Julie de Waroqui
Por Thaís Machado em 07/02/2012 na edição 680
Não sou noveleira. Não sou noveleira. Não sou noveleira.
Apesar de amar acompanhar de tudo um pouco na TV, uma das coisas que mais me irritam (especialmente nas produções brasileiras) são as novelas. Sempre cheias de clichês, atores medianos, merchandisings baratos e trilhas pagas pelas gravadoras, elas estão muito além do que pode ser considerado ruim. Mesmo assim, é difícil passar ileso pelas fofocas que cercam os encerramentos desses “folhetins”.
Um exemplo atual é o “segredo de Tereza Cristina”, a personagem vivida por Cristiane Torloni na atração global Fina Estampa. Há enquetes nos sites, concursos nas emissoras de rádio, comentários nos corredores das empresas. O que será que uma das personagens principais da trama esconde? Como deixei claro no início deste post, não vi sequer ¼ da novela, mas ontem (2/02), diante da divulgação do capítulo em que o mistério seria revelado, me propus a assistir. Foi quando deparei com uma das cenas mais estúpidas dos últimos anos: o garoto, filho da tal vilã, aos prantos, porque acabara de descobrir que era “neto da empregada”.
Mais prêmios, mais longevidade...
Sim, é isso mesmo que você leu. O menino chorava soluçando porque a mãe lhe contou sua origem (filha de uma doméstica, havia sido adotada ainda pequena pela família rica e quatrocentona). E a partir dessa confissão, todos os outros diálogos nos vários núcleos de personagens foram pautados pelo “escândalo”. Um momento! Desde quando ser adotado é vergonhoso? Quem decidiu que ser “rico” é ser “melhor”? Entendi que esse é o princípio de um mistério que ainda vai esclarecer muitos pontos confusos na trajetória daquela mulher e que o tal segredo não é de fato o “xis” da questão; mas dedicar quase uma hora em horário nobre para discutir que a fulana não tem “direito” de ser a vilã que é porque não tem em seus genes um sobrenome conhecido?!
Depois querem me convencer que esse tipo de programa discute assuntos importantes para a democracia como o preconceito, o aborto, a violência doméstica etc. As novelas são (e sempre foram) a principal influência na cultura brasileira. Elas ditam moda, elegem as “personalidades do ano”, destacam hábitos arraigados da população e uma série de outras funções que deveriam ser denotadas a qualquer outro instrumento de comunicação, menos às historinhas contadas por autores cansados e genialmente equivocados.
E a pior parte disso tudo é que, a cada dia, elas ganham mais prêmios, mais força e mais longevidade...
[Thaís Machado é jornalista, São José do Rio Preto, SP]
Postado por Cintia Liana
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