas, respeitadas, mas alguns pais podem não concordar com isso porque com certeza pensarão que está tudo bem, em seu ponto de vista, mas é em seu ponto de vista e não no da criança.

É preciso um trabalho de auto conhecimento para mergulhar em si, olhar a situação e perceber o que é necessário de fato melhorar, para o filho transformar o seu comportamento. O sistema familiar muda, se reconfigura se os seus membros se propõem a essa mudança e, como o filho quase sempre apresenta o sintoma do adoecimento familiar, ele é escolhido como o bode expiatório e ainda leva palmadas.

Vivemos numa época onde ainda existe muita ignorância sobre o mundo infantil, onde adultos tratam crianças como pequenos animais, preocupados só em dar disciplina e determinar regras, essas crianças crescem e se tornam adultos inflexíveis, sem elasticidade intelectual, emocional, relacional, se tornam intolerantes ou o contrário total, com uma rebeldia à flor da pele, querendo infringir todas as regras, são negativistas, do contra, com um alto senso de desvalorização escondido atrás de uma falsa crença de superioridade.

Uma criança de até 3 anos, por exemplo, não tem raciocínio de causa e efeito, não deve apanhar e nem entende porquê. Não é tanto o modelo de violência branda, visto em casa, que tornam indivíduos mais ou menos revoltados, infelizes e bandidos marginalizados, como se diz muito por aí, mas é o modelo de comunicação e de afeto distorcidos que marginaliza emocionalmente.

O comportamento violento é aprendido na educação familiar, absorvido na cultura, sobretudo os homens que são incentivados a bater em outros homens e até em sua companheira como forma de provar a sua masculinidade. Esse “cala a boca!” da palmada provoca feridas na relação de pais e filhos, assim como críticas ao invés de orientação, provoca mágoas, rebaixa a autoestima, traz muitas sensações ao mundo emocional da criança, como sentimento de inadequação, de rejeição, de não ser amado verdadeiramente como se espera e as dores e feridas inconscientes são as mais difíceis de acessar, normalmente só com terapia, por isso muita gente nem sabe que ela existe, só sofre em suas relações, e muitos pais passam adiante as suas dores para os filhos, fazendo a falta de consciência interna virar um ciclo de mal estar existencial.

Mas há quem repita que o filho passou por isso tudo e hoje está bem, mas com certeza porque não exercitou lucidez suficiente para enxergar os pequenos conflitos que tem com ele e os problemas e carências que carrega o filho.

De fato a violência, que é uma forma de comunicação não verbal, entra quando não existe inteligência, paciência e sensibilidade suficientes para entender e ensinar a comunicar verbalmente de maneira sã e madura. Mas o mundo continua avançando. Um dia chegaremos lá. Continuo na campanha, faça filhos, mas se prepare antes disso, afinal, ter filhos é o maior projeto de vida que um ser humano pode ter. É preciso ter consciência.

Por Cintia Liana Reis de Silva

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Dê amor aos montes

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Cuide do seu filho infinitamente, proporcione sorrisos, dê amor aos montes. O que não é experimentado e nem saciado hoje amanhã terá o gosto de vazio. O tempo passado e o que não foi dado não volta mais. Quem deixou muito a desejar só sentirá dor quando o filho adulto não conseguir sorrir. Quem consegue dar e se entregar a esse amor, no futuro só sentirá felicidade e a sensação de ter feito o melhor.
 
Cintia Liana

Educar é diferente de estabelecer regras

We Heart it

Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado no portal Indika Bem em 17 de outubro de 2013

Uma criança pequena precisa de muito mais que regras, precisa de algo que a maioria dos adultos não é capaz de exercitar nem com eles mesmos: precisa de compreensão, de empatia, precisa aprender a se expressar de maneira sadia e lúcida e sentir que aquilo que se passa no coração delas tem muito valor.
 
A ciência ainda sabe muito pouco sobre a mente infantil. Não podemos deixar para depois, o nome delas é agora. Criança precisa de amor, precisa que os pais se enxerguem mesmo contra a vontade deles e mesmo que doa. Criança não chora se não sente dor ou se não se sente triste. Até o que muitos chamam de manha guarda por trás uma insatisfação emocional.
 
No mundo de hoje, com tantas informações, não se pode confundir “o impor disciplina e regras com dar educação”. Educação é muito mais que um mecanismo de seguir regras, á algo que vai muito além, é mais subjetivo. Dar educação é passar valores humanos, é passar a noção de ética, é ensinar dando bons exemplos, é se melhorar para criar filhos mais honestos e verdadeiros consigo mesmos e com os outros, educar é respeitar o filho para que ele possa entender o que é o respeito e se sentir capaz de “abraçar” o outro porque sentiu que foi acolhido.
 
Por exemplo, deseducar não é deixar que um bebê almoce vendo um vídeo interessante uma vez ou outra, deseducar é querer que o bebê coma a todo custo a nosso modo, sem respeitar o seu humor, o seu momento. Uma criança precisa se sentir segura primeiro em seu lar para no futuro se sentir segura no mundo. Uma criança precisa se sentir aceita, entendida e acolhida para poder fazer o mesmo com os outros. Ninguém pode dar aquilo que não conhece, não se pode dar aquilo que não se experimentou.
 
É fácil fazer da nossa casa um “exército”, difícil é saber ler nas entrelinhas na hora de educar. É preciso desenvolver sensibilidade, é preciso um olhar transdisciplinar.
 
Coisas importantes a serem lembradas: crianças sentem a noção de respeito desde que nascem, sentem quando são enganadas e negligenciadas; Não tenha filhos para ser feliz, se faça feliz antes e faça filhos para fazê-los pessoas felizes e, assim, você será mais ainda; Se prepare antes de ter filhos, eles não nasceram para te salvar e nem para servir de companhia; Filhos não devem carregar nas costas as memórias familiares ruins; Filho não traz ninguém que já foi de volta; Filhos devem se sentir livres das expectativas neuróticas dos pais; Pais que fazem terapia podem se tornar bem mais fortes e preparados; Se o teu filho está mal olhe para você; Tudo o que se diz hoje a uma criança repercutirá de algum modo em seu futuro, as frases boas, as frases más e até o que está escondido por trás de certas “brincadeiras” e ironias; As dificuldades familiares percorrem muitas gerações, é importante trabalhar os modelos intergeracionais. É difícil, mas é muito possível.
 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Documentário discute parto normal, cesárea e nascimento 'humanizado'

Cena do documentário 'O renascimento do parto', que estreia nesta sexta em SP (Foto: Divulgação)


Cena do filme 'O renascimento do parto', que estreia nesta sexta em SP (Foto: Além D'Olhar/Divulgação)


'O renascimento do parto' estreia nesta sexta-feira (09.08.2013) em SP, no RJ e DF.
Mães, parteiras, médicos obstetras e especialistas discutem tema no filme.
Por Luna D'Alama
Do G1, em São Paulo
08/08/2013 06h30 - Atualizado em 08/08/2013 17h48
O aumento no número de cesarianas no Brasil, que já chegam a 52% do total de nascimentos, e os benefícios do parto normal em casa ou no hospital são temas do documentário "O renascimento do parto", de Érica de Paula e Eduardo Chauvet, cuja estreia no país ocorre a partir desta sexta-feira (9).
O filme alterna depoimentos de mães, parteiras, médicos obstetras, especialistas e cenas de partos e paisagens, ao som de uma trilha bastante emotiva.
Entre os especialistas entrevistados, estão a antropóloga americana e ativista do parto natural Robbie Davis-Floyd, o obstetra e cientista francês Michel Odent, a psicóloga Laura Uplinger, a obstetra e professora da Universidade de Brasília (UnB) Maria Esther Vilela, que coordena o Núcleo de Saúde da Mulher e o Programa Rede Cegonha do Ministério da Saúde, a epidemiologista e professora da UnB Daphne Rattner e a enfermeira obstetra Heloisa Lessa.
A ideia do documentário, segundo os diretores, é destacar a importância do parto normal – que, como defendem, poderia ser feito em até 90% dos casos, contra 10% de gestações de maior risco – e do trabalho de parto, que "avisa" o bebê sobre seu tempo de maturidade e libera um coquetel de hormônios, como oxitocina ("do amor"), prolactina, endorfina e adrenalina, para ajudar mãe e filho nesse processo.
Além disso, o filme aponta os diversos motivos que teriam levado a um excesso de indicações de cesarianas, além de abordar a não necessidade de tantas intervenções no bebê logo após o nascimento, a frequente falta de contato imediato dos filhos com as mães, nos dois tipos de partos, e o aumento de crianças prematuras ou com complicações (principalmente respiratórias) que demandam uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal depois de uma cesárea, ligadas ao fato de que o bebê ainda não estava "pronto" para nascer. 
 
É citado, ainda, um aumento no número de mortes de bebês e mães, por hemorragias ou infecções, decorrentes das cesarianas. Segundo os especialistas ouvidos, com as cesáreas, os óbitos maternos costumam cair até um nível em que se chega a um platô, para então voltarem a subir – o que eles chamam de "efeito U". 
 
Parto na banheira é cena do filme (Foto: Divulgação)

Parto em banheira de hospital em Florianópolis
é outra cena do filme (Foto: Carol Dias/Divulgação)
De acordo com Érica de Paula, que fez a pesquisa e o roteiro do documentário, ele não mostra o "outro lado", das vantagens da cesariana, porque "a visão contrária é o que a gente vê 24 horas por dia, sete dias por semana. Os 90 minutos que tínhamos para fazer o filme foram usados justamente para mostrar esse outro lado".
 
Cesáreas 'limitadas' a 15%
Segundo a obstetriz (profissional da saúde que atua em partos) Ana Cristina Duarte, que participou do documentário, "o que se calcula é que não mais do que 15% das mulheres têm problemas de saúde ou da dinâmica do parto que necessite algum tipo de intervenção". A questão, de acordo com ela e outros especialistas, é que os casos complicados são muito marcantes.
Essa também é a porcentagem recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o limite máximo ideal de cesarianas em cada país. Mas em hospitais privados do Brasil, por exemplo, o número de cirurgias desse tipo chega a 90%, principalmente nas regiões Sul e Sudeste – o que vem sendo chamado por especialistas de "epidemia oculta" entre as classes sociais mais altas.
"Não é possível que quase 100% das mulheres tenham defeitos e não possam ter bebês de forma natural. Nossos corpos não foram feitos para isso?", pergunta Ana Cristina.
 
A obstetra Fernanda Macedo, outra entrevistada de "O renascimento do parto", acrescenta: "A cesariana é uma cirurgia maravilhosa, que salva vidas todos os dias, mas ela não é para ser feita em todas as pacientes, de uma maneira desnecessária, fora do trabalho de parto. Quando mal indicada, põe o bebê em três vezes mais risco que o normal. (...) Hoje em dia, o parto no Brasil passou a ser um ato cirúrgico, em vez de um evento fisiológico".
Fernanda avalia ainda que as pacientes têm "todo aquele ranço cultural de achar que o parto cesáreo é mais controlado, menos arriscado, que não tem risco nenhum, que o bebê dele vai ser salvo. (...) O médico, por sua vez, apesar de ter aprendido que o parto normal é seguro, que é bom para mãe e para o bebê, acaba acreditando um pouco nessa falsa verdade de que o parto cesáreo é mais seguro".
Para o obstetra Paulo Nicolau, que não participou do filme, mas compareceu à pré-estreia em São Paulo na segunda-feira (5), muitas pacientes acham "chique" fazer cesariana e logo pedem para o médico.
"O segundo problema é que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) não regula essa situação, e o médico recebe cerca de R$ 200, R$ 300 por parto. O terceiro ponto é que, se der algum problema na criança – como paralisia –, e o caso for parar na Justiça, a primeira coisa que o juiz vai perguntar é por que o médico não fez uma cesariana", enumera Nicolau. Segundo ele, os médicos atualmente estão desaprendendo a fazer parto normal, e a maioria já não sabe – o que, no futuro, segundo ele, poderia levar as mulheres a pagarem se quiserem realmente ter parto normal.
No filme, a obstetra Melania Amorim afirma que, "quando se entrevistam mulheres no pós-parto, elas muitas vezes acreditam que houve uma indicação real de cesariana. (Mas) Quando se entrevistam os médicos, eles vão atribuir a culpa da cesariana a uma decisão da mulher".
 
Cena do documentário 'O renascimento do parto', que estreia nesta sexta em SP (Foto: Divulgação) 
Filme debate parto natural e cesárea, e nascimento
no hospital ou em casa (Foto: Kelly Stein/Divulgação)
 
'Motivos' para o parto não ser vaginal
De acordo com a obstetriz Ana Cristina Duarte, quase tudo hoje em dia se tornou motivo para recomendar cesárea, muitas vezes sem necessidade.
"São dezenas de motivos: pressão alta, cordão umbilical enrolado no pescoço, falta de dilatação, bebê grande ou pequeno demais, mãe velha (acima de 30 ou 35 anos) ou jovem demais, gorda ou magra demais, sedentária, diabética. Também dizem que o parto normal dói muito e que a mulher pode ficar larga", diz Ana Cristina.
Segundo o obstetra Ricardo Chaves, muitas cesáreas são feitas por conveniência médica – já que são agendadas com antecedência e duram de 15 a 20 minutos, o que permite ao profissional voltar para o consultório, em vez de passar até 12 horas acompanhando um trabalho de parto.
"A gente tem muito mais internações em UTIs nas vésperas de grandes feriados, (...) porque evidentemente (os médicos) querem passar o feriado sem o susto de terem que sair de casa para atender um parto. Mas isso faz parte da nossa escolha", diz Chaves.
A obstetra Fernanda Macedo complementa: "O valor que o plano paga não compensa você desmarcar um consultório inteiro. Você ganha mais numa tarde em consultório do que num parto. O plano de saúde, os hospitais não têm interesse na gestante de parto normal".
 
'Cabeça moderna atrapalha' Na opinião da antropóloga e parteira mexicana Naoli Vinaver, que também fala no filme, "a cabeça da mulher moderna atrapalha muito", pois muitas delas são inseguras e se acham incapazes de dar à luz sozinhas.
Segundo a obstetriz Ana Cristina Duarte, a maioria das mães diz no início da gravidez que quer parto normal, mas muda de opinião ao longo do pré-natal. "Minam a coragem da mulher", acredita.
A pediatra e neonatologista Ana Paula Caldas, que participou de um debate sobre o documentário após a pré-estreia na capital paulista, destacou que "a mulher precisa confiar no próprio corpo e no poder que tem. Não somos frágeis e incapazes".
Para ela, ter um médico na sala de parto é o mesmo que ter um pediatra como baby-sitter. "É uma formação muito cara para atender a uma coisa tão básica, que é o parto. O caminho é tirar isso da mão do médico e deixar para as parteiras e obstetrizes", avalia.
Uma das mães que deram depoimento no filme é a nutricionista Andréa Santa Rosa Garcia, mulher do ator Márcio Garcia – que têm três filhos: o primeiro nascido por cesárea, a segunda por parto normal no hospital e o terceiro também natural, mas em casa.
"É muito legal você encarar a gestação não como um estado de alerta, de preocupação, de que pode dar alguma coisa errada, e sim 'Olha que bacana, ela está gerando uma vida, é uma grávida linda, olha que legal, que bênção'", diz Andréa no filme.
Ela também participou do programa Encontro com Fátima Bernardes desta quarta-feira (7), quando lembrou de sua segunda experiência como mãe. Ao engravidar de Nina, ela quis ter parto normal, mas sua médica disse que "uma vez cesárea, sempre cesárea".
"Eu olhei para ela, tomei um susto e falei: 'Ué, mas eu não vou poder passar por essa experiência?' Ela não levou em consideração que eu sou jovem, saudável, me alimento bem, faço atividade física, ioga, me preparo, respiração, tudo isso. Então tive que ir para São Paulo fazer o parto normal", contou no Encontro.
 
Para a enfermeira obstetra Heloisa Lessa, "nosso modelo de parto ainda é baseado na doença. Ou a mulher tem pressão muito alta, muito baixa, engordou muito, pouco. É muito difícil uma mulher sair de uma consulta pré-natal dizendo 'Eu estou ótima, estou feliz, está tudo bem'".
A roteirista Érica de Paula compara o parto normal a escalar uma montanha, e o pré-natal ao preparo da mochila. "Se você tem cãibra, para, respira. Aí pensa: se já chegou até aí, você transcende, supera o limite, dá conta. É diferente do que ir de helicóptero para ver a vista, você a alcançou", diz.
 
Interação mãe-filho e ritualização
O documentário também aborda questões como a importância de um contato íntimo entre a mãe e o bebê assim que ele nasce, em vez de a criança ser levada primeiro para fazer procedimentos médicos que poderiam esperar um pouco, na visão dos especialistas entrevistados. Além disso, eles acreditam que intervir demais pode trazer mais problemas do que soluções.
"Geralmente, não é para fazer nada com o bebê, são cacoetes de procedimentos, uma esteira de linha de produção. A criança não precisa ser pesada na hora, não vai diminuir ou aumentar de tamanho nas próximas duas horas. O bebê precisa de vínculo, tem muita oxitocina e precisa se apaixonar pela mãe – e vice-versa", analisou a pediatra e neonatologista Ana Paula Caldas após a pré-estreia.
A ginecologista e obstetra Carla Andreucci, que também falou no debate em São Paulo, acredita que há um manejo excessivo dos bebês, com colírio nos olhos, antisséptico nos genitais, aspiração no nariz e sonda retal – em vez de esperar a primeira evacuação para ver se está tudo bem com a criança.  "A ausculta do coração, (a verificação) dos sinais vitais, tudo isso pode ser feito no colo da mãe", diz.
 
Parto em casa O documentário trata, ainda, da vontade de muitas mulheres terem parto normal longe do ambiente hospitalar. Segundo o filme, 1% dos partos realizados atualmente no Brasil ocorre em casa. E os especialistas ouvidos reforçam que esses casos devem ser gestações de baixo risco e que, ao desconfiar de algum problema, a paciente precisa ser encaminhada para um hospital.
"O lugar mais adequado para a mulher ter seu filho é, segundo a OMS, onde ela se sente segura. Para muitas mulheres, o lugar mais seguro é a sua casa; para outras, é uma casa de parto; e para outras vai continuar sendo o hospital. E todas elas têm que ser contempladas pelo nosso sistema de saúde", avalia o obstetra Ricardo Jones.
Segundo a antropóloga Robbie Davis-Floyd, 20% dos partos na Holanda em 2011 foram domiciliares, e a taxa de cesarianas no país é de 15%.
"Em todo o mundo, o ideal seriam as parteiras profissionais atenderem de 70% a 80% dos partos, e obstetras, de 20% a 30%", afirma Robbie.
A OMS considera habilitados para assistência ao parto os médicos obstetras, os médicos da família, as enfermeiras obstetras e as parteiras formadas ou obstetrizes, enumera a obstetra Melania Amorim.
 
Possíveis soluções Para Érica de Paula, que realizou o filme ao lado do marido, Eduardo Chauvet, e atua como doula (assistente de parto) desde 2009, é difícil falar em uma única solução para o problema do excesso de cesarianas e da falta de humanização nos nascimentos, pois ele tem muitas causas.
"As mulheres precisam se informar mais, aumentar a demanda pelo parto normal; os profissionais devem ter uma visão mais fisiológica do processo, e o governo e as agências reguladoras têm que fazer pressão para que haja indicações reais de cesariana", diz Érica.
A ginecologista e obstetra Carla Andreucci acrescenta: "A mudança das mulheres é mais fácil do que mudar os profissionais, que já estão inseridos no mercado".
 
Cidades de estreia
"O renascimento do parto" estreia nesta sexta-feira (9) em São Paulo, Sorocaba, Campinas, Indaiatuba, Brasília e Rio de Janeiro. No dia 16, o filme será lançado em Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba; e no dia 23 começará a ser exibido em Belo Horizonte, João Pessoa e Salvador.
Segundo o diretor Eduardo Chauvet, o documentário teve orçamento de R$ 142 mil, com recursos de crowdfunding (financiamento coletivo), e foi selecionado para festivais de cinema da Colômbia, do México, dos EUA e da China. A ideia agora é distribuir milhares de cópias em DVD para centros de saúde e criar uma série de TV com episódios de 30 minutos.
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Não são monstros, são seres humanos

Mateus Solano no personagem Félix da novela Amor à vida
 
Por Cintia Liana Reis de Silva
 
Publicado no Portal Indika bem em 28 de novembro de 2013
 
Existem muitos conceitos confusos quando se trata de discutir sentimentos e a ética do mundo novelesco, a mesma coisa serve para a relação entre pais e filhos e quando esses dois mundos se cruzam vira polêmica. Quando o personagem é cruel, dizem que ele não tem caráter ou que é um psicopata, reafirmando teorias do senso comum pela necessidade de criar rótulos, agrupar e simplificar para ficar mais fácil o entendimento popular, mas isso só nos faz girar em círculos sem sair do ciclo vicioso que poderia levar a sociedade em busca da transformação de alguns velhos valores e crenças ingênuas.
 
Só para entender: não existe gente sem caráter, existe gente sem ética. Também se inventou os termos “bom caráter” e “mal caráter” para qualificar de modo simples a conduta de alguém, mas caráter é outra coisa. Já o comportamento ético é o seguimento de códigos de valores absorvidos e compreendidos ao longo da vida, o que pode ser prioridade para uns, mas para outros não, infelizmente. Essa orientação deve ser dada em casa, é obrigação dos pais ensinar aos filhos a serem sujeitos e cidadãos éticos e não a escola, que fará só o trabalho de reafirmar e auxiliar didaticamente nessa absorção de valores. Quando se ensina em casa, num ambiente íntimo, de escuta, compreensão e afeto, se apreende com mais facilidade a ser ético.
Caráter todos nós temos, são as características mais marcantes da personalidade. Personalidade já é outro conceito bem complexo, não existindo personalidade fraca ou forte e sim características de uma pessoa que a faz mais ou menos segura que do pensa, acredita ou sente naquele momento; mais rígida ou menos rígida e autoritária. Mas as pessoas podem mudar, o indivíduo está em constante mutação, principalmente quando está atento ao seu processo de evolução pessoal.
Agora trataremos do rótulo monstro. Todos nós podemos nos assustar com um ato de crueldade e chamar alguém de monstro, mas sabemos que ele é mais um ser humano que alimenta a maldade, dá vazão à sua parte sombra. Todo ser humano tem uma parte luz e uma parte sombra, e todos devem conhecer essa sombra para transformá-la aos poucos em luz. Todo ser humano é capaz de desejar o mal de alguém, de sentir raiva, mas nem sempre é capaz de cometer o mal, porque se é ético.
Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, explicou que essa parte sombra, que todo ser humano tem, é tão feia que ela pode passar a vida inteira sem enxergá-la, mas isso não impede de uma pontinha dela vir à tona uma vez ou outra.
 
Então quando chamamos alguém de monstro nos desviamos da chance de entender que o ser humano pode ser mal e de vê-lo com suas partes obscuras, odiosas, envaidecidas, arrogantes, feridas, sofridas, cheias de dúvidas, dilemas e perdemos a chance de abrir possibilidades de questionamento de tantas certezas ingênuas e admitir que o mal vem do ser humano, como explica bem o Pathwork, uma corrente de pensamento da psicologia, o qual usa muitos ensinamentos da teoria Junguiana.
 
Se coloca os monstros em outro patamar para se diferenciar deles, pelo medo de se envolver e se igualar, porque dói ver tanta maldade no ser humanos, mas temos que encarar para transformar. Se deve ir a fundo e se perguntar aos pais: e quem cria e educa esse ser humano? Aonde você está quando esse ser humano se torna um monstro sem que você se dê conta? Dói porque ver a monstruosidade do filho remete a ter que entrar nas próprias feridas e nos próprios erros, na história familiar, nos segredos, nas convicções desmedidas e infantis, na vontade de ver no filho o que se quer e não o que ele está se tornando por conta da sombra dos próprio pais, na maioria das vezes. É por isso que sempre pergunto, quem se prepara para ter e educar filhos? É preciso encarar a verdade antes de levar adiante novas mentiras.
Tudo bem que é ficção, mas novela acaba servindo muito como exemplo, ela entra completamente na casa das pessoas, então não preciso nem falar aqui no que os pais do personagem Felix erraram ou falharam. Uma família cheia de segredos, uma mãe infantil, preconceituosa, que privilegia um dos filhos, que não quis enxergá-lo com suas sombra de dores trazidas da infância, um pai com uma sombra enorme e bem visível, que nunca o aceitou e o amou, e isso não justifica os crimes e maldades que ele cometeu, que fique bem claro que não defendo ninguém, se trata de clarificar para transformar a visão e criar o entendimento verdadeiro e não somente jogar culpas, como é a tendência.
Poderia aqui destrinchar todos os conceitos científicos de psicologia sistêmica familiar e mostrar como Felix se transformou nesse dito “monstro”, mas o texto ficaria mais longo ainda.
Nada justifica a maldade cometida por um adulto, mas vamos procurar explicações para melhorar o futuro ou vamos continuar chamando de monstros, os infelizes, cruéis e antiéticos, sem procurar mudar os valores igualmente cruéis que a sociedade alimenta? Valores esses que ferem e maltratam nossas crianças hoje, quando se considera melhor bater e punir, que ouvir ou procurar entender onde está o desconforto emocional delas.
E os casos reais? Nunca se falou sobre os pais de jovens que cometeram crimes contra eles. Não se trata de culpar ninguém, repito, o termo culpa é até infantil, mas se trata de rever conceitos e dar responsabilidades a quem as pertence a título de esclarecimento. Ninguém é perfeito. Por que o medo de questionar?
Outro conceito distorcido é o de psicopatia, que é uma desordem de personalidade caracterizada em parte por comportamento antissocial recorrente, diminuição da capacidade de empatia ou remorso e baixo controle comportamental ou, alternativamente, dominância desmedida.
Felix é neurótico e não um psicopata, até porque ele sente, e o psicopata tem como traço marcante a ausência de sentimentos. O neurótico é a maioria, como disse Freud, aquele que se sente inferior, desvalorizado e vê o outro sempre como superior. Felix sempre achou que a irmã fosse melhor que ele. O Psicopata se sente superior, mais inteligente e não tem fraquezas, mas Felix só usa a falsa crença de que é forte e superior para esconder a sua fragilidade e sofrimento por se sentir rejeitado pelo pai e usa essa dor de modo negativo sem buscar ajuda. Mas quantas pessoas não se sentem assim, por baixo, rejeitados, feridos, e passam avida inteira brigando, se escondendo dos outros e sofrendo? A neurose deve ser tratada, todos precisam de terapia, já a psicopatia não tem cura, só fazem efeito medidas sócio educativas.
As novelas trazem muitos conceitos subliminares negativos, mas trazem outros positivos, como ela vai ajudar ou desajudar vai depender da boa vontade, compromisso ético e o grau de conhecimento de quem assiste.
 
Por Cintia Liana Reis de Silva

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pediatras não são psicólogos

We Heart it
 
Um bom conselho de psicóloga, especialista, que trabalha há mais de 14 anos com famílias e crianças? Cuidado com os conselhos de alguns pediatras prepotentes que, com falas distorcidas e preconceituosas, explicam o que é de competência do psicólogo. Pediatras não são psicólogos e psicólogos não são médicos. Os dois estão no mesmo patamar de importância na saúde. Uma ciência não está acima da outra. Pediatras cuidam da parte física, psicólogos da parte mental e emocional que interferem no comportamento, na educação, nas relações e na felicidade. Consulte sempre um psicólogo, como você consulta um pediatra, eles sempre podem dar dicas importantíssimas para uma vida psicológica sadia para o seu filho, interferindo diretamente no futuro. Todos atentos pelo verdadeiro bem estar das crianças.
 
Cintia Liana Reis de Silva

Não Deixe o seu bebê chorando!

Excelente texto. Confirma o que eu venho há alguns meses sustentando insistentemente.
 
Cintia Liana
 
Movimento Internacional Não Deixe O Seu Bebê Chorando!
 
Por Josie Zecchinelli em 11/05/2010
 
Homens e Mulheres, pesquisadores e profissionais de saúde que trabalhamos em distintos campos da vida e do conhecimento, mãe e pais preocupados com o mundo em que nossos filhos e filhas vão crescer, cremos que é muito necessário nos manifestarmos.
 
Concordamos que é frequente que os bebês de nossa sociedade ocidental chorem, porém não é certo que “seja normal”. Os bebês choram sempre por algo que lhes produz mal estar: sono, medo, fome, frio, calor… além disso, da falta de contato físico com sua mãe ou outras pessoas do seu entorno afetivo.
 
O choro é o único mecanismo que os lactentes tem para nos comunicar sua sensação de mal estar, seja qual for a razão do mesmo; nas suas expectativas, no seu continuum filogenético não está previsto que este choro não seja atendido, pois não tem outro meio de avisar sobre o mal estar que sentem, nem podem por si mesmos tomar as medidas para resolvê-lo.
 
O corpo do recém nascido está desenhado para ter o seio materno tanto quanto necessita, para sobreviver e para sentir-se bem: alimento, calor, apego; por esta razão não tem noção da espera, já que, estando no lugar que lhe corresponde, tem a seu alcance tudo que necessita; o bebê criado no corpo a corpo com a mãe desconhece a sensação de necessidade, de fome, de frio, de solidão, e não chora nunca. Como afirma a norte-americana Jean Liedloff, na sua obra The Continuum Concept, o lugar do bebê não é no berço, na cama, e nem no bebê-conforto, senão no colo materno.
 
Isto é o melhor durante o primeiro ano de vida; e nos dois primeiros anos de forma quase exclusiva (por isto a antiga famosa “quarentena” das recém paridas). Depois, os colos de outros corpos de familiares podem ser substitutos por alguns momentos. O próprio desenvolvimento do bebê indica o fim do período simbiótico: quando se chega a determinados graus de desenvolvimento neuro-psico-motor e o bebê começa a sentar, depois a engatinhar e por fim a andar. Ou seja, pouco a pouco vai tornando-se autônomo e a desfazer este estado simbiótico.
 
A verdade é óbvia, simples e evidente.
 
O lactente toma o leite materno idôneo para seu sistema digestivo e além disso pode regular sua composição com a duração das mamadas, com a qual é criado no peito de sua mãe sem ter uma série de problemas infecciosos, alérgicos…
 
Quando chora e não se atende, chora com mais e mais desespero porque está sofrendo. Há psicólogos que asseguram que quando se deixa de atender o choro de um bebê depois de três minutos, algo profundo se quebra na integridade deles, assim como na confiança em seu entorno.
 
Os pais, ainda que sejam educados na crença de que “é normal que os bebês chorem” e que “há que deixá-los chorar para que se acostumem”, e por isto estamos especialmente insensibilizados para que seu pranto não nos afete, as vezes não somos capazes de tolera-lo. Como é natural, se estamos um pouco perto deles, sentimos seu desespero e o sentimos com nosso sofrimento. Revolvem nossas entranhas e não podemos consentir com a sua dor. Não estamos de todo desumanizados. Por isto os métodos condutistas propõem ir pouco a pouco, para cada dia aguentar um pouquinho mais este sofrimento mútuo. Isto tem um nome comum, que é a “administração da tortura”, pois é uma verdadeiro suplício que infligimos aos bebês quando fazemos isto, e também a nós mesmos, por mais que estas sejam normas de alguns pedagogos e pediatras.
 
Vários pesquisadores americanos e canadenses (biólogos, neurologistas, psiquiatras, etc.), na década de 90, realizaram diferentes investigações de grande importância em relação a etapa primal da vida humana; demonstraram que o contato pele a pele, do bebê com sua mãe e demais familiares mais chegados, produz moduladores químicos necessários para a formação de neurônios e do sistema imunológico; enfim, que a carência de afeto corporal transtorna o desenvolvimento normal das criaturas humanas. Por isto os bebês, quando os deixamos dormir sozinhos em seus berços, choram reclamando o que por sua natureza lhes pertence.
 
No Ocidente se criou, nos últimos 50 anos, uma cultura e uns hábitos, impulsionados pelas multinacionais, que eliminam este corpo-a-corpo da mãe com a criança e desumaniza o cuidado: ao substituir a pele pelo plástico e o leite materno por um leite artificial, se separa mais e mais a criatura de sua mãe. Inclusive se fabricam modelos de “walkyes talkys” (babás eletrônicas) especiais para escutar o bebê de habitações distantes das dos pais. O desenvolvimento industrial e tecnológico não se coloca a serviço das nossas crias, chegando a robotização das funções maternas a extremos inimagináveis.
 
Simultaneamente a esta “puericultura moderna”, se medicaliza cada vez mais a maternidade; o que tenderia a ser uma etapa prazerosa de nossa vida sexual, se converte em uma penosa enfermidade. Entregues aos protocolos médicos, as mulheres adormecem a sensibilidade e o contato com seus corpos, e se perde uma parte de sua sexualidade: o prazer da gestação, do parto e da extero-gestação – o colo e a amamentação. Paralelamente, as mulheres decidiram pelo mundo do trabalho e profissional masculino, feito pelos homens e para os homens, e que, portanto, exclui a maternidade; por isto a maternidade na sociedade industrializada ficou encerrada no âmbito do doméstico e do privado. Contudo, durante milênios, a mulher realizou suas tarefas e suas atividades com seus filhos pendurados a seus corpos, como todavia ocorre nas sociedades ainda não ocidentalizadas. A imagem da mulher com seus filhos deve voltar aos cenários públicos, aos locais de trabalho, sob pena de comprometer o futuro do desenvolvimento humano.
 
A curto prazo, parece que o modelo de criação robotizado não é daninho, que não é nada demais, que as crianças sobreviverão; porém, pesquisadores como Dr. Michel Odent (1999 – .primal-health.org), apoiando-se em diversos estudos epidemiológicos, têm demonstrado a relação direta entre diferentes aspectos desta robotização e doenças na idade adulta. Por outro lado, a violência crescente em todos os âmbitos, tanto públicos, como privados, como tem demonstrado a psicóloga suíço-alemã Alice Miller (1980) e o neurofisiólogo americano James W. Prescott (1975), por citar somente dois nomes, também procede do mau trato e da falta de prazer corporal na primeira etapa da vida humana. Também há estudos que demonstram a correlação entre a dependência às drogas e os transtornos mentais com agressões e abandonos sofridos na etapa primal. Por isto os bebês choram quando sentem falta do que lhes tiraram; eles sabem o que necessitam, o que lhes corresponderia neste momento de suas vidas.
 
Deveríamos sentir um profundo respeito e reconhecimento ao choro dos bebês, e pensar humildemente que não choram porque sim, ou muito menos, porque são “manhosos”… Elas e eles nos ensinam o que estamos fazendo de incorreto.
 
Também deveríamos reconhecer o que sentimos em nossas entranhas quando um bebê chora; porque podem confundir a mente, porém é mais difícil confundir a percepção visceral – nossos instintos. O local do bebê é o nosso colo: nesta questão, o bebê e nossos instintos estão de acordo, e ambos tem suas razões.
 
Não é certo que dormir com os nossos filhos (“co-lecho”) seja um fator de risco para o fenômeno conhecido como Síndrome da Morte Súbita. Segundo The Foundation for the Study of Infant Deaths, a maioria dos falecimentos por “morte súbita” se produz quando os lactentes estão no seu berço. Estatisticamente, portanto, é mais seguro para o bebê dormir na cama com seus pais que dormirem sozinhos (Angel Alvarez – .primal.es).
 
Por tudo que expomos, queremos expressar nossa grande preocupação com a difusão do método proposto pelo neurólogo E. Estivill em seu livro Duérmete Niño ou na edição em português: NANA NENÊ (baseado por sua vez no método Ferber divulgado nos EUA), para fomentar e exercitar a tolerância dos pais ao choro de seus bebês; se trata de um condutismo especialmente radical e evidentemente nocivo, tendo em conta que o bebê está ainda em uma etapa de formação. Não é um método para tratar os transtornos do sono, como se apresenta, senão para submeter a vida humana em sua mais tenra idade. As gravíssimas conseqüências deste método têm começado a aparecer.
 
Necessitamos de uma cultura e uma ciência para uma educação de nossos filhos que seja compatível com a natureza humana, porque não somos robôs, senão mamíferos, que sentimos e sofremos quando nos falta o contato físico com aqueles que amamos. Para contribuir com este movimento, para que teu filho ou tua filha deixe de sofrer já, e se sentes mal quando escutas chorar o seu bebê, atenda-o, pegue-o em seus braços para entender o que ele está solicitando; possivelmente seja só isto o que ele queira e necessita, o contato com o seu corpo. Não o negues.
Quando um recém nascido aprende em um berçário que é inútil gritar, está sofrendo sua primeira experiência de submissão e abandono. (Michel Odent)
Fonte: http://www.maternidadeconsciente.com.br/artigos/nao-deixe-seu-bebe-chorando/

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O que fazer diante do choro de uma criança

We Heart it
Por Cintia Liana Reis de Silva

Há poucos dias estava refletindo sobre a reação da maioria das pessoas diante do choro de um bebê ou uma criança, quando ela cai, se machuca, sente dor ou chora por tristeza. Tem gente que reage dizendo, “não foi nada, passou, passou” e aí começa a mostrar outra coisa interessante, com o intuito de tirar a atenção dela do que a faz mal. Mas essa reação não é aconselhada do ponto de vista psicológico e educativo e vou explicar bem os porquês.

É nesse momento da dor que se ensina erroneamente à criança que o que a faz mal não é bom, que é melhor fugir e fazer de conta que nada está acontecendo e colocar a atenção em outar coisa mais interessante. O adulto tem medo de olhar para o sofrimento, mais ainda quando se trata de uma criança, mas interromper o seu choro é nada mais nada menos que falta de respeito e sensibilidade. A criança sente a insegurança do adulto e entende a mensagem do seguinte modo, “não me sinto segura com ele, porque não é capaz de me dar apoio, segurança, suportar e sustentar a minha tristeza me dado força, ele quer escapar do que eu estou sentindo, me sinto completamente rejeitada em minhas necessidades nesse momento. Chorar não deve ser bom, nem quando nós precisamos. Talvez seja melhor fazer de conta que nada está acontecendo. Mesmo que eu sinta dor, é melhor fingir, até mesmo para que ele continue a me amar, porque se eu choro talvez não seja amado do mesmo modo que espero”.

Quando alguém chora seja um adulto ou uma criança, a postura correta e humana a adotar e acolher o choro, isso é símbolo de respeito, torna o lamento digno. Se você não é capaz de ver ninguém chorar ou se sente incomodado, é uma dificuldade importante a ser entendida e resolvida. Depois de acolher o choro de alguém, se pode conversar para entender melhor até que ponto doeu e depois buscar outras alternativas para superar a dor, seja ela física ou emocional.

As pessoas crescem com falsos modelos de força, que mais são modelos de futilidade e superficialidade. Crescem ouvindo que não podem sentir medo, chorar ou demonstrar a sua dor a ninguém e que isso a renderia fraca e frágil. Fraco e frágil talvez seja quem engole o choro, finge que nada está acontecendo, enquanto sente uma bomba explodir dentro de sim e depois vai ao shopping fazer compras para tentara aquecer falsamente o seu mundo interno vazio, cheio de faltas e completamente fora do prumo.

O adulto que respeita o que sente, foi a criança ensinada que todos merecem ter contato com seus próprios sentimentos, que as sensações que entram em contato são importantes, que aquilo que falam sobre elas tem valor e com certeza estarão muito mais em grau de buscar externamente realizações realmente boas, que refletem seus equilíbrio interno e não só para ajudar a maquiar uma falsa felicidade. É nessa jornada, do encarar o que se sente com verdade, que se descobre que a felicidade está dentro de cada um de nós.

Por Cintia Liana Reis de Silva

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Não se supera traumas através dos filhos

Google Imagens
 
Por Cintia Liana Reis de Silva
Texto publicado em minha coluna quinzenal no site Indika Bem no dia 14.11.1013
 
Já ouvimos muito falar sobre dar ao filho o que não se teve, fazer com o filho o que os pais não fizeram, fazer o contrário do que fizeram os pais, fazer tudo diferente de como fizeram os genitores, mas psicologicamente falando não dá pra superar traumas através dos filhos, nem através de ninguém. Claro que se pode alimentar a nossa alma dando algo de bom ao outro, mas entender e curar as própria feridas é um trabalho que deve fazer consigo mesmo, não dá para pegar atalhos.
 
Como disse Murray Bowen, o criador da psicoterapia de família, “é na hora de se tornar progenitor que se reabrem as feridas intergeracionais, e como dar aquilo que não se teve?”. De fato, como dar aquilo que não se conhece, que não se experimentou, aquilo que não está internalizado? Nem seria uma atitude inteligente fazer o contrário do que se recebeu dos pais, porque se cai no erro do contrário, e o sadio é buscar viver o equilíbrio.
 
Quando é o caso de propiciar ao filho aquilo que se queria ter quando criança, acaba por ser algo que pode alimentar somente o ego ferido do pai ou da mãe e nem sempre é aquilo que o filho deseja ou precisa, nesse caso se age de acordo com o próprio ego magoado e não para fazer o filho feliz. Se um adulto não consegue enxergar as suas lacunas ou pontos de fragilidade muito dificilmente irá compreender o filho, por mais amor que tenha para oferecer.
 
Por isso, é importantíssimo se conhecer e se trabalhar antes de buscar assumir o papel de pai e mãe. É na hora que os papéis se invertem, ou seja, é na hora em que o filho de torna genitor e se vê defronte a uma criança, é que se reabrem as velhas feridas, elas voltam. Alguns podem chamar de golpe do destino, quando se encontram em meio às mesmas dificuldades que passaram os seus pais quando eles nasceram, mas isso não é o destino, é a mente agindo de uma maneira coesa com aquilo que se conhece e que nem sempre se tem consciência, e o mundo externo é um reflexo do mundo interno.
 
É comum ver no filho a imagem de si mesmo e o indivíduo, sem perceber, age com ele de um modo bem parecido ou usa dos mesmos mecanismos intrapsíquicos inconscientes que seus pais usavam, esses mecanismos, que levam a um determinado comportamento já conhecido e experienciado, se chamam modelos ou padrões intergeracionais. Para romper  e transformar esses modelos é necessário um sério trabalho de autoconhecimento, porque são imperceptíveis, por se estar imerso emocionalmente naqueles valores.
 
Você responde ao mundo de acordo com o que você sente, e esse modo de sentir foi aprendido e reforçado na infância e durante o seu crescimento em família e influenciou diretamente na construção de sua personalidade, do seu caráter, temperamento e na própria ética. Para mudar e buscar ser mais feliz no contato com o mundo externo é necessário entender e se reconciliar com o mundo interno, as figuras de base, com o que fizeram para você chegar nesse ponto em que está, é acessar as feridas infantis. Para tudo tem uma resposta, a mente e o corpo guardam todas as informações, então não se deve buscar ter filhos para tratar essas feridas e dificuldades que não foram curadas e tratadas com o devido cuidado e respeito.
 
Se você olhar em volta de si mesmo verá que o seu mundo é como você é capaz de vê-lo, de projetá-lo, como você acredita que o merece, por isso é importante conhecer a si mesmo, mudar e ampliar o próprio mundo interno para que o mundo externo também cresça e se enriqueça.
 

domingo, 24 de novembro de 2013

Alteração na lei para a licença maternidade na adoção

Mandy Lynne

A nova lei fala tanto adoção quanto "guarda judicial para fins de adoção".
Veja o que diz, com a alteração recente, a Lei 8.213/91:
Artigo 71-A. Ao segurado ou segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança é devido salário-maternidade pelo período de 120 (cento e vinte) dias.
Assim, o segurado ou segurada empregados que recebam em guarda provisória para fins de adoção, constando expressamente do termo de guarda os fins da sua concessão, filhos terão direito ao salário maternidade de 120 dias.
O mesmo vale para a licença maternidade adotiva, pois com a alteração recente os artigos da CLT passam a vigorar da seguinte forma:
Artigo 392-A. À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança será concedida licença-maternidade nos termos do art. 392.
§ 5º A adoção ou guarda judicial conjunta ensejará a concessão de licença-maternidade a apenas um dos adotantes ou guardiães empregado ou empregada.
Artigo 392-C. Aplica-se, no que couber, o disposto no art. 392-A e 392-B ao empregado que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção.
O que temos então é:
1. adotantes de qq sexo, desde que empregados, terão direito à licença e ao salário maternidade adotivos;
2. em caso de casal adotante, apenas um de seus membros, seja homem ou mulher, poderá exercer tais direitos e não ambos, mesmo que duas mulheres;
3.do termo de guarda continua obrigatório constar expressamente "para fins de adoção", sob pena de indeferimento dos pedidos;
4. apenas terá direito à licença e ao salário maternidade aquele que adotar ou tiver guarda judicial para fins de adoção de criança. Ou seja, a pessoa em desenvolvimento até 12 anos incompletos;
5. o adotante ou a adotante continua tendo de formular o pedido de salário maternidade diretamente à previdência e não através do empregador, como ocorre para o salário maternidade biológico.
Creio ter sido esta a sua pergunta. Mas caso tenha alguma outra dúvida, pergunte pois tendo a informação será um prazer compartilhar com o grupo.

Informações passadas pela Rhô Silva

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013. Esse post tem a entrevista na Íntegra.

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
 
Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013 

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
Como é, emocionalmente, adotar? Conversei com uma mãe que estava determinada, mas e nos casos em que há dúvida? Estar preparada é ter certeza do que quer?
Também. Estar preparada é desejar plenamente a adoção é ter menos exigências possíveis, é conhecer as facetas do universo da adoção, é querer lidar com a verdade. Estar preparada é estar consciente de seu processo pessoal, das possíveis necessidades que venha ter a criança e é estar segura de que a única forma para se tornar mãe é adotando uma criança, seja ela vinda do próprio ventre ou não. A única forma de se tornar filho é sendo adotado. A adoção se dá no desejo, na intenção de acolher e amar, e esse amor se faz real na convivência.
O processo emocional da adoção é o mesmo que acolher um filho biológico, mas é aceitar que o filho já venha trazendo uma história precedente, da qual os pais adotivos não fazem parte, mas têm que respeitar e nem por isso são menos importantes da vida do filho, ao contrário, eles é que fazem parte do mais importante, do futuro, que é o que nos espera.
Na adoção existe a substituição completa da família de origem, exceto em nível biológico. 
Todos deveriam se preparar e fazer terapia antes de ter filhos, é muito difícil e muitas vezes até impossível criar filhos emocionalmente saudáveis e felizes se nem os pais conseguem ser felizes. É impossível conhecer, entender e aceitar o outro se antes não nos conhecemos, não nos entendemos e não nos aceitamos. A chave para o mundo do outro está dentro de nós.
Qual a diferença entre o vínculo materno da mãe adotante e da mãe biológica? Como o vínculo adotivo se forma?
Nenhum. Não existe diferença entre o vínculo materno biológico e o vínculo materno adotivo. Todas as crianças só se tornam filhos se, de fato, acolhidos, considerados, ou seja, adotados. Mães que têm filhos biológicos e adotados relatam que não existe diferença no amor entre eles e os estudos comprovam a mesma coisa.
Elizabeth Banditer, a maior estudiosa do mundo do mito do amor materno, afirma que o fenômeno do amor nasce da intenção, do desejo de acolher e é conquistado e construído na convivência e não nascido instintivamente na gravidez, advindo da herança biológica e dos laços consanguíneos. O amor materno também é um sentimento que deve ser alimentado e varia de acordo com a pessoa que o sente. O modo de senti-lo e vivê-lo está intimamente relacionado à história de vida da mulher e à sua história familiar. Ela diz que o amor é inerente a condição de mãe, que ele não é determinante.
Existem mães de todos os jeitos, mãe não é tudo igual. O amor de mãe pode variar de acordo com a consciência de cada uma, de acordo com as ambições, frustrações, cultura, ele pode ser fraco ou forte, existir ou não existir, aparecer e desaparecer, pode ser bom ou ruim, ter preferência por um filho ou não.
O criador da terapia de família Murray Bowen explica que cada mulher vive a maternidade a seu modo e isso vai depender da sua história de vida. Ela é mais capaz de dar o que ela teve, se ela teve um solo fértil em casa será muito mais fácil de dar o melhor dela ao filho. Quando se passa da condição de filho à condição de pais e os papéis se invertem num contexto modificado é necessário dar respostas efetivas na condição de pais aos próprios filhos e nesse momento se reabrem feridas intergeracionais  e vem a tona uma questão central: como se pode dar aquilo que não se teve? 
 
Nos casos de adoção tardia, a formação do vínculo é mais difícil? O trabalho de adaptação deve ser diferente? Demora mais?
A adaptação nos casos da adoção tardia não é mais difícil e nem sempre demora mais, mas é diferente. Em todo caso, a adoção em todas as idades faz-se necessário um tempo de adaptação. Nesse aspecto também entram variáveis, como seu temperamento, seu modo de sentir e lidar com seu histórico, suas memórias, “fantasmas” e medos e a base que os novos pais proporcionam a esta criança.
No caso da criança maior, ocorre que ela tem uma maior consciência do que está acontecendo no momento da adoção e a criança menor tem uma menor consciência. Essa consciência da criança maior pode até ser usada de maneira positiva no estabelecimento dos novos vínculos. Assim como os seus sentimentos devem ser respeitados e validados, o que ela sente é muito importante.
Na adoção da criança maior o processo de luto pela “perda” da família de origem, pela perda "do que poderia ter sido", pela dor do sentimento de abandono e rejeição vem junto com o início da adaptação, já no caso do bebê esse processo de consciência das perdas e da rejeição sofrida vem após a adaptação, quando crescem um pouco mais, mesmo assim os bebês também sofrem pelo corte do vínculo com a mãe ou com a família de origem, e o tamanho desse sofrimento vai depender  também do tempo que passou com eles e do apego desenvolvido. Após os 6 meses de vida e em convivência com a mãe biológica o sofrimento pelo corte do vínculo é infinitamente maior, porque o apego já foi desenvolvido e estabelecido.
O pai da teoria do apego, John Bowlby, descreve as fases de luto, que são entorpecimento e negação, anseio e protestos, desorganização e desespero, recuperação e restituição. Nessas fases toda a ansiedade também pode ser manifestada através de sensações e agitação noturna, até no caso de adoção de bebês.
A criança maior já conhece o que as une aos novos pais adotivos, o bebê pequeno entenderá o vínculo da adoção mais tarde e poderá elaborar o luto da perda da família de origem depois.
A criança maior muitas vezes tem o desejo consciente de fazer “dar certo” a nova relação parental, mesmo passando por um momento de possíveis turbulências e ajustes no novo núcleo familiar. Os pais devem ter delicadeza e paciência nesse momento. Não existe relação perfeita, criança perfeita, ou melhor, elas são perfeitas nessa imperfeição, isso faz delas humanas e é por serem humanas é que são capazes de empatizar, de sentir e de amar. Todos precisam de tempo para se adaptar aos laços que estão sendo formados e fortalecidos, todos estarão aprendendo.
É preciso se reeducar e estar mais sensível às nuances, ter paciência e confiança na escolha que foi feita. Toda relação necessita de cuidado, respeito e aceitação.
 

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013

Cintia Liana na matéria do Correio Braziliense sobre Adoção Internacional


Matéria sobre adoção internacional do Correio Braziliense
Cintia Liana
 
Uma das respostas da psicóloga de Cintia Liana ao Correio Braziliense
 
Correio Braziliense - As crianças que partem para outros países costumam passar por processos de adaptação mais complicados? Qual é a maior barreira?
 
Cintia Liana - Nem todas as crianças passam por uma adaptação complicada outras sim, isso vai depender do seu histórico e principalmente de como ela lida com esse histórico. Depende também da preparação que tiveram os pais adotivos, pois eles precisam passar plena segurança à criança.
Ela precisa se sentir aceita em todas as suas particularidades. As entidade acompanham as famílias durante 2 anos após a adoção, não só avaliando semestralmente para informar ao País de origem do menor, mas também dando apoio e propiciando um ambiente de reunião e confraternização de todas as famílias que passaram pelo mesmo processo e crianças que vieram da mesma nação.
A maio barreira, ao meu ver, é o preconceito que podem enfrentar essas crianças em seu grupo escolar, isso pode dificultar tudo. Ainda existe preconceito aqui na Itália, como em todos os outros Países, em achar que família adotiva é família de segunda ordem e que filho adotivo é sempre problemático porque é “diferente”. Se é diferente fisicamente pode ser ainda mais complicado, mas como falei isso vai depender da segurança dos pais e do menor.
Nós temos que enfrentar os preconceitos e educar as pessoas, o que não se pode é aceitar os preconceitos e deixar de fazer adoções, toda família é construída pelos laços de amor.
 
Vejo em todos os lugares aqui pais brancos italianos com filhos negros, por exemplo, e sei que foram adotados, fico feliz em ver que as adoções são reais, além da entidade em que trabalho, e fazem parte do nosso cotidiano.

Outras respostas da entrevista na íntegra:
 
Correio Braziliense - O processo de adoção é complexo para qualquer criança. No caso de uma adoção internacional, é necessário tomar cuidados adicionais na condução desse processo?
Cintia Liana - É sempre importante tomar muitos cuidados em qualquer adoção, mas do ponto de vista psicológico é importante observar aspectos relevantes que permeiam o mundo da adoção internacional, como a nova língua, o novo País, a culinária, a cultura do futuros pais, o novo clima, entre outras coisas e a falta que farão alguns aspectos da realidade brasileira, nação de origem do adotando.
As crianças e os casais precisam de tempo e de paciência para estabelecer uma comunicação já que a língua não é a mesma, mas no final das contas a linguagem do amor é universal e tudo corre de maneira tranquila.
Correio Braziliense - A Comissão Distrital Judiciária de Adoção do Tribunal de Justiça do DF desenvolve um projeto chamado "Era uma Vez, o re-contar de uma história", com o objetivo de tornar menos traumático o processo de adoção de crianças e adolescentes por famílias estrangeiras. Desde 2012, eles produzem livros narrativos da história de vida dessas crianças, como forma de prepará-las para viverem com as novas famílias. Elas levam os livros para as novas casas. Iniciativas como essas são importantes?
Cintia Liana - São importantíssimas, as crianças precisam entender melhor a realidade que as espera para se sentirem mais seguras e confiantes, sobretudo seguras de que existe um casal que as espera e que deseja se tornarem seus pais. Nós da Senza Frontiere realizamos adoções em Brasília e pude acompanhar alguns processo de nossos casais aí. A equipe é muito séria, sensível e preocupada em preparar bem as crianças e dar todo o suporte psicológico durante o processo de adoção.
 
Correio Braziliense - O fato de a maioria das crianças adotadas por casais estrangeiros não ser bem pequena requer alguma outra estratégia?
Cintia Liana - Se a criança é bem preparada e deseja ser adotada não muito, requer tempo para que a criança entenda o seu processo emocional, se adapte, que se sinta respeitada e que confie nos novos pais. As maiores precisam de mais tempo em geral, precisam se sentir seguras de que podem falar aquilo que sentem sem serem criticadas ou julgadas, precisam de diálogo, sem sentirem aceitas e amadas para aprender a aceitar e amar.
Ao meu ver é também importante a criança se sentir a vontade para voltar ao Brasil, ter contato com pessoas da mesma nacionalidade, não romper esse elo tão importante.