"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Fotógrafa retrata dia a dia de irmãs para mostrar que não há diferença entre filhos adotivos e biológic

Fotos: Reprodução/Anna Larson

Anna Larson é mãe das garotas e tem muito orgulho da relação das duas.

R7

Existe um certo preconceito em torno da palavra "adoção". Apesar de ser um ato nobre e comum, adotar uma criança ainda é tido como um "fardo" para algumas pessoas. Anna Larson, mãe de três filhos, sendo dois biológicos e uma adotiva, resolveu mostrar que, na verdade, a adoção não é nada mais, nada menos do que dividir e recriar o amor.


Em uma série fotográfica que ela intitulou de Barely Different (Pouco Diferente, em tradução para o português), Anna procurou retratar o dia a dia de Haven e Semenesh, suas duas filhas.

Sua vontade de adotar uma criança surgiu logo em sua adolescência ao participar voluntariamente de um centro de cuidados infantis no Haiti.

Entretanto, a criança que havia conquistado o coração de Anna na época veio a falecer enquanto ainda estava aos seus cuidados.

A partir deste momento, a fotógrafa ficou ainda mais determinada em adotar uma criança.

Foi neste momento em que ela conheceu Semenesh, uma garotinha da Etiópia, que, em pouco tempo, se tornou a sua garotinha etiopiana.

Desde a adoção, Samenesh e Haven desenvolveram uma amizade como Anna nunca havia visto antes.

As duas irmãs desenvolveram uma amizade sem igual e estão sempre brincando juntas, como é possível ver no trabalho de Anna.

Segundo a mamãe orgulhosa, a conexão das duas mostra como o amor e o companheirismo estão acima de qualquer preconceito.  



Além da conexão afetiva, as duas também comemoram aniversários no mesmo mês, em setembro.

Nas imagens, as duas são vistas sempre juntas, seja em brincadeiras ou até mesmo lendo um belo livro.

Em seu Instagram, Anna também gosta de compartilhar momentos únicos das garotas.

— Elas sabem que muitos estão lendo nossa história e estão muito felizes em poder compartilhar fotos de seu vínculo. Nós não poderíamos estar mais felizes de ver tanto apoio e respostas positivas de todos aqueles que sentem o mesmo. O amor não conhece barreiras.

Além de retratar a cumplicidade entre as duas irmãs, Anna também gosta de celebrar o amor.

Em seus ensaios fotográficos, Anna não deixa de mostrar casais apaixonados e a felicidade, além de mostrar toda a sua gravidez por meio de cliques emocionantes.

Fonte: http://entretenimento.r7.com/mulher/fotos/fotografa-retrata-dia-a-dia-de-irmas-para-mostrar-que-nao-ha-diferenca-entre-filhos-adotivos-e-biologicos-19052015#!/foto/1

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O tornar-se mãe e a gravidez do coração

We Heart it
Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado no Guia Indika Bem dia 29 de janeiro de 2015
Adotar uma criança tem diferenças de uma gravidez e essas diferenças não devem ser rejeitadas ou negligenciadas no processo de fortalecimento da identidade da família adotiva. Por outro lado, a espera do filho adotivo guarda algumas semelhanças com a gestação.
As futuras mãe adotivas fazem como as biológicas, elas sonham, querem, imaginam seu futuro filho. O processo de adoção leva a uma gestação emocional que nem toda gravidez leva, pois na adoção existe o momento em que é necessário refletir sobre as expectativas e as motivações que levam uma mulher a desejar um filho naquele período de sua vida. Certamente a equipe técnica das Varas da Infância, com seus estudos técnicos, levará de algum modo as adotantes a amadurecerem seu desejo ser serem mãe, o próprio processo judicial as “obriga”, de algum modo. Se todas as mães, antes de engravidar, tivessem um estágio de reflexão como as adotivas, talvez tudo fosse diferente.
Com a adoção vem um processo de reconhecimento de tudo o que circunda a maternidade. Esse gestar emocional e esse tempo na adoção são importantes para se amadurecer todas as questões relacionadas não só a maternagem e relação com o filho, como também as particularidades oriundas da adoção em si, como perfil do filho desejado, revelação da adoção, posicionamento frente a história anterior do filho, relação com a sociedade e os possíveis preconceitos a serem enfrentados durante e após o processo. Então as futuras mães são “convidadas” e mergulhar num universo totalmente novo, se descobrindo, desconstruindo conceitos e construindo novos e entendendo que um filho não pode vir com outra função que não seja somente o de ser filho. Filho não pode servir como tábua de salvação, filho-companhia, filho-distração, fazer caridade, salvar casamento ou fazer crescer.
Esse processo de quase “tornar-se mãe” normalmente ocorre paralelamente ao processo de habilitação e depois com a espera pela indicação da criança, até quando se encontra com ela e inicia-se o processo de visitação e o período de convivência, nesse momento ocorre o parto “sem dor física” tão esperado. O parto é sem dor, mas existe muita ansiedade e expectativas voltadas para esta espera e este primeiro encontro, que é quando começa a nascer uma mãe. Depois a ansiedade na conclusão da adoção, que pode levar meses ou anos, que é quando a criança ganha uma outra certidão da nascimento, anulando a primeira e torna-se filha legítima da adotante, ou seja, filha perante a lei.
O ato do encontro físico é o mesmo que ocorre com o filho biológico quando nasce. No contato pele a pele, self a self, o amor construído pelo filho imaginado, neste momento, pode ser direcionado para o filho real e aí vai sendo construída uma relação de amor no dia a dia, para isso é preciso maturidade e sobretudo aceitação, entender que para dar certo é preciso abertura para amar e todo o resto vai sendo conquistado com paciência. A criança, quando se sente plenamente aceita, não tem medo de se entregar, pois sente que não haverá um segundo abandono.
Não existem diferenças entre filhos biológicos e adotivos, filho é filho e isso se dá na convivência, na relação em si, o apego vai sendo construído e fortalecido, é assim que ocorre também nas relações consanguíneas.
As pesquisas mostram que os filhos adotados se sentem amado e queridos por suas famílias e sentem seus pais adotivos como os seus de fato. Quando se chega a conhecer os biológicos existe até um estranhamento, ou seja, a parentalidade é construída na convivência, ela não vem no DNA.
As diferenças da gestação biológica e da adotiva estão nas particularidades sobre a forma da chegada do filho e sobre a existência de um passado em outra família, mas todo o resto é igual, assim também é o amor materno na adoção.
As possíveis dificuldades que podem ocorrer com uma criança que foi adotada não é porque ela não é do mesmo sangue dos pais. Todas as crianças têm dificuldades ou apresentam algum problema em algum momento do seu desenvolvimento. O que causam grandes dificuldades são o abandono, a indiferença, a violência e esses aspectos, infelizmente, também encontramos em muitos lares biológicos.
O importante para pais adotivos, que adotam crianças que apresentam dificuldades, é saber encontrar as formas de lidar com as memórias, o desejo de procurar curar as feridas e o amor que se tem no presente.
A gravidez é um processo, mas não é garantia que uma mulher amadureça. Se fosse assim, não existiriam histórias de bebês abandonados de modo tão triste e histórias de mães violentas. Estudiosos mostram que a gravidez não faz de ninguém mãe, pode ser um acontecimento puramente biológico, que varia de uma mulher para outra o modo de sentir, pode transformar uma, mas a outra pode rejeitar o fato. Ao contrário da adoção, onde a espera pelo filho é um forte acontecimento. Na adoção existe a busca, o desejo de amar, o sonho e a reafirmação do desejo de cuidar. Tudo isso é importante no processo de fortalecimento da atitude materna e pode ocorrer tanto na adoção como na gestação, ou seja, toda maternagem consciente é adotiva. Amor é adoção.
Por Cintia Liana Reis de Silva
Primeira Fonte: http://www.indikabem.com.br/filhos/o-tornar-se-mae-e-a-gravidez-do-coracao

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Relação fusional do recém nascido e sua relação com aspectos ocultos da psiquê materna



Por Cintia Liana Reis de Silva

O que seria de fato mais importante para se preocupar quando se espera um filho no ventre e na fila de adoção? Os horários mais corretos para dar de comer e para dormir ou a própria preparação emocional para sustentar as necessidades psicológicas mais profundas da criança?

Um recém nascido resta em estado fusional com a mãe por nove meses depois do seu nascimento, sua existência psíquica sadia depende da existência dela, se ela desaparece é uma espécie de morte para ele, que sente o sofrimento desta perda como algo “esmagador” (JOHNSON, 1985).

Isso também quer dizer que perto ou longe do seu corpo físico o neonato apresenta todos os sintomas de tudo o que ela sente, ele é seu termômetro, que não sente o espaço de separação entre eles, a mãe é uma extensão do seu pequeno corpo, do seu "eu", ele depende diretamente dela para viver emocionalmente e fisicamente. Se após suas necessidades básicas serem atendidas a criança se mostra agitada, chora muito, é depressiva, apresenta problemas de pele e tem pesadelos, certamente pode estar manifestando algo oculto da psiquê da mãe, aspectos de sua "sombra", aquilo que ela esconde dela mesma, seus pensamentos negativos, sua ansiedade, aquilo que teme apresentar aos outros, aquilo que quer esquecer ou que pertence ao seu passado. Nesta hora, a mãe deve mergulhar e perguntar-se o que ela de fato sente, pois está sendo manifestado em seu filho, pois o neonato representa um vulcão em erupção, algo que nem a mãe está reconhecendo ou trabalhando em si de modo maduro (GUTMAN, 2008).

Por isso, a tarefa mais importante antes de se ter uma filho é se perguntar: “Estou pronta?”, “Tenho uma vida emocional bastante madura e tranquila capaz de proporcionar a meus filhos paz e segurança?”, “Que tipo de relação tenho com meus pais e que coisas devo trabalhar para não repetir o mesmo tipo de relação adoecida?”, "Como poderei proporcionar algo que não tive a meus filhos? E o que me falta?". Ter filhos somente com o objetivo de proporcionar prazer a si próprio ou completar-se chega a ser cruel de tão egoísta, eles não podem dar segurança a alguém que não a tem, eles precisam de segurança de completude para crescerem bem e desenvolverem bem o seu próprio ego (SILVA, 2012).

O ser humano é o único que demora mais tempo para adquirir um certo grau de autonomia, mais de 9 meses, o que outros mamíferos conseguem em apenas poucos dias depois de seu nascimento. A fusão do neonato é uma modalidade de relacionamento necessária para desenvolver o seu ego, precisa do outro, primeiro da mãe, e está enredado em suas mais profundas emoções, sentimentos, sensações, as positivas e as negativas, mesmo que isso fuja do controle desta e sempre foge. Depois a criança vai reconhecendo os outros como fazendo parte do seu mundo, criando novos vínculos fusionais e isso inclue os objetos que o cercam, como um bichinho de pelúcia. Todos também se tornam uma extensão do seu "eu" e sua vida emocional vai se ampliando. Para reconhecer esse espaço leva mais tempo que um adulto, por isso, precisam de tempo para acostumar-se com presenças de pessoas e lugares novos, para se sentirem seguros e explorarem o ambiente, como uma festinha de aniversário, por exemplo, quando é hora de ir embora é justamente o momento em que começam a se soltar e eles obviamente querem ficar. Por isso, muitas coisas não são meras birras, de acordo com alguns julgamentos comuns.

Crianças pequenas que tiveram que suportar importante separações ou são filhos de pessoas que sofrem de "ansiedade de separação" tenderão a estender um pouco este período fusional e a suportar menos rompimentos de vínculos e quando adultos correrão o risco a estabelecerem relações possessivas, baseadas no ciúme ou na falta de confiança, que são manifestações desesperadas do medo da solidão. Os pais devem estar atentos e a lançarem mão de ajuda psicológica sempre que necessário, para eles e para os filhos.

As crianças crescem e a tarefa de todas é ganhar independência física e emocional, amadurecer mas, ainda assim, nesta estrada, até um certo ponto somos o reflexo dos nossos pais, da parte luz e da parte sombra, oculta, que eles escondem até deles mesmos. A mais importante tarefa enquanto pais é desvendar esses mistérios pessoais, olhar para a parte mais dolorida e trabalhá-la sem tabus, não só para crescermos e sermos mais felizes, mas também porque significa um pacto de amor para com os filhos, que serão sempre um pouco de nós.

Cintia Liana Reis de Silva, é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia conjugal e familiar, trabalha com casos de família e adoção desde 2002.

Referência:
GUTMAN, Laura. La maternità y el incuentro con la propria ombra. Buenos Aires: Editorial Del Nuevo Estremo, 2008.
JOHNSON, Stephen M.. Characterological Transformation: The hard work miracle. New York: Ed. Norton, 1985.
SILVA, Cintia Liana Reis de Silva. Filhos da Esperança: Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos. Salvador: Edição do Autor, 2012.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pai usa saias para apoiar filho de 5 anos que gosta de usar vestidos


Por | Vi na Internet – qua, 29 de ago de 2012

Um pai alemão começou a usar saias porque o filho de cinco anos gosta de usar vestidos. A história mexeu com um vilarejo tradicional no sul da Alemanha. Niels Pickert percebeu que seu filho gostava de usar vestidos e era ridicularizado por isso no jardim de infância. Segundo Pickert, "usar saia era a única maneira de oferecer apoio ao meu filho".

Em uma carta, Pickert explica: "Sim, eu sou um daqueles pais que tentam criar seus filhos de maneira igual. Eu não sou um daqueles pais acadêmicos que divagam sobre a igualdade de gênero durante os seus estudos e, depois, assim que a criança está em casa, se volta para o seu papel convencional: ele está se realizando na carreira profissional enquanto sua mulher cuida do resto".

De acordo com o pai, ele não podia simplesmente abandonar o filho ao preconceito alheio. "É absurdo esperar que uma criança de cinco anos consiga se defender sozinha, sem um modelo para guiá-la. Então eu decidi ser esse modelo". Um dia eles resolveram sair pela cidade vestindo saias. Chamaram tanto a atenção de uma moça na rua que ela, literalmente, deu com a cara em um poste.

E o que aconteceu então? O guri resolveu pintar as unhas. Às vezes, ele pinta também as unhas do pai. Quando os outros garotos começam a zombar dele, a resposta é imediata: "Vocês só não usam saias porque os pais de vocês não usam".

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ciúmes: Irmão maior x Irmão menor

Foto: "Artigos de Psicologia"

Por Marilena Henriques Teixeira Netto

É notório que muitos irmãos são verdadeiros amigos, ao passo que alguns, se não são declarados, são camufladamente “inimigos”, ou pelo menos adversários. O ciúme entre o irmão mais velho e o irmão mais novo pode chegar a extremos. Precisamos estar atentos e tomar cuidado com nossa atitude como pais. A comparação é uma das atitudes que devemos evitar. Portanto, avalie qual tem sido seu comportamento em relação à comparação, e esteja pronto para mudar!

Quando pensamos sobre o comportamento entre irmãos, como: ciúme, inveja, rivalidade, competição, etc., pensamos sempre como comportamentos anormais e negativos. O ciúme, é visto como algo totalmente condenável e proibido entre irmãos, principalmente, em relação ao irmão mais velho, quando nasce o segundo filho.

Muitos pais chegam mesmo a dizer ao filho, que o ciúme é feio, que não deve nunca existir em relação ao irmãozinho e que esse irmãozinho veio para brincar com ele, ser seu amigo e companheiro nas brincadeiras. Isso é verdade, mas existe também uma outra verdade que nunca dizemos, mas sabemos. Esse irmão veio para dividir com ele o amor da mãe, do pai, dividir a casa, às vezes o quarto, os brinquedos, a atenção dos parentes, etc.

A criança percebe essa verdade, no momento em que a mãe chega da maternidade com o bebê no colo. O colo já começa a ser dividido desde então. O ciúme nesse caso, é esperado e, portanto, normal. O anormal seria que esse irmão mais velho não sentisse rivalidade nenhuma por esse bebê que chega e o tratasse amigavelmente. Caso isso acontecesse, poderíamos dizer que essa atitude seria estranha e preocupante porque não faz parte da índole da criança, e que obviamente, ela deveria demonstrar esse ciúme alguns momentos.

Tanto o ciúme quanto a inveja, quando intensos, são fonte de grande ansiedade. O ciúme na criança, quando não é muito forte, é característica normal da persona1idade. Envolve rivalidade sadia e quando surge no relacionamento com irmãos, é um treino preparatório da fase competitiva, que mais tarde ela precisará enfrentar no ambiente social e profissional.

As manifestações mais comuns do ciúme são a hostilidade e o ódio. A hostilidade pode oscilar entre leves manifestações de implicância e pequenas agressões até uma completa intolerância para suportar a presença do irmão; onde o desejo é o de “eliminar” o objeto odiado.

O ciúme pode, também, se manifestar de maneira indireta:a criança experimenta ansiedades, dirigindo sua hostilidade abertamente contra o irmão. Pode voltá-la contra si mesma, ou contra o ambiente.

Pode haver também uma regressão: manha, revolta, agressão contra os pais, inapetência (falta de apetite), fracasso nos estudos ou recusa em crescer (independência). Quando essa fase se estende muito, pode ameaçar o equilíbrio da personalidade infantil, levando a distúrbios, como: sinais de ambivalência e indecisão, dificuldade em tarefas que exijam capacidade de abstração ou chegar a conclusões com clareza. Como característica do comportamento desse irmão ciumento, pode surgir o oposicionismo que é dirigido contra os pais. Por exemplo: os pais gostariam que ele fosse bom aluno, fosse disciplinado, etc. e a criança reage ao contrário, opondo-se a essa expectativa e assim atraindo a atenção tão desejada dos pais.

Existem também os mecanismos passivos: a criança interioriza sua hostilidade, mas é vítima de maior carga ansiosa. Aparecem os tiques nervosos, a fala “tate-bi-tate” (em idade em que a linguagem já tenha sido estabilizada e a criança já venha se expressando com facilidade). Volta a molhar a cama ou querer que lhe dê comida na boca.

Outra forma passiva, é quando a criança fica apática, apagada, preguiçosa, sem entusiasmo. Pode bloquear-se afetivamente, sufocando junto com a inveja e o ciúme, o amor. Deixa de ter reações amorosas com familiares e irmãos. Desde que a afetividade e a inteligência estão intimamente ligadas e interdependentes, a produção e o rendimento dessa criança costuma ser precário.

Outro mecanismo passivo, é a própria desvalorização. A criança acha-se inferior e, portanto, se anula. Essa atitude determina reações depressivas que são autodestrutivas. Deve-se, nesse momento, canalizar essa agressividade adequadamente, valorizando seus sucessos numa escolinha de natação, ou outra atividade qualquer onde a criança se destaque com desenvoltura. Ela deve ser estimulada a fazer novas amizades e a freqüentar outros lugares diferentes daqueles do irmão. As comparações, obviamente, devem ser evitadas. Inevitavelmente, elas ocorrerão, mas espera-se, vindas de fora. Dizer que um dos irmãos é mais inteligente, mais carinhoso, etc., não servirá de estimulo ao outro irmão; muito pelo contrário, só fará com que ele se sinta humilhado e inferiorizado. Mais tarde, é provável que se torne num adulto que se julgue pouco inteligente ou pouco afetuoso, bloqueando-se nessas áreas; o que não é incomum. Com freqüência encontramos adultos ou adolescentes que se julgam feios, incapazes ou pouco criativos porque sempre foram comparados ao irmão. Comparações desse tipo minam traços do caráter da criança e podam seu desenvolvimento.

Outra situação de rivalidade pode surgir, quando um filho é mais rebelde do que o outro. O rebelde é sempre alvo de maior controle em relação a estudo, tipos de brincadeiras e raramente é deixado sozinho por muito tempo. O outro filho sente-se rejeitado e pouco importante. O filho que não dá trabalho, que é responsável, que é dócil, deve receber a mesma atenção cuidadosa, com tempo especial também para conversas e brincadeiras.

Não quero dizer que o ciúme e a inveja precisem ser apagados e impossibilitados de aparecerem. Em diferentes situações eles aparecerão, mas bem solucionados não trarão conseqüências desastrosas como as acima.

Como podem ser bem solucionadas?
Uma solução, está no que se refere às personalidades dos filhos.
Os pais devem identificar e realçar as características positivas de cada um.
As habilidades e talentos devem ser sempre valorizados e nunca comparados.
Quando um dos filhos é mais carinhoso, mais amoroso com os pais, geralmente os conquista com mais facilidade. Os pais se “derramam” na resposta desse afeto e tendem a comparar tal procedimento com a frieza e distância do outro filho. Essa característica, quando é observada por familiares e amigos, em vez de estimular essa afetividade, só ajuda a reprimi-la.

Lembre-se que, a habilidade e o equilíbrio de elogios e estímulos, é uma excelente alavanca para fortalecer e ajudar os filhos a suportarem suas diferenças.

Artigo publicado originalmente na revista Casal Feliz (Ano XII – no.46)


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Abandono, institucionalização e adoção no Brasil: problemas e soluções

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Por Lídia Weber

"Toda criança precisa de adultos afetivos, de pais, que lhe ensinem as fronteiras entre o certo e o errado, que possam lhe enxugar uma lágrima em momentos de tristeza, que possam ouvir e compreender os seus sonhos mais fantásticos e os pesadelos mais  ssustadores. Pais são aquelas pessoas que devem ter um amor incondicional e que ajudam a construir a identidade e o desenvolvimento de uma criança, assim como se constrói um edifício, primeiro as fundações para sentir-se confiante e amada, depois as janelas para poder olhar para o mundo e, por fim, as portas, para sair para o mundo, confiante e com auto-estima sólida e forte para enfrentar essa realidade nem sempre benevolente.

É um direito dos casais que não podem ter filhos adotar bebês, mas é um dever do Estado proporcionar condições para que cada família mantenha seus filhos e, para as crianças já abandonadas, encontrar pais substitutos. Quanto à comunidade, é preciso trabalhar para que exista uma atitude de solidariedade ativa, nacional e internacional e para que haja famílias disponíveis às diversas formas de acolhimento. Todos nós devemos lutar por aquilo que estas crianças pedem: uma chance, um esforço, uma esperança, um pouco menos de medo, um pouco mais de coragem, um pouco menos de leis e um pouco mais de justiça. Quem sabe assim seja possível transformar os filhos de ninguém em filhos do coração!"

Lídia Weber em:
Weber, L.N.D. (2005). Abandono, institucionalização e adoção no Brasil: problemas e soluções. , 53-70.
O Social em Questão, 14

AbandonoinstitucionalizacaoeadocaonoBrasilproblemasesolucoes.pdf

domingo, 15 de abril de 2012

Empatia: uma atitude naturalmente sábia e compassiva

Posto este belo texto sobre empatia, que é uma palavra tão rica de significados e peço que ao ler observem que na adoção existe um fluxo natural de empatia com a criança. É a nossa criança falando com a outra que nos espera.

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Por Bel Cesar

O desenvolvimento da espiritualidade nos lança em direção ao mundo: nos torna cada vez mais empáticos com os outros. Para que isto se torne realidade, precisamos inicialmente incluir em nossas atividades cotidianas uma atitude empática para conosco mesmos.

Ser empático é algo natural no ser humano: quando vemos alguém sofrendo surge espontaneamente em nós o desejo de ajudar, simplesmente porque nesses momentos reconhecemos no outro alguém como nós e nos identificamos com ele.

A palavra empatia origina-se do termo grego empátheia, que significa entrar no sentimento. Portanto, a primeira condição para sermos empáticos é sermos receptivos aos outros e simultaneamente à nossa totalidade interior. Isto significa estar disposto a conhecer tanto os outros como a si mesmo. A empatia nos ajuda a nos libertar dos nossos padrões rígidos e repetitivos.

Segundo Robert Sardello, precisamos passar por três fases distintas para desenvolver a empatia. O primeiro aspecto dessa atividade consiste em voltarmos conscientemente a nossa atenção para uma outra pessoa em uma atitude de abertura. Estendemos parte de nosso ser para além de seus limites usuais, ficamos interessados na existência e no destino da outra pessoa – mas não por curiosidade, aventura, criticismo, interesse pessoal ou poder. Para tanto, temos antes que deixar escoar os nossos pensamentos habituais sobre ela e nos permitir senti-la de um modo mais direto e intuitivo.

Uma vez que abandonamos nossas idéias preconcebidas sobre aquela pessoa e nos encontramos sintonizados com ela, podemos passar para a próxima etapa: Você se move em direção a sentir as qualidades interiores da outra pessoa sem saber ou precisar saber quais são elas, exatamente como uma criança que, antes de formar conceitos sobre o mundo, está aberta às suas impressões imediatas e qualidades interiores. Neste processo, entretanto, nem por um instante perdemos o senso de nós mesmos. O exercício não é uma fusão com a outra pessoa.

A idéia é derrubar as barreiras que nos impedem de fazer um contato mais direto e espontâneo com o outro sem nos confundirmos com ele; portanto, a terceira fase consiste em retornar à parte de nós mesmos deixada para trás enquanto encontrávamos a outra pessoa. Um eco daquilo que experimentamos enquanto residíamos no interior da outra pessoa permanece, e agora essa ressonância vive em nós como uma imagem da alma. Tal imagem pode gradualmente ser trazida ao entendimento através da contemplação.

Este exercício nos aproxima dos outros, e nos ajuda a reconhecer as diferenças e os pontos que nos unem. Empatia não quer dizer tornar-se similar ao outro. Muito pelo contrário: ela surge à medida em que nos tornamos receptivos às diferenças. Compreender o outro em sua particularidade é fundamental.

Formar parcerias torna-nos cada vez mais empáticos, pois estreitar nossos relacionamentos ajuda-nos a nos desapegarmos da visão autocentrada que gera ansiedade e solidão.

É como escreve Márcia Mattos: O fato de o outro existir junto comigo – de estar ao meu lado e de se dispor a fazer coisas comigo – me inspira a despertar qualidades que estavam inconscientes em mim. Toda personalidade se enriquece com isso. [...] Há uma poderosa química que o outro exerce sobre nós, produzindo efeitos e aflorando virtudes das quais nós sozinhos seríamos incapazes de nos apropriar.

O delicado equilíbrio entre as minhas, as suas e as nossas necessidades

Em geral, temos o hábito de olhar apenas para nossas necessidades, mesmo quando pensamos ser generosos. Esta é a razão por que é tão difícil ajudar os outros: temos dificuldade de percebê-los nas suas necessidades. Desta maneira, acabamos por criar vínculos desequilibrados e neuróticos, baseados na co-dependência.

Co-dependente é uma pessoa que tem deixado o comportamento de outra pessoa afetá-la, e é obcecada em controlar o comportamento dessa outra pessoa. Quando dizemos sim, mas na realidade queremos dizer não, quando fazemos coisas que não queremos realmente fazer, ou fazemos o que cabia aos outros fazerem, estamos sendo co-dependentes e não pacientes e nem mesmo generosos! Uma atitude co-dependente pode parecer positiva, mas, na realidade, está gerando baixa auto-estima e falta de confiança.

Em outras palavras, se ao nos dedicarmos aos outros estivermos nos abandonando, mais à frente teremos de nos confrontar com as conseqüências de nossa atitude ignorante. Reconhecer nossos limites e necessidades é tão saudável quanto a motivação de querer superá-los.

Sentir a dor do outro não quer dizer ter que repará-la. Este é nosso grande desafio: sentir a dor com o intuito de simplesmente nos aproximarmos dela, em vez de querer transformá-la de modo imediato.

É preciso deixar claro que ter empatia não tem nada a ver com a necessidade compulsiva de realizar os desejos alheios, própria dos relacionamentos co-dependentes.

Stephen Levine nos dá uma boa dica para identificarmos se nossos relacionamentos são saudáveis ou não: Na co-dependência, as balanças sempre pendem para um lado. É freqüente que um tenha de estar ‘por baixo’ para que o outro se sinta ‘por cima’. Não há equilíbrio, somente a temida gravidade. Em um relacionamento equilibrado não há um ‘outro dominante’; os papéis estão em constante mudança. Quem tiver o apoio mais estável sustentará a escalada naquele dia.

A troca equilibrada entre ceder e requisitar, dar e receber afeto e atenção nos aproxima de modo saudável das pessoas que nos cercam sem corrermos o risco de criar vínculos destrutivos. O paradoxo do relacionamento é que ele nos obriga a sermos nós mesmos, expressando sem hesitação e assumindo uma posição. Ao mesmo tempo, exige que abandonemos todas as posições fixas, bem como nosso apego a elas. O desapego em um relacionamento não significa que não tenhamos necessidades ou que não prestemos atenção a elas. Se ignoramos ou negamos nossas necessidades, cortamos uma parte importante de nós mesmos e teremos menos a oferecer ao parceiro. O desapego em seu melhor sentido significa não se identificar com as carências nem com as preferências e aversões. Reconhecemos sua existência, mas permanecemos em contato com nosso eu maior, onde as necessidades não nos dominam. A partir desta perspectiva, podemos escolher afirmar nosso desejo ou abandoná-lo, de acordo com as necessidades do momento.

A empatia começa com a capacidade de estarmos bem conosco mesmos, de reconhecermos o que não gostamos em nós e admirarmos nossas qualidades. Quanto melhor tivermos sido compreendidos em nossas necessidades e sentimentos quando éramos crianças, melhor saberemos reconhecê-las quando adultos.

Entrar em contato com os próprios sentimentos é a base para desenvolver a empatia. Como alguém que desconhece suas próprias necessidades poderá entender as necessidades alheias?



Bel Cesar é psicóloga e pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano. Trabalha com a técnica de EMDR, um método de Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares. Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções, Mania de sofrer e recentemente O sutil desequilíbrio do estresse, todos pela editora Gaia.
Email: belcesar@ajato.com.br



Fonte: http://www.stum.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=3912

domingo, 1 de abril de 2012

Filhos como companheiros

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"Não sabemos o que podemos esperar de um filho adotivo, como não sabemos o que podemos esperar de um filho biológico, pois são seres humanos que se desenvolverão na troca com o mundo, na troca com as pessoas, que se formarão independente do nosso desejo, pois têm coisas que estão longe do nosso controle ou manipulação. O que podemos fazer é darmos o melhor de nós mesmos, sermos sinceros com o mundo a as pessoas que nos cercam, não nos comportarmos de forma contraditória com nossos discursos. Podemos eleger nossos filhos como companheiros e não alguém que vamos moldar, manipular ou fiscalizar, mas como um ser que precisa de auxílio e que podemos, antes de tudo, respeitá-lo naquilo que ele é, naquilo que ele traz, naquilo que ele faz a diferença, não lhe tirando a sensibilidade, a intuição e  a percepção".
Cintia Liana Reis de Silva em seu primeiro livro "Filhos da esperança".

segunda-feira, 26 de março de 2012

A dor na separação dos pais

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Por Cintia Liana Reis de Silva*

Os “adultos” precisam entender uma coisa. Quando eles se separam o filho não sofre pelo rompimento do sub sistema familiar “casal”, não importa se eles continuarão se beijando ou não. O filho sofre pelo fato de que terá que abdicar da presença de um dos dois em casa, sobretudo se esse um for uma figura muito importante e sã em sua vida.

Não adianta, o filho pequeno não entenderá a dimensão dos fatos, não adianta muito conversar, explicar, colocar para fazer terapia... Ele não terá maturidade para entender que não está sendo abandonado, ele se sentirá abandonado de qualquer modo, a situação gera insegurança, vazio e medo. Os pais é que devem fazer terapia para serem orientados em como fortalecer a criança, entender o seu mundo e minimizar seu sofrimento.

Ninguém o está abandonando, mas ele sentirá a dor do abandono e da distância mesmo assim. O pai pode visitá-lo todos os dias, mas para ele não bastará. Pode falar, mas ele continuará sentindo a dor da separação e da mudança do cotidiano familiar.

Por isso, antes de ter um filho, se deve escolher bem o parceiro, porque a criança carregará a dor da separação até adulto, mesmo que ela negue. Quando tiver humildade e maturidade terá a percepção de que precisa trabalhar esta lacuna e irá em busca de orientação profissional, fará terapia para curar essa péssima sensação que o acompanhou por tantos anos. Essa separação certamente fez desenvolver uma auto estima mais baixa, por ter achado que não foi suficientemente amada, que não era boa o bastante, o que gerará alguns outros problemas de socialização.

Têm pessoas que crescem afirmando que a separação dos pais não lhes causou nada, pois têm sucesso, não têm “problemas”, mas é preciso sinceridade e humildade para se entender que nossa realidade interna é desconhecida mesmo, que precisamos mergulhar na hipótese da existência de uma angústia e de existirem muitos reflexos advindos da separação de um dos pais.

O abandono é muito dolorido, é cruel, é monstruoso, pode acabar com as esperanças de futuro de uma criança e, por tanta dor, muitas vezes as pessoas acham melhor não vê-lo.

Imaginem então o que sente uma criança que foi de fato abandonada! A dor existe, não adianta negar, ser abandonado é horrível, mas não faz de ninguém inferior. Se essa dor for trabalhada acertivamente, falada, chorada, será é uma vitória e a conquista da liberdade.

Muito provavelmente, esses filhos de pais separados, mais tarde desejarão se casar e não se separar, mas não somente por não querer sentir a dor de mais uma separação, e sim para não fazer com que seus filhos sofram como eles sofreram um dia.

*Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em casal e família. Atendeu dezenas de casos de crianças que sofriam no momento da separação dos genitores e apresentavam quadro psicossomático de pneumonia.

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Artigo científico:

sexta-feira, 23 de março de 2012

Torna-se mãe

Tumblr

Publicado em 15.03.2012
Por Cintia Andrade Moura*


Para muitas mulheres, a maternidade inicia-se na gestação. Para outras, na adoção.

Nutrir o desejo de ser mãe é comum na intimidade feminina. Enfrentar a impossibilidade de gerar um filho é, para muitas, frustrante e estarrecedor.
Pensar na ideia de ser mãe pela adoção gera vários questionamentos e enfrentamentos e, por isso, infelizmente algumas mulheres simplesmente desistem do sonho da maternidade.

A maternidade proporciona na vida da mulher transformações e descobertas inimagináveis. Tornar-se mãe é muito mais que gerar um filho. Para ser mãe, é imprescindível e suficiente o amor. Disso chamamos a adoção.

Que importa se o teu filho não carregará a tua herança genética? Ele carregará as tuas lições de vida.
Que importa se o teu filho não sairá do teu ventre? Ele entrará na tua vida e na tua alma.
Que importa se não puderes amamentar o teu filho ao peito? Ele será alimentado por tuas mãos cheias de ternura e amor.
Que importa se o teu filho não terá teus traços fisionômicos? Ele possuirá os traços da tua forma de pensar e agir perante o mundo.

Abençoadamente, sou mãe adotiva e colho os melhores frutos da convivência com meus filhos.


Certo dia, estava em viagem com a família e minha filha mais velha (uma negra belíssima!) entrou no ambiente em que me encontrava iniciando o seguinte diálogo:

− Mãe, uma amiga minha da escola me perguntou por que sou diferente de você?
− O que você respondeu? − perguntei sem alarde.
− Eu falei para ela que é porque sou adotada.
− E isso te incomodou? − quis saber.
− De forma alguma, mãe! Eu tenho o maior orgulho de ser adotada, de ser sua filha e de papai, e de ser negra.
Emocionada, falei para ela que de todas as coisas lindas que eu já havia escutado na vida, essa era a mais bela de todas. E ela completou:
− É o seu presente de aniversário, mamãe!

Abracei tanto a minha filha que quase a sufoquei. E chorei... Chorei e ainda choro por tantas emoções e felicidade que a maternidade adotiva me proporciona. Agradeço a Deus pela oportunidade de ser mãe de uma forma tão completa e intensa. De ser uma mãe que nasceu pela atitude adotiva.

Desistir de amar é desistir de viver.

Desistir da experiência extraordinária de ser mãe porque não se pode gestar é que é frustrante e estarrecedor.

* Cintia Andrade Moura é uma orgulhosa e feliz mãe adotiva
http://ne10.uol.com.br/coluna/atitude-adotiva/noticia/2012/03/15/tornarse-mae-332200.php



Postado Por Cintia Liana

segunda-feira, 12 de março de 2012

Famílias legitimadas pelo amor


Jornal do Commercio, Caderno Arrecife 
Recife, Domingo, 11 de Março de 2012.

Capa: 

Longe dos rótulos, núcleos familiares nascidos a partir da adoção comprovam que o parentesco é algo que vai além do sangue: é conquista diária que exige dedicação e vontade

Apresentação da editora chefe do Caderno:

Laços de família além do sangue

Recentemente, o caso do filho que matou os pais no Recife chocou o País. O bispo Robinson Cavalcanti e a esposa, Míriam, foram brutalmente assassinados, a facadas, pelo filho, Eduardo, que já está preso. Além dos motivos que levaram o jovem a cometer o crime, chamou a atenção o fato de sempre que se falava do parentesco entre os envolvidos, era salientado o fato de Eduardo ser adotado. Como se nunca no País infelizmente tivessem ocorrido casos de filhos biológicos que acabaram com a vida dos pais. A reportagem de capa desta edição surgiu a partir da reflexão sobre esse que deveria ser um pormenor. Com segurança de quem é mãe e sensibilidade de jornalista que atenta para os detalhes, Bruna Cabral redigiu uma bela matéria sobre as famílias que nascem do difícil ato da adoção. Difícil porque dá trabalho vencer a burocracia e mais ainda conquistar o amor daquela criança que já foi tão magoada pela vida. A boa notícia é que é possível sim criar laços de parentesco definitivos, por vezes até mais fortes que os originados pelo sangue.

Janaína Lima, editora.


CAPA 
 
Elos cerzidos pela vida
Para quem protagoniza relações familiares costuradas pela adoção, amor tem gosto de arroz com feijão. É conquista cotidiana, que vinga, cresce e estabelece laços inquestionavelmente legítimos

Bruna Cabral - bruna@jc.com.br

Nem das suculentas maçãs do paraíso, nem do indigesto enxofre do purgatório. Para quem protagoniza relações familiares cerzidas pela adoção, amor tem gosto de arroz com feijão. Afinal, por mais que a sociedade insista em atribuir rótulos, méritos e deméritos à configuração familiar pautada mais por convicções que por instintos, quem empreende uma batalha jurídica e outra afetiva em busca de seus rebentos sabe que parentesco é, e ninguém ouse duvidar, substantivo erguido com a argamassa incorruptível do cotidiano. Uma construção que leva tempo. Dá trabalho. Exige dedicação e persistência. Mas vinga. Cresce. Estabelece elos inquestionavelmente legítimos. E, apesar dos inevitáveis percalços da vida, perpetua famílias felizes nos quatro cantos do planeta, desde que o mundo é mundo.

No Brasil, a adoção só foi contemplada com uma lei específica em 2009. Hoje, qualquer um que queira adotar uma criança precisa primeiro dar entrada numa série de documentos, passar por uma avaliação psicológica, entrar num cadastro nacional e ainda fazer uma espécie de curso preparatório, conta Suzana Schettini, psicóloga especializada no assunto. E por mais compridos que possam parecer, esses trâmites, garante, já foram bem mais complicados e lentos.

Mãe adotiva e presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de Recife (Gead), ela avalia que o preconceito é hoje entrave bem maior à adoção que a burocracia. Vez por outra, um fato terrível como esse assassinato do casal de religiosos, cometido pelo filho há algumas semanas, reacende a polêmica em torno do assunto. As pessoas passam, aliás, voltam a tratar a adoção a partir do equivocado pressuposto de que mais cedo ou mais tarde a relação vai se tornar problemática, diz Suzana, que se apressa em avisar que, na prática, esse terrorismo não se confirma. Isso não passa de bullying social.

Os números referentes à adoção em Pernambuco não deixam Suzana mentir. Segundo dados da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), só em 2010, um total de 937 crianças deixaram instituições de acolhimento Estado afora para se instalar na árvore genealógica alheia. E os recifenses, claro, são maioria na lista de famílias que começaram numa assinatura. Na Veneza brasileira, a cegonha do Poder Judiciário pousou exatas 183 vezes no ano retrasado. E não perdeu as viagens. Os casos de insucesso não chegam a 1% dessas estatísticas, diz o desembargador Luiz Carlos Barros Figueiredo, coordenador da vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de Pernambuco.
 
Mas número é número. E filho é filho. Não dá para dizer que não existem problemas numa relação desse tipo. Às vezes os pais escolhem o momento errado para tomar essa decisão. Às vezes depositam uma expectativa exagerada na criança. Ou pior: erram na motivação, achando que fazem caridade. Aí, complica bastante, diz Suzana. Mas não inviabiliza.

Mãe de Bruno e Marco Gabriel, 13 e 9 anos, a psicóloga e terapeuta floral Ana Azevedo, 54, também acredita que o revés do preconceito é um dos principais entraves à felicidade das famílias reunidas pela adoção. Muita gente tem a ilusão de que assumir a guarda de uma criança é uma grande obra social, uma ação humanitária. Mas não tem nada a ver com isso. Também não é mágica, nem conto de fadas. É só um arranjo familiar diferente. O que muda é o começo. O resto são prazeres e desprazeres do cotidiano, diz Ana, que garante: não escolheu ser mãe. Foi escolhida.

Há muitos anos, trabalhei numa escola e acabei ficando muito ligada a uma das adolescentes. A menina cresceu e nunca mais perdemos o vínculo. Ela casou, teve dois filhos mas, no segundo parto, morreu. Não sem antes pedir a Ana que cuidasse de suas crias, caso alguma coisa desse errado. A princípio, dividia a guarda dos meninos com os avós e o pai. Até que assumi os dois em definitivo. Com o apoio da família, claro, que se traduz em visitas constantes. O começo, conta Ana, foi muito difícil para todos. Mas eles sempre me deram muita força. E vice-versa.

Se precisasse traduzir a adoção numa equação, a psicóloga diz que não abriria mão de dois fatores: paciência e sinceridade. Não entendo por que o assunto é um tabu. Depende dos pais afetivos se a criança vai encarar com naturalidade ou não aquela situação, diz. E Suzana reforça: O problema não é ser adotado. É ser enganado.

Segundo a presidente do Gead, negar à criança o direito de conhecer sua história é meio caminho andado para dores de cabeça futuras. É preciso falar abertamente sobre a adoção desde o princípio. E nem precisa procurar ensejos. Eles acontecem naturalmente, no meio da enxurrada de porquês da infância. Cabe aos pais responderem o que lhes foi perguntado. Com o tempo, a conversa evolui, conta Suzana, que lembra comovida da pergunta inusitada que um dia um de seus pequenos e astutos pacientes fez no consultório: Se não nasci da barriga da minha mãe, nasci de onde? De um ovo?

Quando fez um questionamento parecido à mãe pela primeira vez, o advogado e professor universitário Rômulo de Freitas, 31, não tinha nem tamanho, nem juízo. Mas lembra da cena nitidamente até hoje. O que minha mãe me disse naquele dia continua sendo, para mim, a melhor forma de traduzir nossa relação. Ela falou que eu era seu filho, sim. Mas do coração e não da barriga. Achei aquilo lindo. E só muito mais tarde voltei a falar no assunto, diz Rômulo, que afirma de cátedra: famílias que se formam pelo amor e não pela biologia não geram, necessariamente, pessoas doentes, revoltadas ou violentas. Pode acontecer em qualquer núcleo familiar.

Temporão e caçula mimado de quatro filhos, Rômulo diz ter muita gratidão pelas oportunidades que a vida lhe deu. E, em retribuição, garante ser o mais engajado dos irmãos. Sou o fiel da balança. Faço questão de reunir todos, conciliar os ânimos, congregar.
 
Maria Luiza Albuquerque, 18, também considera mais que legítimos seu desejo e merecimento de pertencer à família que a acolheu nos primeiros dias de vida. Para ela, amor é troca, respeito e gratidão. Não sangue. Chego a esquecer que sou adotada. Porque isso não importa, na verdade. A relação que tenho com meus pais é de verdade. Não interessa de onde ou de quem eu vim, diz a primogênita da professora Eneri Albuquerque, 56, e do advogado Paulo Albuquerque, 57, que dispensam rótulos na hora de curtir o enredo familiar que escolheram protagonizar.

Pais também de Luana Raquel, 13, eles garantem que todo e qualquer genitor dedicado é, na essência, alguém que escolheu suas crias. Quantos casos a gente não vê por aí de mães que deram à luz, mas nunca assumiram a maternagem de seus filhos de fato?, questiona Eneri, para quem toda relação de afeto e/ou dedicação começa numa adoção. A gente adota amigos, cônjuges, causas e por aí vai.

Sua vizinha de porta, Rosane Alencar, 44, também professora, abraçou essa causa e as trelosas gêmeas Marina e Louise há quatro anos. Meu caso foi completamente atípico. Tentei fazer inseminação, mas não deu certo. E foi muito traumatizante. Quando me refiz, parti para a adoção. E acabei descobrindo uma moça, em Paudalho, que estava na oitava gestação e não queria de jeito nenhum aumentar a família, nem fazer mal aos bebês que estavam por vir.

Rosane acompanhou o pré-natal, o parto, o puerpério. Cuidou das meninas e da mãe delas. Depois registrou a duplinha e começou a escrever outra história familiar para elas. Não foram elas que ganharam. Fui eu, diz a educadora, que, se duvidar, até os enjoos da gravidez sentiu, por tabela.

A funcionária pública Cláudia Viana, 40, é outra que jura de pé junto que engravidou. O que é uma gestação senão os preparativos para ter filhos?, argumenta a aguerrida mãe estreante, que também tentou inseminação artificial, mas acabou recorrendo à Justiça para realizar o sonho da maternidade. Esperou por alguns meses e foi contemplada com um casal de gêmeos, que deu o ar da graça na mesma semana em que a mãe de Cláudia morreu. Foi muito significativa para mim essa renovação da vida.

Há exatos 7 meses, Matheus, 3, e Isabela, 2, chegaram para fazer a alegria da casa. E também para ensinar muitas lições a ela e ao marido, o mecânico Gerson Benício, 47. Não vou dizer que é fácil. No começo, quando fomos visitar os meninos no abrigo, eles não aceitavam nossa presença. Choravam. Achavam ruim. Até que conseguimos conquistá-los, diz Cláudia, no meio do caminho que a enfermeira Rosimar Contente, 56, já percorreu três vezes.

Mãe de cinco filhos, entre biológicos e adotivos, ela garante que não cansa de recomeçar. O primeiro da lista foi José Henrique, 34, que colocaram na minha porta quando eu já tinha perdido oito bebês. Fiquei muito feliz. E também muito fértil. Depois dele, Rosimar engravidou de Jorge Adriano, 32, e, logo em seguida, de João Paulo, 31. Achou pouco e ainda adotou Ruthy, 25, e Sara, 8. Dou carão e carinho, limite e amor a todos, sem distinção. Se pudesse, adotaria outras crianças.
 
A psicóloga Lúcia Soares, 44, não quer muitos. Mas quer tanto manter os gêmeos Alan Vítor e Alana Vitória, 9, debaixo das asas que encarou a forma mais difícil de adoção: a tardia. Há dois anos, ela e o marido, João Batista, 44, foram surpreendidos por um carinho enorme, que não lhes deixou outra alternativa, senão acolher os meninos por quem se apaixonaram perdidamente. Sempre quisemos adotar. Mas esperávamos o momento certo. E para nos acostumarmos com a ideia aos poucos, decidimos fazer o chamado apadrinhamento afetivo. A gente visitava os meninos e podia até levá-los para passear. E de voltinha em voltinha, o amor aconteceu. Pior é que até que nos candidatássemos de fato à adoção, um outro casal se interessou pelos dois. Mas corremos tanto, lutamos tanto, que deu tudo certo. O universo conspirou a nosso favor, conta Lúcia, que adotou e foi adotada pelos gêmeos crescidos para quem a vida decidiu, enfim, abrir portas, janelas e corações.
 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Atitude adotiva: pai e mãe de verdade

Google Imagens

Publicado em 15.02.2012, à 16h16


Por Guilherme Lima Moura

É comum ouvirmos por aí expressões do tipo “Não é seu pai (ou mãe) verdadeiro”, numa referência à filiação adotiva. Estimulados por afirmativas como esta, colocamo-nos em atitude reflexiva sobre a verdade da paternidade e da maternidade. Onde estará tal verdade? Em que consistirá uma mãe ou um pai de mentira? Tais questionamentos nos fizeram recordar um episódio que vivemos.

Há algum tempo eu estava com um dos meus filhos caminhando na praia quando encontramos com um de seus amiguinhos. Na ocasião, ambos estavam com seis anos. Após o início de uma breve conversa, enquanto brincávamos na areia, o menino saiu-se com esta: “Meu pai nunca me visita!”. Ante o inesperado da revelação, pude notar na sua espontânea expressão de tristeza o efeito devastador da inexistência paterna na vida de uma criança.

Não que ele − o dito “pai verdadeiro” − seja desconhecido, não esteja mais “entre nós” ou resida em lugar incerto e não sabido. Nada disso. Ele existe, sim. Tal existência, porém, é apenas a do indivíduo. No máximo, a do responsável financeiro. A palavra “pai”, no caso em questão (como em tantos outros), é usada em substituição a “genitor”, ou seja, o provedor do material genético necessário à gestação de outro indivíduo.

Pai de verdade?

Como esclarece o psicólogo e querido amigo da adoção Luiz Schettini, “a filiação é uma experiência ética, não genética”. Acostumamo-nos a chamar de pai ou mãe aqueles que, embora tenham nos premiado com a existência física, não puderam nos oferecer a coexistência afetiva. São indivíduos que geraram outros indivíduos. Permitiram a vivência, mas não proporcionaram a convivência. Aquela é o ponto de partida biológico, a produção de um potencial humano que só chega a realizar-se nesta, o espaço relacional e afetivo em que se desenvolve.

Na vida do coleguinha do meu filho, existe um genitor, mas não existe um pai. Embora às vezes confundamos um com o outro, as crianças vivem dramaticamente essa diferença. Naquele momento, ele se sentiu provocado pela presença do meu filho que ali se encontrava agarrado com o pai, sem entender porque ele próprio também não podia ter ao seu lado a presença paterna tão desejada.

“Onde estará meu pai?”, indagava-se intimamente mais uma vez o menino infeliz. “Mas por que não me ama?! O que eu fiz de errado?!”, concluía novamente cheio de tristeza e, certamente, de uma culpa que não lhe pertence.

Alheio aos vínculos biológicos que inexistem entre meu filho e eu, enxergou com clareza que entre nós dois a filiação era viva e verdadeira porque estabelecida em profundo afeto. Isso o que lhe importava. Isso o que lhe faltava.

Pai de verdade!

O garoto, cujo relato nunca esquecerei, é mais uma criança que vive o pior tipo de orfandade: a que surge na expectativa frustrada de um potencial de pai que, embora exista sempre, não chega a se realizar nunca. Que surge no contrário do amor: o abandono afetivo.

Estará a verdade da paternidade e da maternidade, então, no laço biológico? Ela ocorre simplesmente (e necessariamente) no encontro de amorosidade entre aqueles que decidem tornarem-se pais e filhos uns dos outros, havendo ou não o vínculo genético. Ela ocorre na ADOÇÃO.

Mentira? Verdade! Qualquer criança sabe disso.



Postado Por Cintia Liana