Matéria sobre adoção internacional do Correio Braziliense
Cintia Liana
Uma das respostas da psicóloga de Cintia Liana ao Correio Braziliense
Correio Braziliense - As crianças que partem para outros países
costumam passar por processos de adaptação mais complicados? Qual é a
maior barreira?
Cintia Liana - Nem
todas as crianças passam por uma adaptação complicada outras sim, isso vai
depender do seu histórico e principalmente de como ela lida com esse histórico.
Depende também da preparação que tiveram os pais adotivos, pois eles precisam
passar plena segurança à criança.
Ela
precisa se sentir aceita em todas as suas particularidades. As entidade
acompanham as famílias durante 2 anos após a adoção, não só avaliando
semestralmente para informar ao País de origem do menor, mas também dando apoio
e propiciando um ambiente de reunião e confraternização de todas as famílias
que passaram pelo mesmo processo e crianças que vieram da mesma nação.
A maio
barreira, ao meu ver, é o preconceito que podem enfrentar essas crianças em seu
grupo escolar, isso pode dificultar tudo. Ainda existe preconceito aqui na
Itália, como em todos os outros Países, em achar que família adotiva é família
de segunda ordem e que filho adotivo é sempre problemático porque é “diferente”.
Se é diferente fisicamente pode ser ainda mais complicado, mas como falei isso
vai depender da segurança dos pais e do menor.
Nós
temos que enfrentar os preconceitos e educar as pessoas, o que não se pode é aceitar
os preconceitos e deixar de fazer adoções, toda família é construída pelos
laços de amor.
Vejo em
todos os lugares aqui pais brancos italianos com filhos negros, por exemplo, e
sei que foram adotados, fico feliz em ver que as adoções são reais, além da
entidade em que trabalho, e fazem parte do nosso cotidiano.
Outras respostas da entrevista na íntegra:
Correio Braziliense - O processo de adoção é complexo para qualquer
criança. No caso de
uma adoção internacional, é necessário tomar cuidados adicionais na
condução desse processo?
Cintia Liana - É
sempre importante tomar muitos cuidados em qualquer adoção, mas do ponto de
vista psicológico é importante observar aspectos relevantes que permeiam o
mundo da adoção internacional, como a nova língua, o novo País, a culinária, a
cultura do futuros pais, o novo clima, entre outras coisas e a falta que farão
alguns aspectos da realidade brasileira, nação de origem do adotando.
As
crianças e os casais precisam de tempo e de paciência para estabelecer uma
comunicação já que a língua não é a mesma, mas no final das contas a linguagem
do amor é universal e tudo corre de maneira tranquila.
Correio Braziliense - A Comissão Distrital Judiciária de Adoção do
Tribunal de Justiça do DF desenvolve um projeto chamado "Era uma Vez, o
re-contar de uma história",
com o objetivo de tornar menos traumático o processo de adoção de crianças
e adolescentes por famílias estrangeiras. Desde 2012, eles produzem livros
narrativos da história de vida dessas crianças, como forma de prepará-las
para viverem com as novas famílias. Elas levam os livros para as novas
casas. Iniciativas como essas são importantes?
Cintia Liana - São
importantíssimas, as crianças precisam entender melhor a realidade que as
espera para se sentirem mais seguras e confiantes, sobretudo seguras de que
existe um casal que as espera e que deseja se tornarem seus pais. Nós da Senza
Frontiere realizamos adoções em Brasília e pude acompanhar alguns processo de
nossos casais aí. A equipe é muito séria, sensível e preocupada em preparar bem
as crianças e dar todo o suporte psicológico durante o processo de adoção.
Correio Braziliense - O fato de a maioria das crianças adotadas por
casais estrangeiros não ser bem pequena requer alguma outra estratégia?
Cintia Liana - Se a
criança é bem preparada e deseja ser adotada não muito, requer tempo para que a
criança entenda o seu processo emocional, se adapte, que se sinta respeitada e
que confie nos novos pais. As maiores precisam de mais tempo em geral, precisam
se sentir seguras de que podem falar aquilo que sentem sem serem criticadas ou
julgadas, precisam de diálogo, sem sentirem aceitas e amadas para aprender a aceitar
e amar.
Ao meu
ver é também importante a criança se sentir a vontade para voltar ao Brasil,
ter contato com pessoas da mesma nacionalidade, não romper esse elo tão
importante.
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