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Por Cintia Liana Reis de Silva
"Todo ser humano precisa da verdade sobre a sua
existência para apropriar-se desta e organizar-se dentro de sua
própria vida". (Cintia Liana)
A chegada do
filho, que é trazido pelos pais adotivos, é tão perfeita como no parto. Na
adoção existe a substituição completa da família de origem, exceto a nível
biológico. (FLARTMAN, 1994)
O Segredo na adoção
pode significar sinal de insegurança dos pais ou de que nem eles
mesmos vêem ou acreditam na beleza da relação adotiva. Medo? Vontade de
encobrir uma possível infertilidade? Receio do filho sofrer preconceito? Sim,
isso é real, mas é algo que precisa ser trabalhado e não levar os pais a
trazerem um outro problema para o filho, ou seja, colocarem nas costas
dele "o peso insuportável e incômodo do segredo".
A criança já cresce
sentindo um mal estar, um tabu relacionado a sua existência, algo que não é
falado, pois é entendido como "feio". O problema que não é falado é a
história dela, da criança. Mais que complicado crescer sem saber o que te
aflige inconscientemente é esse mal estar voltado para a sua própria
história de vida, para o seu nascimento, ou seja, o sentimento em torno de sua
vida e a forma em como chegou está contaminado por algo que não é dito,
que nem os pais, que deveriam ser fortes o suficiente e enfrentar os seus
fantasmas, estão dando conta.
No fundo, essa
história pode ser um eterno fantasma, um peso para toda a família, motivo de
repúdio e fazer com que a criança cresça sentindo um mal estar que ela nunca
conseguirá decifrar, só sentirá que sua vida está ligada a um segredo
indesvendável, segredo este que envolve a forma como ela foi gerada e que
compromete a relação de respeito e confiança com as pessoas que ele deveria
mais confiar, os pais adotivos.
Um ser humano estigmatizado é protegido por
um segredo, mas o segredo também promove a estigmatização. (FLARTMAN, 1994)
Os pais acham que sabem esconder bem, mas a
linguagem vai muito além da falada, da consciente. Há a linguagem do olhar, do
toque, dos gestos e toda a infinidade de linguagens inconscientes que vão
além de nosso controle e entendimento.
Como será tocar no
filho e pensar, "eu não te conto que você nasceu de outra barriga porque
tenho medo de você não me amar como uma mãe de verdade". Ela mesma já
se sente a "mãe de mentira". E quem é a mãe de verdade? Não é aquela
que está junto? Deve ser muito mais difícil pensar isso todas as vezes que
abraçar o filho e crescer nesta culpa, ao invés de abrir a alma, o corpo,
a voz e todas as portas do universo para a verdade mais justa e tranquila, a
verdade que o filho merece, a verdade que não pode ser roubada dele.
Será que é mais fácil omitir, mentir ou
preparar o filho para ser um grande homem, enxergando todo o lado positivo
da adoção e lamentar o que se deve de fato? O segredo serve para quê, proteger
o filho de sua própria história?
A verdade ninguém muda, por pior que ela
seja é a única que existe, o que pode mudar é a nossa postura diante dela,
assim tudo pode ficar mais leve e mais bonito.
Se alimantarmos o segredo, além de
plantarmos em nosso lar a desconfiança estamos, desta forma, aceitando o
preconceito de achar que a relação adotiva é inferior a biológica.
Sobre o segredo e a dificuldade em dar o
espaço merecido à verdade, o adotado fala de uma sensação de vazio, de um
vácuo que causa perturabação e dor. Deve mesmo ser muito assustador e
desnorteante não fazer contato consciente com a sua própria história de vida. Muitas
coisas parecem não fazer sentido. A identidade
do adotado estará intimamente ligada ao segredo.
As pesquisas
científicas revelam que pais adotivos que discutem abertamente e
compartilham informações criam adultos mais seguros e com um senso firme de self. (FLARTMAN, 1994)
A aceitação da diferença é uma variável
importante na previsão de adoções bem sucedidas. Isso é também de
grande importância aos olhos do técnicos que avaliam os candidatos a
habilitação.
Sobre todos os aspectos da adoção, a crianças deve sentir que sua chegada ao mundo foi um acontecimemto especial e que a sua vida vale a pena ser contada.
Referência:
FLARTMAN, A.
Segredos na família e na terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
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