"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

Mostrando postagens com marcador parto na água. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador parto na água. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O parto natural e a compreensão

Para um parto natural e/ou em casa não é preciso coragem, é preciso compreensão. Quando tudo está em harmonia não existe luta, não existem dúvidas. Hoje um parto desse nível virou luxo, não só porque a mulher precisa estar disponível para se conectar com a sua força primitiva, mas também porque ela precisa desenvolver a compreensão de que o fenômeno do nascimento não um acontecimento médico e mais ainda porque ela precisa abrir portas para conhecer os profissionais certos, que não terão uma postura medicamentosa. 
Cintia Liana

Indicação de livro:
Nascer Sorrindo, Frédérick Leboyer

"O livro 'Nascer sorrindo', do Dr. Leboyer, um obstetra francês que usa técnicas inovadoras no parto, defende que, como a criança está envolta por líquido, que abafa o som e a mantém no escuro durante toda a gestação, quentinha, aconchegada, o momento do parto é extremamente traumático para ela. De repente, luz, barulho, frio. Esse choque afeta a pessoa deixando sequelas irreparáveis em sua personalidade. Por isso ele mantém as salas de parto na penumbra e silêncio. A criança é, depois de 'expulsa', imediatamente envolta de modo a manter-lhe o calor e sua adaptação ao meio externo é feita gradual e lentamente. Depois de alguns meses de aplicação da técnica, foi convocada uma reunião para avaliar os resultados e chegou-se à conclusão de que os bebês nasciam sorrindo, pois o parto se dá sem violência."

"L'Arte di Partorire", livro de Frédérick Leboyer em italiano
Vem com alguns exercícios simples, e com técnicas orientais de canto e de respiração propostas em um CD anexo ao livro

"O Renascimento do Parto"

O primeiro parto de Gisele Büdchen"


"O pré natal com uma parteira é muito diferente." (Andrea Santa Rosa)

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Doulas, obstetrizes, ginecologistas e obstetras - a diferença na Itália


Foto: Bebê Atual



Por Cintia Liana Reis de Silva

A gente muda de país e depois de 6 anos ainda tem um montão de coisas interessantes para descobrir sobre a língua, os símbolos, a subjetividade da comunicação e o significado de muitas outras coisas. Como sou uma profissional de saúde, da mente, estou sempre pesquisando e tentado tirar todos os véus de preconceitos que muitas vezes podem cair diante dos nossos olhos. 

Essa semana descobri que aqui na Itália também tem a profissional "doula", que tem o mesmo nome usado em português, que vem do grego "mulher que serve". Mas, infelizmente, é uma profissional nada difundida no cenário da gestação, parto e pós parto. Nunca ouvi falar aqui. Quem me deu essa informação foi a minha terapeuta, a única pessoa que conheço que conhece (ou que me falou dessa profissão) esse trabalho aqui na Itália. Parece surreal.

Outra coisa interessante, mas essa eu já sabia, é que a "ostetrica" não é a obstetra em português, é a obstetriz e eu pensava que fosse a doula. Esta é muito comum até nos hospitais, mas infelizmente a sociedade ainda tem o médico como o principal sujeito nesse cenário do nascimento, mas as obstetrizes explicam que a gestação, o parto e o pós parto não são fenômenos médicos, mesmo que exijam conhecimento e cuidados e que elas é que devem acompanhar, pois o médico deve acompanhar as gestantes que tenham problemas ou alguma doença, enquanto o trabalho delas (das obstetrizes) é também de fazer a mulher entrar em contato com a sua gravidez em muitos outros níveis que vão além do consciente, então trata-se de um acompanhamento de educação emocional para esse momento de sua vida. 

No Brasil o ginecologista e o obstetra podem ser profissionais distintos, são duas residências diversas, mas na Itália todo ginecologista também faz o trabalho de um obstetra, então não tem tradução para obstetra em italiano, aqui na Itália é sempre "ginecologo".

O psicólogo deveria fazer parte de todo esse processo. Os profissionais deveriam trabalhar em equipe, mas não é bem assim e o psicólogo aqui na Itália praticamente não existe no mundo do nascimento.

Um estrangeira, que chega na Itália sem entender isso faz como a maioria, sem informação da melhor qualidade, ou seja, vai ao "ginecologo" e dá a luz num hospital, que segundo as obstetrizes italianas, é o lugar mais impróprio e frio para o parto, consideram a casa "a toca" da mulher "partoriente" e puérpera, o lugar mais caloroso e seguro para um parto consciente, onde ela é capaz de ser ela mesma e seguir o fluxo da vida. Mas as obstetrizes também trabalham em clínicas e hospitais públicos e particulares. 

Elas não usam o termo "parto humanizado" porque, segundo elas, remete a caridade, então elas usam o termo "parto respeitoso" ou "parto normal".

Pesquisando e ouvindo algumas obstetrizes e observando tudo em torno tenho descoberto como ainda existe um mundo de ignorância sobre a realidade sutil e prática do universo do nascimento. Hoje é um luxo poder parir na água, por exemplo, seja em casa ou numa boa clínica, com o devido respeito à mãe e ao bebê. Quem tem que fazer o movimento de mudança somos nós, com o nosso conhecimento.


Por Cintia Liana Reis de Silva

sábado, 5 de novembro de 2016

Um livro que fortalece e empodera as mães

Um livro que fortalece e empodera as mães.

O melhor livro que já li sobre maternidade, nascimento e vínculo entre mãe e bebê.

"A maternidade e o encontro com a própria sombra"





Por Laura Gutman
Este é um livro escrito para mulheres. Não pretende ser um guia para mães desesperadas. Ao contrário, é uma espécie de “alto lá!” no caminho para que possamos pensar como mães que estão criando seus filhos, com nossas luzes e sombras emergindo e explodindo em nossos vulcões em chamas.
Muitos aspectos ocultos de nossa psique feminina são desvelados e ativados com a chegada dos filhos. Estes momentos são, habitualmente, de revelação e de experiências místicas se estivermos dispostas a vivê-los nesse sentido tais e se encontrarmos ajuda e apoio para enfrentá-los. Também são uma oportunidade de reformularmos as ideias preconcebidas, os preconceitos e os autoritarismos encarnados em opiniões discutíveis sobre a maternidade, a criação dos filhos, a educação, as formas de criar vínculos e a comunicação entre adultos e crianças.
Este livro pretende abordar a experiência vital da maternidade como vibração energética mais do que como pensamento linear.
Trazer as experiências que todas as mulheres atravessam como se fossem únicas, sabendo, ao mesmo tempo, que são compartilhadas com as demais fêmeas humanas e fazem parte de uma rede intangível em permanente movimento. Mesmo sendo muito diferentes umas das outras, as mulheres ingressam em um território onde circula uma afinidade essencial comum a toda mãe. Refiro-me ao encontro com a experiência maternal como arquétipo, em que cada uma se procura e se encontra em um espaço universal, mas buscando também a especificidade individual.
Por meio de diversas situações cotidianas, descreveremos um leque de sensações em que qualquer mulher que se tenha tornado mãe poderá facilmente identificar. Paradoxalmente, o uso da linguagem escrita como ferramenta para transmitir essas experiências pode ser um obstáculo, pois atende a uma estrutura em que vários elementos vão se ordenando para construir um discurso. A abordagem do universo da psique feminina, que pertence a uma construção oculta do ponto de vista de nossa cultura ocidental, então se complica. Nesse sentido, para acessar e compreender este livro, serão muito úteis a intuição ou as sensações espontâneas que nos permitam fluir com o que nos acontece quando percorremos alguma página escolhida ao acaso.
De qualquer maneira, é de se imaginar que ficaremos presas à tentação de discutir calorosamente quais são os pontos em que estamos de acordo ou em profundo desacordo. Embora as discussões que venham a surgir entre as mulheres possam ampliar o pensamento, insisto em tentar uma leitura mais emocional, esperando que tenha ressonância no infinito. Ou seja, captar o conteúdo sensorial, imaginativo ou perceptivo, em vez de aprender ou avaliar os conceitos linearmente. Isso tem a ver com deixar abertas as portas sutis e estar atenta às que vibram com especial candura. Permitamos que aquelas que não nos sirvam sigam seu caminho sem nos distrair.
Suspeito que há vários pontos de partida para a leitura: o mais evidente é a partir do “ser mãe”. Espero, também, que o livro seja interessante para as profissionais de saúde, comunicação ou educação que tenham contato com mães, cada uma esperando, com suas próprias ferramentas intelectuais, obter resultados convincentes no que se refere ao comportamento e ao desenvolvimento das crianças.
Acredito que é possível conservar as duas visões simultaneamente; de fato, muitas de nós somos profissionais no campo das relações humanas e também somos mães de crianças pequenas.
Espero conseguir transmitir a energia que circula nos grupos que funcionam dentro da instituição que dirijo, nos quias as mães se permitem ser elas mesmas, rindo dos preconceitos e dos muros que erguem por medo de ser diferentes ou de não ser amadas. Ali foi gestada a maioria dos conceitos que fui nomeando nestes últimos anos e que, tocados por uma varinha mágica, começaram a existir.
Na Escuela de Capacitación Profesional de Crianza, continuamos inventando palavras para nomear o indefinível, os estados alterados de consciência do puerpério, os campos emocionais em que ingressamos com os bebês, a loucura indefectível e esse permanente não reconhecer mais a si mesma. No intercâmbio criativo, as profissionais tentam encontrar as palavras corretas para nomear o que acontece conosco. Arrependo-me de não ter filmado as aulas ou as entrevistas individuais com as mães que nos consultam, porque esse poder, esse florescer dos sentimentos femininos, raramente pode ser traduzido com exatidão pela palavra escrita. Conto, assim, com a capacidade de cada leitora de se identificar com os relatos, imaginando a essência e sentindo que, definitivamente, todas somos uma.
Por último, convido-as a fazer esta viagem juntas, preservando a liberdade de levar em consideração apenas o que nos seja útil ou possa nos apoiar. Esta é minha maneira de contribuir para gerar mais perguntas, criar espaços de encontro, de intercâmbio, de comunicação e de solidariedade entre as mulheres. Esse é meu mais sincero desejo.
Laura Gutman
Sumário

PREFÁCIO

CAPÍTULO 1
Uma emoção para dois corpos

A fusão emocional • As crianças são seres fusionais • Início da separação
emocional • Por que é importante compreender o fenômeno da
fusão emocional? • O que é a sombra? • Por que é tão árduo criar um
bebê? • As depressões pós-parto existem ou são criadas? • O caso Romina
• A perda de identidade durante o puerpério • Entre o externo e
o interno.

CAPÍTULO 2
O parto

O parto como desestruturação espiritual • Institucionalização do parto • A submissão durante o parto ocidental: rotinas • Reflexões sobre os maus-tratos • A opção de parir cercada de respeito e cuidados • Acompanhar o parto de cada mulher • Existe um lugar absolutamente ideal para parir? • Parto e sexualidade • Recordando meu segundo e terceiro partos.

CAPÍTULO 3
Lactação

Amamentar: uma forma de amar • O encontro com seu eu • O início da lactação • As rotinas que prejudicam a lactação • O bebê que não engorda • O caso Estela • Há mulheres que não têm leite? • Os bebês que dormem muito • O caso Sofia • Algumas reflexões sobre o desmame • Valéria quer desmamar sua filha.

CAPÍTULO 4
Transformar-se em puérpera

Preparação para a maternidade: ao encontro da própria sombra • A relação amorosa no pós-parto • A doula: apoio e companhia • Feminilizar a sexualidade durante o pós-parto.

CAPÍTULO 5
O bebê, a criança e sua mãe fusionada

As necessidades básicas do bebê do nascimento aos 9 meses • O olhar exclusivo • A capacidade de compreensão das crianças pequenas (falar com elas) • Recursos concretos para falar com as crianças • Estrutura emocional e construção do pensamento • Separação emocional e comunicação • Cuidados com as crianças “com problemas” • O caso Norma • O caso Constanza • Cada situação é única.

CAPÍTULO 6
Apoiar e dividir: duas funções do pai

O papel do pai como esteio emocional • Confusão de papéis nos tempos modernos • E quem apoia o pai? • O papel do pai como separador emocional • Outros separadores • O caso Pablo • Manter o lugar do pai mesmo que esteja ausente • Criar os filhos sem pai • As crianças que acordam à noite: a importância da figura paterna • Funções feminina e masculina na família.

CAPÍTULO 7
As doenças infantis como manifestação da realidade emocional da mãe

Materialização da sombra • Uma visão diferente das doenças mais frequentes na primeira infância • Os resfriados e a mucosidade • Asma • O caso Eloísa • Alergias • Infecções • O caso Rodrigo e sua mãe • Problemas digestivos • Comportamentos incômodos: o caso Florencia • O caso Marcos: fusão emocional, música e linguagem.

CAPÍTULO 8
As crianças e o direito à verdade

Verdade exterior • Verdade interior • A busca da própria verdade • A verdade nos momentos difíceis • A verdade nos casos de adoção • O caso Bárbara (dar um novo significado à morte de um ente querido) • O caso Sandra.

CAPÍTULO 9
Os limites e a comunicação

As crianças precisam de mais limites ou de mais comunicação? • Para ouvir o pedido original: acordos e desacordos • O uso do “não”, um recurso pouco eficaz • As crianças tiranas • O tempo real de dedicação exclusiva às crianças • Os “caprichos” quando nasce um irmão • As crianças e as exigências de adaptação ao mundo dos adultos • A loucura das festas de fim de ano nos jardins de infância • O estresse das crianças • O caso Rodrigo.

CAPÍTULO 10
Prazer das crianças, censura dos adultos

O controle natural dos esfíncteres e o autoritarismo dos adultos • O controle noturno dos esfíncteres • O caso Brígida • A sucção: prazer e sobrevivência • A água, essa doce sensação • Ao baleiro da esquina, com amor • Crianças, alimentação e natureza • Exigências e alternativas na hora de comer.

CAPÍTULO 11
Comportamentos familiares na hora de dormir

Transtornos do sono ou ignorância sobre o comportamento previsível do bebê humano? • A noite e os bebês de zero a dois anos • No compasso das opiniões • As crianças com mais de dois anos que acordam à noite • Procura-se um separador emocional (para ler com o homem) • As crianças também querem dormir.

CAPÍTULO 12
Crianças violentas ou crianças violentadas?

Algumas reflexões sobre a violência: ao conhecimento de si mesmo • Violência ativa e violência passiva: um guia para profissionais • O caso Roxana • Crianças agressivas: reconhecendo a própria verdade • As crianças que provêm de famílias violentas • Crianças que sofreram abusos emocionais ou sexuais: abuso entre crianças • A negação salvadora: o caso Rubén e o caso Leticia • A visão profissional.

CAPÍTULO 13
As mulheres, a maternidade e o trabalho

Maternidade, dinheiro e sexualidade • A confusão de papéis nos trabalhos maternos • As instituições educacionais • Em busca do ser essencial feminino.

EPÍLOGO

Fonte: http://www.lauragutman.com.ar/libros/a-maternidade-e-o-encontro-com-a-propria-sombra-brasil/

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A medicalização e a tecnologização da gravidez e do parto

Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva

Procurando e pesquisando por um parto em casa e/ou na água é que entendemos, muitas vezes, como hoje a medicina tradicional está, de fato, medicalizando, tecnologizando e adoecendo a gravidez e o parto, e o mais surpreendente é como as pessoas, em geral, estão sendo levadas por essa cultura, essa moda ocidental e capitalista que está tomando proporções gigantescas, de achar que é mais natural uma gravidez com riscos e complicações, que precise de recomendações especiais e precauções e milhares de análises, que uma gravidez serena, sem problemas que termine com um parto natural, ou seja, que é a coisa mais natural, afinal a gravidez e o parto não são fenômenos médicos, são fenômenos da natureza humana. 

Normalmente, quando uma mulher diz que fará o parto em casa ou na água alguém sempre comenta, "se não tem nenhum problema ou contra indicação pode ser bom". É como se ter algum problema fosse a coisa mais esperada. E "pode ser bom?". Mulheres que pariram em casa descrevem o evento como um momento de extremo acolhimento, dos mais re-confortantes, encantadores, serenos, em que se deram conta da força humana, da força feminina que têm, como uma experiência magnífica, de nascimento de uma nova e inteira mulher. Já outras contam os traumas que sofreram durante a permanência no hospital, a falta de respeito, os maus tratos antes e depois do parto. Claro que aqui não estou generalizando, afinal não fiz uma pesquisa com todas as puérperas do mundo, mas é com base no que já vi, ouvi, pelas pacientes que vieram até mim e nos livros e artigos científicos que já pesquisei.

O meu primeiro parto foi num hospital público católico, muito bem conceituado na cidade de Roma, a alguns kms de minha casa, que valoriza o parto natural. Aqui na Itália não existem motivos muito fortes para uma mulher buscar um hospital particular, só se ela quiser algo mais individualizado ou alternativo. Esse foi o meu hospital de referência além da clínica da minha ginecologista, onde eu fazia as consultas de rotina e as ecografias (Ultra-Sonografias), como chama aqui na Itália. Essa mesma ginecologista é obstetra do mesmo hospital. Quando comecei as sentir as contrações antes do parto me direcionei ao pronto socorro e fui mal atendida pela primeira médica. Com o andar do trabalho de parto, fui bem tratada por alguns funcionários, por outros nem tanto. Foi um longo percurso de trabalho natural seguido de um cesáreo, porque a minha filha não saía. Fizeram tudo em um tempo coerente, mas me deram ocitocina para apressar o parto, o que é desnecessário e no Brasil não é recomendado, mas eu estava na Itália. Eu estava bem preparada, estava usando a magnífica terapia floral, vinha de um percurso precedente de terapia e depois fui fazer terapia novamente 10 meses depois, na abordagem de Somatic Experiensing na cidade onde moro, para trabalhar as minhas questões relacionadas a esse percurso que inicialmente me fragilizou, mas depois eu busquei o caminho do grande fortalecimento. Amamentei a minha primeira filha até os 2 anos e 2 meses, a carreguei muito no colo, escrevi textos sobre a relação mãe e bebê e sobre neonatologia. Fui e sou mãe com toda a força. Fiz algumas constelações familiares paralelamente ao início de minha formação em constelações familiares e senti, 3 anos e 3 meses depois, que estava novamente preparada física e emocionalmente para ter outro filho ou filha. O meu marido já pedia e agora também sinto que é o tempo da minha primeira filha, de ganhar um irmão ou uma irmã. 

Mas nem todas as mulheres têm esse privilégio, nem de terem as informações certas ao seu alcance, ou de serem psicólogas e terapeutas florais ou de terem capital necessário para investirem em terapia, então ficam traumatizadas por um tratamento do parto que poderia ser bem mais respeitoso. Não direi humanizado, porque aqui na Itália não se usa esse termo, se diz "parto respeitoso", o humanizado ganha uma conotação de caridade. Enfim, hoje valorizo muito o percurso do meu primeiro parto e hoje busco fazer um segundo como imagino e sinto ser mais pleno (indico conhecerem a história dos três partos de Andréa Santa Rosa). Agora que estou planejando um parto na água, existe até essa "cultura" em minha família, e me dei conta de que isso não é só para quem pode pagar (e hoje já tem hospitais que fazem de graça), não, esse tipo de parto é para quem tem força de vontade de ir buscar, pesquisar, é para uma mente privilegiada que não tem medo de fazer diferente para si mesmo, para quem acha que merece.

Todos nós sabemos que o cesáreo só deve ser indicado para mulheres quando o natural presenta algum risco ou se tem algum impedimento, que intervenções médicas no parto são desnecessárias e algumas até contra indicadas pela OMS e que a alma feminina pede pelo parto natural.

E é planejando uma segunda gestação, mais madura, experiente e preparada é que descobrimos quantos mistérios incríveis moram atrás da natureza da mulher que urge pelo parto natural. Dessa liberação na hora da saída do bebê. Mesmo atuando como psicóloga há mais de 15 anos, tem muitas coisas que ainda estou descobrindo sobre esse universo incrível que é a maternidade e o nascimento, então se eu começasse a descrever aqui o que venho descobrindo daria um livro, então quem sabe eu não conto um pouco disso tudo em meu terceiro livro, sobre os mistérios e do poder de criar filhos felizes dentro de uma perspectiva da terapia familiar e das constelações familiares?

Uma das coisas que foram como gritos em meu ouvidos, como enormes insights foi perceber a quantidade excessiva de ultrassonografias que são indicadas em 9 meses. Aqui na Itália a primeira ecografia é indicada a partir do 3º ou 4º mês de gestação. No Brasil, já no final do segundo mês, ou seja, caminhando para fechar o segundo mês, as pessoas já estão fazendo. Aqui na tália, uma mulher que é acompanhada por uma doula e que fez a escolha de parir na água, faz somente uma ultra em toda uma gestação e até tem aquelas que resolveram não fazer nenhuma, porque não encontraram razões para duvidar que algo poderia estar errado. 

Eu tinha a dúvida e pensava que no Brasil as coisas estivessem mais avançadas que aqui na Itália, mas não, é o contrário, a difusão maciça do "parto humanizado" diz exatamente para as pessoas acordarem, por terem um sistema público de saúde precário, quase falido e o particular ser uma fábrica de dinheiro. O Instituto BBC (ver referência 1) em abril de 2014 mostrou que a desvalorização do parto normal tornou o Brasil líder mundial em cesáreas. 

Outro ponto é que hoje existe a dúvida cada vez mais presente se a ultrasom não causa nenhum mal a mãe e bebê. O Jornal O Globo (ver referência 2) publicou que uma pesquisa realizada por especialistas da clínica Mayo, em Rochester, nos EUA, e publicada na Revista "New Scientist", mostrou que a ultrasom expõe o feto a sons tão altos quanto os produzidos por um trem de metrô e dizem que os médicos devem evitar apontar o aparelho para o ouvido do bebê. O mesmo estudo diz que o ultrasom produz vibrações secundárias no útero, o que seria nocivo. O médico Sérgio Simões, ex-vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ultra-Sonografia, discorda dessa última afirmação, mas faz uma ressalva, que o número de ultra-Sonografias não deve passar de quatro recomendadas, a não ser em casos de extrema necessidade. 

Outra questão é a amniocentese. Aqui na Itália muitas gestantes fazem amniocentese como se fosse uma etapa importante e não como uma indicação, caso algum exame anterior não invasivo (como o Bi-test ou o Prenatal Safe Test) mostre a necessidade de aprofundar o conhecimento de possível alterações fetais. Para quem não sabe, a amniocentese comporta o risco de perda do bebê, mas mesmo sem uma necessidade real é indicada por muitos ginecologistas italianos. 

Hoje já se diz aqui na TV italiana (a TV, que é um meio de comunicação muito duvidoso e que perpetua ideias arcaicas) que após um cesáreo é muito mais indicado o parto o natural, o que chamam de VBAK (Vaginal Birth After Cesarean), parto vaginal depois de um cesáreo. Esse assunto é vastíssimo, tratado em congressos direcionados somente a esse argumento.

A quantidade de exames clínicos também é imensa. Uma verdadeira fábrica de dinheiro são todos esses procedimentos, então quem acredita fielmente na medicina tradicional e não tem ou não busca outras alternativas acaba virando refém desse sistema de crenças e dessa máfia que é claramente a construtora desses valores que giram em torno da gravidez como doença. Isso sem contar com a indústria médica para a cura ou para o tratamento da infertilidade. Nesse aspecto também incluem falta conhecimento, humildade e até generosidade do médico para indicar terapia para o casal. Pois nesse caso, que é uma de minhas especialidades, posso dizer com certeza que um casal pode ser capaz de conseguir ter um filho com o acompanhamento psicológico correto, mas é preciso abertura e sensibilidade para o tratamento das questões subjetivas envolvidas nesses bloqueios emocionais que afetam o físico e tratar a energia do campo familiar, superando essas dificuldade e liberando toda a família desse bloqueio.

Se mudarmos os nossos hábitos o mundo muda. Em meio a toda essa cultura capitalista imposta pelas grandes elites, o indivíduo ainda tem a livre escolha de procurar informações, de estabelecer outra cultura dentro do seu lar e da sua família, a cultura de enxergar o que a vida tem de mais sutil, e de conversar com quem trabalha por um futuro mais humano e respeitoso para todos.

Por Cintia Liana Reis de Silva

Referências:
1 - http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/04/140411_cesareas_principal_mdb_rb

2 - http://www.e-familynet.com/phpbb/ultrassom-faz-mal-t332414.html

Indicação de leitura:
Gutman, Laura. A maternidade e o encontro com a própria sombra. Best Seller.
Resumo do livro:
http://www.lauragutman.com.ar/libros/a-maternidade-e-o-encontro-com-a-propria-sombra-brasil/