Excelente texto. Confirma o que eu venho há alguns meses sustentando insistentemente.
Cintia Liana
Movimento Internacional Não Deixe O Seu Bebê Chorando!
Por Josie Zecchinelli em 11/05/2010
Homens e Mulheres, pesquisadores e profissionais de saúde que trabalhamos em distintos campos da vida e do conhecimento, mãe e pais preocupados com o mundo em que nossos filhos e filhas vão crescer, cremos que é muito necessário nos manifestarmos.
Concordamos que é frequente que os bebês de nossa sociedade ocidental chorem, porém não é certo que “seja normal”. Os bebês choram sempre por algo que lhes produz mal estar: sono, medo, fome, frio, calor… além disso, da falta de contato físico com sua mãe ou outras pessoas do seu entorno afetivo.
O choro é o único mecanismo que os lactentes tem para nos comunicar sua sensação de mal estar, seja qual for a razão do mesmo; nas suas expectativas, no seu continuum filogenético não está previsto que este choro não seja atendido, pois não tem outro meio de avisar sobre o mal estar que sentem, nem podem por si mesmos tomar as medidas para resolvê-lo.
O corpo do recém nascido está desenhado para ter o seio materno tanto quanto necessita, para sobreviver e para sentir-se bem: alimento, calor, apego; por esta razão não tem noção da espera, já que, estando no lugar que lhe corresponde, tem a seu alcance tudo que necessita; o bebê criado no corpo a corpo com a mãe desconhece a sensação de necessidade, de fome, de frio, de solidão, e não chora nunca. Como afirma a norte-americana Jean Liedloff, na sua obra The Continuum Concept, o lugar do bebê não é no berço, na cama, e nem no bebê-conforto, senão no colo materno.
Isto é o melhor durante o primeiro ano de vida; e nos dois primeiros anos de forma quase exclusiva (por isto a antiga famosa “quarentena” das recém paridas). Depois, os colos de outros corpos de familiares podem ser substitutos por alguns momentos. O próprio desenvolvimento do bebê indica o fim do período simbiótico: quando se chega a determinados graus de desenvolvimento neuro-psico-motor e o bebê começa a sentar, depois a engatinhar e por fim a andar. Ou seja, pouco a pouco vai tornando-se autônomo e a desfazer este estado simbiótico.
A verdade é óbvia, simples e evidente.
O lactente toma o leite materno idôneo para seu sistema digestivo e além disso pode regular sua composição com a duração das mamadas, com a qual é criado no peito de sua mãe sem ter uma série de problemas infecciosos, alérgicos…
Quando chora e não se atende, chora com mais e mais desespero porque está sofrendo. Há psicólogos que asseguram que quando se deixa de atender o choro de um bebê depois de três minutos, algo profundo se quebra na integridade deles, assim como na confiança em seu entorno.
Os pais, ainda que sejam educados na crença de que “é normal que os bebês chorem” e que “há que deixá-los chorar para que se acostumem”, e por isto estamos especialmente insensibilizados para que seu pranto não nos afete, as vezes não somos capazes de tolera-lo. Como é natural, se estamos um pouco perto deles, sentimos seu desespero e o sentimos com nosso sofrimento. Revolvem nossas entranhas e não podemos consentir com a sua dor. Não estamos de todo desumanizados. Por isto os métodos condutistas propõem ir pouco a pouco, para cada dia aguentar um pouquinho mais este sofrimento mútuo. Isto tem um nome comum, que é a “administração da tortura”, pois é uma verdadeiro suplício que infligimos aos bebês quando fazemos isto, e também a nós mesmos, por mais que estas sejam normas de alguns pedagogos e pediatras.
Vários pesquisadores americanos e canadenses (biólogos, neurologistas, psiquiatras, etc.), na década de 90, realizaram diferentes investigações de grande importância em relação a etapa primal da vida humana; demonstraram que o contato pele a pele, do bebê com sua mãe e demais familiares mais chegados, produz moduladores químicos necessários para a formação de neurônios e do sistema imunológico; enfim, que a carência de afeto corporal transtorna o desenvolvimento normal das criaturas humanas. Por isto os bebês, quando os deixamos dormir sozinhos em seus berços, choram reclamando o que por sua natureza lhes pertence.
No Ocidente se criou, nos últimos 50 anos, uma cultura e uns hábitos, impulsionados pelas multinacionais, que eliminam este corpo-a-corpo da mãe com a criança e desumaniza o cuidado: ao substituir a pele pelo plástico e o leite materno por um leite artificial, se separa mais e mais a criatura de sua mãe. Inclusive se fabricam modelos de “walkyes talkys” (babás eletrônicas) especiais para escutar o bebê de habitações distantes das dos pais. O desenvolvimento industrial e tecnológico não se coloca a serviço das nossas crias, chegando a robotização das funções maternas a extremos inimagináveis.
Simultaneamente a esta “puericultura moderna”, se medicaliza cada vez mais a maternidade; o que tenderia a ser uma etapa prazerosa de nossa vida sexual, se converte em uma penosa enfermidade. Entregues aos protocolos médicos, as mulheres adormecem a sensibilidade e o contato com seus corpos, e se perde uma parte de sua sexualidade: o prazer da gestação, do parto e da extero-gestação – o colo e a amamentação. Paralelamente, as mulheres decidiram pelo mundo do trabalho e profissional masculino, feito pelos homens e para os homens, e que, portanto, exclui a maternidade; por isto a maternidade na sociedade industrializada ficou encerrada no âmbito do doméstico e do privado. Contudo, durante milênios, a mulher realizou suas tarefas e suas atividades com seus filhos pendurados a seus corpos, como todavia ocorre nas sociedades ainda não ocidentalizadas. A imagem da mulher com seus filhos deve voltar aos cenários públicos, aos locais de trabalho, sob pena de comprometer o futuro do desenvolvimento humano.
A curto prazo, parece que o modelo de criação robotizado não é daninho, que não é nada demais, que as crianças sobreviverão; porém, pesquisadores como Dr. Michel Odent (1999 – .primal-health.org), apoiando-se em diversos estudos epidemiológicos, têm demonstrado a relação direta entre diferentes aspectos desta robotização e doenças na idade adulta. Por outro lado, a violência crescente em todos os âmbitos, tanto públicos, como privados, como tem demonstrado a psicóloga suíço-alemã Alice Miller (1980) e o neurofisiólogo americano James W. Prescott (1975), por citar somente dois nomes, também procede do mau trato e da falta de prazer corporal na primeira etapa da vida humana. Também há estudos que demonstram a correlação entre a dependência às drogas e os transtornos mentais com agressões e abandonos sofridos na etapa primal. Por isto os bebês choram quando sentem falta do que lhes tiraram; eles sabem o que necessitam, o que lhes corresponderia neste momento de suas vidas.
Deveríamos sentir um profundo respeito e reconhecimento ao choro dos bebês, e pensar humildemente que não choram porque sim, ou muito menos, porque são “manhosos”… Elas e eles nos ensinam o que estamos fazendo de incorreto.
Também deveríamos reconhecer o que sentimos em nossas entranhas quando um bebê chora; porque podem confundir a mente, porém é mais difícil confundir a percepção visceral – nossos instintos. O local do bebê é o nosso colo: nesta questão, o bebê e nossos instintos estão de acordo, e ambos tem suas razões.
Não é certo que dormir com os nossos filhos (“co-lecho”) seja um fator de risco para o fenômeno conhecido como Síndrome da Morte Súbita. Segundo The Foundation for the Study of Infant Deaths, a maioria dos falecimentos por “morte súbita” se produz quando os lactentes estão no seu berço. Estatisticamente, portanto, é mais seguro para o bebê dormir na cama com seus pais que dormirem sozinhos (Angel Alvarez – .primal.es).
Por tudo que expomos, queremos expressar nossa grande preocupação com a difusão do método proposto pelo neurólogo E. Estivill em seu livro Duérmete Niño ou na edição em português: NANA NENÊ (baseado por sua vez no método Ferber divulgado nos EUA), para fomentar e exercitar a tolerância dos pais ao choro de seus bebês; se trata de um condutismo especialmente radical e evidentemente nocivo, tendo em conta que o bebê está ainda em uma etapa de formação. Não é um método para tratar os transtornos do sono, como se apresenta, senão para submeter a vida humana em sua mais tenra idade. As gravíssimas conseqüências deste método têm começado a aparecer.
Necessitamos de uma cultura e uma ciência para uma educação de nossos filhos que seja compatível com a natureza humana, porque não somos robôs, senão mamíferos, que sentimos e sofremos quando nos falta o contato físico com aqueles que amamos. Para contribuir com este movimento, para que teu filho ou tua filha deixe de sofrer já, e se sentes mal quando escutas chorar o seu bebê, atenda-o, pegue-o em seus braços para entender o que ele está solicitando; possivelmente seja só isto o que ele queira e necessita, o contato com o seu corpo. Não o negues.
Fonte: http://www.maternidadeconsciente.com.br/artigos/nao-deixe-seu-bebe-chorando/Quando um recém nascido aprende em um berçário que é inútil gritar, está sofrendo sua primeira experiência de submissão e abandono. (Michel Odent)
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