"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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domingo, 2 de outubro de 2011

Preparo, estágio de convivência e adaptação


Como funciona a adaptação da criança e os pais adotivos? Eles convivem durante um tempo, antes de formalizar a adoção? Se sim, por quanto tempo?

Chamamos o momento que antecede a senteça judicial, quando se dá adoção propriamente dita, de período ou estágio de convivência. Esse preríodo vem após as visitas no abrigo.

"O momento da adaptação é fundamental para o sucesso do vínculo porque acontece a integração de elementos de sentido e de significação que caracteriza a organização subjetiva de um âmbito da experiência dos sujeitos, ação, construção, história, transações, trocas sociais e culturais como configurações subjetivas da personalidade. É um complexo de articulações e possibilidades contraditórias, processos de ruptura e renascimento, tudo deve ser visto com sensibilidade e não com um olhar determinista, universalista, as coisas acontecem e tudo é bem vindo para que a relação tome sua própria forma e não uma forma mágica aprendida em livros de contos de fadas". (SILVA, 2010, texto Adoção Internacional)

O tempo vai depender da idade da criança. Estágio de convivência com bebês é curto, pois são pequenos. Já com crianças maiores de 1 ou 2 anos pode durar alguns meses, maiores de 6 anos pode durar mais de 1 ano. Quem determinará esse tempo é o juiz, baseado nos laudos da equipe tecnica, que diz como está caminhando o vínculo afetivo.

Como os pais podem preparar o lar para a chegada do novo membro na família?

É importantíssimo os candidatos a habilitação se perguntarem o que de fato estão buscando com a adoção, o que desejam com ela e que tipo de pais imaginam que serão. Devem também se imaginar como se filhos deles fossem, não como sendo o que eles querem, mas sendo os pais que talvez um filho não deseje que eles sejam, tantando ver o que precisam mudar para serem mais maduros nesta nova jornada, a partir destas reflexões se amadurece a maternagem e paternagem.

A partir daí terão energia suficiente para organizar o fora, o lar e normalmente o espaço que a criança terá na casa reflete o espaço psíquico reservado para ela, para este amadurecimento do espaço do filho nesta família. Este processo de amadurecimento para a atitude adotiva, para o torna-se pai e mãe na adoção se assemelha a gravidez.

Como todo ser humano, uma criança precisa ter seu próprio espaço, um quarto, uma cama, armário onde possa guardas seus pertences. Um espaço onde possa desenvolver sua individualidade, ter privacidade, um terrítório seu. Isso é importante para todo ser humano em desenvolvimento. Se ele deve dividir o quarto com alguém que seja com um irmão, pessoa que condividirá experiências semelhantes e no mesmo nível de desenvolvimento como ele. Não deve dividir o quarto com os pais ou dormir na sala. Isso tudo é avaliado pela assitente social no momento da visita domiciliar.

A organização externa refleta a organização interna, o espaço psíquico que o filho já tem na vida dos adotantes.

Quais atitudes dos pais ajudam no processo de adaptação?

Segurança antes de tudo, que será transmitida a criança. Ter a certeza de que aquele é o filho para eles, e isso a criança também sente.

Não ter a pretensão de achar que devem “moldar” a criança, palavra usada por muitos adotantes em fase de habilitação.

Criança quer se sentir amada, aceita e não controlada, se ela se sente amada é natural que queira ser como os novos pais, que queira satisfazer as suas expectativas positivas. Se ela se sente amada, consequentemente se sentirá segura e livre para amar, adquire segurança e esperança naquela nova relação. Ela busca “garantias” que daquela vez dará certo, que é merecedora de amor e confiança.

Partes da entrevista para o Espaço Vital, em setembro de 2011.

Por Cintia Liana

domingo, 25 de setembro de 2011

Abandono no processo de adoção e sistema familiar

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Uma das respostas de Cintia Liana ao Portal IG para compor matéria sobre adoção

É mais benéfico para a criança ser devolvida ou continuar numa família onde o ambiente pode lhe ser hostil e onde ela não é bem quista?

Essa é uma pergunta difícil porque as duas situações causam sofrimento. Mas acredito que se a criança já estiver na família há muito tempo é melhor todos se submeterem a terapia para mudar a dinâmica, porque as relações não devem ser banalizadas ou descartadas.

Mas se for uma adoção no inicio e não houver outro modo, acredito ser melhor a retirada da criança da família, investir imediatamente em acompanhamento psicológico, já pensado no momento ideal para uma futura inserção em família substituta, mas que esta esteja preparada e decidida em acolher um filho, sem alimentar exigências de como a criança deve se comportar.

A criança que sente que só será aceita se fizer o que os novos pais querem não consegue sentir segurança neles. Para ela aprender a amar esses pais inicialmente também querem se sentir amadas pelo que são. Com esta base feita tudo pode ser construído de modo saudável.

Podemos dizer que quem devolve uma criança não adotou com o propósito correto, afinal a gente só “devolve” o que não é nosso de verdade?

É importantíssimo os candidatos a habilitação se perguntarem o que de fato estão buscando com a adoção, o que desejam com ela e que tipo de pais imaginam que serão. Devem também se imaginar como se filhos deles fossem, não como sendo o que eles querem, mas sendo os pais que talvez um filho não deseje que eles sejam, tantando ver o que precisam mudar para serem mais maduros nesta nova jornada. A partir destas reflexões se amadurece a maternagem e paternagem.

A adoção não foi feita para atender as exigências dos pais, foi feita para dar uma família a uma criança e essa criança traz as particuliridades da adoção, mas antes de tudo são crianças como qualquer outra, como a que poderia nascer do ventre das mães que adotam, então não tem porque fazer exigências. O mais importante é que são humanos adotando humanos, partindo disso tudo é possível e se trata de um processo dinâmico onde todos os envolvidos contam.

Quando existe o vínculo de amor, a aceitação incondicional da criança, independente das ixigências que os pais têm e a maturidade para seguir, ninguém é capaz de devolver. Até a mãe biológica quando faz um plano de adoção para o filho, normalmente, é porque ela não se vê mãe ou é capaz de ser mãe naquele momento.

Quando existe um problema com a criança ele não começa e termina nela, ela não é a causa, se trata de um sistema dinâmico e complexo, uma combinação de todos os fatores, onde muitas vezes o problema da criança é somente um sintoma de um adoecimento maior de toda a família, que pode ser causado por algo não-dito justamente, por um segredo, algo passado de modo indireto, uma crença errada, uma mágoa não trabalhada, excesso de expectativas, preconceitos, excesso de controle, ou a combinações de muitas dessas e outras coisas.

Um dos nossos entrevistados – um juiz da Vara de Infância e Juventude de São Paulo – nos disse que apesar da notícia da devolução de uma criança adotada causar mais espanto, elas são mais raras do que a entrega de filhos biológicos por parte de pais que não querem ou não têm mais condições de cuidar das crianças. Em que essas duas situações são diferentes, se é que são?

De fato, as duas situações são dolorosas para a criança, independente da idade, até porque um bebê recém nascido sente quando é abadonado, mas sucessivos abandonos são sempre mais dolorosos, é como se a criança confirmasse a sua premissa que está sendo fortalecida pelos fatos, de que ela não merece ser amada e isso causa muito sofrimento. Após isso, deve existir muito investimento de amor para que ela possa superar a dor experimentada no desamparo.

Parte da entrevista cedida ao Portal IG no dia 22 de setembro.

Por Cintia Liana

sábado, 24 de setembro de 2011

Quando a criança é "devolvida", suas características e acompanhamento psicológico

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Por Cintia Liana Reis de Silva

Primeiro precisamos definir bem o que é ser devolvida após ser adotada, porque têm crianças que são entregues ao Juizado ainda no estágio de convivência, sem ter sido concluída a adoção, mas mesmo assim é uma situação de sofrimento psicológico e afetivo para a criança, pelo fato dela já estar ligada a estas pessoas de algum modo.

Depois que a adoção ocorre em todos os níveis, a sentença já foi dada e os laços afeitivos já existem é muito mais doloroso um novo corte de vínculos para todos, mas sobretudo para a criança, que está em plena formação e desenvolvimento bio-psico-afetivo-social.

Há estudiosos que apontam um sério risco de aparecimento de quadros psicóticos e outros problemas, como depressão, no futuro em crianças que sofrem cortes sucessivos de vínculos. Isso é só para vermos o quanto é grave para um criança não só viver no abandono, mas também experimentar a rejeição e o abandono por diversas vezes.

É comum, nestes casos, crianças experimentarem ansiedade, sensação de insegurança, baixa auto estima e algumas apresentam agressividade, acompanhados de outros comportamentos negativos, que podem ser superados com o devido acompanhamento de futuros pais e profissionais.

Existe tratamento psicológico para essas crianças e suas famílias. Com relação ao judiciário, infelizmente não são todas as varas da infância que têm psicólogos disponíveis e nem pessoal em número suficiente para atender a toda a demanda de trabalho. O judiciário tinha que contratar mais gente.

O acompanhamento deve ser feito no sentido de fortalecer a criança e as pessoas que a cercam para dar apoio. Algo importante é fazê-la entender que ela não é culpada e nem responsável pelos abandonos que sofreu, que ela não é um criança má, que isso não significa que ela não tem valor. Fazê-la sentir que merece ser amada e que, de fato, é amada pelas pessoas que estão próximas, independente de não ter pais adotivos naquele momento, daí o importante papel do profissional, que envolve o valor da relação de ajuda e de confiança que estabelece com esta criança.

Trabalhar com a criança - através da arte, da brincadeira e da fala - a sua auto estima e validar a sua dor. Ela deve compreender quais foram suas perdas e como pode lidar com elas, resignificando sua realidade e a forma de sentir, mas isso é um processo de fortalecimento e tomada de consciência que precisa de tempo e investimento.

Uma criança que é adotada por pais suficientemente seguros e maduros consegue superar muito mais facilmente suas dificuldades iniciais, mas tudo vai depender também do temperamento dela, da capacidade de resiliência e otimismo.

Parte de respostas na íntegra a entrevista cedida no dia 22 de setembro ao Portal IG.

Por Cintia Liana

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O estress na espera pela conclusão da adoção

Cacau Waller

Por Cintia Liana Reis de Silva

4) Como ficam pais e crianças nesse período que antecede a conclusão da adoção?
(Internacional)
Eles se conhecem e iniciam o período de convivência o mais rápido possível, a criança já tem que vir sendo preparada antes para este encontro e convivência, para a viagem. Esse tipo de adoção normalmente tem muito sucesso, sobretudo porque o desejo vem sendo amadurecido pelas dificuldades enfrentadas e é melhor quando o casal alimenta o menor número de expectativas e exigência em relação a criança. A criança se sente acolhida e aceita e se entrega a relação com muito mais segurança e facilidade.

(Nacional)
Isso traz muita ansiedade para os adotantes, porque o vínculo se estabelece, já se tem um amor clássico de família, mas existem riscos de se perder o filho que está sendo conquistado. Os adotantes amam, se sentem pais, mas não têm o poder da situação, é bem difícil e estressante, é como um medo de perder um fiho que acabou de nascer, porque a realidade é que a família nasceu e existe, mas juridicamente não é respeitada.

Já acompanhei casos onde os novos pais passavam por muito sofrimento, medo e alguns se sentiam injustiçados com pânico em perder o filho. Se sentiam desamparados pela lei, até porque viam que a criança também já estava adaptada e iria sofrer com outro corte de vínculos. Eles sofrem por eles e pela criança.

Recebi e-mails de um casal que sofrendo narrou a situação e pediu conselhos. Através do meu blog http://psicologiaeadocao.blogspot.com/ recebo dezenas de e-mails pedindo ajuda. Contou que estavam vistando um criança, completamente apegados e que o abrigo quis beneficiar um outro casal e assim interferiu no processo de visitação. O outro casal passou a visitar também a criança.

O primeiro casal diz que não entende tamanha interferência e manipulação numa relação que já existe, está sofrendo e sente-se de mãos atadas, sofrendo uma grande injustiça, até pelo fato da criança estar sofrendo muito, sendo privada das visitas de quem ela já chama de pai e mãe.

Quem passa na frente dos outros sem respeitar o sentimento de uma criança não está pronto para ser pai e mãe, não está pronto para educar.

5) Há alguma ação que possa ser tomada para acelerar esse processo e diminuir o sofrimento das famílias?

Adaptar as leis à realidade, beneficiar de fato os direitos plenos das crianças, destituí-las e investir em campanhas de fortalecimento da cultura da adoção. Dar garantias aos adotantes e a criança de que o vínculo que está sendo construído não é em vão, que eles podem acreditar nesta nova relação, nesta nova família.


Por Cintia Liana

terça-feira, 19 de julho de 2011

Diferenças na adoção nacional e internacional sobre a espera e perfil da criança

Google Imagens

As adoções internacionais são bem diferentes das nacionais em todos os pontos do processo, em como se faz, até em relação ao perfil da criança disponibilizada.

A internacional deve haver a aceitação dos órgãos de Estado e da entidade que acompanha toda a adoção entre Itália e Brasil, assim como a aprovação do Estado do País do origem da criança e da CEJA (Comissão Estadual Judiciária de Adoção).
A nacional, requer somente a aprovação do Estado, responsável pela criança.

As adoções internacionais e nacionais são vistas de modos diferentes e encaram os preconceitos referentes a cada uma delas.

O perfil de crianças disponibilizadas para adoção internacional é diferente da nacional. Somente são indicadas para adoção internacional crianças que não têm mais chance alguma de inserção em família substituta brasileira, incluindo a de origem, como a família extensa. São crianças que já esgotaram todas as possibilidades de aceitação, normalmente maiores de 9 anos, grupos de irmãos e/ou com algum problema físico ou mental, ou seja, fora do perfil que o brasileiro geralmente deseja para ser seu filho hoje.

As entidades de adoção internacionais encaminham os processos já autorizados e traduzidos a CEJA quando esta entidade têm uma família interessada na adoção de uma criança disponibilizada dentro do perfil de busca do casal. O processo é analisado pelos técnicos da CEJA, antes de decidirem se a criança de fato vai para o casal interessado.

A destituição é feita e se inicia o processo, até aí os casais esperaram muito tempo, com muita ansiedade. Depois o casal vai ao País de origem da criança para as outras etapas já descritas.
O processo de habilitação para adoção internacional e a espera pelo filho são maiores, mas o período de convivência é menor, são mais ou menos 45 dias que o casal deve passar em País estrangeiro para a adaptação com o filho, para receber a sentença judicial e para a emissão dos novos documentos, incluindo o passaporte da criança. O tempo é menor porque o casal viaja para conhecer a criança só depois que esta foi destituída do poder familiar, então a espera maior é antes do primeiro contato com a criança.
Os casais italianos esperam ansiosamente sem ainda nem ter conhecido os filhos, sem nem mesmo conhecer o rosto pelo qual já se preocupa com o bem estar e pelo qual já desenvolve amor.

Ocorre que quando eles pedem aquela adoção, a criança é destituída, só depois eles partem para encontrá-la. Nas nacionais muitas vezes as crianças são destituídas durante o estágio de convivência com a nova família.

A entidade em que trabalho por exemplo é autorizada para atuar em todo o Brasil e Colômbia, e deve também ser cadastrada em cada CEJA de cada Estado e cada uma trabalha de forma um pouco diferente, o que dificulta de certa forma a atuação das entidades, até a forma de informar as crianças disponíveis a adoção é diferente em cada CEJA.
Há muito ainda o que melhorar, as pessoas precisam se informar, trocar conhecimentos, ter o interesse em ajudar, padronizar metodologias, as leis precisam ser coerentes, precisamos ter segurança sem tanta burocracia e sobretudo humildade para ter uma relação saudável com todos.

Por Cintia Liana

sábado, 16 de julho de 2011

Aparecida Petrowky atua em peça sobre adoção e fala como foi adotada na vida real

Aparecida Petrowky

Talentosa, a atriz acaba de entrar para o elenco da peça paulistana “Meu filho sem Nome”, com texto de Izilda Fontainha Simões e adaptação de Marcelo Romagnoli. Entre os ensaios, conversou com exclusividade ao Yahoo! e falou sobre carreira, fama e boatos de que seu romance é fake. “Esse não é meu perfil. Seria muita baixaria”, garantiu.

YAHOO!: Você está na peça “Meu filho sem Nome”, em São Paulo, que fala sobre adoção. Por ser adotiva na vida real, como é reviver essa experiência no teatro?
Minha personagem é uma jovem que se casa, quer construir uma família e não pode ter filhos. Ela encontra com a outra protagonista, que abandona o filho. Fazendo esta peça, que também é baseada em uma história real, acabo trazendo alguns sentimentos. Não sobre minha experiência, mas sobre a minha mãe adotiva, a Vera, que morreu. Lembro de algumas coisas pelas quais ela passou, como a sombra de a mãe biológica querer tomar o filho de volta...

YAHOO!: Na infância, como você encarava o fato de ter duas mães?
Minha vida foi muito feliz, não tive problema algum. A mãe que me criou falava: “você é uma menina especial, tem duas mães”. Contaram quando eu tinha cinco anos. Na verdade, minha mãe biológica não me abandonou. Ela me deu para minha tia... (Pensativa) É uma confusão tão grande que daria um livro (risos). Ficava uma semana com uma e, nos fins de semana com a outra. Cresci assim, dividida. Mas com o carinho em dobro, das duas.

YAHOO!: Em que você acha que esta criação contribuiu para a Aparecida que conhecemos hoje?
Acho que a determinação e responsabilidade com a minha vida. A Vera tinha uma situação financeira muito boa e a outra família era mais simples. Extremos demais! Ela me dava mesada, passeios, dinheiro no aniversário e depois falava “lembre-se que sua família não tem nada”. Aí eu comprava presente para meus irmãos, fazia compras para casa. Aos 15 anos, eu queria ir para a Disney, mas ela dizia “lembre-se...” (risos). Sempre tive responsabilidade, essa foi a maior herança que ela me deixou.

YAHOO!: Além desse episódio, lembro que você foi ao programa“Altas Horas” e chorou por estar no programa. Acha que está acostumada com a fama e exposição?
Confesso que é muito difícil e não estou 100% acostumada. Ainda estou me adaptando a tudo isso, sabendo como lidar. Mas deixo claro que não vou mudar meus princípios e sempre manterei a minha ética. Muita gente fala que eu só fiz uma novela, mas sou formada em fisioterapia, artes cênicas, estudo filosofia, sou escritora, tenho experiência fora do Brasil. Apesar de muitas vezes não ser fácil lidar com a fama, procuro não ficar preocupada com os comentários.

YAHOO!: Até que ponto a vida pessoal deve influenciar em sua carreira?
O Felipe tem a carreira dele, tem fã-clube, é conhecido há muito mais tempo que eu. Não gosto de misturar trabalho com vida pessoal. Mas a gente está junto e não vamos deixar de sair, mesmo que cada vez que colocamos o pé fora de casa isso vire assunto. Eu não tenho como controlar. Aquilo que posso fazer é manter a minha vida normal e investir no meu trabalho. E é claro que não é tão simples.


Postado Por Cintia Liana

domingo, 5 de junho de 2011

Cintia Liana para a Top View

Mandy Lynne

A Revista Top View de Curitiba me entrevistou no mês de abril. Fui uma das fontes para compor uma matéria sobre adoção. Segue abaixo a entrevista com as respostas na ìntegra.

1) seu nome completo, profissão, funções atuais:
Cintia Liana Reis de Silva, psicóloga, especialista em Casal, Família e Adoção, sou coordenadora das adoções e atividades voltadas para o Brasil da entidade italiana Senza Frontiere ONLUS.

2) como e quando começou a atuar na área de adoção?
Comecei em 2003 atendendo famílias em consultório, depois passei em seleção pública para trabalhar como voluntária da VIJ (Vara da Infância e Juventude) de Salvador, depois fui contratada por 4 anos, quando vi que era o trabalho que queria fazer por toda a vida, ajudar crianças a encontrarem seus pais, ver novas famílias se formando, famílias necessárias.

Em 2010, de férias na Itália, fui convidada para trabalhar na entidade em que atuo hoje e atribuo o convite ao respeito e fama que conquistei com empenho e amor ao trabalho com as famílias no Brasil.

3) Qual a sua opinião sobre a criação do Cadastro Nacional de Adoção no Brasil? Está funcionando?
Pelo meu contato direto e sistemático com o Brasil de trabalho e pelo que discuto na internet, o CNA ainda não está funcionando como deve nem 20%. Ao menos, para consulta pública não seria nem 20%. Se o cadastro funcionasse poderia ajudar muitas crianças a encontrarem suas famílias, mas o cadastro ainda não é alimentado como deveria e muitos profissionais ainda desconhecem o seu manuseio, alguns ainda nem conseguem visualisar o seu alcance. Muitos abrigos ainda não passaram a lista de suas crianças para serem inseridos no CNA, alguns por uma questão burocrática e por estarem esquecidos.

Antes se enviava o processo de habilitação para a comarca em que se desejava adotar uma criança e muitas vezes se conseguia, hoje esperamos o cadastro informatizado, mas ele não é alimentado, esse é o principal motivo de não funcionar.

Uma coisa que lamento é que a nova lei vem sendo mal compreendida por muitas pessoas como, por exemplo, sobre o tempo de acolhimento. Não há nada na lei que diga que uma criança não pode ficar mais de dois anos no abrigo, a lei diz que uma criança não pode ficar mais que dois anos sem que seu processo judicial esteja definido.

Muitas crianças estão passando sua infância num abrigo, isso é um crime com qualquer ser humano. Os primeiros anos de vida, o amparo e amor que uma criança tem são importantíssimo para o fortalecimento da base de sua personalidade, o contato saudável com a figura de apego ajuda até no bom desenvolvimento dos órgão e na saúde geral.

Conheci adolescentes de 14 anos que estavam há mais de 7 no abrigo, esperavam que sua situação familiar melhorasse, mas ela não recebia nem visitas. Deixar uma criança crescer num abrigo esperando que sua família se reabilite é uma cultura criminosa, onde não se acredita no amor construído, é uma cultura onde se acredita que os laços de sangue são mais fortes que tudo. Esse ser humano que cresce sem família não conhece o amor e a segurança, conhece um amor emprestado, a insegurança, o desamparo. E no futuro, como dar aquilo que não se teve?

4) Você sabe quais são os números atuais da adoção no Brasil (crianças cadastradas, pais que aguardam uma adoção, etc)?
Me baseio em pesquisas para obter informações desses números, mas quando falo com o interior de um estado por algum motivo, por exemplo, que está com dificuldades burocráticas de registar o abrigo no município e que tem tantas crianças com situação familiar indefinida e não cadastradas no CNA, me pergunto, até que pondo estamos informados destes verdadeiros números?

5) Você sabe algo em especial sobre a situação da adoção em Curitiba?
Sei o que a CEJA de Curitiba divulga. As crianças disponibilizadas para adoção internacional normalmente são maiores de 9 anos, com irmãos e algumas com algum problema psíquico, cognitivo ou físico.

6) Você tem a experiência brasileira e a italiana. O modo como os dois povos encaram a questão da adoção é muito diferente? Em que sentido?
As adoções internacionais são bem diferentes das nacionais em todos os pontos do processo, em como se faz, até em relação ao perfil dos pretendentes e das crianças disponibilizadas.

Na Itália somente casais heterossexuais podem adotar. No Brasil solteiros e casais homossexuais também podem. É um País com as leis mais avançadas em termos de direitos das crianças, mas a realidade aindo fica um pouco atrás do que está escrito no Estatuto.

A internacional deve haver a aceitação dos órgãos de Estado e da entidade que acompanha toda a adoção entre Itália e Brasil, assim como a aprovação do Estado do País do origem da criança e da CEJA (Comissão Estadual Judiciária de Adoção). A nacional, requer somente a aprovação do Estado, responsável pela criança. As adoções internacionais e nacionais são vistas de modos diferentes e encaram os preconceitos referentes e cada uma delas.

O perfil de crianças disponibilizadas para adoção internacional é diferente da nacional. Somente são indicadas para adoção internacional crianças que não têm mais chance alguma de inserção em família substituta brasileira, incluindo a de origem, como a família extensa. São crianças que já esgotaram todas as possibilidadaes de aceitação, normalamente maiores de 9 anos, grupos de irmãos e/ou com algum problema físico ou mental, ou seja, fora do perfil que o brasileiro deseja para ser seu filho hoje.

Os poucos casos que vi de crianças com alguma necessidade especial ser adotada eram de pessoas que as conheceram por motivo de trabalho voluntário em algum abrigo e se apaixonaram por ela, desejando que fosse seu filho sem nenhuma exigência e, nesses casos, o amor foi construído dentro dos muros do abrigo, para depois existir o desejo da adoção.

7) Você é casada, tem filhos? Pessoalmente, a adoção faz parte da sua vida de alguma forma?
Tenho 34 anos, sou casada com o homem da minha vida há 4 meses (5 de maio faz 4 meses) e ainda não tenho filhos, mas desejamos.
Tenho mais de 10 casos de adoções afetivas e propriamente ditas em minha família extensa, todos bem sucedidos, isso quer dizer até nas famílias de minhas tias avós, além disso, minha avó sempre ajudou muitas famílias em dificuldade, e chegou a acolher 2 ou 3 menores temporariamente, além de duas adoções afetivas.

8) Você já foi chamada de "fada da adoção". A que atribui o título? Quais as maiores conquistas que já alcançou em seu trabalho com famílias adotantes?
Sim, em 2006 os pais habilitados começaram a me chamar de "fada madrinha dos pais adotivos" por meu interesse e dedicação ao trabalho e às crianças e fui me tornando cada vez mais conhecida, até a mídia de minha cidade me chamar de "Fada da Adoção" e dedicar uma matéria de página inteira sobre minha trajetória profissional.

Atribuo o título a minha entrega ao trabalho e a falta de receio em fazer contato com as pessoas de modo afetivo, preocupado e sem preconceitos, o meu trabalho acabou tomando conta de um modo muito forte de minha vida. Desde os 9 anos de idade sempre sonhei em ser psicóloga, é algo que há em mim, essa forma de entender e pensar a vida e sobretudo no desejo de ajudar.

Em meu trabalho na VIJ todos os casos eu via como especiais e sempre que podia ajudar e dar um toque especial o fazia, não era uma obrigação, sempre foi um prazer, às vezes trabalhava até às 21:00h. Lembrava de uma casal específico, conversava com o Juiz, via uma criança “esquecida”, pedia que fizessem um relatório ao Juiz falando de sua situação e depois a via ser encaminhada para adoção e para um excelente casal ou adotante solteiro. Tinha cuidado com todos, nunca fui grossa com ninguém, por mais que precisasse ser áspera aos olhos dos colegas. Os resultados dos meus toques e dedicação eram o melhor retorno do meu trabalho, ficava de fato feliz e condividia isso com eles.

Em visitas aos abrigos não tinha medo de falar e estabelecer um contato de amor com as crianças, as via com respeito e cada uma era diferente e especial e elas sentiam isso. Quando eu chegava era uma festa, isso me dava um sensação muito boa de paz e felicidade.

Acredito que consigo fazer este conttao porque sinto e sei que esta relação de amor na adoção que se estabelece é forte e rica e é a mais verdadeira, todos nós precisamos ser adotados para nos tornamos filhos, seja pelo nascimento ou chegada na adoção.

9) Para onde caminha o processo de adoções no Brasil? Já evoluiu? Ainda há muito a evoluir?
As entidades de adoção internacionais encaminham os processos já autorizados e traduzidos a CEJA quando têm uma família interessada na adoção de uma criança disponibilizada dentro do perfil de busca do casal. O processo é analisado pelos técnicos da CEJA, antes de decidirem se a criança de fato vai para o casal interessado.

A entidade em que trabalho por exemplo é autorizada para atuar em todo o Brasil e Colômbia, e deve também ser cadastrada em cada CEJA de cada Estado e cada uma trabalha de forma um pouco diferente, o que dificulta de certa forma a atuação das entidades, até a forma de informar as crianças disponíveis a adoção é diferente em cada CEJA.

Há muito ainda o que melhorar, as pessoas precisam se informar, trocar conhecimentos, ter o interesse em ajudar, padronizar metodologias, as leis precisam ser coerentes, precisamos ter segurança sem tanta burocracia e sobretudo humildade para ter uma relação saudável com todos.


Por Cintia Liana

sábado, 7 de maio de 2011

Quando mães cumprem um mandato familiar

Liberty Biberty

Por Cintia Liana Reis de Silva

Uma breve reflexão sobre as mães que abandonam


O próprio processo biológico de se ter um filho já faz a mulher ser obrigada a conviver mais com a gestação e com esta realidade que o homem. Algumas não têm condições de assumirem sozinhas esta empreitada ou, para outras, para este projeto, elas precisam de apoio, seja do parceiro ou de sua família extensa, o problema é quando se veem completamente sozinhas, sem nenhuma perspectiva, algumas não têm base emocional, psíquica, nem financeira para suportar tamanha responsabilidade.

As leis civis e familiares não são conhecidas nem divulgadas claramente. Educação sexual não chega para todos, ao contrário, a minoria tem acesso e dá atenção à ela. Muitas mulheres não sabem que entregar o filho para adoção não é crime, já outras abandonam às escondidas por sentirem culpa e vergonha, por não conseguirem sentir esse amor materno culturalmente mitificado. As pesquisas apontam que normalmente são mulheres que cresceram sem experimentar esse amor vindo de pais, que não foram maduros e protetores para com estas quando crianças. Quando pequenas sofreram rejeição, violência, abuso físico e moral e total abandono afetivo.

Na sociedade existe uma forte cultura que impulsiona a opinião pública a julgar e condenar, e de fato ocorrem situações hediondas e cruéis que nos mobilizam emocionalmente e revoltam muito, mas é necessário tentar entender todos esses processos humanos e quando somos levados somente pelo julgamento do ponto de vista moral perdemos de vista o essencial, que é o entendimento dos processos psicológicos que levam uma pessoa a abandonar o próprio rebento. Esse entendimento é importante também para que invistamos na cura do ser humano, da sociedade, para que nos aproximemos da compreensão da verdade.

Em meu livro, publicado no Brasil em 2011, "Filhos da Esperança", eu explico, com base na psicologia relacional sistêmica, que esses “progenitores podem ter cumprido um mandato familiar na forma de uma tradição ou de um padrão intergeracional, no qual podem ter passado, como sua mãe, a avó da criança, um padrão de rejeição e falta de acolhimento. Essa genitora pode ter sofrido um processo de projeção familiar transmitido pela imaturidade e baixo nível de diferenciação do self da sua mãe. Diferenciação esta que significa adquirir autonomia com habilidade de pensar, sentir e agir por si mesmo, como um adulto responsivo.” (ANDOLFI apud SILVA, 2011, p. 67)

Estudiosos falam sobre “o mito do amor materno”, "que o apego é inerente à mãe. Tem que existir um contexto positivo, um solo fértil para alimentar a criança e criar uma relação de apego saudável. Ela acredita que para que uma mulher possa ser a “boa mãe”, é preferível que ela tenha experimentado, em sua infância, uma evolução sexual e psicológica satisfatória, junto de uma mãe também relativamente equilibrada. Mas, se uma mulher foi educada por uma mãe perturbada, há grande probabilidade de que sinta dificuldade em assumir a sua feminilidade e maternidade. Quando for mãe, reproduzirá, diz-se, as atitudes inadequadas que foram as da sua própria mãe." (PONTES apud SILVA, 2011, p. 68)

Outras teorias mostram que "quando o indivíduo passa da condição de filho para a condição de genitor usará o mesmo modelo que foi aprendido com os pais. Quando ele desempenha este novo papel, se faz necessário algumas respostas efetivas, abrem-se feridas intergeracionais e vem a tona uma questão de base: “como se pode dar aos filhos aquele afeto verdadeiro e tangível que se pensa nunca ter recebido dos genitores, quando crianças ou adolescentes?”." (ANDOLFI apud SILVA, 2011, p. 68)

Elisabeth Banditer e outros pesquisadores, apontam que "o amor materno não é um sentimento inerente à condição de mulher, não é algo determinante, mas algo que se adquire, e esses sentimentos humanos de mãe pode variar de acordo com suas ambições ou frustrações, com a cultura e as flutuações sócio-econômicas da história. Eles explicam que “o amor materno pode existir ou não, aparecer e desaparecer, ser forte ou ser frágil, ter preferência por determinado filho ou não”. O amor materno acaba por ser “apenas um sentimento humano como outro qualquer e, como tal, incerto, frágil e imperfeito”." (SILVA, 2011)

Isso quer dizer que, não basta se tornar mãe através do parto para sentir o “maior amor do mundo”, esse sentimento não é uma regra, ele varia de uma mulher para a outra, depende da experiência de cada uma, suas particularidades e mais uma série de fatores subjetivos. Gerar um filho não faz de ninguém amoroso ou protetor, o amor materno é um amor construído na convivência, assim como nas outras relações. (SILVA, 2011, p. 69)

Figuras parentais é que proporcionam um lastro firme para o desenvolvimento sadio de um ser humano. Se este não teve exemplos de afeto, não é porque se tornou adulto e pariu um filho é que estará transformado e preparado para assumir esta responsabilidade com empenho de um afeto que desconhece, que não se teve de ninguém. Por isso, e por outras coisas é que deveríamos cuidar dessas outras crianças que estão crescendo nos abrigos sem experimentar afeto, um dia elas poderão ser pais também. Mas se, ao contrário de crescerem sem experimentar amor, tiverem uma família substituta, onde possam crescer em sua totalidade e exercitar o afeto isso poderá ser mudado. Os mandatos familiares podem ser rompidos neste investimento e assim começarmos a construir um futuro melhor para todos.

Outro aspectos importante, é que é melhor que os pais adotivos sintam empatia pela fonte do vida do filho que raiva, e essa compreensão leva a uma relação de mais harmonia com essas figuras que trouxeram essa criança ao mundo e a criança, por sua vez, também sente essa energia de gratidão que os pais adotivos nutrem pelos pais biológicos e tudo entra em ordem.

*Umas das respostas, na íntegra, da entrevista de Cintia Liana cedida ao Diário de São Paulo.

Referência:
SILVA, Cintia Liana Reis de. Filhos da Esperança: Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos. Edição do autor, Salvador, 2011.
Livro: https://www.clubedeautores.com.br/book/43553--Filhos_da_Esperanca?topic=pscicologia#.V5d2UEZ97IU

Por Cintia Liana

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entrevista sobre motivações e perfil dos adotantes e adotados

Foto: Google Imagens

Entrevista para uma estudante da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

1- Qual é o perfil das pessoas que querem adotar crianças?
O perfil é bem amplo, mas podemos dizer que a maioria que adota, entrando com o pedido de habilitação, é composta de casais que têm entre os 30 e 45 anos de idade, pardos, com grau de instrução médio e superior completo ou incompleto.
Para adoções onde as pessoas querem legitimar uma situação de adoção afetiva já existente há anos, é composta de casais e de pessoas solteiras, negras, mulatas e pardas, sobretudo mulheres solteiras que criam um filho que lhe foi “doado”.

2- E qual o principal perfil das crianças a serem adotadas?
A grande procura é para crianças de até 1 ano, mas se encontram dificilmente crianças desta idade para adoção. Hoje em dia muitas pessoas adotam crianças maiores de 3 anos, pardas, de ambos os sexos.
Em Salvador a maioia das crianças é parda, mulata e negra, mas ainda as crianças de cor de pele mais claras são mais aceitas pois têm um tom de pele mais parecido com o dos adotantes, que querem que essa diferença não seja tão marcante entre eles, para que a adoção não se torne tão evidente aos olhos de todos, e que a revelação do vínculo seja uma opção e não uma declaração rotineira.

3- Quais são os principais motivos que levam à adoção ?
Para os adotantes é o desejo de se tornarem pais, somente, e isso acontece naturalmente e plenamente.
Para as crianças, o desejo e a necessidade existencial de terem uma família, de terem amparo, educação e, sobertudo, amor.

4- Há um número de pais pretendentes para adotar bem maior do que o número de crianças para adoção. Na sua avaliação, por que acontece isso?
Acontece porque os adotantes querem adotar crianças diferentes daquelas que estão aptas e disponíveis a serem adotadas, a maioria têm mais de 8 anos e uma parte delas tem algum problema de saúde mental.

5- O que dizer de quem opta por acolher um filho gerado em outra pessoa?
O que leva uma pessoa a adotar é o desejo de ter um filho, de amar e ser amado. Existem motivos que levam uma pessoa a optar por ter um filho adotivo, como infertilidade, sonho movido por motivos altruístas ou uma curciunstância que trouxe a criança para a convivência.
Quem chegou a ter esse desejo entende e sente que ao adotar se pode realizar a maternidade e paternidade em toda a sua plenitude, a criança será vista e sentida como filha, ela não será olhada como filho gerado por outro, ela será amada como gerada daquele amor construído diariamente, as particularidades advindas da realidade adotiva farão parte, mas não será o centro das questões, o amor será o essencial.

6- Na sua opinião, ainda há muitas barreiras psicológicas e sociais em relação a adoção?
Ainda há muitas, mas tenho que ressaltar com entusiasmos que já conquistamos muito espaço nas discussões, mídia, informações e apoio, assim como espaço social como o fortalecimento de instituições, grupos de apoio, encontros para discussões, leis e incentivos, e não irá parar por aqui, cada vez mais as pessoas verão e ouvirão assuntos relacionados a adoção, não só porque ela é necessária para a sociedade, mas porque é uma relação real.

7- Como é feito o trabalho com os pretendentes para adotar e a criança a ser adotada ?
Na Vara da Infância serão feitas as devidas avaliações sociais e psicológicas para subsidiar decisão do Juiz e os adotantes têm que passar por grupos de discussão antes de serem habilitados a adoção.



Por Cintia Liana

domingo, 13 de março de 2011

Adoção por pessoa solteira ou adoção monoparental

Apresento três respostas cedidas à aluna Mariana Carvalho do curso de Jornalismo da Faculdade 2 de Julho de Salvador, que escolheu como tema para sua monografia "a adoção por pessoas solteiras" .

Foto: Google Imagens

1. Qual o papel do psicólogo durante o processo de adoção?

O papel do psicólogo no processo de adoção é de extrema importância. Ele é quem vai avaliar as partes envolvidas no processo e opinar, no que tange a parte psíquica e relacional, se estas pessoas estão aptas, preparadas e verdadeiramente motivadas a seguirem por este caminho.

Ele também pode atuar como um catalisador, propiciando que as partes envolvidas amadureçam questões voltadas a paternagem e maternagem, motivando a tomada de consciência desta jornada.

Ele vai observar como estas pessoas estão voltadas para o pleito e sua postura emocional diante dele, qual é a real motivação, se o desejo de ser pai ou mãe está bem resolvido e amadurecido.

Durante o período de convivência a nova família (adotantes e crianças) é acompanhada em alguns atendimentos psicológicos para se checar a adaptação de todos à nova realidade. Conversa-se com os adotantes, com a criança e se faz as devidas observações do vínculo que vai se estabelecendo. O psicólogo faz perguntas e os adotantes podem tirar dúvidas, é um momento de acolhimento de tudo o que diz respeito àquela nova realidade, da construção da família e criação dos novos elos clássicos familiares.

2. Quando se trata de pais adotivos solteiros, as dificuldades de convivência e adaptação são maiores? Por que?

Não, de acordo com minha experiência não detactava dificuldades específicas simplesmente de terem só mãe ou pai ou de serem adotados por casais. Devemos analisar cada caso. Em geral, a criança deseja se sentir acolhida e ter um lar onde se sinta segura, mas de qualquer forma tudo vai depender do histórico de vida da criança e de como ela se coloca diante da figura masculina ou feminina, isso sim pode ter alguma diferença na hora do estabelecimento inicial do vínculo.

Vemos isso com alguns casais onde a criança primeiro se aproxima mais do pai ou da mãe ou chega até a rejeitar inicialmente uma das partes, mas depois tudo vai tomando outra configuração.

Outro ponto importante é como esse adulto vai lidar com esta aproximação ou rejeição inicial, temos que lembrar que os adultos têm seus elementos mais eleborados para lidar com situações e devem passar segurança para a criança, para que ela supere suas possíveis resistências e medos iniciais na hora de partir para a convivência. Um adulto verdadeiramente seguro da situação e da relação promove um filho seguro por mais que leve algum tempo para isso tomar forma.

Outra coisa que devemos reflerir é que, por exemplo, têm crianças que podem ter a necessidade de ser amadas também por um pai e acontecer de ser adotado só por uma mãe. No decorrer do tempo ela vai eleger um pai no círculo social da mãe, mas essa pode representar uma lacuna para a sua vida, algo que deve ser visto com cuidado. A criança deve fazer um trabalho psicoterapêutico de ajuda para resolver e talvez solucionar esta questão. Casos assim eu já vi muitos, sobretudo com meninos que desejavam também ter um pai e foram adotados só por uma mãe. A carência pela figura masculina era visível e foi se acentuando durante o decorrer dos meses após a adoção. Penso que esta questão deveria ser mais analisada na hora da indicação da criança para aquela determinada pessoa. Tudo tem que ser de acordo com as necessidades psicológicas e existenciais da criança e isso não faz referência a preconceitos se é casado ou solteiro de fato, mas às necessidades imediatas da criança.

De qualquer modo, se não se tem como fazer isso, percebo que para qualquer menor é melhor ser adotado só por uma pessoa a crescer num abrigo sem amor de figuras parentais.

Não só o serviço social deveria ser encarregado de fazer esta combinação crianças e adotantes, mas deveria ser uma decisão em conjunto com o setor de psicologia das Varas da Infância e Juventude. Sei que o Serviço Social muitas faz essa indicação sozinho, sem a ajuda do Serviço de Psicologia.

3. Quando os pais optam por devolver o(s) filho(s) adotivo(s) para o juizado, o psicólogo também atua neste processo? De que forma?

O psicólogo atua em todos os processos, menos na combinação de quem serão os pais e filhos. Acredito que isso vale para todas as VIJ’s do Brasil, mas não posso afirmar, nunca vi uma pesquisa em relação a isso e, geralmente, quem decide as atribuições de todos é o juiz titular.

A adoção é uma medida irrevogável, mas acontecem casos isolados de devolução, se é que podemos chamar assim. Nunca li uma estatística a respeito, mas arrisco dizer.

Acompahei um caso em que a dolescente voltou para o abrigo. Vi claramente que o conflito foi gerado porque a avó, mãe da mãe adotiva, se envolvia muito e começou e colocar a mãe contra e filha adotada. A mãe adotiva era muito dependente emcionalmente de sua respectiva mãe e também começou a ter ciúmes do marido com a nova filha. Além disso, a filha biológica do casal passou também a sentir ciúmes de todos com a irmã adotada e tudo gerou um grande conflito, até que a dolescente se voltou contra todos que a estavam maltratando e chegaram a mantê-la trancada no seu quarto.

O que chegava muito no Juizado eram casos de família brigando com filhos e não sabiam mais o que fazer, porque esses filhos não aceitavam a autoridade dos pais ou porque os pais tinham conflitos e os adolescentes sentiam isso e reagiam, mas todos esses casos que atendi, quando fui perita, eram de famílias com filhos biológicos e não adotivos.

Outro caso que lembro foi de uma adolescente que convivia com a família, mas não tinha sido adotada e esta crise partia, segundo ela, do fato de ela não ter o sobrenome dos pais "de convivência" e se sentia menos favorecida que a filha biológica do casal. Este caso não podemos chamar de uma adoção propriamente dita porque adoção é quando também envolve a medida legal e neste caso não ocorreu. Podemos ver que a menina se sentia rejeitada e filha "pela metade".

*Como podemos ver, a dinâmica da família pode ser analisada e tudo pode ser resolvido mas, para isso, precisa ser maduro, honesto consigo mesmo e com os outros e nutrir amor pela criança ou adolescente adotado, ou seja, amar muito o filho e isso serve para todos os tipos de família.

*Ler constelação familiar.

Por Cintia Liana Reis de Silva

Livro da Psicóloga Cintia Liana sobre o percurso de construção da família através da adoção e seus aspectos psicológicos
Para comprar ou visualizar:
http://www.agbook.com.br/book/43553--Filhos_da_Esperanca
(2ª Edição - 2012)

sábado, 8 de janeiro de 2011

Adoção e Abandono

Foto: Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva

1 - A adoção pode ajudar a diminuir o abandono de crianças? Como?

A adoção por si só já tira uma criança do abrigo, do abandono. Na adoção busca-se em primeiro lugar atender os direitos de uma criança e um deles é a convivência familiar. Os adotantes vêm na adoção uma forma de se realizarem enquanto pais, de terem um filho, essa deve ser a motivação real do pedido de habilitação a adoção e, de fato, se realizam plenamente, pois o amor é constrído na convivência quando o desejo desta relação existe.

2 - Qual a importância da adoção?

Para os adotantes é uma forma de realizarem o desejo de serem pais, de exercitarem a paternagem e maternagem, de aumentarem sua família, assim como ocorre na relação biológica.
Para as crianças é uma nova oportunidade de terem pais, de serem amadas, se sentirem amparadas e protegidas e terem um futuro em família.
Para a sociedade é ver as crianças bem inseridas em um lar harmonioso e com a menor possibilidade de ver mais crianças virando adolescentes sem família, desamparados, saindo dos abrigos sem perspectivas.

3 - Como combater o abandono de crianças?

Com investimento em educação, saúde, informações sobre planejamento familiar e sobretudo deixar claro que doar um filho para adoção não é um crime, pode ser uma escolha consciente colocar a adoção como uma alternativa para alguém que não pode criar o filho e que não tem o apoio da família e nem o desejo em tê-lo. O que é crime é o abandono de crianças em via pública, colocando em risco sua vida.

4 - Além da adoção, vocês acreditam que a legalização do aborto também é uma saída?

Não acredito que a legalização do aborto seja uma saída para o abandono. Aborto não é método anticonsepcional, a mulher que aborta muitas vezes leva consigo o peso insuportável por ter matado um ser que existia em seu ventre. Mas também muitas mulheres morrem ou sofrem na mesa de cirurgia de clínicas clandestinas.
Não me cabe aqui me colocar contra ou a favor do aborto, essa é uma resposta muito dífícil porque é uma decisão muito séria que envolve uma série de questões de ordem social, primeiro se deve investir em informações.
Mas ficam as perguntas: Por que é melhor abortar que dar em adoção? É referível pensar no filho morto que nos braços de outra mãe que desejava tanto uma criança?

4 - O que leva uma mãe a abandonar um bebê recém-nascido?

Vários fatores podem impulsionar a genitora e fazer um plano de adoção para o seu filho, alguns deles são a falta de condições financeiras; ausência do desejo em ser mãe, de cuidar; vida material e financeira desorganizada; falta do apoio do genitor ou desconhecimento deste; envolvimento com algum tipo de droga; falta de apoio ou má relação com a família extensa.

5 - Como combater situações como esta?

Para o Juizado aceitar que uma criança vá para adoção antes é feita uma investigação onde são esgotadas todas as possibilidades de reinserção da criança em sua família biológica. Tios, avós ou alguém muito ligado a família pode pedir sua guarda. Se ninguém tiver o interesse na guarda da criança é que se cogita a adoção, pois tenta-se preservar o direito da criança em permanecer no seio de sua família biológica.
Outra possibilidade é que nas Varas da infância existem programas ou convênios com programas do Governo onde esta genitora pode ser inserida juntamente com o filho e ambos podem ser ajudados em sua realidade para que a criança não vá para adoção.


Por Cintia Liana

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cintia Liana para a Revista Star

Em setembro de 2010 cedi uma entrevista para a Revista Star de Minas Gerais. Confiram na íntegra as respostas sobre adoção.
Obrigada à Jornalista Amanda Corrêa e parabéns pela escolha do tema.
Ao final do post confiram as duas páginas da revista em que fui citada.

Foto: Cintia Liana em Budapest, Hungria

Amanda Corrêa - De acordo com dados do Cadastro Nacional de Adoção, houve uma queda na preferência dos pretendentes à adoção por crianças brancas. Em 2008, 70% dos pais tinham esta preferência, hoje este número caiu para 38%. Na sua opinião, porque houve esta queda? O que ela significa?

Cintia Liana - Percebo que muitos mitos sobre adoção estão vindo abaixo, assim muitos medos em torno da adoção interracial estão sendo enfrentados. Essa conquista se dá não só pela luta de profissionais e pais engajados na causa, como também da mídia que tem abordados diversos assuntos de maneira decisiva e responsável.

Outra possível explicação é a falta de crianças brancas e a grande fila de espera pelo filho tão desejado.

Em 2004, quando comecei a coordenar o Serviço de Psicologia da Vara da Infância e Juventude de Salvador, existia um grande número de adotantes querendo menina, branca, recém nascida. Em 2008 o quadro era completamente diferente, muitas pessoas com um perfil mais flexível, sem preferência de sexo ou cor de pele e crianças maiores de 2 anos.

Investia em reuniões onde todas as demandas em torno do tema eram acolhidas, muitos saíam das reuniões diretamente para o setor específico com o objetivo de fazer a mudança do perfil desejado. Lembro que um casal mudou de até 3 anos para até 12 anos e adotou um menino negro de 7 anos, nutriam um amor imenso e hoje, 3 anos depois, estão muito felizes vivendo na Argentina, terra natal da mãe. A mãe disse uma frase muito verdadeira e tocante em um momento da reunião, se deu conta que “não esperava por uma criança que seria abandonada, mas queria uma criança que precisasse de uma família assim como ela e o marido estavam precisando desta criança, deste filho”. Foi uma das coisas mais bonitas que já ouvi, esse é o verdadeiro amadurecimento da maternidade na adoção.

Amanda Corrêa - Como é o processo de adoção para a criança? Qual é a maior dificuldade?

Cintia Liana - Toda criança abrigada tem um desejo maior: ter uma família. Claro que elas fantasiam os pais, assim como eles fantasiam seus filhos. Sobretudo as crianças desejam ser acolhidas em todas as suas necessidades. Desejam se sentir aceitas, amadas, desejam ser sempre abraçadas e motivadas, ouvindo suas qualidades. Desejam também que sejam dados os devidos limites, com amor e compreensão.

A criança que apresenta algum tipo de dificuldade no processo de adaptação não é, de modo algum, uma criança com problemas, ao contrário, pode ser uma criança que esteja entendendo a situação como não muito confortável, ou agradável, pode ser que esteja reagindo a uma séria de expectativas que colocam sobre ela.

O processo de adaptação exige tranqüilidade, sobretudo da parte dos adotantes, assim qualquer criança superará dificuldades e se adaptará bem.

Amanda Corrêa - Quais os efeitos e dificuldades pelas quais você acredita que uma criança negra pode passar ao ser adotada por uma família multiracial?

Cintia Liana - A criança não passa por dificuldades se os adultos e a sociedade não colocarem problemas na diferença de cor ou etnia. Para a criança o que importa é o amor que receberá, o amparo, os cuidados, a proteção. Não importa se terá só pai ou só mãe, se serão brancos ou negros, que classe social terá ou se serão heteros ou homossexuais, quem cria problemas quanto a isso são as outras pessoas, os grupos sociais.

Na parentalidade interrracial fica mais evidente o vínculo adotivo com a família mas, de acordo com pesquisas, a criança negra inserida em família branca que sofre preconceito não sofre pela diferença de cor e sim pelo fato de ser adotada, assim como outras crianças que são parecidas com suas famílias adotivas.

A criança poderá ouvir algumas coisas desagradáveis, mas o fato é que para ela é muito mais importante ter pais e passar por alguma dificuldade - coisa que toda criança passa por um motivo ou outro - a crescer numa instituição sozinha.

Nós não podemos deixar nossas crianças crescendo em abrigos para não realizar uma adoção por causa da cor de pele, desta forma abaixaremos a cabeça para o preconceito de pessoas com uma visão estreita, cartesiana, onde a irregularidade e o singular são ignorados.

Em pleno século XXI estamos repetindo padrões absurdos, pensamentos preconceituosos, como em outros momentos da história da humanidade.

Amanda Corrêa - Existe um acompanhamento psicológico à criança depois da adoção?

Cintia Liana - Não é algo obrigatório, mas é uma opção muito valiosa que alguns pais fazem para que a criança possa trabalhar as novas sensações dentro de sua história, esse complexo de articulações com uma pessoa especializada que vai saber, inclusive, como orientar os pais nesse contexto.

Muitas vezes são os pais que precisam de acompanhamento, porque a adoção é um momento muito rico, de muitos acontecimentos internos, é um verdadeiro parto.

Seria maravilhoso se os pais biológicos pudessem se preparar e se cuidarem como os pais adotivos geralmente o fazem.

Amanda Corrêa - A maioria das pessoas que procuram adotar querem crianças de até três anos de idade. Quais os motivos? Qual o efeito desta rejeição nas crianças de idade mais avançada?

Cintia Liana - Os motivos são achar que quanto menor a criança mais absorverá a nova educação e mais se assemelhará a um filho biológico. Também acreditam que não trará tantas recordações desagradáveis e hábitos da instituição ou da família de origem, como também acreditam que ela ainda não tem uma personalidade formada.

São fantasias sociais, grandes mitos. Quando a criança se sente verdadeiramente amada e aceita ela quer se tornar parecida com os novos pais e isso de fato ocorre independe da idade.

A mesma coisa posso dizer quanto a forma de viver e sobre o temperamento, isso não vai depender de idade e sim de cada criança e em como ela encara as mudanças e a abertura dos adultos para amá-la.

Existem criança com uma capacidade enorme de resiliência, de otimismo e que superam dificuldades que muitos adultos não conseguiriam.

Se idade fosse assim tão importante para o vínculo não existiriam tantos filhos biológicos com tantos problemas e se voltando contra os pais. Quero dizer que tudo vai depender da situação e da educação dada, assim como a visão peculiar, sutil e particular que deve ser direcionada a cada situação, não existe uma fórmula, existem situações cheias de complexidades que devem ser tratadas com muito cuidado e afetividade.

Amanda Corrêa -Você acha que existe alguma possibilidade de fatores como celebridades que adotaram crianças negras recentemente possam influenciar na decisão dos candidatos a adoção no Brasil?

Cintia Liana - Sim, com certeza as celebridas influenciam muitas novas adoções. Uma adoção na família influencia muito as outras pessoas ao redor e trabalha preconceitos. Quando alguém respeitado, conhecido e bem sucedido adota sempre abre novos caminhos e fortalece desejos. Isso faz com que as pessoas vejam como uma "espécie de moda" e como algo muito valioso que só alguém bem resolvido e bem estruturado faz, e isso todo mundo quer ser.

Click na foto para aumentar e ler a matéria:
Foto: Cintia Liana cede entrevista sobre adoção
para a Revista Star de Minas Gerais

Foto: Cintia Liana cede entrevista sobre adoção
para a Revista Star de Minas Gerais

Por Cintia Liana