Foto: Bebê Atual
Por Cintia Liana Reis de Silva
A gente muda de país e depois de 6 anos ainda tem um montão de coisas interessantes para descobrir sobre a língua, os símbolos, a subjetividade da comunicação e o significado de muitas outras coisas. Como sou uma profissional de saúde, da mente, estou sempre pesquisando e tentado tirar todos os véus de preconceitos que muitas vezes podem cair diante dos nossos olhos.
Essa semana descobri que aqui na Itália também tem a profissional "doula", que tem o mesmo nome usado em português, que vem do grego "mulher que serve". Mas, infelizmente, é uma profissional nada difundida no cenário da gestação, parto e pós parto. Nunca ouvi falar aqui. Quem me deu essa informação foi a minha terapeuta, a única pessoa que conheço que conhece (ou que me falou dessa profissão) esse trabalho aqui na Itália. Parece surreal.
Outra coisa interessante, mas essa eu já sabia, é que a "ostetrica" não é a obstetra em português, é a obstetriz e eu pensava que fosse a doula. Esta é muito comum até nos hospitais, mas infelizmente a sociedade ainda tem o médico como o principal sujeito nesse cenário do nascimento, mas as obstetrizes explicam que a gestação, o parto e o pós parto não são fenômenos médicos, mesmo que exijam conhecimento e cuidados e que elas é que devem acompanhar, pois o médico deve acompanhar as gestantes que tenham problemas ou alguma doença, enquanto o trabalho delas (das obstetrizes) é também de fazer a mulher entrar em contato com a sua gravidez em muitos outros níveis que vão além do consciente, então trata-se de um acompanhamento de educação emocional para esse momento de sua vida.
No Brasil o ginecologista e o obstetra podem ser profissionais distintos, são duas residências diversas, mas na Itália todo ginecologista também faz o trabalho de um obstetra, então não tem tradução para obstetra em italiano, aqui na Itália é sempre "ginecologo".
O psicólogo deveria fazer parte de todo esse processo. Os profissionais deveriam trabalhar em equipe, mas não é bem assim e o psicólogo aqui na Itália praticamente não existe no mundo do nascimento.
Um estrangeira, que chega na Itália sem entender isso faz como a maioria, sem informação da melhor qualidade, ou seja, vai ao "ginecologo" e dá a luz num hospital, que segundo as obstetrizes italianas, é o lugar mais impróprio e frio para o parto, consideram a casa "a toca" da mulher "partoriente" e puérpera, o lugar mais caloroso e seguro para um parto consciente, onde ela é capaz de ser ela mesma e seguir o fluxo da vida. Mas as obstetrizes também trabalham em clínicas e hospitais públicos e particulares.
Elas não usam o termo "parto humanizado" porque, segundo elas, remete a caridade, então elas usam o termo "parto respeitoso" ou "parto normal".
Pesquisando e ouvindo algumas obstetrizes e observando tudo em torno tenho descoberto como ainda existe um mundo de ignorância sobre a realidade sutil e prática do universo do nascimento. Hoje é um luxo poder parir na água, por exemplo, seja em casa ou numa boa clínica, com o devido respeito à mãe e ao bebê. Quem tem que fazer o movimento de mudança somos nós, com o nosso conhecimento.
Por Cintia Liana Reis de Silva
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