"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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terça-feira, 8 de maio de 2012

Ciúmes: Irmão maior x Irmão menor

Foto: "Artigos de Psicologia"

Por Marilena Henriques Teixeira Netto

É notório que muitos irmãos são verdadeiros amigos, ao passo que alguns, se não são declarados, são camufladamente “inimigos”, ou pelo menos adversários. O ciúme entre o irmão mais velho e o irmão mais novo pode chegar a extremos. Precisamos estar atentos e tomar cuidado com nossa atitude como pais. A comparação é uma das atitudes que devemos evitar. Portanto, avalie qual tem sido seu comportamento em relação à comparação, e esteja pronto para mudar!

Quando pensamos sobre o comportamento entre irmãos, como: ciúme, inveja, rivalidade, competição, etc., pensamos sempre como comportamentos anormais e negativos. O ciúme, é visto como algo totalmente condenável e proibido entre irmãos, principalmente, em relação ao irmão mais velho, quando nasce o segundo filho.

Muitos pais chegam mesmo a dizer ao filho, que o ciúme é feio, que não deve nunca existir em relação ao irmãozinho e que esse irmãozinho veio para brincar com ele, ser seu amigo e companheiro nas brincadeiras. Isso é verdade, mas existe também uma outra verdade que nunca dizemos, mas sabemos. Esse irmão veio para dividir com ele o amor da mãe, do pai, dividir a casa, às vezes o quarto, os brinquedos, a atenção dos parentes, etc.

A criança percebe essa verdade, no momento em que a mãe chega da maternidade com o bebê no colo. O colo já começa a ser dividido desde então. O ciúme nesse caso, é esperado e, portanto, normal. O anormal seria que esse irmão mais velho não sentisse rivalidade nenhuma por esse bebê que chega e o tratasse amigavelmente. Caso isso acontecesse, poderíamos dizer que essa atitude seria estranha e preocupante porque não faz parte da índole da criança, e que obviamente, ela deveria demonstrar esse ciúme alguns momentos.

Tanto o ciúme quanto a inveja, quando intensos, são fonte de grande ansiedade. O ciúme na criança, quando não é muito forte, é característica normal da persona1idade. Envolve rivalidade sadia e quando surge no relacionamento com irmãos, é um treino preparatório da fase competitiva, que mais tarde ela precisará enfrentar no ambiente social e profissional.

As manifestações mais comuns do ciúme são a hostilidade e o ódio. A hostilidade pode oscilar entre leves manifestações de implicância e pequenas agressões até uma completa intolerância para suportar a presença do irmão; onde o desejo é o de “eliminar” o objeto odiado.

O ciúme pode, também, se manifestar de maneira indireta:a criança experimenta ansiedades, dirigindo sua hostilidade abertamente contra o irmão. Pode voltá-la contra si mesma, ou contra o ambiente.

Pode haver também uma regressão: manha, revolta, agressão contra os pais, inapetência (falta de apetite), fracasso nos estudos ou recusa em crescer (independência). Quando essa fase se estende muito, pode ameaçar o equilíbrio da personalidade infantil, levando a distúrbios, como: sinais de ambivalência e indecisão, dificuldade em tarefas que exijam capacidade de abstração ou chegar a conclusões com clareza. Como característica do comportamento desse irmão ciumento, pode surgir o oposicionismo que é dirigido contra os pais. Por exemplo: os pais gostariam que ele fosse bom aluno, fosse disciplinado, etc. e a criança reage ao contrário, opondo-se a essa expectativa e assim atraindo a atenção tão desejada dos pais.

Existem também os mecanismos passivos: a criança interioriza sua hostilidade, mas é vítima de maior carga ansiosa. Aparecem os tiques nervosos, a fala “tate-bi-tate” (em idade em que a linguagem já tenha sido estabilizada e a criança já venha se expressando com facilidade). Volta a molhar a cama ou querer que lhe dê comida na boca.

Outra forma passiva, é quando a criança fica apática, apagada, preguiçosa, sem entusiasmo. Pode bloquear-se afetivamente, sufocando junto com a inveja e o ciúme, o amor. Deixa de ter reações amorosas com familiares e irmãos. Desde que a afetividade e a inteligência estão intimamente ligadas e interdependentes, a produção e o rendimento dessa criança costuma ser precário.

Outro mecanismo passivo, é a própria desvalorização. A criança acha-se inferior e, portanto, se anula. Essa atitude determina reações depressivas que são autodestrutivas. Deve-se, nesse momento, canalizar essa agressividade adequadamente, valorizando seus sucessos numa escolinha de natação, ou outra atividade qualquer onde a criança se destaque com desenvoltura. Ela deve ser estimulada a fazer novas amizades e a freqüentar outros lugares diferentes daqueles do irmão. As comparações, obviamente, devem ser evitadas. Inevitavelmente, elas ocorrerão, mas espera-se, vindas de fora. Dizer que um dos irmãos é mais inteligente, mais carinhoso, etc., não servirá de estimulo ao outro irmão; muito pelo contrário, só fará com que ele se sinta humilhado e inferiorizado. Mais tarde, é provável que se torne num adulto que se julgue pouco inteligente ou pouco afetuoso, bloqueando-se nessas áreas; o que não é incomum. Com freqüência encontramos adultos ou adolescentes que se julgam feios, incapazes ou pouco criativos porque sempre foram comparados ao irmão. Comparações desse tipo minam traços do caráter da criança e podam seu desenvolvimento.

Outra situação de rivalidade pode surgir, quando um filho é mais rebelde do que o outro. O rebelde é sempre alvo de maior controle em relação a estudo, tipos de brincadeiras e raramente é deixado sozinho por muito tempo. O outro filho sente-se rejeitado e pouco importante. O filho que não dá trabalho, que é responsável, que é dócil, deve receber a mesma atenção cuidadosa, com tempo especial também para conversas e brincadeiras.

Não quero dizer que o ciúme e a inveja precisem ser apagados e impossibilitados de aparecerem. Em diferentes situações eles aparecerão, mas bem solucionados não trarão conseqüências desastrosas como as acima.

Como podem ser bem solucionadas?
Uma solução, está no que se refere às personalidades dos filhos.
Os pais devem identificar e realçar as características positivas de cada um.
As habilidades e talentos devem ser sempre valorizados e nunca comparados.
Quando um dos filhos é mais carinhoso, mais amoroso com os pais, geralmente os conquista com mais facilidade. Os pais se “derramam” na resposta desse afeto e tendem a comparar tal procedimento com a frieza e distância do outro filho. Essa característica, quando é observada por familiares e amigos, em vez de estimular essa afetividade, só ajuda a reprimi-la.

Lembre-se que, a habilidade e o equilíbrio de elogios e estímulos, é uma excelente alavanca para fortalecer e ajudar os filhos a suportarem suas diferenças.

Artigo publicado originalmente na revista Casal Feliz (Ano XII – no.46)


quarta-feira, 6 de abril de 2011

CNA ainda não agilizou adoções

Foto: Google Imagens

Desde 2008, só 425 crianças ganharam uma família por meio da ferramenta, média de uma a cada três dias. Muitos juízes não alimentam o banco de dados - 01/04/2011

Por Paola Carriel

Desde a criação do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), em abril de 2008, apenas 425 crianças em todo o país ganharam uma família por meio do sistema. O número, que corresponde, em média, a uma adoção a cada três dias, mostra que o cadastro ainda não cumpriu a promessa de agilizar adoções no país. O valor não representa o total de novas famílias porque a ferramenta ainda não é utilizada plenamente pelos juízes – o que deveria ser obrigatório – e ainda ocorrem procedimentos fora do CNA. Além disso, 44% das crianças inscritas desde 2008 deixaram o cadastro sem conseguir uma família.

Apesar do esforço do Conselho Nacional de Justiça (CJN), o cadastro ainda não conseguiu reunir todas as crianças aptas no país. Há estados, como Amapá e Piauí, sem nenhum menino ou menina no programa. Outros, como Acre, Tocantins e Roraima, têm menos de dez inscritos. Em Curitiba, por exemplo, há apenas 16 crianças no sistema, mas cerca de mil vivem nos abrigos da capital. Só está cadastrado quem já tem a situação jurídica definida, ou seja, quando o poder familiar já foi destituído e os pais biológicos não são mais responsáveis legalmente pelos filhos.

Essa situação mostra, na prática, que o Judiciário ainda é reticente em usar o programa. Segundo a nova Lei de Adoção, a utilização de cadastros nacionais e estaduais é obrigatória e o mesmo dizem resoluções do CNJ. Mas o baixo número de crianças inscritas, 4.427, mostra que o CNA ainda não emplacou nas comarcas brasileiras. Além disso, há o problema da superlotação dos abrigos e falta da destituição do poder familiar.

É possível que as 425 adoções realizadas por meio do sistema tenham ocorrido envolvendo pessoas de estados ou municípios diferentes, deixando os casos de pretendentes e crianças da mesma comarca fora das estatísticas. Em Curitiba, por exemplo, a prioridade é encaminhar as crianças para famílias que moram na cidade e elas acabam não entrando no cadastro.

Outro dado preocupante é que, das 8.598 crianças e adolescentes que já passaram pelo CNA, 3.784, ou cerca de 44%, deixaram o cadastro porque chegaram à maoridade sem encontrar uma família. Esse número representa 86% do total de cadastradas hoje, que é de 4,4 mil. Além dos 425 meninos e meninas já adotados, há 196 casos ainda em processo.

OPINIÕES
Na avaliação do juiz auxiliar da corregedoria do CNJ, Nicolau Lupianhes Neto, o número de adoções pelo CNA não é baixo quando se leva em conta as peculiaridades de cada estado. “O cadastro demandou um grande trabalho inicial que começa a mostrar os frutos agora”, afirma o juiz, que considera o CNA uma ferramenta importante para quem trabalha na área da infância e juventude por traçar um panorama sobre os garotos e garotas e possibilitar a criação de novas políticas públicas. Apesar da obrigatoriedade em se cadastrar os pretendentes e as crianças disponíveis para adoção, Lupianhes admite que isso ainda não acontece em todo o país. “Talvez isso ocorra ainda por uma falta de cultura de utilização da ferramenta”, diz.

Ele acredita que a tendência é o número de adoções realizadas pelo cadastro aumentar.
A presidente da Associação dos Grupos de Apoio à Adoção (Angaad), Maria Bárbara Toledo, afirma que o cadastro foi um avanço por introduzir uma uniformização. “Ele conseguiu uniformizar o procedimento em todo o país, e para isso alguém teve de fazer a lição de casa. Hoje a pessoa está habilitada em todo o território nacional e isso é positivo porque a legislação é uma só.”

Maria Bárbara questiona, no entanto, o fato de o CNJ ter decidido inserir no CNA apenas quem já teve o poder familiar destituído. “A luta do movimento é para que ao menos aquelas que já têm uma ação proposta também sejam incluídas”, afirma a presidente da Angaad, que considera positivo o número de 425 adoções desde a criação do cadastro. Ela lembra ainda que o CNA é um banco de dados que precisa ser alimentado, o que exige pessoas comprometidas, e que o cadastro é recente e alguns estados, que ainda estão se adaptando.

MÉDIA ANUAL DE CURITIBA É DE 150 ADOTADOS
Em Curitiba, o ritmo de adoções teve uma queda entre 2009 e 2010, devido a problemas burocráticos do Tribunal de Justiça, e passou de 160, em 2010, para 123 ano passado. Apesar disso, a capital manteve uma média de cerca de 150 adoções anuais. Agora juíza e a equipe técnica da 2.ª Vara da Infância, Juventude e Adoção se prepararam para tentar colocar os processos em dia. Um mutirão foi realizado para rever processos antigos e restaram 362.

O procedimento adotado na vara é oferecer as crianças em situação de adoção primeiro para os pretendentes da capital. Somente quando o garoto ou garota não se encaixa no perfil requerido por nenhum pretendente é feito o cadastro no CNA. O objetivo é possibilitar que o adotado permaneça no município de origem. Para a juíza Maria Lúcia de Paula Espíndola, a nova lei de adoção impactou na destituição do poder familiar, já que agora, além de procurar os pais, a Justiça deve questionar se a família extensa, como tios e avós, quer cuidar das crianças.

ABANDONO - 80 MIL AINDA PODEM ESTAR EM ABRIGOS
Além de ter dado mais transparência ao processo de adoção, o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) mostrou outro problema sobre a infância em situação de vulnerabilidade: o grande número de crianças esquecidas nos abrigos do país. Até hoje não existe um levantamento confiável sobre este dado, mas estimativas apontam que existem cerca de 80 mil meninos e meninas vivendo em abrigos. Eles acabam ficando em um limbo legal, já que não podem viver com a família biológica nem em uma família adotiva.

O abrigamento deveria ser uma medida excepcional, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas pesquisas mostram que muitas vezes isso ocorre por causa da pobreza dos pais. Os responsáveis por essa medida são, na maior parte dos casos, os conselheiros tutelares, mas eles devem sempre contar com o aval do Judiciário.

Esse “esquecimento” das crianças nos abrigos fez com que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criasse um segundo cadastro nacional, direcionado a identificar esses meninos e meninas, mas ele ainda foi totalmente implementado. Esse fator também contribui para o baixo número de garotos e garotas inscritos no CNA, já que as crianças continuam nos abrigos, mas o poder familiar dos pais não é destituído.

DESTITUIÇÃO
Manuela Teixeira de Melo, do grupo de apoio à adoção Quintal Casa de Ana, sediado no Rio de Janeiro, explica que a destituição do poder familiar também é uma decisão difícil para os magistrados, já que a criança perderá completamente o vínculo com os pais biológicos e haverá uma averbação na certidão de nascimento explicando a destituição. Quando há violência o processo é mais fácil, mas muitas vezes a família está envolta em problemas como uso de drogas e álcool e não necessariamente abandonou os filhos. Cortar em definitivo esses vínculos é algo que pode definir a vida dos garotos e garotas, já que a chance para os mais velhos de encontrar uma nova família é baixa.

PREFERÊNCIA É POR BRANCOS E SEM IRMÃOS
O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) ajudou a mostrar estatisticamente como o brasileiro é preconceituoso na hora de adotar. O perfil requerido pelos pretendentes mostra um descompasso em relação aos garotos e garotas disponíveis. Há exigência por crianças pequenas, brancas e sem irmãos, mas no CNA estão disponíveis crianças pardas ou negras e com irmãos.


Só em Curitiba, cerca de mil crianças vivem em abrigos à espera de uma família, mas só 16 estão inscritas no Cadastro Nacional de Adoção.


Postado Por Cintia Liana


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mãe da Barriga, Mãe do Coração

Foto: Facebook

E-mail de uma mãe:

"Vc abriu o seu coração e agora vou abrir o meu.
Eu só entendi a maternidade depois que fui mãe. E fui mãe das duas formas.

Me perguntaram um dia desses se era a mesma coisa, um filho biológico de um adotivo. Eu dei a resposta padrão: “é claro”. Mas claro que não é. O processo da adoção trás emoções que nenhuma gravidez traria. Conhecer a criança, ir buscar, o primeiro dia, este amor, a biologia não explica.

A gravidez também traz emoções que a adoção não traz. O “se sentir normal”, ter um filho com a cara do marido, saber que você espera 9 meses e não tem fila, o mexer na barriga. Mas é só. A partir do momento que a criança chega nos braços fica tudo igual.

Quando leozinho veio para meus braços pela primeira vez foi tão emocionante quanto quando Isabelle veio pra meus braços. E a partir daí, eu sou mãe, sou responsável por aquela criatura, não importa de onde ela veio.

C., quando leio mensagens como a sua, eu me pergunto se estou agindo certo com o meu filho. Não sei se você sabe, tenho 2 filhos. O mais velho, Leozinho, adotivo, de quase 3 anos e a mais nova Isabelle, biológica de 3 meses. Não quero nunca que ele pense que não o amo de verdade, ou que amo mais a irmã. Comecei a refletir nestas coisas depois que uma amiga descobriu que era filha adotiva. Ela ficou tão revoltada, e eu não conseguia entender o motivo, porque ela era tão amada que nunca desconfiou e levou um susto quando soube. Mas só você e ela sabem dizer o que se passa dentro de vocês.

Não acredito em “o sangue fala”, se não pessoas boas não gerariam filhos bandidos, não acredito em “índole do pai bandido”, porque eu acredito que o amor e a educação mudam qualquer pessoa. Eu só quero é que meu filho nunca na vida dele duvide do meu amor por ele.

Quantas vezes chorei sozinha depois que disciplinei Leozinho? Quantas vezes achei que fui dura demais, ou orei pra Deus curar ele de alguma febre? E pedi a Deus pra ficar doente no lugar dele?

Eu me preocupo não porque espero qualquer tipo de gratidão, jamais, mas porque quero que ele curta a vida dele, com a cabeça sempre erguida, porque ele é um menino maravilhoso, carinhoso e vai ser um homem maravilhoso, eu tenho certeza. Não quero que ele fique sofrendo com algo que não é verdade. Eu o amo demais.

Então, se vc puder falar mais sobre este seu sentimento, vai me ajudar muito.

Só pra encerrar, depois de ter passado por uma gravidez recente, sabe qual é a única coisa que eu senti falta por não ter parido Leozinho? Senti falta dos 13 meses que meu filho esteve longe de mim (9 de gestação da biológica + 4 de nascido) que eu não sei como o trataram, se o alimentaram, se ele precisou de mim e eu não estive lá. Foi a única coisa que dei falta na minha “gestação” dele."

Bia

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"Eu sentia um chamado, sabia que ele me aguardava. A busca por meu filho foi além de tentativas de engravidar. Foi na adoção que o encontrei. E esta certeza incontestável, inclusive juridicamente, de que ele é meu filho, filho da minha alma, do meu coração, foi o que me inpulsionou a prosseguir na busca. Só mesmo o amor de uma mãe e de seu filho pode explicar os laços que os unem."

Bia Maia

Blog de Bia:
http://maedabarrigamaedocoracao.blogspot.com/

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O e-mail acima foi um dos mais lindos que já li.

Observação: O e-mail foi cedido por Bia, a autora, amiga e companheira de adoção.
Disse que eu poderia preservar os nomes dela e dos filhos e que poderia postar fotos deles. Neste post não usei fotos da família dela.

Obrigada sempre Bia, pelo carinho, confiança, amizade e parabéns pela linda mãe que você é, e teve o presente de o ser das duas formas.

Por Cintia Liana

terça-feira, 22 de junho de 2010

Os Desafios da Adoção no Brasil - Construindo uma Nova Cultura

Foto: Facebook

Título: Os Desafios da Adoção no Brasil - Construindo uma Nova Cultura
Autor: Fernando Freire
Fonte: in Reencontro com a Esperança – Decebal Andrei – Londrina/PR - 1999

O debate atual sobre a adoção no Brasil assinala um extenso arco de possibilidades, de questões, de olhares, de discursos, de informações, de análises que vão constituindo e tomando sensível uma proposta cultural especificamente brasileira. Pensemos essa experiência.

No fundo, uma razão fundamental motiva a realização de trabalhos como este: a necessidade de transformação. Queremos a mudança - individual e cultural - queremos transformar os métodos existentes para lidar com a infância no Brasil. Buscamos os caminhos, construímos esses caminhos.

Pretendo aqui lançar algumas questões, reunir alguns aspectos e problemas da nossa experiência. Levo em consideração o fato de que o nosso país vem sendo inventado por iniciativas diversas há muito tempo, e que, em tudo o que fazemos, há sempre o sentido de desbravamento e identificação.

Nosso projeto civilizatório, nossas necessidades socio-políticas, nossas iniciativas individuais, mobilizam energias e esperanças, mobilizam um generoso processo que busca o conhecimento, que reconhece as dificuldades do desafio que enfrenta.

Contribuir e interferir nesse processo esse é o nosso objetivo. Qual é o significado e o destino de nosso trabalho em favor da infância, em favor do direito à convivência familiar e comunitária?

Uma questão me parece fundamental: não podemos aceitar nossa realidade atual como uma fatalidade histórica. Consideremos a diversidade cultural de nosso país, e as potencialidades humanas e sociais ainda inexploradas.

As diversas experiências por que passam todos os que vivem a adoção no Brasil propõem diversos tratamentos, diferentes enfoques, que se interceptam, produzindo às vezes conexões inesperadas, na tentativa de tomar visível e real o nosso desejo de transformação.

* * *

500 anos depois, é urgente descobrir o Brasil, o Brasil profundo. Essa é uma tarefa imensa, ainda e sempre inacabada, apesar de todos os esforços das gerações de brasileiros que se sucederam ao longo do tempo.

Sabemos que as experiências vão deixando pegadas com as quais construímos a trilha de nosso trabalho. Na adoção trata-se de traçar um itinerário visível dentro de um território ambíguo, de horizontes pouco definidos, de muitos segredos e mentiras, ficções, de incompreensões, mas também, um espaço no qual são vivenciadas profundas manifestações de humanidade.

Nesse terreno, a cada delimitação que alcançamos fazer (mapeamento), pode corresponder a uma exclusão. Conhecer e trabalhar pela adoção não nos levaria a fortalecer a exclusão, simbólica e real, daquelas famílias que entregam seus filhos? Esse conflito lembra os diversos condicionantes relacionados ao exercício pleno da cidadania no país.

Mapear, aqui, tem o sentido de "buscar entender ". Demarcar o local de nossa ação é o primeiro passo para a afinação civilizatória que pretendemos alcançar no sentido de promover uma cultura da adoção PARA a criança. Dessa afirmação emergirá aquilo que nos é possível fazer na luta contra o abandono e também aquilo que não podemos fazer para que a adoção não seja manchada pela procura de uma criança a qualquer preço.

É preciso reafirmar a necessidade da utopia, (da possibilidade de realização das adoções nacionais para todas as crianças brasileiras) como ultima fronteira do um posicionamento ético diante do pragmatismo cínico daqueles que querem ver a adoção como um direito (ao qual corresponderia o dever do abandono) e da adoção internacional como uma resposta permanente, como um projeto de sociedade.

Precisamos ver na adoção aquilo que ela de fato representa, um espelho da sociedade brasileira, uma expressão de nossas esperanças, ponte possível entre desejo e frustração, entre sonho e realidade. Abandono e adoção, um diálogo feito de contrastes: a dor e a alegria, o individual e o coletivo, o público e o privado, a vida e a morte.

Experiência e Destino
Nossa ambição não é pequena: que todas as crianças possam crescer, felizes e protegidas, amadas e respeitadas em suas famílias. Queremos discutir, mais do que propor, alguns caminhos para que isso se torne possível em nosso país. Acreditar que podemos tomar real esse sonho faz parte de uma intuição profunda, uma intuição nem sempre explícita.

Precisamos sempre lembrar de tudo aquilo que ainda nos separa, na visão que temos do papel da adoção no Brasil, e também, lembrar daquilo que nos une. Nos une a consciência que temos da importância de uma família para uma criança. Pode nos separar as diferentes análises e avaliações quanto à possibilidade de manutenção ou não dos vínculos entre a criança e sua família de origem, da necessidade ou não de sua colocação em família substituta, das chances de êxito na procura de candidatos capazes para as adoções tardias, inter-raciais, de grupos de irmãos, de crianças com necessidades especiais.

Na adoção, como em outras áreas, precisamos pensar globalmente e agir localmente. Podemos reunir as experiências de outras países, e adequá-las (adaptando-as à nossa realidade social, mas precisamos, fundamentalmente, criar soluções locais, nascidas da nossa experiência, das nossas necessidades, dos nossos problemas e da nossa capacidade de resolvê-los.

Precisamos continuar impulsionando a atividade acadêmica, que continuamente refina novos enfoques de abordagem do tema da adoção.

Analisemos alguns tópicos relacionados ao trabalho com adoção:
1. Qual o objetivo maior que queremos alcançar;
2. Qual a questão central a enfrentar;
3. Que enfoque cultural devemos privilegiar;
4. Qual o método;
5. Qual o âmbito preferencial para sua implementação;
6. Quais as táticas possíveis para a realização desses objetivos.
1. Objetivo: construir uma nova cultura

O que entendemos por "uma nova cultura"? O que queremos ver implementado? Que cultura queremos? Cultura, para quê?

A cultura que buscamos é aquela que contribua para a formação e o desenvolvimento das adoções voltadas essencialmente PARA o interesse da criança, para a realização das adoções de crianças que perderam definitivamente a proteção de sua família de origem.

Cultura é aquilo que nos permite conviver em sociedade. Hoje, a cultura é aquilo que une os diversos setores da sociedade, na busca de um entendimento mínimo, básico.

A cultura da adoção que desejamos construir a partir dos esforços de todos os que vivenciam suas diversas expressões, é a cultura que faz a ponte entre três universos: o da cultura hoje dominante - a da satisfação do desejo dos candidatos, a da imitação da biologia, a da naturalização do abandono -, o da sociedade, que se esforça para encontrar novos métodos para lidar com as famílias em situação de risco, desenvolvendo mecanismos de solidariedade, e o da personalidade, onde encontramos os espaços dos desejos e das necessidades individuais. Criar possibilidades de diálogo entre esses três universos é o que nos permitirá construir uma nova cultura que tenha chances de ser aceita e assimilada pelo conjunto da sociedade.

Na adoção, precisamos construir a cultura da solidariedade, da coragem, e da competência técnica, - das adoções tardias, inter-raciais, de grupos de irmãos, de crianças com necessidades especiais -, para tornar possível, no futuro, o que parece difícil, ou impossível, hoje.

2. Uma questão central: a formação de nossa identidade cultural.
A ponte entre sociedade-personalidade e cultura dominante, para ser construída, deve envolver aquilo que é cultura em sentido estrito (livros, revistas, radio, televisão) e aquilo que a leva para horizontes mais amplos - a ação cultural transformadora.

Adaptada às necessidades e possibilidades de cada cidade, uma ação em defesa do direito à convivência familiar e comunitária - reintegração à família de origem ou colocação em família substituta - sustentará os esforços no sentido de :
definir noções de identidade (e responsabilidade) social, reforçando a percepção de toda a sociedade para a urgência dessa luta, reconhecendo a diversidade sócio-cultural, promovendo os valores da cidadania. (direito a ter direitos);

contribuir para o aumento da qualidade de vida, renunciando ao egoísmo e à indiferença que corroem o tecido moral de uma sociedade, tornando as cidades mais solidárias, mais participativas, formando cidadãos, aumentando as chances de integração social para uma parte importante da população infantil;

colaborar para a formação de uma cidadania atenta para as situações em que determinadas crianças perdem a proteçãofundamental de seu meio de origem, ou passam a ser por ele ameaçados em sua integridade física e moral, promovendo o diálogo e a compreensão, desenvolvendo competências nas escolas e no trabalho, estimulando a liberdade de pensamento e o intercâmbio aberto de idéias e valores.

3. Qual cultura privilegiar?
A cultura do direito à convivência familiar e comunitária, da colaboração entre os agentes do Estado e a sociedade civil organizada (associações e grupos). Essa colaboração é de fundamental importância, principalmente porque um dos papéis do Estado, ainda é o de não permitir que tudo se reduza a interesses privados. Na adoção, a simples satisfação das necessidades dos candidatos.

A cultura da adoção PARA a criança será construída pelo diálogo permanente - pela criação de espaços próprios para que ele ocorra - entre todos os que vivem essa realidade.

4. O método
Produzir cultura: livros, revistas, organização de eventos, seminários, cursos, congressos. Incentivar a realização de estudos e pesquisas sobre os diversos aspectos do processo adotivo. Socializar a informação. Criar um sistema de comunicação permanente, um sistema de produção cultural, fazendo surgir, e mantendo, um movimento de criação teórica relacionada aos múltiplos aspectos da adoção com suas correspondentes medidas de ordem prática. Ocupar os espaços públicos, fazer uma política social de atenção à criança sem família.

5. O âmbito preferencial (para a ação)
A cultura da adoção PARA a criança deve ser realizada em todas as cidades em que existirem crianças sem família, crianças definitivamente desvinculadas do seu meio de origem (esquecidas em instituições). Sua implementação é dificultada por uma serie de fatores diversos: o amadorismo, o voluntarismo, a inconsistência teórico-prática, o assistencialismo, a falta de consciência, o messianismo, o oportunismo, o cinismo pragmático, o muro do silêncio e das mentiras. Precisamos lembrar que, num país com tamanhas desigualdades sociais, os cenários e os roteiros, são amplos demais, demasiadamente complexos. Desistir, ou avançar com muita lentidão, limitando a ação àquilo que é mais fácil, são os riscos de todas as iniciativas nessa área do trabalho social.

As cidades, com suas características próprias, são os espaços preferenciais para a ação. Em cada uma delas, da megalópole ao mais longínquo vilarejo, devemos fazer surgir o movimento de defesa do direito à família de todas as crianças.

A experiência de uma cidade, passando para outra, e dessa para uma terceira, e assim progressivamente, nas diferentes regiões brasileiras, criando uma REDE relacional, construindo um "nós", "nós" que trabalhamos por esse direito fundamental, um "nós" em cujo interior possam crescer os diferentes "eus" individuais, com suas necessidades e desejos.

Fortalecer os espaços públicos propiciadores de encontros, onde as pessoas estabelecem uma troca de experiências vividas em comum. São nesses espaços construídos para o encontros que as pessoas trabalharão pelo desenvolvimento de uma nova cultura da adoção. Esses espaços devem ser criados, apoiados e fortalecidos. Promover os contatos humanos diretos e prolongados, para a construção de um projeto comum.

A ação deve ser um convite ao diálogo a respeito do inaceitável sofrimento em que vivem as crianças sem família, deve chamar a atenção do resto da sociedade para esse fato, deve provocar uma reação, deve desarmar as atitudes discriminatórias e preconceituosas, deve facilitar a aproximação. A ação de todos que vivem os desafios da adoção, tem como um de seus principais objetivos.... humanizar.

6. As táticas possíveis
Insistir na importância de levar a "cultura da adoção", de forma sistemática e permanente aos mais diversos setores da sociedade através de todos os meios disponíveis. Essas táticas devem ser vistas como andaimes, e elas são, constituídas por todos os avanços já conquistados nos últimos tempos: maior número de publicações, multiplicação de eventos, presença nos meios de comunicação, participação da sociedade civil organizada.

É preciso:
1. Convencer governantes, empresários e a sociedade em geral, de que a cultura da adoção PARA a criança permitirá uma renovação dos valores éticos de regem a vida em sociedade, com beneficies para todos. Lembrar que o desenvolvimento cultural tem exigências próprias que precisam ser atendidas, e que não podem ficar sujeitas a inércia administrativa e burocrática. Prestigiar o trabalho daqueles que promovem a integração familiar de crianças institucionalizadas, tomar esse trabalho um valor social. Trabalhar na formação de um banco de dados.

Um resultado a esperar desse processo de conscientização será o aumento dos financiamentos, públicos e privados, para os trabalhos nessa área.

2. Incentivar o aparecimento e desenvolvimento de esferas de análise e decisão que congreguem, ao redor da luta contra o abandono e a exclusão de crianças, os setores governamentais e não governamentais. Reuniões de análise e discussões a respeito da realidade atual, em todo o país, da criança institucionalizada, de suas famílias, das possibilidades de reintegração, dos limites ainda existentes relacionados à adoção nacional.

3. Criar um sistema de informação cultural de âmbito nacional, utilizando os avanços recentes da comunicação eletrônica. Essa possibilidade continua reduzida em seu alcance porque ainda é grande a ignorância quanto aos seus beneficios. Ainda uma grande parte da população brasileira não sabe o que é feito nessa área, nem o que é possível fazer, nem o que já está disponível. Uma forma privilegiada para promover esse sistema é, sem dúvida, uma maior e melhor utilização dos meios eletrônicos de comunicação. A presença de informação relacionada à adoção em páginas eletrônicas, tem aumentado o contato e as ocasiões de cooperação entre pessoas das mais diferentes regiões brasileiras.

4. Ampliar a presença da "cultura da adoção " no sistema educativo.
O trabalho pelas adoções necessárias adquire o seu pleno significado apenas quando é apresentado às pessoas e aos grupos de uma determinada comunidade. Essa proposta precisa ser mais marcante para que a pessoa ou o grupo possam se apoderar da idéia, possam compreender o seu sentido maior, e aumentar as referências (idéias, conceitos e experiências) relacionadas ao trabalho que realizarão. É preciso que as pessoas saibam para que serve uma cultura da adoção PARA a criançaOs sistemas de ensino no Brasil ainda estão, em grande parte, alienados, afastados da realidade social em que vivem amplas parcelas da sociedade brasileira, com destaque para a população infantil marginalizada. É preciso superar essa alienação, e promover o contato entre esse sistema educativo, formador de opiniões e valores, e a realidade social. Esse contato preparará as pessoas para uma espécie de auto-aprendizado dos valores da cidadania e da solidariedade, tomando-as aptas a selecionar a informação que recebem e analisá-las criticamente. Nunca será demais ressaltar a importância da inclusão da educação em todo o trabalho de defesa dos direitos da criança.

Precisamos traçar um mapa confiável dos desafios, dos avanços e dos obstáculos da adoção no Brasil.

O trabalho em prol de uma cultura, qualquer que ela seja, não tem como prever e garantir resultados. Precisaremos sempre considerar o pluralismo da sociedade brasileira, suas profundas diferenças, suas imensas contradições. Podemos, e devemos, buscar um intercâmbio cultural mais intenso e mais estimulante, precisamos irrigar o terreno ainda árido das consciências adormecidas ou insensíveis. Renovar, arejar, são propostas necessárias.

Todas as iniciativas que favoreçam a integração da população brasileira excluída são necessárias, as que defendem o direito à convivência familiar e comunitária de todas as crianças e adolescentes abandonados o são por ainda mais fortes razões, aqui, essa integração pode significar pelo menos um pouco da luz que nos permitirá continuar sendo....... humanidade.

Autor: Fernando Freire



Por Cintia Liana

domingo, 20 de junho de 2010

O que muda para a criança que sai do País

Foto: Google Imagens

Já participei de mais de 50 adoções internacionais, a grande maioria com casais italianos. Neste momento, é que vemos a maior prova de que o amor transforma tudo e a segurança que os adotantes passam para a criança muda toda a sua postura perante o mundo. Já vi casos onde as crianças já falavam um pouco da língua e entendia quase tudo o que o casal falava em menos de 15 dias de convivência.

Nessas horas o que fala mais alto é a linguagem do desejo de formar uma família e isso, inicialmente, já basta, já é tudo o que todos os envolvidos precisam. Depois se aprende a língua e eles são preparados aos poucos para todas as mudanças de ambiente, clima, longa viagem de avião, nova família extensa no novo continente. As diferenças culturais também existem, mas as crianças se adaptam e se sentem felizes com o acolhimento e com a família tão sonhada. Me correspondo com as famílias depois e dizem que nem o frio europeu foi problema algum para ninguém frente ao tamanho do desejo desta união e da experiência do amor em família.

Por Cintia Liana

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quando a habilitação à adoção é negada

Foto: Facebook

Após dois anos o requerente pode se inscrever novamente para a habilitação a adoção, pois estará em outro momento de vida e muitas coisas podem ter mudado em sua forma de ver o mundo, suas crenças e em seu desejo de ter um filho.

A inserção de uma pessoa ao cadastro nacional dos adotantes pode ser negada por diversos motivos, como detecção de uma grave doença mental que comprometa futuramente a relação com o adotado, desejo de adotar para suprir outras necessidades que não seja a realização da família com o respaldo amor, detecção de desequilíbrio ou uma visão distorcida ou muito equivocada de educação familiar, uma condição financeira que não dê para alimentar a criança, um lar indigno de alguém que não tenha noção alguma higiene. É incoerente e injusto tirar uma criança de um meio nocivo e inserí-la em outro pior ainda.

Durante a avaliação psicológica o psicólogo pode propor o trabalho de diversas questões com os requerentes, alguns amadurecem muito, mas existem outros que continuam apegados às suas crenças que comprometeriam seguramente e seriamente e a relação com o futuro filho.

Por Cintia Liana

domingo, 13 de junho de 2010

Quando a criança decide se quer ser adotada

Foto: Facebook

Por Cintia Liana Reis de Silva

É raro uma criança rejeitar adotantes que já foram "aprovados" no processo de habilitação e têm a certeza do desejo de ter um filho, mas pode existir uma falta de empatia por algum motivo que esteja fora do controle de todos, a questão é que isso é muito difícil de acontecer, pois antes da criança passar para o estágio de convivência devem acontecer visitas para a aproximação. Quanto maior é a idade maior a necessidade dessas visitas iniciais de aproximação.

A partir dos 12 anos o menor deve ser ouvido em audiência, quando terá que se colocar frente ao pleito e também decidir verbalmente sobre ele, o que deve constar em ata de audiência.

Acredito que um Juiz não daria a adoção de uma criança, mesmo menor de 12 anos, que estivesse visivelmente inconformada com o pleito, tudo deve ser investigado e o direito a felicidade dela deve ser preservado. Além disso, a equipe técnica se coloca perante o pleito opinando favoravelmente ou contra e a criança também é avaliada em relação ao seu sentimento, desejo e sobre o tipo de relação construída com os requerentes, que deve ser de filho.

A lei é clara, na adoção se encontra uma família para preservar os direitos de uma criança e não uma criança para satisfazer uma família. A prioridade é sempre a criança.

Por Cintia Liana

sábado, 12 de junho de 2010

Crianças que sofrem abandonos e sobre a menina torturada

Foto: Facebook

Esta criança que foi torturada precisa de um lar seguro, com o acompanhamento psicológico adequado. Uma depressão no momento atual é algo esperado pelo forte trauma, o medo também de novas relações ou até o receio de chamar outra pessoa de mãe durante algum tempo por associar isso aos maus tratos e aos dois abandonos que sofreu, primeiro da mãe biológica e este segundo, mas são suposições. Prognósticos para um futuro distante, neste momento, poderiam ser frágeis e causar uma espera, uma expectativa por algo não positivo em torno desta menina.

De qualquer modo, não diria que ela não estará preparada para uma nova adoção por um longo tempo, esta criança necessitará de uma família, de amor de mãe e pai que a "adotem" plenamente e que aconteça aos poucos, com muito cuidado. A dor que ela passou não faz dela indigna de uma nova família e nem está despreparada para isso por causa dos terríveis maus tratos que sofreu, ela precisa agora de tempo e cuidados especialíssimos.

Lembremos que existe um possível pensamento por parte de algumas pessoas que as crianças que sofreram traumas têm que ser "consertadas" para nova inserção, para "garantir" aos novos adotantes que não terão filhos com "defeito". Esse pensamento é muito egoísta. A criança deve ser preparada para nova adoção, mas não vista como alguém com "defeito", porque tem um "trauma".

Devemos dizer "agora" para as crianças, não com irresponsabilidade, mas darmos total prioridade à elas. Devemos pensar agora nesta criança e na possibilidade de adotantes que queiram se doar com toda a paciência e maturidade para acolhê-la, só assim superará o que passou, com um lar seguro, voltado para as necessidades dela e totalmente amoroso.

Marcas todas as pessoas têm, umas mais brandas outras mais graves ou até absurdas, todas as crianças são adotáveis e merecem uma família, merece investimento afetivo e que acreditemos nelas, o que nos diferencia é a capacidade de manejarmos nossas dificuldades advindas dessas dores. As crianças devem ter o direito a isso, a falar sobre suas dores e devemos colher isso com muito respeito e isso já é bastante “curativo”.

Uma criança abrigada e "traumatizada" pode lidar com suas dores e frustrações de modo mais maduro que um filho biológico que não aceita limites quando sua mãe lhe nega um brinquedo no shopping, por exemplo.

Os filhos biológicos não nos dão garantia alguma que serão saudáveis quando adultos, que são mais confiáveis porque têm o mesmo sangue dos pais. Suzane Richthofen era filha biológica. Que culto é esse a herança biológica, se isso não é garantia de nada? E porque teremos que ter a garantia de que o filho adotivo será perfeito ou deve ser manipulável?

O pensamento de que crianças que passaram por "traumas" serão adultos problemáticos ou marginais vem do preconceito e do medo. Se elas tiverem verdadeiramente um bom auxílio, num meio saudável e muito amor incondicional crescerão em harmonia, tentando superar suas dificuldades e vivendo as alegrias que virão, mas tem que ter muito amor, muito desejo de adotar e ser muito firme para entender isso.


Por Cintia Liana

quinta-feira, 3 de junho de 2010

E-mail de uma mãe sobre adoção tardia

Foto: Hudson Matos


E-mail de uma mãe indignada com a reportagem da Globo em 2007 sobre Adoção Tardia.
Junho de 2007

Olá "mães e futuras mães"

Li a reportagem sobre a adoção tardia e não concordei com alguns pontos.
Eu adotei três crianças maravilhosas, elas chegaram em abril de 2006 e as registrei em dezembro de 2006. Nomes e idades, j., menina: 05 anos, f., menina: 03 anos e m., menino: 02 anos, na época. Eles são as coisas mais lindas do mundo! Eu e meu marido nunca fomos tão felizes na vida! Em nenhum momento houve: comportamento anti-social, regressão, perda de controle e etc.

Também com relação a nova família que sonharam, muito pelo contrário da reportagem, assim que eles chegaram, nós combinamos: "Aqui será seu lar porém, aqui temos regras e essas regras devem ser seguidas". Eles entenderam perfeitamente e, graças a Deus, não tivemos nenhum problema.

Eu e meu marido sentimos que, na realidade, nós adultos é que colocamos "minhocas" na cabeça, pois nós dois ficávamos conversando tipo "o que vamos falar quando eles entrarem aqui em casa? Vamos dizer que agora é a casa deles? Vamos ficar quietos? E se eles não gostarem? Como eles vão chamar tio(s) ou pai(s)? Como vamos falar que somos seus novos pais? Enfim, uma série de coisas e sabem o que aconteceu? Nós saímos do abrigo e fomos comprar as caminhas. Depois de algumas horas juntos a do meio falou: "papai eu quero água", nós quase caímos duros de susto. Ou seja, a partir dai eles começaram no mesmo dia a nos chamar de pai e mãe e quando chegamos em casa, assim que entraram a mais velha disse: "olha nossa nova casa, tem tijolo, não tem ratos, que linda!".

Assim, eu e meu marido ficamos com cara de bobos, ou seja, não precisamos falar nada, nossos filhos é que falaram, eles que nos adotaram, eles que nos deram forças, eles que nos mostraram que barreiras são quebradas com um simples gesto de amor. Enfim, adoção tardia é uma coisa maravilhosa, não tenho como passar aqui nesse email, mas na pratica é algo divino, eu estou muito, muito feliz mesmo! E se pudesse adotar mais uns vinte, todos de maior idade...

Com relação a globo, isso é um absurdo, pois eu me considero a mãe mais linda do mundo (meus filhos me dizem isso quase todos os dias), dizem que me amam, que sou maravilhosa, que sou melhor que a mãe que eles pediam a Deus. Enfim, a globo não sabe de nada, não tem coração, sentimento, respeito, porque nós, mães adotivas, somos mães sim, mães de verdade, mães de coração, de alma, de espírito, ser mãe não é por no mundo e sim criar, educar, dar amor, carinho. As minhas meninas (J. e F.) conheceram sua genitora e em nenhum momento querem pensar em voltar com ela, pois eu, I., sou a mãe, ou seja, para mim, isso basta!

Por isso, mães adotivas ou não, mães que estão na fila, mães que estão pensando no assunto, não se importem com o racismo, com os ignorantes, pensem em vocês e na felicidade que é ter filhos, e pronto!

Beijos
I.

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E quem tem coragem de afirmar o contrário depois deste e-mail? Você é a mãe e uma mãe que demonstra ser imensamente feliz e realizada e ninguém duvida disso.
E olha como as crianças chegam tão conscientes do que querem, tão receptivas e ensinam tanto...

Esse e-mail me foi doado por uma mãe e o usei numa apresentação sobre a história social da criança, no primeiro módulo do meu curso de especialização em Psicologia Conjugal e Familiar em 2007, na matéria Antropologia. No trabalho quis mostar como o conceito e a valorização da criança vem mudando no decorrer da história.

Lindo e-mail.


Por Cintia Liana

terça-feira, 1 de junho de 2010

Drible na Lei da Adoção

Cansados de esperar, muitos casais estão optando por levar as crianças para casa por meio da guarda provisória, em vez de enfrentar todo o processo oficial na Vara da Infância e da Juventude

Por Helena Mader

Ronaldo de Oliveira/CB/ D.A Press - 13/5/10

Francinaldo e Lucimara estão na fila há mais de um ano para adotar uma criança e se queixam da demora: “Só se dá bem quem faz as coisas de forma errada”, diz ele.


Breno Fortes/CB/D. A Press - 17/2/09

A intermediação da Justiça nesse processo é muito importante. Os casais são preparados para a adoção e os riscos para as crianças são muito menores”. Luísa Marillac, promotora de Defesa da Infância e da Juventude


Nem mesmo crianças órfãs ou abandonadas escapam do famoso jeitinho brasileiro. Diante da longa demora para conseguir adotar bebês menores de um ano, casais na fila da adoção burlam a lista de espera para ter um filho nos braços com mais rapidez. Em vez de procurar a Vara da Infância e da Juventude e seguir um processo oficial de adoção, eles levam a criança para casa apenas com a guarda provisória e, muitas vezes, sem nenhum tipo de documentação. A medida é uma forma de driblar a nova Lei da Adoção, que entrou em vigor em novembro de 2009 e trouxe normas mais rígidas para garantir a segurança do trâmite legal. O Ministério Público do Distrito Federal está preocupado com essa estratégia, que coloca em risco todos os envolvidos no processo, principalmente as crianças.

A ação de casais à margem da lei pode ser comprovada por números e deve ser foco de discussão amanhã, quando se comemora o Dia Nacional da Adoção. No ano passado, 180 crianças foram acolhidas em uma família substituta, uma média de 15 por mês. Este ano, a Vara da Infância e da Juventude registrou apenas quatro adoções em mais de quatro meses — média de menos de uma adoção por mês. O número despencou porque esses acolhimentos passaram a ser feitos ilegalmente, sem o acompanhamento da Justiça.

A Lei nº 12.010/09, aprovada em agosto do ano passado e sancionada três meses depois pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criada com o objetivo de diminuir o tempo que meninos e meninas passam nos abrigos até serem inseridos em uma família substituta. A nova legislação proibiu a prática da adoção direta — quando a genitora entregava o bebê à família que escolhesse, sem a intermediação da Justiça. Os tribunais só entravam no caso para homologar uma situação já consolidada.

Até a sanção da lei, essa era a forma preferida pelos candidatos a pais. No ano passado, 62% das adoções foram diretas, 15% dos processos foram abertos por familiares das crianças e apenas 13% dos casos tiveram intermediação da Vara da Infância. E essa prática tão arraigada não sumiu rapidamente dos hábitos dos brasileiros.

Com as mudanças na lei, apenas a Vara da Infância e da Juventude pode indicar para quem esses meninos e meninas serão entregues. Os candidatos devem estar na fila e ter passado por um curso de capacitação. Há apenas três exceções em que a adoção pode ser feita diretamente: quando os interessados forem madrasta ou padrasto da criança, por parentes diretos com os quais haja vínculos de afinidade ou nos casos em que o casal que vai adotar tem a guarda legal da criança por mais de três anos. É justamente nesse parágrafo da legislação que as famílias interessadas em burlar a lei se apoiam.

Alerta
Para fazer a adoção direta sem entrar na fila, muitas pessoas recorrem à solicitação de guarda provisória para, depois de três anos, entrar com o processo formal de adoção. A promotora de Defesa da Infância e da Juventude Fabiana de Assis Pinheiro alerta para o risco que essa prática representa. “A guarda é um mecanismo jurídico muito mais frágil do que a adoção, que é incontestável, irrevogável. Já a guarda pode ser suspensa a qualquer momento, seja por solicitação da genitora, que decide pegar a criança de volta, ou por iniciativa da família interessada em adotar, que pode também devolver essa criança à mãe ou até mesmo a um abrigo”, explica a promotora.

O Ministério Público recebeu exemplos recentes de casos como esses. Em um deles, a mãe biológica enfrentava problemas financeiros e decidiu entregar a guarda de seu bebê a um casal conhecido, já que a adoção direta é proibida. Alguns meses depois, ela arranjou um emprego fixo, se arrependeu da atitude e decidiu retomar a guarda do filho. O casal, que sonhava em adotar a criança e já havia desenvolvido um vínculo afetivo com ela, perdeu a guarda.

Em outra situação acompanhada pelas promotoras de Defesa da Infância e da Juventude, um casal que tinha a guarda provisória de um garoto de três anos decidiu devolvê-lo à mãe biológica quando ele começou a apresentar graves problemas de saúde. Como a genitora não queria mais o menino, ele foi mandado a um abrigo. Se em ambos os casos houvesse um processo de adoção formal, não haveria questionamentos ou a possibilidade de devolução da criança.

A promotora Fabiana Pinheiro conta que, antes da lei, recebia uma média de 50 pedidos de adoção de bebês todos os meses. “Agora, esse número se reduziu a praticamente zero. Também diminuiu muito o número de crianças entregues. Onde estão esses interessados em adotar? Onde estão essas crianças? Está bem claro de que muita coisa está sendo feita à margem da lei”, afirma Fabiana.

As mudanças na Lei da Adoção, com a proibição da chamada adoção direta, foram criadas para evitar a possibilidade de eventuais transações comerciais de crianças. Isso acontecia com muita frequência e eram comuns casos de mães que cobravam valores em dinheiro para entregar seus filhos aos casais interessados em adotá-los. Muitas famílias também se sentiam na obrigação de ajudar essas genitoras, com pagamento de cestas básicas, aluguel ou ajuda para outros filhos da mãe biológica. “Com esse tipo de adoção (direta), a criança deixava de ser sujeito e passava a ser objeto”, justifica a promotora de Defesa da Infância e da Juventude Luísa de Marillac. “A intermediação da Justiça nesse processo é muito importante. Os casais são preparados para a adoção e os riscos para as crianças são muito menores”, acrescenta a promotora.

A realidade
30 crianças foram entregues para adoção este ano, 4 foram adotadas formalmente, 170 meninos e meninas estão cadastrados para adoção atualmente.
Fila que se arrasta
O tempo médio de espera para quem deseja um bebê com menos de um ano de idade é de, em média, quatro anos. O casal de advogados Carlos, 31 anos, e Márcia, 32, (nomes fictícios) estava na fila da adoção há mais de dois anos quando, no fim de 2009, uma mulher ofereceu entregar seu recém-nascido. Eles hesitaram, mas acabaram aceitando a proposta. A nova lei já estava em vigor e, portanto, o casal sabia que enfrentaria dificuldades para formalizar a adoção.

O garoto de cinco meses está na família desde que nasceu, mas Carlos e Márcia ainda não conseguiram legalizar a situação. Não têm sequer a guarda da criança. “Nosso argumento é que essa proibição da adoção direta não valeria para a gente, já que estávamos na fila havia muito tempo. Passamos pela análise das equipes da Vara, ou seja, o objetivo da lei de garantir a segurança da criança está resguardado”, afirma Carlos. “O menino acolhido informalmente pelo casal é negro e tem problemas de saúde — perfil que na maioria das vezes reduz o interesse dos candidatos à adoção. “Se não estivesse com a gente, certamente ele estaria largado em um abrigo. Vamos comprar essa briga”, finaliza o advogado.

Queixa
Quem continua na fila reclama das adoções à margem da lei, que tornam a espera ainda mais longa. O servidor público Francinaldo Silva, 40 anos, e a assistente técnica Lucimara Ramos Silva, 33, decidiram adotar uma criança há quase quatro anos. Entre a escolha e a efetiva inscrição na fila, esperaram mais de 12 meses. Eles reclamam da lentidão do processo. “A fila não anda, é desanimador. A gente quer fazer tudo certinho, como a lei manda. Mas só se dá bem quem faz as coisas de forma errada”, reclama Francinaldo.

Lucimara já pensa em alternativas para realizar o sonho da maternidade. “No cadastro, informamos nosso desejo de receber uma criança menor de dois anos. Estamos pensando em ampliar essa faixa de idade para ver se o processo anda mais rápido”, conta a assistente técnica. “Me sinto passada para trás quando vejo que a fila só anda para quem dá um jeitinho. Já nos ofereceram crianças, mas tenho medo e prefiro aguardar”, conta Lucimara. (HM)

Autora: Helena Mader

Por Cintia Liana

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vamos enfrentar o preconceito!

Foto: Facebook

Tenho que repetir aqui um dos parágrafos do texto anterior, de Fernando Nazaré.

Como assinala Rolim (...):

“Temos, no Brasil, cerca de 200 mil crianças institucionalizadas em abrigos e orfanatos. A esmagadora maioria delas permanecerá nesses espaços de mortificação e desamor até completarem 18 anos, porque estão fora da faixa de adoção provável. Tudo o que essas crianças esperam e sonham é o direito de terem uma família no interior das quais sejam amadas e respeitadas. Graças ao preconceito e a tudo aquilo que ele oferece de violência e intolerância, entretanto, essas crianças não poderão, em regra, ser adotadas por casais homossexuais. Alguém poderia me dizer por quê? Será possível que a estupidez histórica construída escrupulosamente por séculos de moral lusitana seja forte o suficiente para dizer: - “Sim, é preferível que essas crianças não tenham qualquer família a serem adotadas por casais homossexuais”? Ora, tenham a santa paciência. O que todas as crianças precisam é cuidado, carinho e amor. Aquelas que foram abandonadas, foram espancadas, negligenciadas e/ou abusadas sexualmente por suas famílias biológicas. Por óbvio, aqueles que as maltrataram por surras e suplícios que ultrapassam a imaginação dos torturadores; que as deixaram sem terem o que comer ou o que beber, amarradas tantas vezes ao pé da cama; que as obrigaram a manter relações sexuais ou atos libidinosos, eram heterossexuais, não é mesmo? Dois neurônios seriam, então, suficientes para concluir que a orientação sexual dos pais não informa nada de relevante quando o assunto é cuidado e amor para com as crianças. Poderíamos acrescentar que aquela circunstância também não agrega nada de relevante, inclusive quanto à futura orientação sexual das próprias crianças, mas isso já seria outro tema. Por hora, me parece o bastante apontar para o preconceito vigente contra as adoções por casais homossexuais com base numa pergunta: - que valor moral é esse que se faz cúmplice do abandono e do sofrimento de milhares de crianças?”

Referência:
Adoção: um direito de todos e todas. Conselho Federal de Psicologia (CFP). -- Brasília, CFP, 2008. 52p. Capítulo 7 (ultimo).
Documento disponível em: http://www.pol.org.br

Perfeito! Adorei o que li.

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Completo, dizendo:

Quer dizer então que tem gente que considera mais justo uma criança crescer num abrigo e sair de lá com 18 anos sem ter para onde ir, correndo riscos de se corromper pelo abandono, que crescer tendo pais homossexuais? É isso mesmo? Eu entendi?

O que tem de tão asqueroso e de tão repugnante em um casal homossexual? Por que eles estão menos preparados para serem pais? Por que não são capazes de constituir família e dar amor à um filho?

Vocês já se imaginaram "presos" num abrigo, crescendo sem família?

O que de tão horrível poderá acontecer a uma criança se for criada por pais homossexuais? Elas se tornarem igualmente homossexuais? Mas eu nunca vi um filho homossexual com pais homossexuais, assim como nunca vi adultos homossexuais terem filhos homossexuais, por mais que nessa relação ainda inclua a parte biológica. Se a convivência fosse assim tão determinante para educar filhos para serem homossexuais, para definir a orientação sexual de uma criança, então aliada a parte biológica deveria ser algo exato, não teria erro.

De todo modo, esse pensamento também já é preconceituoso. Mas digamos que pais homossexuais tenham o poder milagroso e tão manipulador de tornar seus filhos adotivos homossexuais, o que é melhor: ser homossexual ou se tornar um ladrão ou assaltante? Não que todas as crianças que saem dos abrigos se tornem pessoas ruins, mas é algo a se pensar.

Perguntem a uma criança de 8 anos o que ela prefere, estar em um abrigo ou ter pais homossexuais. Tenho certeza que ela já sabe o que significa.
Quem acha que é ruim para a criança, por que ela sofrerá preconceito, eu digo que o preconceito já começa em que tem medo dele. Será que não podemos combater o preconceito? Será que o preconceito e as pessoas de mente fechada são maiores que a nossa força de transformação para enfrentá-las?

Acho que temos que caminhar para frente e não deixar de fazer nada por medo de preconceito, até porque as pesquisas mostram que a criança adotiva que sofre preconceito, o sofre por ser adotada e não por ser filha de homossexual ou de pai solteiro.

As crianças precisam de amor, que as preparemos e não crescer em abrigos para que não ouçam piadas de gente medríocre na escola. Ou vamos deixar os medíocres e preconceituosos manipularem nossas ações, definir as nossas vidas?

Cintia Liana

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Conheci Marcos Rolim neste artigo citado e trago aqui seu breve currículo.

"Marcos Rolim iniciou seu trabalho em Direitos Humanos como membro da Anistia Internacional. Sua formação política deu-se na luta contra a ditadura militar em várias frentes de atuação. Liderança estudantil de destaque, foi eleito vereador em 1982, em Santa Maria, RS, com a maior votação da cidade. Na Câmara de Vereadores criou a Comissão de Direitos Humanos, presidindo-a por dois anos."
(...)
"Eleito Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores em 1990 e reeleito para um segundo mandato em 1994, desenvolveu um intenso trabalho em Direitos Humanos que alcançou reconhecimento internacional."
(...)
"O Deputado Marcos Rolim foi autor da primeira legislação da história Brasileira de "Reforma Psiquiátrica e de Proteção aos que Padecem de Sofrimento Psíquico", em 1992.
(...)
Eleito deputado federal em 1998, assumiu a titularidade da Comissão de Constituição e Justiça e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e uma das vice- lideranças da bancada do PT."
(...)
"Marcos Rolim tem mantido uma sólida relação com instituições e entidades internacionais na área de Direitos Humanos."
(...)
"Marcos Rolim é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria. Ensaísta e colaborador de inúmeros jornais e revistas brasileiras, é autor de "A Imitação da Política", um estudo sobre a burocratização dos partidos políticos e de "Teses Para Uma Esquerda Humanista", recente publicação crítica à ideologia tradicional da esquerda e de afirmação do paradigma dos Direitos Humanos. Marcos Rolim tem 40 anos, casado com Jussara Bordin e pai de Maíra (16) e Sofia (3)."

Fonte:


Por Cintia Liana

terça-feira, 27 de abril de 2010

Influências do uso do Crack em Crianças

Imagem: Google


Olha que coisa mais legal o e-mail que recebi de uma nova mamãe!
Parabéns pela garra! Coragem, vontade e amor com o seu é para ser visto por todos.


"Os Estados Unidos há cerca de 18 ou 20 anos tinha um "alarme" a respeito de uma geração perdida, de "crack babies", que teriam retardo mental e seriam viciados e criminosos em potencial.

Existe uma carta pública de cientistas de renome dos Estados Unidos e Canadá, atualmente (quando os índices de criminalidade inclusive baixaram) pedindo que se pare de usar essa denominação "crack babies", que se mostrou estigmatizante e nada comprovada cientificamente.

As taxas de retardo mental entre filhos de usuárias de crack e o restante da população são os mesmos, e menores do que os filhos de usuárias de álcool e tabaco. Há alguns problemas que podem ter maior incidência nessas crianças e um modo específico de ninar e lidar nos primeiros meses, mas não se pode falar em determinismo algum, como eu nunca acreditei.

Assim, não vou cair nessa, e amanhã vou conhecer o meu filho."


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Não deixe que o medo, o preconceito e a falta de informação das outras pessoas interfira decisivamente em suas escolhas e defina a sua vida. Muitas vezes você pode ter muito mais coragem e vontade que ela.

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Para uma pesquisa mais aprofundada, o que há de mais relevante está nos links a seguir:

http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/04/15/AR2010041502434.html?wprss=rss_metro http://www.druglibrary.org/Schaffer/cocaine/crackbb2.htm
http://www.nytimes.com/2009/01/27/health/27coca.html?_r=1
http://encyclopedia.adoption.com/entry/drug-abuse/118/1.html
http://www.adoptionconnection.org/newsletter_drug_exposed.asp
http://www.welfareacademy.org/pubs/childwelfare/letsgive-0989.shtml
http://advocatesforpregnantwomen.org/articles/crackbabyltr.htm

Tratamentos atuais antidrogas para mulheres grávidas e que lenca
alguns riscos para os bebês:

http://www.doitnow.org/pages/177.html

[Pena que os bons links sobre o assunto são em inglês.]


Por Cintia Liana

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Tempo de negativação do Vírus HIV em Crianças

Image: Google

O tempo para a negativação da criança contactante (mãe biológica com HIV) é até os 2 anos de idade. Até lá, a criança deve ser acompanhada por um infectologista e realizar exames periodicamente como, por exemplo, a carga viral (que pode dizer se a criança irá positivar ou não antes mesmo dos 2 anos de idade) e cd4 e cd8.
Até ter a certeza da negativação, a criança deverá fazer uso do Bactrim para prevenir infecções oportunistas.
Tudo isso é oferecido na rede pública de saúde: consultas, exames e medicações.

(Mensagem de uma mãe adotiva e enfermeira)


Pode parecer até absurdo para algumas pessoas, mas há quem adote crianças com o vírus do HIV ainda ativo e que depois é negativado. Maravilha! Há pessoas capazes de se abrir para situações que exigem muita segurança e firmeza.
O amor e cuidados especiais individualizados fazem toda a diferença no processo de negativação. Os poucos casos que acompanhei até hoje todos foram agraciados com a negativação do vírus, mas os pais se mantiveram firmes, no propósito de amor com o filho, independente do resultado, e isso a criança sente, o amor incondicional. As células respondem positivamente a investimento verdadeiro de amor.

Como sempre digo, o que o amor não transforma e não cura? É o melhor dos remédios.


Por Cintia Liana

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Os Orfãos Sociais do Brasil

Tenho a honra de apresentar aqui um texto de Jotacê Freitas, marido de minha mãe e grande amigo meu, pessoa com quem eu aprendo muito.

Foto: Google Imagens

*Por Jotacê Freitas

Escrito em março de 2007

“(...)Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar."
Bertold Brecht

País dos contrastes, o Brasil acaba de pôr em jogo mais uma lei de adoção. Até então só podiam ser adotadas crianças que os pais tivessem morrido e fossem doentes terminais. Com a nova mudança na lei as crianças abrigadas em orfanantos poderão ser adotadas também por estrangeiros, desde que os pais dêem uma permissão aos interessados.Isso tem causado uma polêmica entre duas correntes de ‘compreensão’ dos direitos das crianças. Por um lado um grupo acha que é melhor que as crianças que têm família possam também ser adotadas, enquanto o outro grupo, teme que essa adoção venha causar mais danos a essas crianças, como o caso de venda de órgãos, trabalho escravo, abuso sexual e, que seria obrigação do Estado dar a essas famílias, aliás, a todos os cidadãos, condições para se manterem com honradez e dignidade. É o que está na Constituição Federal que ironicamente garante esse direito apenas com um salário mínimo.

Enquanto o tempo passa e as discussões seguem estéreis as crianças vão crescendo nos orfanatos e a idade avançada torna-se um fato negativo para sua adoção por uma família adotante.

Os centros das nossas cidades estão cheias de crianças nas sinaleiras e nenhuma medida é tomada para acabar com isso. O estatuto da criança e do adolescente com sua ‘proteção’ aos direitos da criança não admite que elas sejam ressocializadas em instituições de reclusão, pois estas acabaram se tornando faculdades para a marginalidade. Os maus tratos por parte dos órgãos públicos e a promiscuidade com que eram agrupados não foi positiva para educá-las e transformá-las em cidadãs. As escolas atualmente não passam de meros depósitos de crianças para o aumento da verba educacional e o desestímulo escolar, provocado por esse descaso, leva a criança para a rua e mesmo professores “comprometidos” não têm poder de influência sobre elas que vêem na rua uma solução imediata para solução dos seus problemas mais básicos e emergentes: comida e lazer.

Governo nada faz e as crianças vão crescendo nas sinaleiras, sob viadutos, em bancos de praças, exércitos do tráfico, órfãos sociais do Brasil, terra do Carnaval e do Futebol, até virarem índice de vítimas dos grupos de extermínio.

Os Juizados de Menores estão abarrotados de meninos e meninas que sofreram maus tratos dos pais e/ou familiares e, por não verem condições neles de criarem essas crianças, mantêm-nas sob sua guarda, enquanto os pais e os filhos são acompanhados psicologicamente até o momento do retorno ao lar. Raramente isso ocorre, as condições socioculturais dessas pessoas são precários e há pouca probabilidade deles se estabelecerem moral, social, afetiva e economicamente bem. A falta de oportunidades é gritante e a tendência é que esse abismo que separa os poucos abastados dos muitos despossuídos aumente cada vez mais.

Talvez o planejamento familiar seja a solução, mas tem encontrado barreira entre os grupos mais conservadores, principalmente os religiosos. E apenas o planejamento, sem uma mudança na escala social, não resolveria a questão, senão estaríamos apenas reduzindo o número de miseráveis de maneira controlada e científica, assim como se faz com as cobaias nos laboratórios.

Para o cidadão comum, o menor, o pivete, o moleque de rua, não passa de um marginal que tem que ser eliminado do convívio social, a qualquer custo. Ele espera a segurança pela qual paga com seus impostos. Não percebe o quanto essas crianças são vítimas do seu egoísmo, da sua alienação e insensibilidade social.

Os especialistas nos orientam a não dar esmolas a essas crianças para que elas não fiquem ‘viciadas’ na vadiagem e mendicância, mas até o momento nenhuma sugestão foi dada ou exigida do Governo para solucionar o problema. Dinheiro é o que não falta em nosso país, vemos constantemente na imprensa casos de desvios de verbas milionárias feitas pelos políticos e nada acontece, ninguém é preso e quando isso ocorre o dinheiro não volta mais aos cofres públicos pois já foi pulverizado em plantações de ‘laranjas’.

É óbvio que apenas a campanha do ‘não à esmola’ não resolverá o problema, o buraco é bem mais embaixo, precisamos de uma atitude contra a desonestidade reinante em nossa nação que tanto tem sangrado as veias dos pobres e honestos trabalhadores e desempregados das periferias.

*Jotacê Freitas, poeta e professor do Ensino Fundamental.