We Heart it
Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado no Guia Indika Bem dia 29 de janeiro de 2015
Adotar uma criança tem diferenças de uma gravidez e essas diferenças não devem ser rejeitadas ou negligenciadas no processo de fortalecimento da identidade da família adotiva. Por outro lado, a espera do filho adotivo guarda algumas semelhanças com a gestação.
As futuras mãe adotivas fazem como as biológicas, elas sonham, querem, imaginam seu futuro filho. O processo de adoção leva a uma gestação emocional que nem toda gravidez leva, pois na adoção existe o momento em que é necessário refletir sobre as expectativas e as motivações que levam uma mulher a desejar um filho naquele período de sua vida. Certamente a equipe técnica das Varas da Infância, com seus estudos técnicos, levará de algum modo as adotantes a amadurecerem seu desejo ser serem mãe, o próprio processo judicial as “obriga”, de algum modo. Se todas as mães, antes de engravidar, tivessem um estágio de reflexão como as adotivas, talvez tudo fosse diferente.
Com a adoção vem um processo de reconhecimento de tudo o que circunda a maternidade. Esse gestar emocional e esse tempo na adoção são importantes para se amadurecer todas as questões relacionadas não só a maternagem e relação com o filho, como também as particularidades oriundas da adoção em si, como perfil do filho desejado, revelação da adoção, posicionamento frente a história anterior do filho, relação com a sociedade e os possíveis preconceitos a serem enfrentados durante e após o processo. Então as futuras mães são “convidadas” e mergulhar num universo totalmente novo, se descobrindo, desconstruindo conceitos e construindo novos e entendendo que um filho não pode vir com outra função que não seja somente o de ser filho. Filho não pode servir como tábua de salvação, filho-companhia, filho-distração, fazer caridade, salvar casamento ou fazer crescer.
Esse processo de quase “tornar-se mãe” normalmente ocorre paralelamente ao processo de habilitação e depois com a espera pela indicação da criança, até quando se encontra com ela e inicia-se o processo de visitação e o período de convivência, nesse momento ocorre o parto “sem dor física” tão esperado. O parto é sem dor, mas existe muita ansiedade e expectativas voltadas para esta espera e este primeiro encontro, que é quando começa a nascer uma mãe. Depois a ansiedade na conclusão da adoção, que pode levar meses ou anos, que é quando a criança ganha uma outra certidão da nascimento, anulando a primeira e torna-se filha legítima da adotante, ou seja, filha perante a lei.
O ato do encontro físico é o mesmo que ocorre com o filho biológico quando nasce. No contato pele a pele, self a self, o amor construído pelo filho imaginado, neste momento, pode ser direcionado para o filho real e aí vai sendo construída uma relação de amor no dia a dia, para isso é preciso maturidade e sobretudo aceitação, entender que para dar certo é preciso abertura para amar e todo o resto vai sendo conquistado com paciência. A criança, quando se sente plenamente aceita, não tem medo de se entregar, pois sente que não haverá um segundo abandono.
Não existem diferenças entre filhos biológicos e adotivos, filho é filho e isso se dá na convivência, na relação em si, o apego vai sendo construído e fortalecido, é assim que ocorre também nas relações consanguíneas.
As pesquisas mostram que os filhos adotados se sentem amado e queridos por suas famílias e sentem seus pais adotivos como os seus de fato. Quando se chega a conhecer os biológicos existe até um estranhamento, ou seja, a parentalidade é construída na convivência, ela não vem no DNA.
As diferenças da gestação biológica e da adotiva estão nas particularidades sobre a forma da chegada do filho e sobre a existência de um passado em outra família, mas todo o resto é igual, assim também é o amor materno na adoção.
As possíveis dificuldades que podem ocorrer com uma criança que foi adotada não é porque ela não é do mesmo sangue dos pais. Todas as crianças têm dificuldades ou apresentam algum problema em algum momento do seu desenvolvimento. O que causam grandes dificuldades são o abandono, a indiferença, a violência e esses aspectos, infelizmente, também encontramos em muitos lares biológicos.
O importante para pais adotivos, que adotam crianças que apresentam dificuldades, é saber encontrar as formas de lidar com as memórias, o desejo de procurar curar as feridas e o amor que se tem no presente.
A gravidez é um processo, mas não é garantia que uma mulher amadureça. Se fosse assim, não existiriam histórias de bebês abandonados de modo tão triste e histórias de mães violentas. Estudiosos mostram que a gravidez não faz de ninguém mãe, pode ser um acontecimento puramente biológico, que varia de uma mulher para outra o modo de sentir, pode transformar uma, mas a outra pode rejeitar o fato. Ao contrário da adoção, onde a espera pelo filho é um forte acontecimento. Na adoção existe a busca, o desejo de amar, o sonho e a reafirmação do desejo de cuidar. Tudo isso é importante no processo de fortalecimento da atitude materna e pode ocorrer tanto na adoção como na gestação, ou seja, toda maternagem consciente é adotiva. Amor é adoção.
Por Cintia Liana Reis de Silva
Primeira Fonte: http://www.indikabem.com.br/filhos/o-tornar-se-mae-e-a-gravidez-do-coracao
2 comentários:
Cintia, encontrei seu blog apenas agora e quero ler tudo de uma vez!Sou uma feliz mãe por adoção e como é bom encontrar e ler textos como os seus, que trazem informação, entendimento e conforto para a nossa caminhada!! Obrigada
Angela, que bom! Muito obrigada!
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