"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

Mostrando postagens com marcador parto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador parto. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de janeiro de 2017

A descoberta do parto



Curso de parto Leboyer, di Letizia Galiero e Sonia Di Pascali.
Nepi, Roma.

E imersa em um percurso de busca da plena consciência da gravidez, parto, nascimento, e pós parto descobrimos que a sociedade não sabe absolutamente nada sobre esses temas. As mulheres estão desaprendendo a parir, o parto virou um business, ele foi “roubado” pela ciência, pela medicalização.
As pessoas não fazem ideia de como é melhor para mãe e crianças serem “preparados” pelos hormônios no parto espontâneo. De como o ser espremido na hora da passagem prepara a criança psicologicamente para enfrentar a vida. O parto é um fenômeno da natureza. Se podemos escolher, então que sejamos pela natureza.
E o que me assusta é que muitas mulheres são induzidas a caírem na armadilha do cesáreo. Tem gente que as aterrorizam. A maioria dos médicos inventam as coisas mais inimagináveis para conduzi-las ao cesáreo e elas acreditam! Por desinformação, por inexperiência, por medo. Muitas nunca se darão conta depois de que foram enganadas e as que se dão conta buscam um segundo parto natural com todas as forças, mas nem todas as estruturas de hospitais são preparadas para um parto Vbac (Vaginal Burn after Cesarian - parto vaginal depois do cesáreo), então elas têm que se desdobrar para buscar as "pessoas certas".
Parto domiciliar hoje é luxo, não só no Brasil como na Itália, mas é mais luxo ainda porque as pessoas que o procura são aquelas que têm uma compreensão diferente do parto e aquelas que se permitem o melhor.
Eu desejo às mulheres mais consciência, mais informação, mais força, que escolham experimentar a dor do parto sem medo, porque essa dor tem todo um sentido especial para existir, as auguro mais partos espontâneos e domiciliares, porque a nossa "toca" é o lugar mais seguro e acolhedor do mundo, mais hospitais humanizados, mais acolhimento, mais intimidade, sabedoria e desapego a antigas crenças a esquemas familiares para se unirem a homens que as apoiem emocionalmente e em todos os outros sentidos. Leiam Leboyer, mulheres!
Nós não podemos aceitar mais violência obstétrica em favor da ganância, da ignorância e do dinheiro, devemos ser o instrumento de força para que a mudança aconteça e que seja uma mudança para o que há de mais autêntico, saudável e verdadeiro para a humanidade.

Cintia Liana Reis de Silva, psicóloga

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O parto natural e a compreensão

Para um parto natural e/ou em casa não é preciso coragem, é preciso compreensão. Quando tudo está em harmonia não existe luta, não existem dúvidas. Hoje um parto desse nível virou luxo, não só porque a mulher precisa estar disponível para se conectar com a sua força primitiva, mas também porque ela precisa desenvolver a compreensão de que o fenômeno do nascimento não um acontecimento médico e mais ainda porque ela precisa abrir portas para conhecer os profissionais certos, que não terão uma postura medicamentosa. 
Cintia Liana

Indicação de livro:
Nascer Sorrindo, Frédérick Leboyer

"O livro 'Nascer sorrindo', do Dr. Leboyer, um obstetra francês que usa técnicas inovadoras no parto, defende que, como a criança está envolta por líquido, que abafa o som e a mantém no escuro durante toda a gestação, quentinha, aconchegada, o momento do parto é extremamente traumático para ela. De repente, luz, barulho, frio. Esse choque afeta a pessoa deixando sequelas irreparáveis em sua personalidade. Por isso ele mantém as salas de parto na penumbra e silêncio. A criança é, depois de 'expulsa', imediatamente envolta de modo a manter-lhe o calor e sua adaptação ao meio externo é feita gradual e lentamente. Depois de alguns meses de aplicação da técnica, foi convocada uma reunião para avaliar os resultados e chegou-se à conclusão de que os bebês nasciam sorrindo, pois o parto se dá sem violência."

"L'Arte di Partorire", livro de Frédérick Leboyer em italiano
Vem com alguns exercícios simples, e com técnicas orientais de canto e de respiração propostas em um CD anexo ao livro

"O Renascimento do Parto"

O primeiro parto de Gisele Büdchen"


"O pré natal com uma parteira é muito diferente." (Andrea Santa Rosa)

domingo, 6 de novembro de 2016

"Calma e paciência que o nenê nasce fácil"


Foto e texto: Cláudia Rodrigues
13 de abril de 2016

Keretxu Miri, índia guarani de 77 anos de idade, que habita uma aldeia no Espírito Santo, fala de sua experiência como parteira

No universo civilizado, principalmente no ocidente, o parto virou um mito, tanto para as gestantes quanto para a classe médica. As mulheres estão desaprendendo a parir, a amamentar e cuidar dos filhos e os médicos estão cada vez mais preocupados em ganhar tempo e menos habilidosos para auxiliar um trabalho que é muito mais da parturiente do que deles. Atrás de toda a parafernália técnica da ciência e da medicina, está algo que podemos chamar de burrice emocional. Sabemos pilotar um computador, dirigir carros; podemos comprar berços que balançam sozinhos, chupetas coloridas que distraem os bebês, mas por que afinal temos tanta dificuldade em colocar filhos no mundo? Será que não podemos mesmo unir o saber tecnológico à sabedoria primitiva?
O depoimento de uma índia, que faz partos desde que se conhece por gente, resgata o labirinto em que nos perdemos: o do excesso de pressa e preocupação.

"O sangue não pode subir e a cabeça ficar quente. A mulher precisa ficar calma e esperar a hora que ela vem" 

Keretxu Miri não esquece a primeira vez que tomou conhecimento de como as crianças vêm ao mundo. Foi por volta de 1930, em algum lugar entre o Rio Grande do Sul e o Espírito Santo. Os índios Guarani fizeram, a pé, o trajeto entre os dois estados, em busca da terra prometida. Levaram muitos anos para chegar a Santa Cruz, no Espírito Santo, o local que hoje habitam. Durante o percurso não foram poucos os partos. "Lembro bem quando meu pai avisou que teríamos que parar porque minha mãe ia ganhar nenê", conta Keretxu.

Era noite alta, mas quem já estava dormindo acordou para ajudar. O pai de Keretxu fez um 'rancho de palha de pindó' - palmeira doce - em volta de uma árvore para proteger mãe e filho do frio. "Todos os índios foram cuidar da floresta para não deixar nada de ruim acontecer com a minha mãe e o nenê, que nasceu antes do sol raiar". A tribo ficou acampada três dias e depois seguiu em frente com a mãe de Keretxu carregando, à moda indígena, a pequena Euá.

Naqueles anos 30, a tribo andava por caminhos, estradas, mas também no meio da mata, perto das cachoeiras, procurando a terra prometida. Sempre havia algum português, italiano, alemão ou japonês  que já era dono das terras.  No meio do caminho chegaram a achar que a terra prometida era em Santos, São Paulo, onde viveram seis anos.  "Era bonito lá em Santos, mas os brancos queriam briga de novo, como no Rio Grande, e então seguimos caminho", revela Keretxu Miri, que não entende, depois de 77 anos de vida, porque os brancos brigam tanto para tirar o ouro da terra. Ela fala que Inhanderu - Deus - é justo com todos. "Inhanderu ajudou o homem branco e ajudou o índio, e fez a Terra para que todos  os viventes pudessem viver aqui, mas Inhanderu não gosta de briga; briga faz mal, faz adoecer, então índio vai embora, mas vai em paz, mesmo nas mãos de Juruá - os brancos".

Um galo cantou, uma criança chorou e Keretxu Miri ficou silenciosa por longos minutos, antes de voltarmos ao nosso assunto; os partos. O galo pulou de cima da mesa, a criança ganhou o colo da mãe  e um raio de sol atingiu os olhos de Keretxu Miri. Ela me olhou e disse:  "A moça quer saber de parto, mas parto não tem segredo, não posso mentir, mas também o que é sagrado é sagrado", disse com simplicidade.

Ela conta que sagrado é o getapaãurá, a tesoura de madeira que corta o cordão umbilical e também as ervas (chás calmantes e levemente anestésicos) que acalmam a mulher para o parto. Nada disso pode ser filmado ou fotografado, mas Keretxu conta alguns dos 'segredos'. Detalhe: ela sempre faz questão de, entre uma e outra informação, pontuar que só se aprende vendo, observando e pensando antes de fazer. "O pensamento é muito importante e olhar com os olhos. Não dá para contar, é simples, é bom, não é problema receber o nenê", revela com sinceridade, os olhos brilhando, a expressão sorridente e calma. Receber o nenê, como diz a velha parteira, é uma das maiores dificuldades no mundo civilizado, tanto em função do tempo, quanto por deficiência de escola, já que nossos médicos não estudam psicologia e entendem pouco de uma das coisas que parteiras como Keretxu mais entendem: o universo emocional, que é inexoravelmente primitivo. Índias ou brancas, amarelas ou negras; na hora do parto a mulher vira uma leoa, um bicho que dá conta de "se livrar da dor" expelindo o bebê. Caso contrário, é cirurgia na certa.

SEGREDOS -  Apesar de afirmar convicta que o parto não tem segredo, Keretxu explica que o 'nervoso' da mãe e até do pai pode atrasar o momento final do parto, a hora da expulsão. "Quando a mãe fica nervosa, o sangue sobe para a cabeça e o nenê não vem". Mal sabe ela que esta afirmação contém mais ciência do que ela imagina. O Dr. Elsworth Baker, americano que trabalha com gestantes ocidentais há mais de vinte anos, revela no livro O Labirinto Humano, que "quando a parturiente enrijece o queixo, recolhe os ombros, segura os punhos e a respiração, isso a faz apertar o soalho pélvico, o fluxo sangüíneo fica preso na metade superior do corpo e isso dificulta a descida do bebê". Segundo o médico, a tensão e a ansiedade excessiva na mulher, que não se sente capaz de parir, podem elevar a níveis alarmantes os batimentos cardíacos do feto, o que acabará exigindo uma intervenção cirúrgica, a menos que mãe seja acalmada em suas preocupações e estimulada a se entregar para a situação que se apresenta, relaxando e recebendo as informações enviadas pelo seu próprio corpo.

Keretxu Miri, que não sabe contar com precisão quantos partos fez na vida, afirma pacientemente que existem poucas providências a ser tomadas quando inicia o trabalho de parto. "Quando a mulher percebe que está chegando a hora, só precisa falar com Nhanderu e continuar normal, trabalhar um pouco e esperar com paciência que o nenê vem".  Keretxu fala também que se o pai ajuda em casa nesse dia, preparando a comida, limpando e arrumando, isso ajuda a mulher a ficar calma, mas se o pai está nervoso é mau sinal. "Quando o pai e a mãe estão em briga o espírito da criança quer fugir e ela pode enfraquecer e morrer dentro da barriga ou depois de nascida", revela com uma sabedoria que pode assustar os brancos mais desavisados.

A velha índia, anciã da tribo Tekoa Porã, fala com simplicidade, sem qualquer traço de orgulho, que nunca teve problemas com os partos que fez. "Sei de ouvir falar. Minha mãe contava que o principal do parto era acalmar a mãe para o nenê poder sair. Ela já tinha visto mãe morrer e criança também por causa do nervoso" conta, sem tentar esconder a resignação diante da vida e depois acrescenta: "Meus olhos nunca viram nenhuma mãe e nenhuma criança morrer de parto". Eu pergunto se é sorte, ela responde que não, que é Nhanderu que a ensina a acalmar as mulheres que precisam.

Depois explica que algumas índias têm medo e por isso vão ganhar seus bebês nos hospitais. "Acho que cada um faz a sua escolha, se a pessoa tem um medo que eu não consigo acalmar, não vou usar a força, deixo na vontade dela", conta, sublinhando que nenhuma das mães e das crianças que atendeu precisou ir para o hospital. "Existem mulheres que querem fazer coisa errada na hora do parto e isso pode atrapalhar para o nenê sair", afirma, explicando que as coisas erradas para o dia do parto são comer, falar demais, não sentir e não pensar. "Quando a mulher fica assim, ela não fala com Nhanderu, fica sem paz no coração e a cabeça esquenta" pontua. O Dr. Hélio Bergo, obstetra e homeopata, especialista em partos naturais, aconselha suas pacientes a ficarem com elas mesmas. "Durante o trabalho de parto é importante que a mulher preste atenção aos ritmos do corpo ao invés de fugir assustada para uma solução externa", afirma, endossando a sabedoria primitiva da parteira.

O DIA 'D' - No dia de um parto, Keretxu Miri fica com Nhanderu. "Eu rezo, peço para Nhanderu proteger aquela mãe e aquela criança e Nhanderu me ajuda", relata tranqüila. Pergunto se ela conhece manobras para partos complicados e ela diz que não há nada complicado, que é só observar. "Se a mulher está muito nervosa a gente faz um chá. O bom é o caaminí ou então o capíía - chás com propriedades calmantes - e é importante que ela não coma nada de açúcar e nada de sal. O chá do mato amarguinho e mais nada, recomenda. Para acalmar é preciso também conversar, aconselhar e é isso também que Keretxu Miri faz. “Eu vou lá e falo com calma, que é assim mesmo, que não dá para fugir e então a pessoa se acalma e o nenê vem", conta, sem o menor estrelismo.

Ela explica que, para facilitar o trabalho de parto, é bom ficar sentada ou agachada segurando alguma coisa bem firme no chão e que não adianta ficar fugindo, não querendo passar por aquilo. "Mas tem mulheres que preferem deitar na cama para ganhar os bebês. Não tem problema, a pessoa é que escolhe como se sente melhor" pondera, desmistificando a idéia de que toda a índia dá à luz agachada.

Depois que o bebê consegue girar e sair, é hora de amarrar o cordão com uma linha feita de algodão, fabricada na aldeia e depois é a vez de cortá-lo, com o getapaãurá, uma tesoura de madeira, também feita pela tribo. "Tudo tem que estar bem limpinho", ressalta.

Os primeiros meses, principalmente os três primeiros depois que a criança nasce, segundo Keretxu Miri, devem ser de muito cuidado e a mulher não deve comer carne de galinha, de boi e nem de peixe. "Só mais a canjiquinha cozida, bem leve e com bastante caldo até o umbiguinho cair, depois pode voltar a comer, mas sem exagero nos primeiros meses", aconselha para evitar cólicas ao bebê, mais uma vez evidenciando que o segredo das índias para conviver bem com a gravidez, com o parto e a criação dos filhos é calma, muita calma.

Aí está. Palavra de índia que já pariu muitos filhos e já ajudou a nascer outros tantos. Em tempos de pressa, providências e precauções, urge a necessidade da palavra de uma especialista, de uma doutora do pensamento que sente, do sentimento que pensa. 

Unindo saberes 
Não somos índias, não passamos boa parte do dia acocoradas na beira do rio lavando roupas, não plantamos mais e nossa vida é mesmo apressada e cheia de estresse. Estamos então condenadas a colocar nossos filhos no mundo somente através de intervenções cirúrgicas?

É claro que não. As japonesas modernas, as chinesas e as européias do norte também trabalham o dia inteiro, vivem sob estresse e mesmo assim conseguem parir a maioria dos filhotes sem maiores neuras. O que elas têm que nós brasileiras, campeãs mundiais de cesarianas, não temos?

Várias coisas. Em primeiro lugar, apoio da sociedade médica. No Brasil a exceção à regra é o parto normal e não a cirurgia, mas é sempre bom lembrar que o velho ditado que afirma que quando um não quer dois não fazem, é muito válido.

A mulher que deseja parto normal, na atual conjuntura social e cultural do país, necessita procurar um profissional que tenha feito mais partos naturais do que cirúrgicos. Não é exatamente como encontrar agulha no palheiro, mas é quase e neste caso não convém usar panos quentes. A maioria das clínicas privadas do país tem um índice muito alto de cirurgias e portanto é preciso checar esse detalhe. Tomadas essas duas providências - escolha do médico e de uma clínica ou hospital humanista- é hora de dar um mergulho profundo no corpo e aí temos chances iguais ou até maiores do que as índias e outros povos primitivos.

Não podemos plantar grama e muito menos lavar roupa na beira do rio todos os dias, mas contamos com profissionais especializados que podem ajudar a gestante na preparação para o parto. Técnicas e vivências corporais como tai chi chuan, ioga, natação, bioenergética, biodinâmica e muitas outras estão à disposição das futuras mamães que, apesar de civilizadas, desejam aprender como chegar ao ponto final de um corpo de gestante: o desencadeamento do parto.

Só para garantir, vale lembrar dos conselhos da velha índia: sentir, pensar, não comer, falar pouco e esperar com calma, muita calma para a cabeça não esquentar e o "nervoso" não atrapalhar.

Cláudia Rodrigues

Fonte: http://buenaleche-buenaleche.blogspot.it/2016/04/calma-e-paciencia-que-o-nene-nasce-facil.html?m=1

sábado, 5 de novembro de 2016

Um livro que fortalece e empodera as mães

Um livro que fortalece e empodera as mães.

O melhor livro que já li sobre maternidade, nascimento e vínculo entre mãe e bebê.

"A maternidade e o encontro com a própria sombra"





Por Laura Gutman
Este é um livro escrito para mulheres. Não pretende ser um guia para mães desesperadas. Ao contrário, é uma espécie de “alto lá!” no caminho para que possamos pensar como mães que estão criando seus filhos, com nossas luzes e sombras emergindo e explodindo em nossos vulcões em chamas.
Muitos aspectos ocultos de nossa psique feminina são desvelados e ativados com a chegada dos filhos. Estes momentos são, habitualmente, de revelação e de experiências místicas se estivermos dispostas a vivê-los nesse sentido tais e se encontrarmos ajuda e apoio para enfrentá-los. Também são uma oportunidade de reformularmos as ideias preconcebidas, os preconceitos e os autoritarismos encarnados em opiniões discutíveis sobre a maternidade, a criação dos filhos, a educação, as formas de criar vínculos e a comunicação entre adultos e crianças.
Este livro pretende abordar a experiência vital da maternidade como vibração energética mais do que como pensamento linear.
Trazer as experiências que todas as mulheres atravessam como se fossem únicas, sabendo, ao mesmo tempo, que são compartilhadas com as demais fêmeas humanas e fazem parte de uma rede intangível em permanente movimento. Mesmo sendo muito diferentes umas das outras, as mulheres ingressam em um território onde circula uma afinidade essencial comum a toda mãe. Refiro-me ao encontro com a experiência maternal como arquétipo, em que cada uma se procura e se encontra em um espaço universal, mas buscando também a especificidade individual.
Por meio de diversas situações cotidianas, descreveremos um leque de sensações em que qualquer mulher que se tenha tornado mãe poderá facilmente identificar. Paradoxalmente, o uso da linguagem escrita como ferramenta para transmitir essas experiências pode ser um obstáculo, pois atende a uma estrutura em que vários elementos vão se ordenando para construir um discurso. A abordagem do universo da psique feminina, que pertence a uma construção oculta do ponto de vista de nossa cultura ocidental, então se complica. Nesse sentido, para acessar e compreender este livro, serão muito úteis a intuição ou as sensações espontâneas que nos permitam fluir com o que nos acontece quando percorremos alguma página escolhida ao acaso.
De qualquer maneira, é de se imaginar que ficaremos presas à tentação de discutir calorosamente quais são os pontos em que estamos de acordo ou em profundo desacordo. Embora as discussões que venham a surgir entre as mulheres possam ampliar o pensamento, insisto em tentar uma leitura mais emocional, esperando que tenha ressonância no infinito. Ou seja, captar o conteúdo sensorial, imaginativo ou perceptivo, em vez de aprender ou avaliar os conceitos linearmente. Isso tem a ver com deixar abertas as portas sutis e estar atenta às que vibram com especial candura. Permitamos que aquelas que não nos sirvam sigam seu caminho sem nos distrair.
Suspeito que há vários pontos de partida para a leitura: o mais evidente é a partir do “ser mãe”. Espero, também, que o livro seja interessante para as profissionais de saúde, comunicação ou educação que tenham contato com mães, cada uma esperando, com suas próprias ferramentas intelectuais, obter resultados convincentes no que se refere ao comportamento e ao desenvolvimento das crianças.
Acredito que é possível conservar as duas visões simultaneamente; de fato, muitas de nós somos profissionais no campo das relações humanas e também somos mães de crianças pequenas.
Espero conseguir transmitir a energia que circula nos grupos que funcionam dentro da instituição que dirijo, nos quias as mães se permitem ser elas mesmas, rindo dos preconceitos e dos muros que erguem por medo de ser diferentes ou de não ser amadas. Ali foi gestada a maioria dos conceitos que fui nomeando nestes últimos anos e que, tocados por uma varinha mágica, começaram a existir.
Na Escuela de Capacitación Profesional de Crianza, continuamos inventando palavras para nomear o indefinível, os estados alterados de consciência do puerpério, os campos emocionais em que ingressamos com os bebês, a loucura indefectível e esse permanente não reconhecer mais a si mesma. No intercâmbio criativo, as profissionais tentam encontrar as palavras corretas para nomear o que acontece conosco. Arrependo-me de não ter filmado as aulas ou as entrevistas individuais com as mães que nos consultam, porque esse poder, esse florescer dos sentimentos femininos, raramente pode ser traduzido com exatidão pela palavra escrita. Conto, assim, com a capacidade de cada leitora de se identificar com os relatos, imaginando a essência e sentindo que, definitivamente, todas somos uma.
Por último, convido-as a fazer esta viagem juntas, preservando a liberdade de levar em consideração apenas o que nos seja útil ou possa nos apoiar. Esta é minha maneira de contribuir para gerar mais perguntas, criar espaços de encontro, de intercâmbio, de comunicação e de solidariedade entre as mulheres. Esse é meu mais sincero desejo.
Laura Gutman
Sumário

PREFÁCIO

CAPÍTULO 1
Uma emoção para dois corpos

A fusão emocional • As crianças são seres fusionais • Início da separação
emocional • Por que é importante compreender o fenômeno da
fusão emocional? • O que é a sombra? • Por que é tão árduo criar um
bebê? • As depressões pós-parto existem ou são criadas? • O caso Romina
• A perda de identidade durante o puerpério • Entre o externo e
o interno.

CAPÍTULO 2
O parto

O parto como desestruturação espiritual • Institucionalização do parto • A submissão durante o parto ocidental: rotinas • Reflexões sobre os maus-tratos • A opção de parir cercada de respeito e cuidados • Acompanhar o parto de cada mulher • Existe um lugar absolutamente ideal para parir? • Parto e sexualidade • Recordando meu segundo e terceiro partos.

CAPÍTULO 3
Lactação

Amamentar: uma forma de amar • O encontro com seu eu • O início da lactação • As rotinas que prejudicam a lactação • O bebê que não engorda • O caso Estela • Há mulheres que não têm leite? • Os bebês que dormem muito • O caso Sofia • Algumas reflexões sobre o desmame • Valéria quer desmamar sua filha.

CAPÍTULO 4
Transformar-se em puérpera

Preparação para a maternidade: ao encontro da própria sombra • A relação amorosa no pós-parto • A doula: apoio e companhia • Feminilizar a sexualidade durante o pós-parto.

CAPÍTULO 5
O bebê, a criança e sua mãe fusionada

As necessidades básicas do bebê do nascimento aos 9 meses • O olhar exclusivo • A capacidade de compreensão das crianças pequenas (falar com elas) • Recursos concretos para falar com as crianças • Estrutura emocional e construção do pensamento • Separação emocional e comunicação • Cuidados com as crianças “com problemas” • O caso Norma • O caso Constanza • Cada situação é única.

CAPÍTULO 6
Apoiar e dividir: duas funções do pai

O papel do pai como esteio emocional • Confusão de papéis nos tempos modernos • E quem apoia o pai? • O papel do pai como separador emocional • Outros separadores • O caso Pablo • Manter o lugar do pai mesmo que esteja ausente • Criar os filhos sem pai • As crianças que acordam à noite: a importância da figura paterna • Funções feminina e masculina na família.

CAPÍTULO 7
As doenças infantis como manifestação da realidade emocional da mãe

Materialização da sombra • Uma visão diferente das doenças mais frequentes na primeira infância • Os resfriados e a mucosidade • Asma • O caso Eloísa • Alergias • Infecções • O caso Rodrigo e sua mãe • Problemas digestivos • Comportamentos incômodos: o caso Florencia • O caso Marcos: fusão emocional, música e linguagem.

CAPÍTULO 8
As crianças e o direito à verdade

Verdade exterior • Verdade interior • A busca da própria verdade • A verdade nos momentos difíceis • A verdade nos casos de adoção • O caso Bárbara (dar um novo significado à morte de um ente querido) • O caso Sandra.

CAPÍTULO 9
Os limites e a comunicação

As crianças precisam de mais limites ou de mais comunicação? • Para ouvir o pedido original: acordos e desacordos • O uso do “não”, um recurso pouco eficaz • As crianças tiranas • O tempo real de dedicação exclusiva às crianças • Os “caprichos” quando nasce um irmão • As crianças e as exigências de adaptação ao mundo dos adultos • A loucura das festas de fim de ano nos jardins de infância • O estresse das crianças • O caso Rodrigo.

CAPÍTULO 10
Prazer das crianças, censura dos adultos

O controle natural dos esfíncteres e o autoritarismo dos adultos • O controle noturno dos esfíncteres • O caso Brígida • A sucção: prazer e sobrevivência • A água, essa doce sensação • Ao baleiro da esquina, com amor • Crianças, alimentação e natureza • Exigências e alternativas na hora de comer.

CAPÍTULO 11
Comportamentos familiares na hora de dormir

Transtornos do sono ou ignorância sobre o comportamento previsível do bebê humano? • A noite e os bebês de zero a dois anos • No compasso das opiniões • As crianças com mais de dois anos que acordam à noite • Procura-se um separador emocional (para ler com o homem) • As crianças também querem dormir.

CAPÍTULO 12
Crianças violentas ou crianças violentadas?

Algumas reflexões sobre a violência: ao conhecimento de si mesmo • Violência ativa e violência passiva: um guia para profissionais • O caso Roxana • Crianças agressivas: reconhecendo a própria verdade • As crianças que provêm de famílias violentas • Crianças que sofreram abusos emocionais ou sexuais: abuso entre crianças • A negação salvadora: o caso Rubén e o caso Leticia • A visão profissional.

CAPÍTULO 13
As mulheres, a maternidade e o trabalho

Maternidade, dinheiro e sexualidade • A confusão de papéis nos trabalhos maternos • As instituições educacionais • Em busca do ser essencial feminino.

EPÍLOGO

Fonte: http://www.lauragutman.com.ar/libros/a-maternidade-e-o-encontro-com-a-propria-sombra-brasil/

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

'Não pretendo ter outro filho', diz mãe após bebê sofrer fratura no parto

"A respeito das intervenções desnecessárias, da medicalização do parto, da violência obstétrica e neonatal. Ou seja: a respeito desse modelo de entendimento do parto, do nascimento, da mulher e de seu corpo. Vamos mudar esse olhar e essa prática? Depende de nós." (Página Facebook "Amigas do Parto")

Google Imagens

01/11/16
Do G1 SP

Lucielma Cardoso Teixeira, mãe de Bruna, de quatro meses, disse ao SPTV que não pretende mais ter filhos por causa do trauma que sofreu durante o parto da filha. Ela procurou o Ministério Público Federal em São Paulo para fazer uma denúncia contra a maternidade onde a menina nasceu. Luciema conta que na hora de dar à luz a médica subiu em sua barriga com os dois braços e ficou apertando. A recém-nascida fraturou o braço e a clavícula esquerda.
"Ela dizia que minha filha tinha que descer que a minha filha tinha que nascer. Eu não sabia se eu respirava ou se eu fazia força pra minha filha nascer, com medo de acontecer alguma coisa com ela", disse a mãe. "Não pretendo ter outro filho, fiquei muito assustada, muito traumatizada."
O Ministério Público Federal em São Paulo quer que o Hospital e Maternidade SacreCoeur, do Grupo NotreDame Intermédica, apure denúncias de violência obstétrica em partos. Três mulheres disseram que os médicos e enfermeiros usaram a “manobra de Kristeller” no parto, procedimento que consiste em empurrar a barriga da mulher para forçar a saída do bebê.
O MPF disse que órgãos médicos nacionais e internacionais “são uníssonos ao condenar a manobra”. Segundo o órgão, os processos de violência obstétrica se acumulam. Nos últimos dois anos, o MPF já recebeu 50 denúncias na capital.
A NotreDame Intermédica disse em nota que no parto da menina Bruna foram feitos procedimentos obstétricos para a passagem do ombro do bebê, mas que em nenhum momento foi realizada a manobra de Kristeller."
"Após a primeira manifestação do Ministério Público Federal sobre o alerta relacionado a referida manobra, o Hospital e Maternidade Sacrecouer, assim como os demais hospital do Grupo, intensificaram ações relacionadas ao tema e vem constantemente monitorando o cumprimento do referido protocolo oficial”, diz a nota.
Além de apurar as denúncias, o MPF pede “que médicos e enfermeiros do hospital sejam formalmente comunicados de que a adoção da manobra de Kristeller está proscrita [banida] e passem por treinamentos sobre métodos humanizados de parto”. O Grupo NotreDame disse que “toda a equipe de saúde” do SacreCoeur passou por treinamentos em parto humanizado.
A procuradora Ana Carolina Previtalli Nascimento, autora dos pedidos, também quer que cartazes sejam afixados na unidade alertando o público e a equipe médica para a proibição do procedimento.
Esta já é a sexta recomendação expedida pelo MPF a hospitais e órgãos de saúde na capital paulista por práticas consideradas agressivas nos partos. Além da manobra de Kristeller, são alvo da investigação a realização do corte na região da vagina para facilitar a saída do bebê (episiotomia), a infusão intravenosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética), maus tratos verbais, cesarianas sem necessidade e contra o desejo da parturiente, entre outros procedimentos inadequados.
Para denunciar violência obstétrica, as mulheres podem procurar o MPF pelo sitewww.cidadao.mpf.mp.br ou pessoalmente em qualquer unidade do MPF.
Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/11/nao-pretendo-ter-outro-filho-diz-mae-apos-bebe-sofrer-fratura-no-parto.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=sptv

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Para se tornar mãe nos dias de hoje

Indika Bem

Por Cintia Liana Reis de Silva
(Publicado dia 27.02.14 no Portal Indika Bem)
Na nossa cultura de hoje é duro se tornar mãe e mais duro ainda nascer. Querem acabar de vez com a natureza selvagem dos indivíduos, com o que ela tem de bom. Acabar com o parto natural, com a amamentação, com o contato livre e intenso entre mãe e bebê. Inconscientemente, as necessidades do recém nascido estão se tornando uma espécie de alergia social em prol do “não perder tempo”, do diminuir os custos nos hospitais, para que a indústria do leite artificial e farmacêutica não se enfraqueçam, para que as mulheres voltem a trabalhar mais cedo, etc.
Uma parte da literatura está sendo manipulada e a cultura popular quer ensinar imediatamente à nova mãe que o seu filho já deve nascer independente. Se eu disser aqui que os bebês, ao nascer, deveriam dormir junto ao corpo da mãe (não no meio do casal, mas ao lado da mãe), muitas pessoas vão pensar duas vezes se é verdade e se, de fato, traria benefícios aos dois, porque foram ensinadas que isso faz mal. Mas será que a bendita frase do conselho de não dormir junto com o filho nasceu do medo de que os pais fizessem sexo ao lado dele? Muito provavelmente. Nenhum estudo mostra que alguém fique mais dependente na fase adulta por ter dormido os dois primeiros anos de vida com a mãe. Ao contrário, estar em contato com o corpo da mãe a faz produzir muito mais leite e esse contato seguro dará uma bela base para que a criança cresça segura dessa relação intensamente íntima, que deve ser plenamente alimentada ao menos até os dois anos de idade, depois a criança naturalmente ganha mais autonomia psicológica e física. Tudo o que é saciado na infância dá mais força ao futuro adulto.
A mulher, que se prepara para ser mãe (os pais precisam se preparar emocionalmente), deve estar muito lúcida e segura de que precisa dar mais ouvidos à sua intuição, ao que diz a sua alma humana de mulher. Ela deva esquecer os conselhos disparados compulsivamente por quase todos, pois 99% deles são distorcidos e preconceituosos, advindos da nossa cultura ocidental capitalista. Ela não deve perder tempo com textos e livros de “receitas”, que dizem o que ela deve fazer e os passos a seguir nos cuidados com seu pequeno filho.
A mulher que se prepara para ser mãe, deveria ler o que a faz despertar para os dons da sua alma; o que motiva a sua essência a se iluminar diante de sua cria; o que a faz olhar e aceitar as suas reais necessidades; o que a faz enxergar suas feridas para não usá-las cegamente contra a criança, que a reflete de algum modo; a ver e a querer romper com seus padrões familiares adoecidos; o que a ensina a olhar amorosamente para a sua sombra, a se comunicar com ela para transformá-la em luz; o que a faz mergulhar em si mesma e a reencontra-se mais autêntica do que nunca; a reconhecer o que a faz se sentir magoada e ameaçada; que a fortaleça a ouvir a voz do seu coração e a entrar em contato sem receios com os seus medos e inseguranças; a ouvir o seu potencial criativo e curativo; a confiar em sua capacidade de entrega e doação e que a faça acreditar na força do seu amor, porque tudo o que ela sente, se reflete na psiquê do recém nascido.
Só uma mãe suficientemente fortalecida pelo verdadeiro conhecimento do ser humano, da sua mente e de seu filho, aconselhada por um psicólogo experiente e não por um médico (que só conhece a parte física), se sentindo apoiada pelo seu companheiro e por sua família, respeitada e tratada com afeto no momento do seu parto, momento em que que ela renasce, é que poderá ser capaz de fazer um filho crescer feliz e mentalmente sadio, numa relação límpida, nutritiva, madura e harmoniosa.

Cintia Liana Reis de Silva, psicóloga, especialista em psicologia de casal, família, infância e adoção, seu blog recebe mais de 15.000 visitantes ao mês, o http://www.psicologiaeadocao.blogspot.com.