Google Imagens
Google Imagens
Por Cintia Liana Reis de Silva
(Texto publicado na Itália)
Eu tenho uma responsabilidade, sou uma formadora de opinião e não posso ser uma falsa moralista, medíocre e hipócrita, sou uma militante, uma ativista e lamento constatar que estamos na "pré- história" da mente humana, como disse Edgar Morin. Mas não quero ser uma vítima da história, eu quero participar da história, e você? Seja feliz e deixe os outros serem também. Não precisamos ser homossexuais, negros, portadores de deficiência, idosos, pobres, estrangeiros e crianças para lutar a
(Texto publicado na Itália)
Nesse período muito se fala na Itália sobre o casamento homossexual e se debate sobre as possíveis implicações que as uniões civis podem criar no nosso tecido social, em particular sobre a possibilidade de adotar e por isso senti a necessidade de contribuir através desta reflexão. Trabalho com adoção e avaliação psicológica há mais de 14 anos. Avaliei centenas de casos ao ano na 1ª Vara da Infância e Juventude de Salvador até 2009. Um dos meus livros publicados no Brasil em 2011 fala dos aspectos psicológicos da construção da família através da adoção. Escrevi dezenas de textos publicados sobre adoção e psicologia de família, sou uma pesquisadora. Me tornei um dos quatro psicólogos mais conhecidos no Brasil experts em adoção, chamada carinhosamente de "Fada da adoção" pela mídia e pelos pais. Moro na Itália por amor e não por necessidade e vim também a convite de trabalho, para ajudar casais italianos a adotarem crianças brasileiras, pela minha credibilidade e respeito, que muito orgulhosamente conquistei, e pelo trabalho que realizo com compromisso com a causa das crianças sem família. Neste momento, em que se discute na Itália o matrimônio gay, diante do grande temor da possibilidade da adoção de crianças por casais homossexuais, quero dizer que sou contra a ignorância e a obtusidade. O conhecimento e o amor podem salvar o mundo. Conheci por razões profissionais e tenho amigos com famílias compostas de dois pais e duas mães, feitas de amor, respeito e muita dignidade. Um filho adotado por um casal homossexual não se torna gay ou é infeliz por isso. O preconceito é que faz sofrer e não podemos nos dobrar diante dos preconceitos, mas educar quem ainda não ceita a necessidade de crescer e respeitar.
Existem filhos biológicos que crescem bem só com uma mãe ou um pai solteiro e, do mesmo modo, podem crescer com uma mãe ou um pai adotivo solteiro ou com dois pais ou duas mães e naturalmente escolherá fora do subsistema conjugal, composto por seus pais adotivos, uma outra figura substitutiva do gênero sexual oposto para tê-lo outro ponto de referência, que pode ser um tio ou uma tia, um avô ou uma avó, ou também um amigo ou uma amiga muito próxima da família, tendo assim uma vida sadia e crescendo muito bem, se faz parte de uma família harmoniosa, com pais maduros, e isso não está ligado à orientação sexual. É importante salientar que quem adota deve passar por um processo que avalia a pessoa em todos os sentidos, e se é psicologicamente equilibrado, capaz de criar e educar bem uma criança e a orientação sexual não é absolutamente um indicativo porque os critérios de avaliação apontam para a relação consigo mesmo e com a vida e se o desejo de adotar é baseado numa vontade genuína de ter um filho e não em outros objetivos escusos
ou patológicos.
É contraditório quando certas pessoas que vivem em um país onde o aborto é legalizado (com algumas restrições), hipotetizam as mais assustadoras fantasias sobre a adoção por casais do mesmo
sexo, sem conhecer ninguém que vive esta realidade. Essas pessoas demonstram não ter nenhum pudor, como se estivessem realmente preocupadas com as crianças sem família, mas nunca fizeram uma visita a um abrigo ou a uma casa lar para dar atenção ou apoio emocional às crianças que lá vivem.
Existem tantas famílias de pais heterossexuais que vivem em verdadeiras "guerras familiares", feitas de traições, mentiras e segredos, com pais fracos ou autoritários, desonestos, invasivos, super protetores, desrespeitosos, com valores éticos equivocados, que repetem os modelos familiares intergeracionais adoecidos, e criam filhos desequilibrados, depressivos, infelizes, rebeldes disfuncionais, que têm um péssimo relacionamento consigo mesmos e com os outros, que colocam no mundo outros filhos ainda mais infelizes, e se permitem de expressar pensamentos plenos de preconceito, sem jamais terem lido nada a respeito, sem informações de fontes científicas e objetivas, falando dos homossexuais como se não fossem humanos, como se a homossexualidade fosse uma doença. Essas pessoas não querem crescer, mudar, ao invés disso se reconhecer nas crenças religiosas, familiares e mediáticas mais egoístas. Famílias compostas de pessoas que acreditam que
procurar um psicólogo não é uma necessidade inteligente para conhecer a si mesmo e melhorar o relacionamento com a própria vida e com o mundo, mas como uma última escolha, ou até mesmo uma alternativa para os ditos "loucos".
Antes as mulheres não podiam votar e agora que podem ser até presidentes de um Estado, algumas ousam a ser contra a adoção por casais do mesmo sexo. A sociedade deve amadurecer e evoluir apenas para alguns ou para todos os cidadãos?
Sejamos um poucos menos egoístas, olhemos para além do nosso umbigo, devemos aproveitar este momento para exigir uma reforma geral no campo da adoção, porque existe uma realidade demasiadamente dramática e invisível aos nossos olhos, são 168 milhões de crianças abandonadas para adotar, come explica o presidente da Ai.Bi. Marco Griffini num artigo no site "La Repubblica", escrito por Sara Ficocelli, em 19 de dezembro de 2012. Para entender, "é necessário imaginar colocar em fila indiana, bem pertinho, um atrás do outro: a linha humana que formam dá uma volta no mundo, é longa como a circunferência da Terra". Essas crianças vivem uma realidade de quase prisioneiros, em situação de infelicidade, de abandono e insegurança, são pequenos e sobretudo maiores, que querem somente amor, pais ou mães, segurança efetivo-emocional e educação, independentemente da orientação sexual dos futuros pais, até porque eles foram abandonados por seus genitores heterossexuais. Como disse Lidia Weber em de suas frases, eles querem acreditar que "a história é mais forte que a hereditariedade, que o amor é mais forte que o destino".
Eu tenho uma responsabilidade, sou uma formadora de opinião e não posso ser uma falsa moralista, medíocre e hipócrita, sou uma militante, uma ativista e lamento constatar que estamos na "pré- história" da mente humana, como disse Edgar Morin. Mas não quero ser uma vítima da história, eu quero participar da história, e você? Seja feliz e deixe os outros serem também. Não precisamos ser homossexuais, negros, portadores de deficiência, idosos, pobres, estrangeiros e crianças para lutar a
favor dos direitos deles, basta sermos humanos e termos uma atitude adotiva, ou seja, um coração que adota.
Cintia Liana Reis de Silva é uma psicóloga e psicoterapeuta brasileira, é mãe e casada com um psicólogo italiano. Vive e trabalha na Itália desde 2010. O seu blog www.psicologiaeadocao.blogspot.com recebe mais de 20.000 acessos ao mês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário