"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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segunda-feira, 8 de maio de 2017

O parto e a dignidade, um parto natural após um cesáreo

Após 3 meses e meio sem postar, hoje senti vontade de recomeçar falando do parto da minha segunda filha, um VBAC (Vaginal Burn After Cesarian) de sucesso. É isso, eu sou uma VBAC de sucesso e vim aqui contar essa história maravilhosa para vocês.

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"O parto e a dignidade"
Um parto natural após um cesáreo

Cintia Liana

Desde o parto da minha primeira filha alimentava o desejo de ter outro bebê. Parecia que ainda faltava alguém em casa. Agora sinto a minha família completa.
Como o meu primeiro parto não teve o período de expulsão e acabei fazendo um cesário depois de muitas horas de trabalho - porque não me deixaram parir na posição que desejava, porque não senti que tive privacidade, etc. - queria muito ter um segundo parto todo natural, sem anestesia ou nada que me fizesse estar longe da espontaneidade do fenômeno do nascimento.
Ao mesmo tempo sentia medo de um novo parto, mais especificamente de um cesáreo, e só engravidei depois de me liberar completamente desses temores através de uma constelação familiar com o meu colega psicólogo Dr. Stefano Silvestri. Esses medos não eram meus. Agarrei o meu destino com determinação.
Mesmo sabendo, antes mesmo de engravidar, que poderia e tentaria um parto natural, mudei o percurso dos planos do parto na segunda metade da gestação, alterando certas escolhas quando estava com 5 meses e meio. Não queria uma abordagem médica em minha gravidez.
Trabalhei as minhas limitações, crenças, insegurança. Não as aceitava. Pedi orientação espiritual para escolher os profissionais certos. Já fazia terapia, li muito, fiz outras constelações familiares, a essa altura fazendo o curso de formação em constelações com Dr. Silvestri. Recebi aplicações de Access Bars Conscionsness. Gostei tanto que comecei a fazer o curso para me tornar operadora de Bars e passei a repetir as frases de limpeza, para mudar antigas crenças. Fiz também o curso de parto Leboyer com Letizia Galiero, aprendiz do próprio Leboyer. Abri os meus horizontes mais ainda, mudei os meus pontos de vista, acreditei em algo muito maior para mim. Num país que estou aprendendo a conhecer, em busca de um Vbac (vaginal burn after cesarian - parto vaginal após cesáreo) com profissionais realmente respeitosos. Não queria correr o risco de apressarem o meu segundo parto novamente.
Dentre três indicadas, escolhi a que seria a minha doula, mais precisamente uma obstetriz - ostetrica em italiano - ela é também naturopatapara, Monica Marino, que me encaminhou para uma clínica, a Casa di Cura Villa Maria Pia em Roma. Queria, desta segunda vez, um hospital pequeno, mas todo equipado, acolhedor, talvez um parto na água. Me dei conta de que não queria o mesmo grande hospital "renomadíssimo" da primeira experiência, onde as mulheres parecem ser mais um número.
Mas o médico que me acompanharia junto à obstetriz queria que eu fizesse um cesário, porque não era um especialista em VBAC. Discutimos a possibilidade de um cesáreo como interveção depois do início do trabalho de parto, para ser menos traumático, para esperar a hora certa do bebê. Um cesáreo porque segundo ele o espessor de minha cicatriz estava abaixo do indicado para um parto natural e com as contrações poderia se abrir. Não me conformei, pois eu sabia que poderia fazer um parto espontâneo. A minha intuição gritava e dizia "confie em teu corpo, você pode, você tem compreensão!".
Eu e meu marido fomos a uma consulta com um dos maiores especialista da Itália em parto VBAC, o Dr. Carlo Piscicelli do hospital Cristo Re em Roma, indicado por uma das obstretrizes indicadas, a Sonia Di Pascali. Ele confirmou que a minha consciência estava certa, que eu era uma forte candidata ao VBAC, porque não era obesa, minha cicatriz era horizontal e eu tinha feito o cesáreo há mais de 1 ano e meio, melhor, há mais de 4 anos. Esses três pré requisitos fazem parte do protocolo da Organização Mundial da Saúde para um parto espontâneo depois do cesáreo. Quanto a espessura da cicatriz, isso consta só nos livros, pois na prática é mais esperado que tudo corra bem e uma ecografia não é capaz de medir bem essa espessura, tanto que fiz trê e cada uma era diferente da outra.
Abandonei o velho, abracei o meu lado forte e confiei na vida, na minha intuição. Tudo fluiu na mais perfeita ordem. A pedido meu, a minha obstetriz conseguiu mudar alguns protocolos da clínica para que eu tentasse um parto espontâneo, sem epidural e assinei os documentos de rotina do protocolo VBAC.
Duas semanas antes da data prevista para o parto, no dia 3 de fevereiro, comecei a sentir as contrações, A Monica (obstetriz) foi à minha casa e me examiou, quando eu atingi quase 4 centímetros de dilatação fomos para a clínica. Ter ela perto de mim fez toda a diferença, uma mulher sábia, segura, sensível e forte. Foi um dinheiro muito bem investido. Realmente bravíssima!
Fui no carro sentindo uma dor alucinante que me levava para o mágico mundo do parto, do nascimento. Eu aceitei aquela dor, que tem todo um motivo para existir , como bem sabe a famosa psicóloga Laura Gutman.
Já tinha uma consulta marcada pelo Skype, então no percurso fui falando ao telefone com uma obstetriz de Torino e operadora Bars, a Laura Sartorio, que me ajudava com as frases de Bars, para que eu fizesse um parto rápido e todo natural, com menos dor e sem medo, para que eu tivesse toda a consciência desse momento e o vivenciasse com facilidade, felicidade e glória. A Laura publicou um livro chamado Concepire Sè, que fala em como o Access Bars Consciosness ajuda na maternidade consciente.
Chegamos na clínica, deitei na cama para a monitoragem fetal, a bolsa estourou e naturalmente começaram as contrações para a expulção. Fui para a sala de parto. Meu marido me dando todo o apoio emocional e físicamente naquele momento que exigia de mim toda a minha força física. Como um bom marido é importante! Trabalhei na água, relaxei, depois quis sair e ficar de cócoras. Foi a experiência mais forte de minha vida. Mobilizou todas as minhas moléculas. Quando peguei a minha filha nos braços, ainda quente saindo do meu ventre, molhada e com o cheiro de liquido amniótico, ainda ligadas pelo cordão umbilical fiz contato com uma parte minha ancestral fortíssima. Tudo fez sentido. Conclui também um processo que me faltou no parto de minha primeira filha.
Saí da sala de parto andando, apoiada nos ombros de meu marido, me sentido a mulher mais incrível do mundo por ter conseguido realizar o meu sonho. Senti uma dignidade inexplicável, um amor diferente por minha mãe, por ter me parido com a mesma dor. Grande prova de amor da parte dela. Uma dor que nos leva além, que nos permite fazer contato com o bebê, que nos encaminha em direção ao nascimento de uma nova mulher. Paradoxalmente, hoje até compreendo uma mulher que tem medo do parto, mas eu escolhi um caminho sem medo, os caminhos para a consciência. Me cerquei de conhecimento e autoconhecimento e esses caminhos nos elevam.
Ri e chorei por horas. Até agora sinto um respeito e um orgulho de mim que me dizem que nunca mais serei a mesma.

Cintia Liana Reis de Silva
Psicóloga
Brasileira de nascimento, italiana de casamento
Vive e trabalha na Itália

Escrevi esse texto para dar força às muheres que querem confiar em si mesmas e alimentam o sonho do parto natural.

[Vorrei ringraziare alcuni professionisti di avanguardia, che mi hanno seguito in questo ricchissimo percorso e altri che ho fatto contatto per arricchire ancora di più il mio sguardo davanti alla potenza della nascita e che hanno creduto in me.
Monica Marino Claudia Casetti Dott. Stefano Silvestri Dr. Massimo Preziuso Dr. Ricardo Chemas Laura Sartorio]

#PartoCintiaLiana #Parto #SegundaFilha #SegundoPartoCintiaLiana #OPartoeaDignidade

Livro de Laura Sartorio
Concepire Sè

Cintia Liana
12 dias após o parto

Cintia Liana
24 dias após o parto

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

'Não pretendo ter outro filho', diz mãe após bebê sofrer fratura no parto

"A respeito das intervenções desnecessárias, da medicalização do parto, da violência obstétrica e neonatal. Ou seja: a respeito desse modelo de entendimento do parto, do nascimento, da mulher e de seu corpo. Vamos mudar esse olhar e essa prática? Depende de nós." (Página Facebook "Amigas do Parto")

Google Imagens

01/11/16
Do G1 SP

Lucielma Cardoso Teixeira, mãe de Bruna, de quatro meses, disse ao SPTV que não pretende mais ter filhos por causa do trauma que sofreu durante o parto da filha. Ela procurou o Ministério Público Federal em São Paulo para fazer uma denúncia contra a maternidade onde a menina nasceu. Luciema conta que na hora de dar à luz a médica subiu em sua barriga com os dois braços e ficou apertando. A recém-nascida fraturou o braço e a clavícula esquerda.
"Ela dizia que minha filha tinha que descer que a minha filha tinha que nascer. Eu não sabia se eu respirava ou se eu fazia força pra minha filha nascer, com medo de acontecer alguma coisa com ela", disse a mãe. "Não pretendo ter outro filho, fiquei muito assustada, muito traumatizada."
O Ministério Público Federal em São Paulo quer que o Hospital e Maternidade SacreCoeur, do Grupo NotreDame Intermédica, apure denúncias de violência obstétrica em partos. Três mulheres disseram que os médicos e enfermeiros usaram a “manobra de Kristeller” no parto, procedimento que consiste em empurrar a barriga da mulher para forçar a saída do bebê.
O MPF disse que órgãos médicos nacionais e internacionais “são uníssonos ao condenar a manobra”. Segundo o órgão, os processos de violência obstétrica se acumulam. Nos últimos dois anos, o MPF já recebeu 50 denúncias na capital.
A NotreDame Intermédica disse em nota que no parto da menina Bruna foram feitos procedimentos obstétricos para a passagem do ombro do bebê, mas que em nenhum momento foi realizada a manobra de Kristeller."
"Após a primeira manifestação do Ministério Público Federal sobre o alerta relacionado a referida manobra, o Hospital e Maternidade Sacrecouer, assim como os demais hospital do Grupo, intensificaram ações relacionadas ao tema e vem constantemente monitorando o cumprimento do referido protocolo oficial”, diz a nota.
Além de apurar as denúncias, o MPF pede “que médicos e enfermeiros do hospital sejam formalmente comunicados de que a adoção da manobra de Kristeller está proscrita [banida] e passem por treinamentos sobre métodos humanizados de parto”. O Grupo NotreDame disse que “toda a equipe de saúde” do SacreCoeur passou por treinamentos em parto humanizado.
A procuradora Ana Carolina Previtalli Nascimento, autora dos pedidos, também quer que cartazes sejam afixados na unidade alertando o público e a equipe médica para a proibição do procedimento.
Esta já é a sexta recomendação expedida pelo MPF a hospitais e órgãos de saúde na capital paulista por práticas consideradas agressivas nos partos. Além da manobra de Kristeller, são alvo da investigação a realização do corte na região da vagina para facilitar a saída do bebê (episiotomia), a infusão intravenosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética), maus tratos verbais, cesarianas sem necessidade e contra o desejo da parturiente, entre outros procedimentos inadequados.
Para denunciar violência obstétrica, as mulheres podem procurar o MPF pelo sitewww.cidadao.mpf.mp.br ou pessoalmente em qualquer unidade do MPF.
Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/11/nao-pretendo-ter-outro-filho-diz-mae-apos-bebe-sofrer-fratura-no-parto.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=sptv

domingo, 10 de janeiro de 2016

Desde que o mundo é mundo crianças...

We Heart it
Por Sílvia Barbieri
"Desde que o mundo é mundo crianças comem doce, não tinha frescura, se comia danoninho, toddy, bolacha maizena e ninguém morreu! Mas não contaram que uma grande porcentagem das da que não morreram tiveram diabetes, e essa mata mais que HIV, tuberculose e malária, somados. A OMS recomenda o consumo de doces a partir de 2 anos.
✔Desde que o mundo é mundo, se inicia a Introdução Alimentar aos 20 dias, 1 mês, 4 meses, e ninguém morreu! Não morreram, mas podem ter anemia, baixa absorção de nutrientes, diarréia, alergias obesidade, diabetes.

✔ Desde que mundo é mundo, os bebês tomam suco de laranja lima, e nunca ninguém morreu! Mas 21% das que não morreram tem chance de adquirir diabetes tipo 2.

✔Desde que o mundo é mundo, as crianças apanham de cinta, levam umas palmadas, 1 criança é espancada a cada 5 segundos, ninguém morreu, mas das 18 mil espancadas diariamente pelos menos 100 morrem, as que não morrem com "palmadinhas", empurrões e violência verbal, adquirem doenças cardíacas, obesidade, artrite, problemas de socialização, depressão, uso de drogas. 


✔Desde que o mundo é mundo tem que deixar chorar até dormir, para aprender, ninguém nunca morreu por isso! Não morre, mas eleva os níveis de cortisol, afeta o desenvolvimento do cérebro, causa trauma na infância, depressão, síndrome do pânico. 


✔Desde que o mundo é mundo, independente da via de parto, importante é nascer saudável, ninguém morre, mas as chances de morte de uma cesarea eletiva, são de 2.84 vezes maior que o que parto normal, que as chances das crianças desenvolver alergia, problemas respiratórios, uti neo natal, são maiores na cesarea eletiva.

✔Desde que o mundo é mundo, todo mundo toma leite de caixinha e ninguém morreu, mas as que não morreram podem desenvolver alergias, problemas gastrointestinais, síndrome do intestino irritável, prejudica os rins por possuir 3 vezes mais proteína que o leite humano, não possui nutrientes para melhor desenvolvimento da visão e cerebral.
✔Desde que o mundo é mundo bebês desmamam cedo, tomo leite artificial, e ninguém morreu, mas bebês amamentados com LM exclusivamente até o sexto mês de vida, anualmente, evitam mais de 1,3 milhão de mortes de crianças menores de 5 anos nos países em desenvolvimento.
O mundo da maternidade é cheio de assuntos polêmicos, e quando esses assuntos caem na mesa, ou melhor, Facebook ou nos grupos de whats, a chuva de desinformação cai, muitas vezes vem a agressão verbal, a não aceitação e as famosas frases "dei para meus filhos e ninguém morreu", ou pior "não sou 'menas main' por..." 
Eu me pergunto onde está a maturidade dessas mães? A bolsa é da moda, o resumo da novela está atualizado e na ponta da língua, a time line do face cheio de indiretas a cada 5 minutos, mas quando um assunto importante lhe bate a porta, a cabeça fecha por puro orgulho em não aceitar uma informação. Desde que o mundo é mundo cada um cria o filho da forma que ACHA melhor, cada um tem uma concepção do que é bom, a informação tá aí, antes de se debater sobre um assunto ter uma discussão saudável e inteligente, leia, ou para rebater, ou para se informar e melhorar o " melhor para seu filho".

E desde 1974, surgiu o conceito de PROGRAMMING, introduzido na literatura por Dörner. Significa “a indução, deleção ou prejuízo do desenvolvimento de uma estrutura somática ou ajuste de um sistema fisiológico por um estímulo ou agressão que ocorre num período suscetível (por exemplo, fases precoces da vida), resultando em consequências em longo prazo para as funções fisiológicas.” Traduzindo : deu e não morreu, mas depois é outra história.

Como cada um cria como quer, falo somente por mim. Quero ninha filha saudável, com qualidade de vida, lhes peço encarecidamente, por favor respeite minhas escolhas, não alimente a minha filha com coisas que ela não pode comer ou beber, se você faz com os seus,a escolha é sua, faça só com eles. "

Por Sílvia Barbieri

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Documentário discute parto normal, cesárea e nascimento 'humanizado'

Cena do documentário 'O renascimento do parto', que estreia nesta sexta em SP (Foto: Divulgação)


Cena do filme 'O renascimento do parto', que estreia nesta sexta em SP (Foto: Além D'Olhar/Divulgação)


'O renascimento do parto' estreia nesta sexta-feira (09.08.2013) em SP, no RJ e DF.
Mães, parteiras, médicos obstetras e especialistas discutem tema no filme.
Por Luna D'Alama
Do G1, em São Paulo
08/08/2013 06h30 - Atualizado em 08/08/2013 17h48
O aumento no número de cesarianas no Brasil, que já chegam a 52% do total de nascimentos, e os benefícios do parto normal em casa ou no hospital são temas do documentário "O renascimento do parto", de Érica de Paula e Eduardo Chauvet, cuja estreia no país ocorre a partir desta sexta-feira (9).
O filme alterna depoimentos de mães, parteiras, médicos obstetras, especialistas e cenas de partos e paisagens, ao som de uma trilha bastante emotiva.
Entre os especialistas entrevistados, estão a antropóloga americana e ativista do parto natural Robbie Davis-Floyd, o obstetra e cientista francês Michel Odent, a psicóloga Laura Uplinger, a obstetra e professora da Universidade de Brasília (UnB) Maria Esther Vilela, que coordena o Núcleo de Saúde da Mulher e o Programa Rede Cegonha do Ministério da Saúde, a epidemiologista e professora da UnB Daphne Rattner e a enfermeira obstetra Heloisa Lessa.
A ideia do documentário, segundo os diretores, é destacar a importância do parto normal – que, como defendem, poderia ser feito em até 90% dos casos, contra 10% de gestações de maior risco – e do trabalho de parto, que "avisa" o bebê sobre seu tempo de maturidade e libera um coquetel de hormônios, como oxitocina ("do amor"), prolactina, endorfina e adrenalina, para ajudar mãe e filho nesse processo.
Além disso, o filme aponta os diversos motivos que teriam levado a um excesso de indicações de cesarianas, além de abordar a não necessidade de tantas intervenções no bebê logo após o nascimento, a frequente falta de contato imediato dos filhos com as mães, nos dois tipos de partos, e o aumento de crianças prematuras ou com complicações (principalmente respiratórias) que demandam uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal depois de uma cesárea, ligadas ao fato de que o bebê ainda não estava "pronto" para nascer. 
 
É citado, ainda, um aumento no número de mortes de bebês e mães, por hemorragias ou infecções, decorrentes das cesarianas. Segundo os especialistas ouvidos, com as cesáreas, os óbitos maternos costumam cair até um nível em que se chega a um platô, para então voltarem a subir – o que eles chamam de "efeito U". 
 
Parto na banheira é cena do filme (Foto: Divulgação)

Parto em banheira de hospital em Florianópolis
é outra cena do filme (Foto: Carol Dias/Divulgação)
De acordo com Érica de Paula, que fez a pesquisa e o roteiro do documentário, ele não mostra o "outro lado", das vantagens da cesariana, porque "a visão contrária é o que a gente vê 24 horas por dia, sete dias por semana. Os 90 minutos que tínhamos para fazer o filme foram usados justamente para mostrar esse outro lado".
 
Cesáreas 'limitadas' a 15%
Segundo a obstetriz (profissional da saúde que atua em partos) Ana Cristina Duarte, que participou do documentário, "o que se calcula é que não mais do que 15% das mulheres têm problemas de saúde ou da dinâmica do parto que necessite algum tipo de intervenção". A questão, de acordo com ela e outros especialistas, é que os casos complicados são muito marcantes.
Essa também é a porcentagem recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o limite máximo ideal de cesarianas em cada país. Mas em hospitais privados do Brasil, por exemplo, o número de cirurgias desse tipo chega a 90%, principalmente nas regiões Sul e Sudeste – o que vem sendo chamado por especialistas de "epidemia oculta" entre as classes sociais mais altas.
"Não é possível que quase 100% das mulheres tenham defeitos e não possam ter bebês de forma natural. Nossos corpos não foram feitos para isso?", pergunta Ana Cristina.
 
A obstetra Fernanda Macedo, outra entrevistada de "O renascimento do parto", acrescenta: "A cesariana é uma cirurgia maravilhosa, que salva vidas todos os dias, mas ela não é para ser feita em todas as pacientes, de uma maneira desnecessária, fora do trabalho de parto. Quando mal indicada, põe o bebê em três vezes mais risco que o normal. (...) Hoje em dia, o parto no Brasil passou a ser um ato cirúrgico, em vez de um evento fisiológico".
Fernanda avalia ainda que as pacientes têm "todo aquele ranço cultural de achar que o parto cesáreo é mais controlado, menos arriscado, que não tem risco nenhum, que o bebê dele vai ser salvo. (...) O médico, por sua vez, apesar de ter aprendido que o parto normal é seguro, que é bom para mãe e para o bebê, acaba acreditando um pouco nessa falsa verdade de que o parto cesáreo é mais seguro".
Para o obstetra Paulo Nicolau, que não participou do filme, mas compareceu à pré-estreia em São Paulo na segunda-feira (5), muitas pacientes acham "chique" fazer cesariana e logo pedem para o médico.
"O segundo problema é que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) não regula essa situação, e o médico recebe cerca de R$ 200, R$ 300 por parto. O terceiro ponto é que, se der algum problema na criança – como paralisia –, e o caso for parar na Justiça, a primeira coisa que o juiz vai perguntar é por que o médico não fez uma cesariana", enumera Nicolau. Segundo ele, os médicos atualmente estão desaprendendo a fazer parto normal, e a maioria já não sabe – o que, no futuro, segundo ele, poderia levar as mulheres a pagarem se quiserem realmente ter parto normal.
No filme, a obstetra Melania Amorim afirma que, "quando se entrevistam mulheres no pós-parto, elas muitas vezes acreditam que houve uma indicação real de cesariana. (Mas) Quando se entrevistam os médicos, eles vão atribuir a culpa da cesariana a uma decisão da mulher".
 
Cena do documentário 'O renascimento do parto', que estreia nesta sexta em SP (Foto: Divulgação) 
Filme debate parto natural e cesárea, e nascimento
no hospital ou em casa (Foto: Kelly Stein/Divulgação)
 
'Motivos' para o parto não ser vaginal
De acordo com a obstetriz Ana Cristina Duarte, quase tudo hoje em dia se tornou motivo para recomendar cesárea, muitas vezes sem necessidade.
"São dezenas de motivos: pressão alta, cordão umbilical enrolado no pescoço, falta de dilatação, bebê grande ou pequeno demais, mãe velha (acima de 30 ou 35 anos) ou jovem demais, gorda ou magra demais, sedentária, diabética. Também dizem que o parto normal dói muito e que a mulher pode ficar larga", diz Ana Cristina.
Segundo o obstetra Ricardo Chaves, muitas cesáreas são feitas por conveniência médica – já que são agendadas com antecedência e duram de 15 a 20 minutos, o que permite ao profissional voltar para o consultório, em vez de passar até 12 horas acompanhando um trabalho de parto.
"A gente tem muito mais internações em UTIs nas vésperas de grandes feriados, (...) porque evidentemente (os médicos) querem passar o feriado sem o susto de terem que sair de casa para atender um parto. Mas isso faz parte da nossa escolha", diz Chaves.
A obstetra Fernanda Macedo complementa: "O valor que o plano paga não compensa você desmarcar um consultório inteiro. Você ganha mais numa tarde em consultório do que num parto. O plano de saúde, os hospitais não têm interesse na gestante de parto normal".
 
'Cabeça moderna atrapalha' Na opinião da antropóloga e parteira mexicana Naoli Vinaver, que também fala no filme, "a cabeça da mulher moderna atrapalha muito", pois muitas delas são inseguras e se acham incapazes de dar à luz sozinhas.
Segundo a obstetriz Ana Cristina Duarte, a maioria das mães diz no início da gravidez que quer parto normal, mas muda de opinião ao longo do pré-natal. "Minam a coragem da mulher", acredita.
A pediatra e neonatologista Ana Paula Caldas, que participou de um debate sobre o documentário após a pré-estreia na capital paulista, destacou que "a mulher precisa confiar no próprio corpo e no poder que tem. Não somos frágeis e incapazes".
Para ela, ter um médico na sala de parto é o mesmo que ter um pediatra como baby-sitter. "É uma formação muito cara para atender a uma coisa tão básica, que é o parto. O caminho é tirar isso da mão do médico e deixar para as parteiras e obstetrizes", avalia.
Uma das mães que deram depoimento no filme é a nutricionista Andréa Santa Rosa Garcia, mulher do ator Márcio Garcia – que têm três filhos: o primeiro nascido por cesárea, a segunda por parto normal no hospital e o terceiro também natural, mas em casa.
"É muito legal você encarar a gestação não como um estado de alerta, de preocupação, de que pode dar alguma coisa errada, e sim 'Olha que bacana, ela está gerando uma vida, é uma grávida linda, olha que legal, que bênção'", diz Andréa no filme.
Ela também participou do programa Encontro com Fátima Bernardes desta quarta-feira (7), quando lembrou de sua segunda experiência como mãe. Ao engravidar de Nina, ela quis ter parto normal, mas sua médica disse que "uma vez cesárea, sempre cesárea".
"Eu olhei para ela, tomei um susto e falei: 'Ué, mas eu não vou poder passar por essa experiência?' Ela não levou em consideração que eu sou jovem, saudável, me alimento bem, faço atividade física, ioga, me preparo, respiração, tudo isso. Então tive que ir para São Paulo fazer o parto normal", contou no Encontro.
 
Para a enfermeira obstetra Heloisa Lessa, "nosso modelo de parto ainda é baseado na doença. Ou a mulher tem pressão muito alta, muito baixa, engordou muito, pouco. É muito difícil uma mulher sair de uma consulta pré-natal dizendo 'Eu estou ótima, estou feliz, está tudo bem'".
A roteirista Érica de Paula compara o parto normal a escalar uma montanha, e o pré-natal ao preparo da mochila. "Se você tem cãibra, para, respira. Aí pensa: se já chegou até aí, você transcende, supera o limite, dá conta. É diferente do que ir de helicóptero para ver a vista, você a alcançou", diz.
 
Interação mãe-filho e ritualização
O documentário também aborda questões como a importância de um contato íntimo entre a mãe e o bebê assim que ele nasce, em vez de a criança ser levada primeiro para fazer procedimentos médicos que poderiam esperar um pouco, na visão dos especialistas entrevistados. Além disso, eles acreditam que intervir demais pode trazer mais problemas do que soluções.
"Geralmente, não é para fazer nada com o bebê, são cacoetes de procedimentos, uma esteira de linha de produção. A criança não precisa ser pesada na hora, não vai diminuir ou aumentar de tamanho nas próximas duas horas. O bebê precisa de vínculo, tem muita oxitocina e precisa se apaixonar pela mãe – e vice-versa", analisou a pediatra e neonatologista Ana Paula Caldas após a pré-estreia.
A ginecologista e obstetra Carla Andreucci, que também falou no debate em São Paulo, acredita que há um manejo excessivo dos bebês, com colírio nos olhos, antisséptico nos genitais, aspiração no nariz e sonda retal – em vez de esperar a primeira evacuação para ver se está tudo bem com a criança.  "A ausculta do coração, (a verificação) dos sinais vitais, tudo isso pode ser feito no colo da mãe", diz.
 
Parto em casa O documentário trata, ainda, da vontade de muitas mulheres terem parto normal longe do ambiente hospitalar. Segundo o filme, 1% dos partos realizados atualmente no Brasil ocorre em casa. E os especialistas ouvidos reforçam que esses casos devem ser gestações de baixo risco e que, ao desconfiar de algum problema, a paciente precisa ser encaminhada para um hospital.
"O lugar mais adequado para a mulher ter seu filho é, segundo a OMS, onde ela se sente segura. Para muitas mulheres, o lugar mais seguro é a sua casa; para outras, é uma casa de parto; e para outras vai continuar sendo o hospital. E todas elas têm que ser contempladas pelo nosso sistema de saúde", avalia o obstetra Ricardo Jones.
Segundo a antropóloga Robbie Davis-Floyd, 20% dos partos na Holanda em 2011 foram domiciliares, e a taxa de cesarianas no país é de 15%.
"Em todo o mundo, o ideal seriam as parteiras profissionais atenderem de 70% a 80% dos partos, e obstetras, de 20% a 30%", afirma Robbie.
A OMS considera habilitados para assistência ao parto os médicos obstetras, os médicos da família, as enfermeiras obstetras e as parteiras formadas ou obstetrizes, enumera a obstetra Melania Amorim.
 
Possíveis soluções Para Érica de Paula, que realizou o filme ao lado do marido, Eduardo Chauvet, e atua como doula (assistente de parto) desde 2009, é difícil falar em uma única solução para o problema do excesso de cesarianas e da falta de humanização nos nascimentos, pois ele tem muitas causas.
"As mulheres precisam se informar mais, aumentar a demanda pelo parto normal; os profissionais devem ter uma visão mais fisiológica do processo, e o governo e as agências reguladoras têm que fazer pressão para que haja indicações reais de cesariana", diz Érica.
A ginecologista e obstetra Carla Andreucci acrescenta: "A mudança das mulheres é mais fácil do que mudar os profissionais, que já estão inseridos no mercado".
 
Cidades de estreia
"O renascimento do parto" estreia nesta sexta-feira (9) em São Paulo, Sorocaba, Campinas, Indaiatuba, Brasília e Rio de Janeiro. No dia 16, o filme será lançado em Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba; e no dia 23 começará a ser exibido em Belo Horizonte, João Pessoa e Salvador.
Segundo o diretor Eduardo Chauvet, o documentário teve orçamento de R$ 142 mil, com recursos de crowdfunding (financiamento coletivo), e foi selecionado para festivais de cinema da Colômbia, do México, dos EUA e da China. A ideia agora é distribuir milhares de cópias em DVD para centros de saúde e criar uma série de TV com episódios de 30 minutos.