"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013. Esse post tem a entrevista na Íntegra.

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
 
Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013 

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013
Como é, emocionalmente, adotar? Conversei com uma mãe que estava determinada, mas e nos casos em que há dúvida? Estar preparada é ter certeza do que quer?
Também. Estar preparada é desejar plenamente a adoção é ter menos exigências possíveis, é conhecer as facetas do universo da adoção, é querer lidar com a verdade. Estar preparada é estar consciente de seu processo pessoal, das possíveis necessidades que venha ter a criança e é estar segura de que a única forma para se tornar mãe é adotando uma criança, seja ela vinda do próprio ventre ou não. A única forma de se tornar filho é sendo adotado. A adoção se dá no desejo, na intenção de acolher e amar, e esse amor se faz real na convivência.
O processo emocional da adoção é o mesmo que acolher um filho biológico, mas é aceitar que o filho já venha trazendo uma história precedente, da qual os pais adotivos não fazem parte, mas têm que respeitar e nem por isso são menos importantes da vida do filho, ao contrário, eles é que fazem parte do mais importante, do futuro, que é o que nos espera.
Na adoção existe a substituição completa da família de origem, exceto em nível biológico. 
Todos deveriam se preparar e fazer terapia antes de ter filhos, é muito difícil e muitas vezes até impossível criar filhos emocionalmente saudáveis e felizes se nem os pais conseguem ser felizes. É impossível conhecer, entender e aceitar o outro se antes não nos conhecemos, não nos entendemos e não nos aceitamos. A chave para o mundo do outro está dentro de nós.
Qual a diferença entre o vínculo materno da mãe adotante e da mãe biológica? Como o vínculo adotivo se forma?
Nenhum. Não existe diferença entre o vínculo materno biológico e o vínculo materno adotivo. Todas as crianças só se tornam filhos se, de fato, acolhidos, considerados, ou seja, adotados. Mães que têm filhos biológicos e adotados relatam que não existe diferença no amor entre eles e os estudos comprovam a mesma coisa.
Elizabeth Banditer, a maior estudiosa do mundo do mito do amor materno, afirma que o fenômeno do amor nasce da intenção, do desejo de acolher e é conquistado e construído na convivência e não nascido instintivamente na gravidez, advindo da herança biológica e dos laços consanguíneos. O amor materno também é um sentimento que deve ser alimentado e varia de acordo com a pessoa que o sente. O modo de senti-lo e vivê-lo está intimamente relacionado à história de vida da mulher e à sua história familiar. Ela diz que o amor é inerente a condição de mãe, que ele não é determinante.
Existem mães de todos os jeitos, mãe não é tudo igual. O amor de mãe pode variar de acordo com a consciência de cada uma, de acordo com as ambições, frustrações, cultura, ele pode ser fraco ou forte, existir ou não existir, aparecer e desaparecer, pode ser bom ou ruim, ter preferência por um filho ou não.
O criador da terapia de família Murray Bowen explica que cada mulher vive a maternidade a seu modo e isso vai depender da sua história de vida. Ela é mais capaz de dar o que ela teve, se ela teve um solo fértil em casa será muito mais fácil de dar o melhor dela ao filho. Quando se passa da condição de filho à condição de pais e os papéis se invertem num contexto modificado é necessário dar respostas efetivas na condição de pais aos próprios filhos e nesse momento se reabrem feridas intergeracionais  e vem a tona uma questão central: como se pode dar aquilo que não se teve? 
 
Nos casos de adoção tardia, a formação do vínculo é mais difícil? O trabalho de adaptação deve ser diferente? Demora mais?
A adaptação nos casos da adoção tardia não é mais difícil e nem sempre demora mais, mas é diferente. Em todo caso, a adoção em todas as idades faz-se necessário um tempo de adaptação. Nesse aspecto também entram variáveis, como seu temperamento, seu modo de sentir e lidar com seu histórico, suas memórias, “fantasmas” e medos e a base que os novos pais proporcionam a esta criança.
No caso da criança maior, ocorre que ela tem uma maior consciência do que está acontecendo no momento da adoção e a criança menor tem uma menor consciência. Essa consciência da criança maior pode até ser usada de maneira positiva no estabelecimento dos novos vínculos. Assim como os seus sentimentos devem ser respeitados e validados, o que ela sente é muito importante.
Na adoção da criança maior o processo de luto pela “perda” da família de origem, pela perda "do que poderia ter sido", pela dor do sentimento de abandono e rejeição vem junto com o início da adaptação, já no caso do bebê esse processo de consciência das perdas e da rejeição sofrida vem após a adaptação, quando crescem um pouco mais, mesmo assim os bebês também sofrem pelo corte do vínculo com a mãe ou com a família de origem, e o tamanho desse sofrimento vai depender  também do tempo que passou com eles e do apego desenvolvido. Após os 6 meses de vida e em convivência com a mãe biológica o sofrimento pelo corte do vínculo é infinitamente maior, porque o apego já foi desenvolvido e estabelecido.
O pai da teoria do apego, John Bowlby, descreve as fases de luto, que são entorpecimento e negação, anseio e protestos, desorganização e desespero, recuperação e restituição. Nessas fases toda a ansiedade também pode ser manifestada através de sensações e agitação noturna, até no caso de adoção de bebês.
A criança maior já conhece o que as une aos novos pais adotivos, o bebê pequeno entenderá o vínculo da adoção mais tarde e poderá elaborar o luto da perda da família de origem depois.
A criança maior muitas vezes tem o desejo consciente de fazer “dar certo” a nova relação parental, mesmo passando por um momento de possíveis turbulências e ajustes no novo núcleo familiar. Os pais devem ter delicadeza e paciência nesse momento. Não existe relação perfeita, criança perfeita, ou melhor, elas são perfeitas nessa imperfeição, isso faz delas humanas e é por serem humanas é que são capazes de empatizar, de sentir e de amar. Todos precisam de tempo para se adaptar aos laços que estão sendo formados e fortalecidos, todos estarão aprendendo.
É preciso se reeducar e estar mais sensível às nuances, ter paciência e confiança na escolha que foi feita. Toda relação necessita de cuidado, respeito e aceitação.
 

Cintia Liana na Revista Pais & Filhos de novembro de 2013

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