"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Entrevista Com Tereza Noguerol

Foto: Google Imagens

Entrevista com Tereza Noguerol
Presidente do "Viver Adoção"– Associação de Pais Adotivos (Salvador-BA)


Qual o significado da adoção?
A adoção esta ligada a maternidade e a paternidade, a gente não tem como desvincular isso porque a sua essência é uma maternidade que não é biológica, só que ela está também atrelada a decisão. Maternidade é resultado de um ato sexual, em que um casal ou uma pessoa assume uma criança que foi gerada por si. Na adoção a gente vai assumir uma criança que foi gerada por outrem, então via de regra ela não acontece de forma impensada. Ate mesmo quando se coloca uma criança na porta de casa a gente vai parar e pensar: eu vou assumir essa criança? Sem contar as questões legais. Então uma faceta bonita da adoção é que é um ato voluntario de uma maternidade. Não dizendo que toda maternidade é involuntária, não planejada, mas o fato de você poder tomar a decisão: eu quero ter um filho. E geralmente a adoção vem precedida de um momento de luto. Eu estou generalizando a situação, por que existem situações de adoção em que o casal ou a pessoa seja infértil ou tenham passado por uma situação de perda como um aborto espontâneo. Então a beleza da adoção é você poder conscientemente, deliberadamente ir ao encontro do filho que você não gerou.


Um outro lado, que se chama nova cultura da adoção, é privilegiar a criança. A criança precisa de uma família então eu vou ao encontro da criança que precisa e não eu que preciso da criança. Nós ainda vivemos num cenário que eu poderia chamar de utópico desse privilegio da criança, ainda se analisa muito mais o que a família precisa do que o que a criança precisa. E, por outro lado, o que faz essa esfera de maternidade e paternidade parecer que é uma beneficência, uma assistência a criança. Só que essa relação da adoção é uma relação de amor de pai para filho e de filho pra pai e é uma relação única. É um amor que você não pode comparar com um amor de tio, de um padrinho, de um amigo que é muito próximo. É uma relação que é muito íntima, é um amor único. E é na relação, no dia-a-dia que ele nasce. Para essa criança vai necessariamente nascer nesse processo, no caso biológico da gestação e do cuidar do dia-a-dia do pós-parto. Na adoção, a idéia começa a ser maturada, cogitada, já é a gravidez, então já é o nascimento da criança afetivamente. Você começa a pensar como vai ser aquela criança assim como na gestação e no dia-a-dia, no cuidado dessa criança (que pode ser um bebê, uma criança de um ano ou dois ou até mesmo de 12 anos, por que a gente ainda tem adoção tardia a esse ponto de crianças maiores de 10anos). É nesse convívio que o amor vai se fazer nascer, vai virar uma existência real.

O que leva alguém a adotar?
Em termos estatísticos, as adoções ainda acontecem por uma necessidade da família em ter filhos. A família chega a seu ciclo de vida e sente a necessidade de um terceiro elemento ou de um segundo elemento, a depender de sua composição familiar, e diante da impossibilidade de qualquer que seja a natureza, ela vê na adoção a solução para que sua família cresça.
Quais as inseguranças relacionadas a adoção?
A gente tem alguns mitos e algumas situações que são reais e que devem ser enfrentadas. Quanto ao mito, a gente tem desde o sangue (se é filho de marginal, vai ser marginal), de que a menina é mais amorosa que o menino, tem diversos. A gente pode tratar o mito de forma pedagógica pra poder desmistificar essas idéias que são deslocadas.
E quanto as situações que são concretas, da criança que traz as suas feridas devido ao abandono e devido ao abrigamento e sua própria forma de ver o mundo, personalidade, a depender da situação ter o acompanhamento psicológico, pra isso existem os profissionais e terapias que são apropriadas.

A família que for adotar uma criança, mesmo que seja um bebê, pode ter marcas. Você não tem garantias de adotar a criança recém-nascida e não vir com marcas, não ser uma criança rebelde. A criança pode ser rebelde em qualquer situação, mas é lógico que uma criança de 5 anos tem uma consciência de vida diferente daquele bebê que viveu uma problemática intra-uterina. Mas, de qualquer maneira, as marcas vão existir em qualquer situação. Se for aquela criança mais frágil que absorve mesmo, pode ser ou não um bebê e vão testar os pais mesmo no tempo da chupeta, se realmente são amados, aceitos, queridos. Se tiver de ter alguma situação difícil vai ter em qualquer etapa, e se precisar de ajuda externa, se não for pra família dar conta, tem que chamar o profissional.

Se você chegar em qualquer escola hoje, vai ver que o universo de crianças que precisam de ajuda externa é grande e o universo de crianças adotadas é muito pequeno. Precisar de ajuda externa não é típico da criança que veio da adoção. E a gente vive hoje numa sociedade de tanta informação que, mesmo os pais presentes, a gente precisa contar com ajuda daquilo que a gente não dá conta.
Inclusive por falar em preparação, a gente também tem a escola de pais, existe há muitos anos e não é escola de pais adotivos, é de pais. Existe no mundo. Não é receita de bolo, a gente sabe disso que não existe, mas de qualquer maneira a gente sabe porque tem pequenas formulas que vão dar certo, vão dar errado. Se eu pegar uma criança e não amar ou amar demais, vai dar errado. São pequenas coisas que a gente tem como se antecipar. A criança adotiva não é criança problema ou não é super criança. Tem um histórico de família diferente e, se por acaso, tiverem peculiaridades vindas disso então ela vai precisar, mas não é o ET de varginha.

Fale sobre a burocracia para adotar.
Pessoalmente eu não considero burocrático, acho que você tem que dar garantias nesse momento para que se saiba se as famílias estão aptas a adoção, para permanecer com uma criança. Não pode dar ao luxo de deixar de verificar algumas coisas básicas, condição material mínima, renda, antecedentes criminais, se não é desorientada, pra isso tem atestado criminal, de sanidade. É condição necessária.

Agora eu vou fazer a adoção e o setor jurídico está em recesso. Eu acho que temos que ter serviços que não podem parar porque a criança é prioridade. Eu não chamaria de burocracia, mas uma organização, escalonamento dessas responsabilidades.

Quanto mais restrição a família colocar, mais se percebe que ela não está preparada para receber um filho, e sim um boneco e um ideal. Às vezes ela está sofrendo uma perda e quer tapar um buraco de uma pessoa que nunca vai existir... Primeiro que eu vou estar imaginando com as características que estão na minha mente e não no abrigo. Então primeiro tenho que curar essa ferida, incompatível dentro do interior da pessoa.

Contato "Viver Adoção":
Telefone para contato: 0055 (71) 3358.0814
Tereza é simplesmente Excelente!
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Indicação de filme: "Uma Família Bem diferente"


Foto: Google Imagens

Aproveito para indicar um filme lindo demais! "Uma família bem diferente", que fala de construção do amor pela adoção, de um menino que é inserido em uma família homoafetiva.
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"É aceitando a diversidade que teremos um mundo com menos preconceitos e, ao mesmo tempo, nos sentiremos mais livres internamente."
Por Cintia Liana

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