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"A criança adotada, como todo filho, não prima pela gratidão antes da aquisição de certa maturidade. Portanto, se você está adotando à espera de gratidão e reconhecimento, sugiro que faça outra coisa. Cabe aos filhos testarem o amor dos pais para saberem se ele é confiável. Ninguém vai precisar tanto desta confirmação quanto uma criança que já foi preterida. Nesse caso, se a criança ousar confiar no seu amor, o que é bom sinal, agirá como um filho demandante e desafiador por algum tempo, esperando tanto amor quanto limite –dobradinha de ouro da criação e que só pais amorosamente investidos têm força para sustentar ao longo do tempo.
Quanto a "fazer o bem", vamos e convenhamos que a escolha por ter filhos implica motivações inconscientes, geralmente ignoradas. Temos filhos por razões que nos escapam e que são profundamente narcísicas. Você quer ter filhos? Não coloque isso na conta deles, assuma suas motivações, sejam quais forem. Ignorá-las só traz ressentimento e raiva.
Quem quer uma gestação nem sempre quer um bebê, e quem quer um bebê nem sempre quer um adolescente, etc. Maternidade e paternidade são funções vitalícias e intransferíveis, enquanto que a fase bebê-criança é rapidíssima em relação ao conjunto da obra."
(Vera Iaconelli)
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