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Por Cintia Liana Reis de Silva
Após o parto, a mulher, ao mesmo que tempo que vive um momento especial, feliz, tenso, delicado e se vê por horas perdida tentando se encontrar neste novo cenário em meio ao choro do bebê nas horas em que menos espera, é “obrigada” a continuar a viver dentro das regras sociais, segundo, normalmente, o que esperam as pessoas ao seu redor.
Com o nascimento do filho, a mulher entra num mundo desconhecido, cheio de novas sensações, boas e assustadoras, mas que são reais e naturais. O corpo muda por algumas semanas e até meses e algumas mulheres nem se “reconhecem” mais.
No caso do parto cesário, a cicatriz inicialmente é um símbolo traumático e agressivo, já que é uma intervenção cirúrgica desnecessária, em virtude do parto natural ser o processo gravado nas mais subjetivas células do corpo e nas profundezas da mente como o natural, ainda mais para a mulher que espera parir naturalmente e tem que fazer um parto cesário de urgência por algum motivo.
Subitamente, após o nascimento do filho, sobretudo o primeiro, ocorre uma desestruturação física e emocional onde se perde os instrumentos que se usa para construir a identidade, como o trabalho, o divertimento, o contato social, substituídos pelas solicitações de um novo ser, pequeno e frágil.
A mulher puérpera começa a ver o mundo com “os olhos do bebê“, tem a capacidade de sintonizar-se na mesma frenquência dele, por isso consegue interpretar suas necessidades e, por vezes, sente-se em um outro mundo, está sensível emocionalmente e tem sentimentos confusos. Pode entrar em processos regressivos e estar mais sensível e intuitiva. No puerpério acontece uma abertura no espírito (GUTMAN, 2008).
Nos dias de hoje a mãe, mesmo com todas essas sensações, é obrigada a voltar para o mundo do trabalho como se nada tivesse acontecido, sufocar suas fragilidades e negar a necessidade de estar conectada 100% com o seu bebê. Isso gera um conflito: a profissional que deseja sentir-se a mesma com o trabalho e a mãe que deseja estar com o filho, num mundo onde existem pouquíssimos lugares confortáveis adaptados para os dois. Essa mulher deve aprender muitas coisas novas, incluindo como locomover-se com a criança (GUTMAN, 2008).
A nova mãe, incluindo as adotivas, quando está em meio a pessoas, e seu pequeno filho chora, antes dela poder observá-lo e tentar sentir o que ele necessita já tem duas ou três pessoas opinando e dizendo: “ele deve estar com cólicas!”, “será que está com fome?”, “ele está com sono!”, como se o choro do bebê fosse desconcertante, e é, já que as pessoas se sentem intimamente incomodadas, deixando a mãe agitada e nervosa. Ao invés disso, deveriam aceitar o choro como algo natural e deixá-la tranquila, encarregada de reconhecer e satisfazer as necessidades do bebê.
Com todas essas mudanças e possíveis desorientamentos na vida de um ser humano, ao invés de se disparar conselhos e críticas por toda a parte como se ela não soubesse o que fazer, a mãe puérpera ou a que acabou de adotar, precisa de contenção afetiva, acolhimento, compreensão e aceitação das suas próprias emoções. Os conselhos muitas vezes são inúteis, pois se deve levar em consideração a história emocional e familiar, os modelos intergeracionais de cada mulher, suas necessidades que provém do lugar mais profundo de seus corações, suas fragilidades, dificuldades, medos, resistências em seu ser adulto e infantil e ajudá-la a descobrí-las e não querer moldá-la, julgá-la ou fazer com que se comporte de acordo como espera a sociedade, a mãe ideal e imaginada e, ao mesmo tempo, irreal.
Quem vê de fora não consegue compreender o universo em que essa mulher está imersa e nem entender o mundo daquele pequeno ser que acabou de nascer. Os estudiosos do fenômeno fusional explicam que entre mãe e bebê se estabelecem leis incompreensíveis à lógica racional, mas que são normas para a tranquilidade dos dois (GUTMAN, 2008).
Médicos, familiares, amigos e vizinhos, muitas vezes tentam opinar, interpretar com olhos de “adultos”, pensando que estão ajudando, mas ao contrário disso causam um bruto impacto pessoal, uma sensação de antipatia e falta de respeito para a mulher que está construindo a identidade de mãe. Melhor seria oferecer informações ao outro como indivíduo único e diferenciado e ajudá-la a reconhecer, acolher e aceitar as suas necessidades e a sua intuição. E não impor que a mulher “seja como todo mundo e volte ao normal”, num mundo onde tudo corre na velocidade da luz, mas respeitar o seu novo ritmo, o seu silêncio e que ela acolha do modo que achar mais amoroso o seu filho, aquele novo ser que ela está aprendendo a amar.
Artigo da psicóloga Cintia Liana Reis de Silva publicado no site Indika Bem no dia 07 de março de 2013.
link: http://indikabem.com.br/psicologia/quando-nasce-uma-nova-mae/
GUTMAN, Laura. La maternità y el incuentro con la propria ombra. Buenos Aires: Editorial Del Nuevo Estremo, 2008.