We Heart it
Por Cintia Liana Reis de Silva para a Revista Negócios & Cia (Salvador-BA) e para o Guia Indika Bem (Publicado o dia 25 de junho de 2015)
A cada ano que passa é muito mais fácil ver pais ou futuros pais que entendem o valor de se instaurar a verdade sobre a adoção no lar, que sabem que esse é o caminho a ser trilhado na educação dos filhos, afinal hoje a adoção é um assunto cada vez mais debatido, cujos tabus vêm sendo rompidos e trabalhados. Já escrevi muitos textos sobre o assunto. Não há vergonha alguma em ter sido adotado, ao contrário, houve uma escolha consciente para se formar uma família, onde não foi o acaso que falou mais alto, foi o amor.
Mas como nunca é demais tocar novamente no assunto, proponho mais reflexões.
Os pais devem sempre se lembrar que é preciso falar sobre o processo de tornar-se pai, mãe e filho desde que a criança chega no lar, mesmo que pequenininha. Ela deve saber que os vínculos de amor se formam na convivência e na intenção de amar, de acolher, ou seja, na atitude adotiva. Com todos os membros da família é assim, até com os filhos biológicos.
Não espere que o seu filho pergunte. Se ele não sentir que você está seguro em falar sobre a chegada dele, ele não te perguntará. Então se prepare e entenda que mesmo sem vínculos consanguíneos vocês se amam e nada mudará isso. Faça questão do amor do seu filho, esteja seguro desse amor, esteja seguro de que você o merece. Isso fará bem a todos. Se você não se sente seguro, procure um terapeuta e invista em seu crescimento pessoal, isso certamente refletirá na felicidade do seu filho.
Reflita. Se você descobrisse hoje que o seu filho não é seu filho biológico, isso mudaria o teu amor por ele? Mas seria um choque descobrir isso após 10 anos, não? Então acredite, ser adotado ou não, não muda em nada o amor que o seu filho sente por você, mas saber disso após os dez anos de idade pode ser bem desagradável e traumático.
Ser adotado não é uma deficiência, não é um problema. Se os outros são preconceituosos é um problema deles. Os preconceituosos é que têm uma deficiência. O preconceito reflete um forte dificit de inteligência e visão, é uma grande limitação. Ensine o seu filho a educar as pessoas, a ser um formador de opinião, a falar sobre adoção de uma forma bonita (isso não inclui contar a todos a história dele). O ensine a incluir e a acolher as pessoas que merecem, ao invés de se marginalizar, como se ele fosse um coitadinho, uma vítima do destino. Incluam também a escola nesse diálogo.
Concordando com a psicóloga argentina Laura Gutman, em seu livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra” (Editoral Del Nuovo Estremo, Buenos Aires, 2008, p. 145), parece que as crianças que foram adotadas possuem uma força excepcional e uma determinação enorme para superar dificuldades. Gutman crê que esta qualidade as faz de qualquer maneira donos dessa luz que os outros não veem e de um poder que os outros não detém. Ela diz também que estes encontros devem ser celebrados com um encantamento especial, já que aconteceram porque existiu o desejo de cuidar e amar um filho, e graças a um “chamado insistente” da criança, que de qualquer modo endereçou os pais até ela. São acontecimentos a serem valorizados, compartilhados, festejados como um matrimônio, como um nascimento, como formaturas e não a esconder ou dizer em voz baixa. Merecem ser festejados como uma maravihosa manifestação da força humana.
Já escutei e participei de centenas de histórias de adoção e já senti o quanto essas histórias são fortes e carregadas de amor e intensa emoção: quando se encontra pela primeira vez o filho, quando recebe a certidão de nascimento nova nas mãos, o quanto se festeja e se chora. Então é essa emoção que deve permanecer, que deve ser festejada a cada ano, que deve ser lembrada sempre e que deve servir para incluir as pessoas nessa felicidade.
Os seres humanos, em sua estrutura psíquica neurótica (quando não são psicóticos ou psicopatas), crescem com a sensação de inferioridade e tendem sempre a compreender que o mundo trabalha contra eles, que os desvaloriza, então é um exercício muito importante trabalhar esse padrão neurótico que todos têm e compreender que o outro, assim como nós, tende a achar que o diminuímos, que ele está sendo desvalorizado. A grande tarefa é nos sentirmos importantes por aquilo que representamos de bom, buscando internamente o nosso senso de valor, de humanidade, e só assim poderemos valorizar os outros, criando uma energia de gentileza e respeito que fará bem a todos. Quero dizer com isso que, não olhe para o seu filho como um pobrezinho, pois ele sente e se sente como você o vê. Olhe para ele como um grande homem e passe valores de um grande homem, contado a verdade sobre a sua origem de acordo com o seu grau de maturidade, pois todo ser humano merece integrar e entender a sua história para se sentir dono da sua própria vida, forte e inteiro.
Por Cintia Liana Reis de Silva para a Revista Negócios & Cia (Salvador-BA) e para o Guia Indika Bem (Publicado no dia 25 de junho de 2015)
Fonte: http://indikabem.com.br/filhos/o-valor-da-adocao-e-da-verdade