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Uma das respostas de Cintia Liana ao Portal IG para compor matéria sobre adoção
É mais benéfico para a criança ser devolvida ou continuar numa família onde o ambiente pode lhe ser hostil e onde ela não é bem quista?
É mais benéfico para a criança ser devolvida ou continuar numa família onde o ambiente pode lhe ser hostil e onde ela não é bem quista?
Essa é uma pergunta difícil porque as duas situações causam sofrimento. Mas acredito que se a criança já estiver na família há muito tempo é melhor todos se submeterem a terapia para mudar a dinâmica, porque as relações não devem ser banalizadas ou descartadas.
Mas se for uma adoção no inicio e não houver outro modo, acredito ser melhor a retirada da criança da família, investir imediatamente em acompanhamento psicológico, já pensado no momento ideal para uma futura inserção em família substituta, mas que esta esteja preparada e decidida em acolher um filho, sem alimentar exigências de como a criança deve se comportar.
A criança que sente que só será aceita se fizer o que os novos pais querem não consegue sentir segurança neles. Para ela aprender a amar esses pais inicialmente também querem se sentir amadas pelo que são. Com esta base feita tudo pode ser construído de modo saudável.
Podemos dizer que quem devolve uma criança não adotou com o propósito correto, afinal a gente só “devolve” o que não é nosso de verdade?
É importantíssimo os candidatos a habilitação se perguntarem o que de fato estão buscando com a adoção, o que desejam com ela e que tipo de pais imaginam que serão. Devem também se imaginar como se filhos deles fossem, não como sendo o que eles querem, mas sendo os pais que talvez um filho não deseje que eles sejam, tantando ver o que precisam mudar para serem mais maduros nesta nova jornada. A partir destas reflexões se amadurece a maternagem e paternagem.
A adoção não foi feita para atender as exigências dos pais, foi feita para dar uma família a uma criança e essa criança traz as particuliridades da adoção, mas antes de tudo são crianças como qualquer outra, como a que poderia nascer do ventre das mães que adotam, então não tem porque fazer exigências. O mais importante é que são humanos adotando humanos, partindo disso tudo é possível e se trata de um processo dinâmico onde todos os envolvidos contam.
Quando existe o vínculo de amor, a aceitação incondicional da criança, independente das ixigências que os pais têm e a maturidade para seguir, ninguém é capaz de devolver. Até a mãe biológica quando faz um plano de adoção para o filho, normalmente, é porque ela não se vê mãe ou é capaz de ser mãe naquele momento.
Quando existe um problema com a criança ele não começa e termina nela, ela não é a causa, se trata de um sistema dinâmico e complexo, uma combinação de todos os fatores, onde muitas vezes o problema da criança é somente um sintoma de um adoecimento maior de toda a família, que pode ser causado por algo não-dito justamente, por um segredo, algo passado de modo indireto, uma crença errada, uma mágoa não trabalhada, excesso de expectativas, preconceitos, excesso de controle, ou a combinações de muitas dessas e outras coisas.
Um dos nossos entrevistados – um juiz da Vara de Infância e Juventude de São Paulo – nos disse que apesar da notícia da devolução de uma criança adotada causar mais espanto, elas são mais raras do que a entrega de filhos biológicos por parte de pais que não querem ou não têm mais condições de cuidar das crianças. Em que essas duas situações são diferentes, se é que são?
De fato, as duas situações são dolorosas para a criança, independente da idade, até porque um bebê recém nascido sente quando é abadonado, mas sucessivos abandonos são sempre mais dolorosos, é como se a criança confirmasse a sua premissa que está sendo fortalecida pelos fatos, de que ela não merece ser amada e isso causa muito sofrimento. Após isso, deve existir muito investimento de amor para que ela possa superar a dor experimentada no desamparo.
Parte da entrevista cedida ao Portal IG no dia 22 de setembro.
Por Cintia Liana
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