"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ficção que reforça preconceitos

Google Imagens
Um des-serviço à população brasileira (na qual muita gente se informa só através das pobres novelas), sem o mínimo de responsabilidade é construir um personagem perverso, imaturo, cruel, egoísta ao extremo, psicopático e colocar a responsabilidade no fato de ter sido adotada, como se isso justificasse o desejo de vingança e de matar pessoas e, ainda por cima, para proteger o segredo, como se fosse horrível ter sido adotada. E ainda tratar a doença mental como etiologicamente puramente genética. Absurdo.
Cintia Liana
Abaixo seguem as palavras do meu amigo Paulo Wanzeller.
Fina Estampa... É isso mesmo? Ficção para quê?

04.02.1012


Fiquei procurando uma razão que justificasse não apenas a busca insensata do sucesso a enredar o texto principal da novela Fina Estampa, exibida no horário nobre da Rede Globo, pelos caminhos da insanidade, crime, violência, mal caráter, futilidade ao extremo, desajuste sexual, pedantismo, usura, dente outros; todas estas funestas características reunidas em um só personagem, a Teresa Cristina, protagonizada pela atriz Cristiane Torloni, o porquê de tal personagem ostentar em sua história um passado de abandono e adoção e qual a relação das características pessoais do personagem com a adoção.

Na internet li a biografia do autor Aguinaldo Silva. Li a sinopse da novela, li a sinopse das outras novelas do autor, li textos, assisti vídeos... Não existe uma aparente e explícita justificativa vinda ou explicada do autor. Do meu ponto de vista trata-se de pobreza de imaginação e de criatividade. É a minha opinião e não altera um centavo da audiência da novela que, por sinal, não assisto. Não vejo atração nas novelas atuais, prá mim são simples repetição de um roteiro prá lá de batido.


Lembrei do episódio do chamado “Massacre de Realengo” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Realengo), e o quanto a adoção foi exposta como justificativa para o crime, inclusive ressaltada a doença mental da mãe biológica do assassino como motivo pra uma personalidade doentia e criminosa.

Lembrei de outros crimes noticiados e que o assunto de frente era a violência ou o assassinato e o pano de fundo a adoção.


• POR CAUSA DE DÍZIMO, FILHA ADOTIVA MATA OS PAIS NO MARANHÃO - http://www.guiame.com.br/ntc/por-causa-de-dizimo-filha-adotiva-mata-os-pais-no-maranhao.html



Queremos proteger nossos filhos, queremos que a sociedade os veja como filhos amados e criados para serem pessoas “de bem”, pessoas especiais, vencedoras, vitoriosas apesar da história de vida de todos que passam pelo abandono; essas notícias da imprensa sensacionalista e o enredo da novela Fina Estampa nos atinge, sobre isso não há o que debater.

A vida... as experiências de cada um..., uns abençoados “bem nascidos” com trajetórias de uma vida cercada de carinho, amor, luxo e riquezas, outros com experiências de sofrimento desde a fase intra uterina até a fase adulta, convivem diariamente com o sofrimento, vícios, crimes e toda sorte de mazelas sociais.
E eu pergunto: comparando as duas vidas acima ... É possível afirmar que uma será de pleno sucesso e a outra de sucessiva miséria social? Sabemos que a resposta é um complexo e sonoro NÃO!


Na ficção é a mesma coisa, não é o autor que tem que modificar o enredo para não contar, logicamente a troco da audiência, uma história de adoção e tragédia, ser humano é assim mesmo, complexo, surpreendente... E infelizmente o que vende é a trama criminosa, o sangue social, e diga-se vende porque nós compramos. E o que está vendendo hoje é o preconceito, o estereótipo e o ridículo.



Modificar o enredo da novela não vai extinguir a sanha pela audiência e nem impedir que a imprensa amanhã ressalte a adoção como um fator de negatividade na vida de quem cometa crimes ou outros fatos de semelhante natureza. Nem mesmo modificar nossa postura e nossa seletividade querendo mais cultura e entretenimento sadio.


Não podemos somente nos revoltar, porque a “ficção imita a vida”, quanto mais cruel, mais dá audiência, rende milhões e a Globo não vai mudar isso porque nós pais adotivos nos sentimos ultrajados com notícias e evidências negativas sobre a adoção. Para nós a adoção é única e exclusivamente uma nomenclatura, é como se explica juridicamente o vínculo que formamos com nossos filhos. A convivência, o amor que temos por eles, nosso carinho e nosso desvelo é muito grande para pensar em fracasso.


Protestemos sim, é necessário mostrar a nossa indignação quando algo nos atinge, mas, principalmente continuemos nossa luta, divulguemos êxitos, disseminemos nossos planos de felicidade. Hoje a adoção não é mais vista como simples caridade ou como uma filiação ilegítima e não há como retroceder quando a motivação para formar uma família é o amor. 
Paulo Wanzeller / Fevereiro de 2012

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