"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Atitude adotiva: pai e mãe de verdade

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Publicado em 15.02.2012, à 16h16


Por Guilherme Lima Moura

É comum ouvirmos por aí expressões do tipo “Não é seu pai (ou mãe) verdadeiro”, numa referência à filiação adotiva. Estimulados por afirmativas como esta, colocamo-nos em atitude reflexiva sobre a verdade da paternidade e da maternidade. Onde estará tal verdade? Em que consistirá uma mãe ou um pai de mentira? Tais questionamentos nos fizeram recordar um episódio que vivemos.

Há algum tempo eu estava com um dos meus filhos caminhando na praia quando encontramos com um de seus amiguinhos. Na ocasião, ambos estavam com seis anos. Após o início de uma breve conversa, enquanto brincávamos na areia, o menino saiu-se com esta: “Meu pai nunca me visita!”. Ante o inesperado da revelação, pude notar na sua espontânea expressão de tristeza o efeito devastador da inexistência paterna na vida de uma criança.

Não que ele − o dito “pai verdadeiro” − seja desconhecido, não esteja mais “entre nós” ou resida em lugar incerto e não sabido. Nada disso. Ele existe, sim. Tal existência, porém, é apenas a do indivíduo. No máximo, a do responsável financeiro. A palavra “pai”, no caso em questão (como em tantos outros), é usada em substituição a “genitor”, ou seja, o provedor do material genético necessário à gestação de outro indivíduo.

Pai de verdade?

Como esclarece o psicólogo e querido amigo da adoção Luiz Schettini, “a filiação é uma experiência ética, não genética”. Acostumamo-nos a chamar de pai ou mãe aqueles que, embora tenham nos premiado com a existência física, não puderam nos oferecer a coexistência afetiva. São indivíduos que geraram outros indivíduos. Permitiram a vivência, mas não proporcionaram a convivência. Aquela é o ponto de partida biológico, a produção de um potencial humano que só chega a realizar-se nesta, o espaço relacional e afetivo em que se desenvolve.

Na vida do coleguinha do meu filho, existe um genitor, mas não existe um pai. Embora às vezes confundamos um com o outro, as crianças vivem dramaticamente essa diferença. Naquele momento, ele se sentiu provocado pela presença do meu filho que ali se encontrava agarrado com o pai, sem entender porque ele próprio também não podia ter ao seu lado a presença paterna tão desejada.

“Onde estará meu pai?”, indagava-se intimamente mais uma vez o menino infeliz. “Mas por que não me ama?! O que eu fiz de errado?!”, concluía novamente cheio de tristeza e, certamente, de uma culpa que não lhe pertence.

Alheio aos vínculos biológicos que inexistem entre meu filho e eu, enxergou com clareza que entre nós dois a filiação era viva e verdadeira porque estabelecida em profundo afeto. Isso o que lhe importava. Isso o que lhe faltava.

Pai de verdade!

O garoto, cujo relato nunca esquecerei, é mais uma criança que vive o pior tipo de orfandade: a que surge na expectativa frustrada de um potencial de pai que, embora exista sempre, não chega a se realizar nunca. Que surge no contrário do amor: o abandono afetivo.

Estará a verdade da paternidade e da maternidade, então, no laço biológico? Ela ocorre simplesmente (e necessariamente) no encontro de amorosidade entre aqueles que decidem tornarem-se pais e filhos uns dos outros, havendo ou não o vínculo genético. Ela ocorre na ADOÇÃO.

Mentira? Verdade! Qualquer criança sabe disso.



Postado Por Cintia Liana

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