Como profissional, tenho minhas sérias ressalvas sobre "dar" um irmãozinho antes dos 3 anos e meio, 4 anos, mas achei esse texto muito interessante.
Foto e texto retirados do blog Equilibrosa
* Era "meu irmãozinho" pra cá, "meu fofinho" pra lá, "bebezinho lindo" e tal, e eu cheguei a achar que tinha conseguido a façanha das façanhas: levar um recém-nascido para casa, virar a rotina do irmão de 3 anos de cabeça pra baixo, e escapar das tão faladas crises de ciúme... Tinham me avisado que faz parte, que ele aparece de um jeito ou de outro, mas... Quem sabe eu não seria presenteada com o improvável? Até que um dia estávamos eu e os meninos na sala, eu dando papinha pro bebê, quando vi voar, sem qualquer aviso prévio, rumo à tela da TV, o tão querido boneco do Woody. Repreendi, reclamei, questionei, e a justificativa que eu ouvi foi: "É que eu preciso que um adulto cuide de mim, mãe!"
Essa história não é pra desanimar ninguém - até porque cada criança é uma, e eu continuo achando que uma combinação de circunstâncias pode mesmo levar a um caso raro de crise zero. Mas vamos pensar: você está lá, vivendo feliz e tranquilo no seu mundo, acostumado com o ritmo das coisas, quando alguém aparece e relativiza tudo. E o pior: todo mundo diz que esse alguém é lindo e fofo e que você deve amá-lo, ainda que ele esteja ocupando seu colo favorito... Dureza, não é? O ciúme, como se vê, faz um sentido danado, mas quase sempre fica fora do “projeto irmãozinho”. Na maioria das vezes, não nos preparamos pra ele, embora ele seja tão real quanto a alegria de aumentar a família. E dá trabalho lidar com esse cenário, que não faz parte do nosso ideal, e que, por isso, talvez fira mais os pais do que as crianças envolvidas. Elas, mais cedo ou mais tarde, vão se acertar.
Mais de seis meses depois do voo do Woody, tenho aqui um irmão mais velho cheio de amor pra dar, mas muita água já passou por debaixo da ponte. Ele nunca fechou a cara pro irmão, mas já vimos muito choro "sem explicação", muita agitação acima da média. A saída, arrisco dizer, foi dar nome aos bois. Deixar de idealizar nossos filhos talvez seja uma das maiores ajudas que podemos oferecer, e é fundamental para um outro passo importante: encorajá-los a admitir, eles mesmos, o que não está bom. O choro e a pirraça foram diminuindo, ao longo dos meses, na mesma medida em que as reclamações foram tomando forma e sendo ouvidas.
E nem de longe essas reclamaçōes impediram o fortalecimento do vínculo entre os irmãos. Risadas do caçula e declarações de amor do mais velho aparecem a toda hora. Dias atrás ele me disse que o neném, o mesmo que o atrapalha a montar seus bonecos de Lego e que chora alto demais, é "o irmão que ele sempre quis". Sim, porque idealização é coisa de adulto...
* Texto publicado originalmente na revista "Viver e crescer"
Fonte: http://www.equilibrosa.com/blog/2015/11/30/cad-o-colo-que-estava-aqui
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