Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
Como é, emocionalmente, adotar?
Conversei com uma mãe que estava determinada, mas e nos casos em que há dúvida?
Estar preparada é ter certeza do que quer?
Também. Estar preparada é desejar plenamente a adoção é ter menos
exigências possíveis, é conhecer as facetas do universo da adoção, é querer
lidar com a verdade. Estar preparada é estar consciente de seu processo
pessoal, das possíveis necessidades que venha ter a criança e é estar segura de
que a única forma para se tornar mãe é adotando uma criança, seja ela vinda do
próprio ventre ou não. A única forma de se tornar filho é sendo adotado. A
adoção se dá no desejo, na intenção de acolher e amar, e esse amor se faz real
na convivência.
O processo emocional da adoção é o mesmo que acolher um filho
biológico, mas é aceitar que o filho já venha trazendo uma história precedente,
da qual os pais adotivos não fazem parte, mas têm que respeitar e nem por isso
são menos importantes da vida do filho, ao contrário, eles é que fazem parte do
mais importante, do futuro, que é o que nos espera.
Na adoção existe a substituição completa da
família de origem, exceto em nível biológico.
Todos deveriam se preparar e fazer terapia antes de ter filhos, é
muito difícil e muitas vezes até impossível criar filhos emocionalmente
saudáveis e felizes se nem os pais conseguem ser felizes. É impossível
conhecer, entender e aceitar o outro se antes não nos conhecemos, não nos
entendemos e não nos aceitamos. A chave para o mundo do outro está dentro de
nós.
Qual a diferença entre o vínculo
materno da mãe adotante e da mãe biológica? Como o vínculo adotivo se forma?
Nenhum. Não existe diferença entre o vínculo materno biológico e o
vínculo materno adotivo. Todas as crianças só se tornam filhos se, de fato,
acolhidos, considerados, ou seja, adotados. Mães que têm filhos biológicos e
adotados relatam que não existe diferença no amor entre eles e os estudos
comprovam a mesma coisa.
Elizabeth Banditer, a maior estudiosa do mundo do mito do amor
materno, afirma que o fenômeno do amor nasce da intenção, do desejo de
acolher e é conquistado e construído na convivência e não nascido
instintivamente na gravidez, advindo da herança biológica e dos laços
consanguíneos. O amor materno também é um sentimento que deve ser alimentado e
varia de acordo com a pessoa que o sente. O modo de senti-lo e vivê-lo está
intimamente relacionado à história de vida da mulher e à sua história familiar.
Ela diz que o amor é
inerente a condição de mãe, que ele não é determinante.
Existem mães de todos os jeitos, mãe não é tudo igual. O amor de
mãe pode variar de acordo com a consciência de cada uma, de acordo com as
ambições, frustrações, cultura, ele pode ser fraco ou forte, existir ou não existir,
aparecer e desaparecer, pode ser bom ou ruim, ter preferência por um filho ou
não.
O criador da terapia de família Murray Bowen explica que cada
mulher vive a maternidade a seu modo e isso vai depender da sua história de
vida. Ela é mais capaz de dar o que ela teve, se ela teve um solo fértil em
casa será muito mais fácil de dar o melhor dela ao filho. Quando se passa da
condição de filho à condição de pais e os papéis se invertem num contexto
modificado é necessário dar respostas efetivas na condição de pais aos próprios
filhos e nesse momento se reabrem feridas
intergeracionais e vem a tona uma
questão central: como se pode dar aquilo que não se teve?
Nos casos de adoção tardia, a formação do vínculo é mais
difícil? O trabalho de adaptação deve ser diferente? Demora mais?
A adaptação nos casos da adoção tardia não é mais difícil e nem
sempre demora mais, mas é diferente. Em todo caso, a adoção em todas as idades
faz-se necessário um tempo de adaptação. Nesse aspecto também entram variáveis, como seu temperamento, seu modo de
sentir e lidar com seu histórico, suas memórias, “fantasmas” e medos e a
base que os novos pais proporcionam a esta criança.
No caso da criança maior, ocorre que ela tem uma maior consciência
do que está acontecendo no momento da adoção e a criança menor tem uma menor
consciência. Essa consciência da criança maior pode até ser usada de maneira
positiva no estabelecimento dos novos vínculos. Assim como os seus sentimentos
devem ser respeitados e validados, o que ela sente é muito importante.
Na adoção da criança maior o processo de luto pela “perda” da
família de origem, pela perda "do que poderia ter sido", pela dor do
sentimento de abandono e rejeição vem junto com o início da adaptação, já no
caso do bebê esse processo de consciência das perdas e da rejeição sofrida vem
após a adaptação, quando crescem um pouco mais, mesmo assim os bebês também
sofrem pelo corte do vínculo com a mãe ou com a família de origem, e o tamanho
desse sofrimento vai depender também do
tempo que passou com eles e do apego desenvolvido. Após os 6 meses de vida
e em convivência com a mãe biológica o sofrimento pelo corte do vínculo é
infinitamente maior, porque o apego já foi desenvolvido e estabelecido.
O pai da teoria do apego, John Bowlby,
descreve as fases de luto, que são entorpecimento e negação, anseio e
protestos, desorganização e desespero, recuperação e restituição. Nessas fases
toda a ansiedade também pode ser manifestada através de sensações e agitação
noturna, até no caso de adoção de bebês.
A criança maior já conhece o que as une aos novos pais adotivos, o
bebê pequeno entenderá o vínculo da adoção mais tarde e poderá elaborar o luto
da perda da família de origem depois.
A criança maior muitas vezes tem o desejo consciente de fazer “dar
certo” a nova relação parental, mesmo passando por um momento de possíveis
turbulências e ajustes no novo núcleo familiar. Os pais devem ter delicadeza e
paciência nesse momento. Não existe relação perfeita, criança perfeita, ou
melhor, elas são perfeitas nessa imperfeição, isso faz delas humanas e é por
serem humanas é que são capazes de empatizar, de sentir e de amar. Todos
precisam de tempo para se adaptar aos laços que estão sendo formados e
fortalecidos, todos estarão aprendendo.
É preciso se reeducar e estar mais sensível às nuances, ter
paciência e confiança na escolha que foi feita. Toda relação
necessita de cuidado, respeito e aceitação.
Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
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