"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

Mostrando postagens com marcador sociedade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sociedade. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Violência contra a mulher é tema da redação do Enem 2015

Ótimo tema. Não existiria nada mais adequado e urgente para o momento.

________________
Agência Brasil
Publicado: 25/10/2015 13:44 BRST | Atualizado 25/10/2015 14:44 BRST

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, conforme divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no perfil da instituição no Twitter. Este domingo (25) é o segundo dia de prova do exame e também o mais temido por muitos candidatos, justamente pela elaboração da redação.



Os portões para entrar nos locais de prova fecharam às 13h, no horário de Brasília, e as provas terão duração de cinco horas e 30 minutos. Os candidatos precisarão responder a 45 questões de linguagens e códigos, 45 de matemática e produzir uma redação.
Alguns cuidados devem ser tomados pelo estudante hoje à tarde. As redações com sete linhas ou menos receberão nota zero. Também terão a nota da redação zerada os candidatos que deixarem a folha em branco, fugirem do tema proposto ou fizerem qualquer brincadeira ou deboche. A estrutura deve ser dissertativo-argumentativa, ou seja, os candidatos devem expor argumentos relacionados ao tema da redação, elaborando-os de forma consistente e coerente.
A proposta de redação do Enem sempre vem acompanhada de textos que podem servir de motivação para que os candidatos elaborem seus próprios textos. No entanto, o estudante não deve se restringir às ideias ali apresentadas, copiar trechos ou torná-los parte de sua argumentação. Tais procedimentos podem fazer com que o candidato perca pontos na avaliação de competências.
Como nos anos anteriores, para obter a nota máxima (1.000), o texto deve cumprir bem cinco competências exigidas pelo Ministério da Educação (MEC). O título não é obrigatório. Cada competência tem cinco faixas que vão de 0 a 200 pontos: domínio da norma-padrão da língua escrita, compreensão da proposta da redação e aplicação de conceitos de diversas áreas do conhecimento para desenvolver o tema; capacidade de selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações para defender um ponto de vista; conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação e elaboração de proposta de intervenção ao problema abordado, respeitando os direitos humanos.
primeiro dia de prova foi considerado "tranquilo" pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, durante balanço. Segundo o Ministério da Educação (MEC), 364 candidatos foram eliminados do exame. Destes, 330 portavam equipamentos inadequados na sala de aula e 34 foram identificados com objetos proibidos pelos detectores de metal. A abstenção ficou em 25,31%, número menor comparado a 2014.
Fonte: http://www.brasilpost.com.br/2015/10/25/tema-redacao-enem_n_8383602.html?ncid=fcbklnkbrhpmg00000004

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

8 coisas que pais adotivos jamais devem fazer

Pin it (Brasil Post)

Por Ann Brenoff
Publicado me 14.11.14 pelo Brasil Post

Sou mãe de duas crianças incríveis nascidas na China. Adotamos Sophie quando ela tinha 5 anos - agora ela tem 17. Simon tinha 4 quando o adotamos; hoje ele está com 14. Baseada na minha experiência, eis oito coisas que pais adotivos jamais devem fazer.
1. Contar a história do seu filho para todo mundo.
As circunstâncias que levaram seu filho a ser adotado são parte da história dele. A história não é sua e, portanto, você nada mais é que a fofoqueira da cidade se sair falando do assunto para qualquer um que perguntar. Vivemos em uma cultura que incentiva o compartilhamento, mas não é da conta de ninguém se a mãe de sua filha era uma adolescente de 16 anos que largou o bebê num restaurante de hotel frequentado por americanos para que ele fosse encontrado e levado para os Estados Unidos.

Assumo a culpa por ter falado demais. Uma das coisas que compartilhei além da conta foi a história dos meus filhos. O fiz com a mais nobre das intenções: passei anos desfilando meus filhos com a esperança de que outras pessoas também adotassem. Estava errada, por mais honrada que fosse minha missão. Me emendei. Hoje em dia, você pode conhecer meus filhos, ver o quão incríveis eles são. Mas, se eu sentir curiosidade da sua parte, corto logo de cara. Vou me gabar das conquistas deles. Mas as histórias? São deles, e confio no julgamento dos meus filhos para decidir se elas serão compartilhadas, e com quem.
2. Negar que você é egoísta ou fingir ser abnegada.
Odeio pessoas que dizem "Deus abençoe" para mim quando veem nossa família. O que elas querem dizer, na realidade, é que eu devo ser alguma alma bondosa que resgatou esses dois pobres órfãos. Esse tipo de pensamento é ofensivo - e completamente equivocado.

Para começar, adotei meus filhos porque queria uma família, e a adoção internacional era a única alternativa possível para mim. Não foi um ato de abnegação que me levou a ser mãe; te garanto que agi somente em interesse próprio. Em segundo lugar, não resgatei ninguém. Na verdade, como dizem muitas mães adotivas, nós é que fomos salvas, não o contrário.
3. Agir como se eles não tivessem tido pais antes de você.
Meus filhos nasceram de outras pessoas. É natural que eles queiram saber quem são seus pais naturais, onde eles moram, porque decidiram doá-los. É um buraco negro no coração de toda criança adotada que precisa ser preenchido com a luz do sol. Não sinto inveja nem raiva quando minha filha acende uma vela no bolo de aniversário para lembrar da mãe biológica. Não enlouqueço quando ela escreve um bilhete para a mãe e o guarda numa caixa secreta. Digo para meus dois filhos o que eu realmente sei sobre suas famílias, o que não é muito, infelizmente. Não especulo nem conto mentiras só para que eles se sintam melhor. E, se meus filhos decidirem se juntar aos milhares de outros chineses adotados que estão começando a buscar suas famílias biológicas, darei todo apoio.

Sou plenamente ciente de que, para que eu tivesse a minha família, duas mulheres do outro lado do mundo sofreram uma perda terrível. Não consigo imaginar a dor delas. Não sei o que lhes diria. Mas não vou ignorar sua existência.
4. Esperar gratidão ou apreciação por tê-los adotado.
Você pode esperar que uma criança adotada aprecie tudo o que você faz por ela, incluindo o rodízio para levá-la à escola e as incontáveis apresentações de dança que você teve de aturar - e o mesmo vale para um filho biológico. Mas você não pode nem deve esperar que eles sintam gratidão por terem sido adotados. Eles foram uma parte da transação sem direito a voz. Foram os bens negociados. Nunca puderam dar opinião sobre o que estava acontecendo com eles ou sobre o que seria seu futuro.

Sei que minhas crianças se perguntam como teriam sido suas vidas se elas não tivessem sido adotadas. Eu também penso nisso. De maneira geral, sei que eles estariam bem, pois ambos são sobreviventes. A adoção, para eles, foi uma troca. Ter a oportunidade de ter uma família significou abrir mão da cultura, da língua e de tudo o que era familiar para eles - comida, rostos, amigos --, literalmente da noite para o dia. A gratidão é uma faca de dois gumes.
5. Dizer que você "nasceu" para ser pai ou mãe de seu filho adotivo.
Muitos pais e mães adotivos procuram ligações com a criança que adotaram. Entendo essa necessidade. O que não entendo é o desprezo pelos pais biológicos das crianças. Se você "nasceu" para ser mãe da criança, porque outra mulher a deu à luz? Será que foi um plano perverso de Deus causar sofrimento a uma mulher da Guatemala, da Coreia ou do Kansas só para que você pudesse ser feliz?

Acredito que há maneiras de demonstrar o quanto amamos nossos filhos. Digo aos meus o tempo todo que eles são a luz da minha vida, que sou honrada de ser mãe deles, que os amo mais do que minha própria vida. Mas passo longe do sobrenatural ou da intervenção divina. O que nos uniu foi um burocrata chinês casando dossiês de pais com papeis de órfãos. Nada mágico.
6. Tratar mal os idiotas.
Tenho pavio curto e, como escritora, disponho de um enorme arsenal de palavras. É sempre tentador ser grossa com os idiotas que fazem perguntas pessoais sobre seus filhos. Mas, antes de adverti-lo a não fazer esse tipo de coisa, permita-me pedir desculpas à mulher no supermercado que, em 2004, viu minha filha chinesa sentada no meu carrinho e me perguntou se o pai dela era asiático. Minha resposta: "Não sei, não reparei direito na cara dele, se é que você me entende (piscadinha)". Bom, é claro que ela saiu andando.

Me arrependo de ter me comportado assim. Me arrependo por uma única razão: milha filha viu tudo. Apesar de ela não ter entendido o sarcasmo, ela pegou o tom. A vida é curta demais para responder a idiotas.
Quem adota crianças que não se parecem consigo sempre vão ouvir perguntas. Algumas são difíceis de engolir. "Quanto ele custou?" "Por que você não adotou uma criança americana?" "Ela fala asiático?" (Por onde começar a responder uma dessas?)
Você não deve explicações a ninguém. Aprendi a lição e a ensinei aos meus filhos: a história é deles. Eles podem falar o quanto quiserem, mas não têm obrigação de responder para ninguém, mesmo que seja um adulto ou um professor quem estiver perguntando. Sim, professores são os piores na hora de invadir privacidade.
Meus filhos e eu agora respondemos as perguntas com outras perguntas. "Por que você quer saber?" geralmente serve para acabar com a conversa. Ou então explicamos que não queremos falar do assunto. "Considero sua pergunta muito pessoal." Dá vontade de gravar a reação de um adulto quando ele ouve isso de uma criança de cinco anos. É muito engraçado.
Mas a regra de não ser grossa com idiotas tem uma exceção. Essa não pode passar em branco: "Por que você não adotou uma criança americana? Muitas crianças americanas precisam de uma casa".
É uma pergunta que costuma ser feita por ignorantes. Crianças americanas são adotadas o tempo todo logo depois do nascimento. Crianças americanas mais velhas às vezes entram no sistema de assistência social - um processo considerado frustrante por muitas famílias que querem adotar. Mas, mais importante, a pessoa que fez a pergunta não tem nenhum interesse em informações sobre adoção e provavelmente está só acenando com uma bandeira patriótica na sua cara.
7. Pensar em seu filho como um filho adotivo.
Ele é seu filho. Ponto. Toda criança, não importa de onde tenha vindo, é parte da sua família. Filhos adotivos não deveriam ter esse adjetivo. Alguns podem ter problemas ligados ao fato de que foram adotados, mas a maioria, não. É melhor para todo mundo se você parar de achar que qualquer problema de desenvolvimento tem a ver com a adoção. Crianças hiperativas, adolescentes rebeldes, filhos com dificuldades para ler - nem tudo está relacionado à adoção e tudo vai ficar mais fácil se você aceitar isso.

8. Achar que dá para devolver um filho adotado.
Criar filhos - biológicos ou adotados - é o trabalho mais difícil da sua vida. Quando você dá à luz seu filho, a ideia é que você vai amá-lo e lidar com qualquer problema de saúde ou de desenvolvimento que ele venha a ter.

A ideia deveria ser a mesma nas famílias que adotam. Mas existem uma coisa chamada ruptura na adoção que me deixa nauseada. É quando uma família adota uma criança mas não dá conta dela - e aí tenta encontrar caminhos (geralmente online) para passá-la para outra família.
Reuters publicou uma reportagem a respeito um ano atrás. Muito do problema está relacionado à falta de apoio para as famílias, que claramente não estão preparadas para as crianças. Também culpo as agências de adoção por não fazerem uma seleção mais rigorosa dos que se candidatam a adotar.
Mas o que me aterroriza é a ideia de que pais anunciem seus filhos indesejados na internet e driblem o governo para passá-los para outras famílias. Que tipo de dano acontece quando uma criança passa de casa em casa?
A adoção é só um meio para trazer uma criança para sua família. Não conheço classificados online para crianças biológicas, então como é possível que eles existam para crianças adotadas?
Muitas partes do processo de adoção não se parecem em nada com dar à luz uma criança. Mas uma coisa deveria ser idêntica: nossos filhos são nossos filhos para sempre.
Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês.
Fonte: http://www.brasilpost.com.br/ann-brenoff/8-coisas-que-pais-adotivo-jamais-devem-fazer_b_6152252.html?utm_hp_ref=brasil-familia

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Salão de beleza e spa para crianças

Groupon
 
A humanidade esta' emburrecendo, definitivamente. As crianças engolidas pelo capitalismo, por uma concepção do que é belo baseado na aparência, na imagem e no que é falso e superficial. E muitos pais é que servem de exemplo.

Que ganha dinheiro em cima das crianças desse modo acaba por corrompê-las, não passa de um corrupto. Não podemos nos acostumar com isso e banalizar o que é alienante.

As crianças têm que ser incentivadas na retidão de caráter, no amor ao próximo, a ter contato com a natureza, com os animais, na criatividade, incentivadas a ver beleza em correr descalças, a se sujar, a achar graça em ficar descabeladas, a ver beleza em ser alegre, em ser sorridente, a sentir alegria em ver outras pessoas felizes. A dançar, a cantar, a inventar, a viajar, a ler, a escrever, a viver em sociedade com menos competição e inveja, em não querer nada do que é dos outros, a respeitar as diferenças, a entender os amigos, saber escutar, saber falar o que sente, a descobrir e a desenvolver os seus talentos, a sonhar, a buscar se realizar por seus próprios méritos, a futuramente ter consciência e a ser responsável por suas escolhas. Essas sim, são características notáveis de uma criança e de um adulto, e uma vida que vale a pena admirar. 
 
Cintia Liana

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pelo direito de não querer ter filhos


Google Imagens

Por Casal Sem Vergonha | Yahoo! Brasil – 23 minutos atrás

Por mais que nos consideremos seres livres, estamos presos à amarras invisíveis que se apoiam na desculpa das tradições culturais. Ter filhos é uma delas. Por mais que estejamos vivendo num período em que preconceito com quem questiona o padrão nesse quesito começa entrar em processo de queda, muita gente ainda te olha como um extraterrestre quando você pronuncia as palavras: “Eu não quero ter filhos.”

Ter filhos sempre foi uma tradição muito cultuada e esperada na sociedade. Tanto é que um dos papéis principais de nossas mães e avós era parir e cuidar dos filhos. Além de cuidar da casa, essa era a função principal de todas as mulheres – muitas delas nem tinham o direito de questionar se queriam realmente ser mães. Esse comportamento se explica pois ele segue a ordem de evolução da natureza – machos caçam e espalham os seus espermatozóides para o maior número de fêmeas que conseguirem na vida. A fêmea aguenta o filhote no bucho, dá a luz, cuida da cria enquanto o macho sai em busca de alimento. Mas temos que ter muito cuidado ao criar conceitos tão importantes para nossas vidas, nos baseando na realidade dos outros animais. As pessoas não precisam mais se preocupar em reproduzir desesperadamente, porque já conquistamos nosso espaço como espécie e principalmente pelo fato que o mundo já está superlotado. Nossa realidade hoje é outra.

Não estou dizendo aqui que as pessoas devem parar de dar cria. Imagina. As gerações precisam continuar, a economia precisa de mão de obra jovem, criança é vida. Mas isso não significa que TODO MUNDO precise fazer isso. Só que algumas pessoas ainda não perceberam isso, e nem se questionam realmente se se consideram preparadas para colocar mais um ser no mundo, em questões financeiras e (principalmente) de sanidade mental. Sério. Tem gente que não dá conta nem da própria vida e quer mesmo ser responsável pela criação de uma outra, ou, nos casos mais dramáticos, de muitas outras. Fico me perguntando: se de repente não querer ter filhos fosse visto como uma escolha tão comum quanto não querer pintar as unhas do pé, quantas pessoas teriam escolhido resolver seus problemas primeiro em vez de envolver mais um serzindo neles? Ou seja, a questão não é não ter filhos – é ter o direito de escolher se quer tê-los, sem precisar prestar contas para um monte de gente.

Há também o caso de mulheres que sofrem preconceito por decidirem ter filhos mais velhas – vulgo, com mais de 30. Ora, se hoje as nossas condições de vida permitem que uma mulher de 30 anos esteja no auge de muitas coisas, como podemos dizer que essas mulheres já estejam ficando velhas demais para essa escolha? Sim. Há questões de saúde, mas a medicina tem avançado muito nessa questão, desenvolvendo alternativas para mulheres que decidem engravidar mais tarde. Há também a questão da disposição – uma mãe de 45 anos provavelmente não terá a mesma disposição que uma de 25, mas como saber se, em questões de sabedoria, uma mulher nessa idade está muito mais centrada e certa dos valores que quer passar para um outro ser? E aí o que vemos são mulheres desesperadas com a possibilidade de não estarem prontas psicologicamente para gerar outro ser, mas que ignoram esse fato em nome da pressão invisível que ainda insiste em clamar que mulher que não teve filhos, não teve real utilidade para a vida. É aquela velha história “- Você vai mesmo deixar sua mãe sem netos?”, como se devêssemos fazer uma escolha tão séria em nome de uma vontade das nossas mães – elas já tiveram as vidas delas, as chances delas, e já fez as escolhas delas. Agora é a nossa vez.

A escolha de querer ter filhos precisa vir de dentro (não só do chamado do corpo, mas também das condições da mente), e não de imposições sociais ou familiares. Assim como casar na igreja, ou morar junto, as pessoas precisam entender que a realidade de hoje é diferente, e que esses conceitos podem e devem ser revistos, para que sejam ajustados da melhor forma a realidade de cada um – hoje. Fazer as nossas escolhas em vez de ir pro caminho que o vento te leva, é a maior garantia de uma vida mais feliz e, o mais importante, com menos arrependimentos.
 

domingo, 15 de agosto de 2010

Adotar um filho não é fazer caridade

Foto: Getty Images

Há alguns dias estava explicando a uma amiga que adoção não é caridade, nem quando se adota um adolescente. Era a segunda vez que explicava, talvez porque seja mais comum todos que estão fora deste meio pensarem assim.

Caridade é algo pontual, é quando você não está preocupado em obter nada em troca, você ajuda e ponto, é um comportamento altruísta, onde você sentirá um conforto interno inexplicável por ter sido útil na vida alguém que talvez você nunca mais encontre.

Adotar é para sempre. Ninguém adota para fazer caridade, por mais que se veja a nobreza do ato, pois ajudará uma criança, até então sem família, a ter um futuro digno inserida no seio da sua, que se tornará a dela.

As pessoas adotam para satisfazer o seu desejo de serem pai e mãe, de terem um filho, de aprenderem, ensinarem e passarem por todas as alegrias e dificuldades de uma parentalidade como na biológica, não há diferença, com exceção da existência de uma história pregressa do filho e todas as particularidades que esta possa representar e só. O amor é igual, o apego, a necessidade de proteger e ser protegido, é tudo igual.

Não duvide, adotar não é caridade é amor incondicional, um amor que poucos experimentam.

Cintia Liana


"A adoção transcende a natureza. É um requinte da evolução do ser humano, quando acolhe o diferente do seu próprio gene e ama por amar, e não por obrigação biológica." (Jaime, 2000)


Por Cintia Liana

domingo, 11 de julho de 2010

A Verdadeira Maternidade

Foto: Google Imagens

Sou mãe de dois filhos adotivos e me irrito quando dizem que eles não são meus "filhos verdadeiros".

Resposta:
VOCÊ TEM TODA A RAZÃO de se irritar. Um doador de esperma, por acaso, é um pai "verdadeiro" ou é um simples masturbador de material genético? É claro que você vê orgulho nos pais biológicos que também desempenharam a paternidade. Seus filhos têm seus traços, seus trejeitos, suas heranças biológicas. Eles são pequenas miniaturas deles.

A mãe natureza quer esse vínculo, para o benefício das crias. A tolerância de pais biológicos para um "sangue ruim", que a loteria genética lhes produza, será maior do que a de pais adotivos.

Mas, afinal, o que são um pai e uma mãe "verdadeiros"? São aqueles que produzem as condições para que a criança se torne uma pessoa, um indivíduo. São aqueles que desempenharam funções de pai e de mãe (continuação do ventre é igual a nutrição; calor e proteção, função de mãe; apresentação suave para viver no mundo, função de pai). Todas podem ser desempenhadas pela pessoa, quem quer que seja, interessada na criança: mãe, pai, babás, avós, curadores de orfanatos etc.

Quando um embrião se torna um ser humano (desenvolve um sistema nervoso que o permite sentir alguma coisa), vai precisar dessas funções para se tornar uma pessoa. É um trabalho danado, um investimento amoroso enorme. A "verdade" está com quem toma para si tal empreendimento.

Por Francisco Daudt, psicanalista, publicado na Revista da Folha em 27/04/08.


Por Cintia Liana

sexta-feira, 4 de junho de 2010

All you need is love - SOS barnebyer



SOSbarnebyerNorge — 5 de abril de 2010 — 'All you need is love' er en musikkvideo laget av barn fra SOS-barnebyer i Zambia, India og Zimbabwe. Musikkvideoen ble laget i anledning av TV 2s Artistgalla 2010.
'All you need is love' is a music video created by children from SOS-childrens villages in Zambia, India og Zimbabwe.

***********************

Lindo Vídeo, lindos sorrisos.

Por Cintia Liana

terça-feira, 1 de junho de 2010

Drible na Lei da Adoção

Cansados de esperar, muitos casais estão optando por levar as crianças para casa por meio da guarda provisória, em vez de enfrentar todo o processo oficial na Vara da Infância e da Juventude

Por Helena Mader

Ronaldo de Oliveira/CB/ D.A Press - 13/5/10

Francinaldo e Lucimara estão na fila há mais de um ano para adotar uma criança e se queixam da demora: “Só se dá bem quem faz as coisas de forma errada”, diz ele.


Breno Fortes/CB/D. A Press - 17/2/09

A intermediação da Justiça nesse processo é muito importante. Os casais são preparados para a adoção e os riscos para as crianças são muito menores”. Luísa Marillac, promotora de Defesa da Infância e da Juventude


Nem mesmo crianças órfãs ou abandonadas escapam do famoso jeitinho brasileiro. Diante da longa demora para conseguir adotar bebês menores de um ano, casais na fila da adoção burlam a lista de espera para ter um filho nos braços com mais rapidez. Em vez de procurar a Vara da Infância e da Juventude e seguir um processo oficial de adoção, eles levam a criança para casa apenas com a guarda provisória e, muitas vezes, sem nenhum tipo de documentação. A medida é uma forma de driblar a nova Lei da Adoção, que entrou em vigor em novembro de 2009 e trouxe normas mais rígidas para garantir a segurança do trâmite legal. O Ministério Público do Distrito Federal está preocupado com essa estratégia, que coloca em risco todos os envolvidos no processo, principalmente as crianças.

A ação de casais à margem da lei pode ser comprovada por números e deve ser foco de discussão amanhã, quando se comemora o Dia Nacional da Adoção. No ano passado, 180 crianças foram acolhidas em uma família substituta, uma média de 15 por mês. Este ano, a Vara da Infância e da Juventude registrou apenas quatro adoções em mais de quatro meses — média de menos de uma adoção por mês. O número despencou porque esses acolhimentos passaram a ser feitos ilegalmente, sem o acompanhamento da Justiça.

A Lei nº 12.010/09, aprovada em agosto do ano passado e sancionada três meses depois pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criada com o objetivo de diminuir o tempo que meninos e meninas passam nos abrigos até serem inseridos em uma família substituta. A nova legislação proibiu a prática da adoção direta — quando a genitora entregava o bebê à família que escolhesse, sem a intermediação da Justiça. Os tribunais só entravam no caso para homologar uma situação já consolidada.

Até a sanção da lei, essa era a forma preferida pelos candidatos a pais. No ano passado, 62% das adoções foram diretas, 15% dos processos foram abertos por familiares das crianças e apenas 13% dos casos tiveram intermediação da Vara da Infância. E essa prática tão arraigada não sumiu rapidamente dos hábitos dos brasileiros.

Com as mudanças na lei, apenas a Vara da Infância e da Juventude pode indicar para quem esses meninos e meninas serão entregues. Os candidatos devem estar na fila e ter passado por um curso de capacitação. Há apenas três exceções em que a adoção pode ser feita diretamente: quando os interessados forem madrasta ou padrasto da criança, por parentes diretos com os quais haja vínculos de afinidade ou nos casos em que o casal que vai adotar tem a guarda legal da criança por mais de três anos. É justamente nesse parágrafo da legislação que as famílias interessadas em burlar a lei se apoiam.

Alerta
Para fazer a adoção direta sem entrar na fila, muitas pessoas recorrem à solicitação de guarda provisória para, depois de três anos, entrar com o processo formal de adoção. A promotora de Defesa da Infância e da Juventude Fabiana de Assis Pinheiro alerta para o risco que essa prática representa. “A guarda é um mecanismo jurídico muito mais frágil do que a adoção, que é incontestável, irrevogável. Já a guarda pode ser suspensa a qualquer momento, seja por solicitação da genitora, que decide pegar a criança de volta, ou por iniciativa da família interessada em adotar, que pode também devolver essa criança à mãe ou até mesmo a um abrigo”, explica a promotora.

O Ministério Público recebeu exemplos recentes de casos como esses. Em um deles, a mãe biológica enfrentava problemas financeiros e decidiu entregar a guarda de seu bebê a um casal conhecido, já que a adoção direta é proibida. Alguns meses depois, ela arranjou um emprego fixo, se arrependeu da atitude e decidiu retomar a guarda do filho. O casal, que sonhava em adotar a criança e já havia desenvolvido um vínculo afetivo com ela, perdeu a guarda.

Em outra situação acompanhada pelas promotoras de Defesa da Infância e da Juventude, um casal que tinha a guarda provisória de um garoto de três anos decidiu devolvê-lo à mãe biológica quando ele começou a apresentar graves problemas de saúde. Como a genitora não queria mais o menino, ele foi mandado a um abrigo. Se em ambos os casos houvesse um processo de adoção formal, não haveria questionamentos ou a possibilidade de devolução da criança.

A promotora Fabiana Pinheiro conta que, antes da lei, recebia uma média de 50 pedidos de adoção de bebês todos os meses. “Agora, esse número se reduziu a praticamente zero. Também diminuiu muito o número de crianças entregues. Onde estão esses interessados em adotar? Onde estão essas crianças? Está bem claro de que muita coisa está sendo feita à margem da lei”, afirma Fabiana.

As mudanças na Lei da Adoção, com a proibição da chamada adoção direta, foram criadas para evitar a possibilidade de eventuais transações comerciais de crianças. Isso acontecia com muita frequência e eram comuns casos de mães que cobravam valores em dinheiro para entregar seus filhos aos casais interessados em adotá-los. Muitas famílias também se sentiam na obrigação de ajudar essas genitoras, com pagamento de cestas básicas, aluguel ou ajuda para outros filhos da mãe biológica. “Com esse tipo de adoção (direta), a criança deixava de ser sujeito e passava a ser objeto”, justifica a promotora de Defesa da Infância e da Juventude Luísa de Marillac. “A intermediação da Justiça nesse processo é muito importante. Os casais são preparados para a adoção e os riscos para as crianças são muito menores”, acrescenta a promotora.

A realidade
30 crianças foram entregues para adoção este ano, 4 foram adotadas formalmente, 170 meninos e meninas estão cadastrados para adoção atualmente.
Fila que se arrasta
O tempo médio de espera para quem deseja um bebê com menos de um ano de idade é de, em média, quatro anos. O casal de advogados Carlos, 31 anos, e Márcia, 32, (nomes fictícios) estava na fila da adoção há mais de dois anos quando, no fim de 2009, uma mulher ofereceu entregar seu recém-nascido. Eles hesitaram, mas acabaram aceitando a proposta. A nova lei já estava em vigor e, portanto, o casal sabia que enfrentaria dificuldades para formalizar a adoção.

O garoto de cinco meses está na família desde que nasceu, mas Carlos e Márcia ainda não conseguiram legalizar a situação. Não têm sequer a guarda da criança. “Nosso argumento é que essa proibição da adoção direta não valeria para a gente, já que estávamos na fila havia muito tempo. Passamos pela análise das equipes da Vara, ou seja, o objetivo da lei de garantir a segurança da criança está resguardado”, afirma Carlos. “O menino acolhido informalmente pelo casal é negro e tem problemas de saúde — perfil que na maioria das vezes reduz o interesse dos candidatos à adoção. “Se não estivesse com a gente, certamente ele estaria largado em um abrigo. Vamos comprar essa briga”, finaliza o advogado.

Queixa
Quem continua na fila reclama das adoções à margem da lei, que tornam a espera ainda mais longa. O servidor público Francinaldo Silva, 40 anos, e a assistente técnica Lucimara Ramos Silva, 33, decidiram adotar uma criança há quase quatro anos. Entre a escolha e a efetiva inscrição na fila, esperaram mais de 12 meses. Eles reclamam da lentidão do processo. “A fila não anda, é desanimador. A gente quer fazer tudo certinho, como a lei manda. Mas só se dá bem quem faz as coisas de forma errada”, reclama Francinaldo.

Lucimara já pensa em alternativas para realizar o sonho da maternidade. “No cadastro, informamos nosso desejo de receber uma criança menor de dois anos. Estamos pensando em ampliar essa faixa de idade para ver se o processo anda mais rápido”, conta a assistente técnica. “Me sinto passada para trás quando vejo que a fila só anda para quem dá um jeitinho. Já nos ofereceram crianças, mas tenho medo e prefiro aguardar”, conta Lucimara. (HM)

Autora: Helena Mader

Por Cintia Liana

sábado, 22 de maio de 2010

Conjugalidade, Parentalidade e Homossexualidade: Rimas Possíveis

Foto: Facebook

"Adoção: um direito de todos e todas", CFP, capítuo 1.
Por Anna Paula Uziel. Página 14.

Os anos 90 do século passado foram marcados pela AIDS. Os extremos – as mortes em decorrência da doença e a qualidade de vida proporcionada pelo coquetel – evidenciavam a gravidade da situação ao mesmo tempo em que davam esperança de vida. A epidemia foi mudando o seu perfil, atingindo diferentes pessoas de sexo, idade e grupo social distintos. Nesse cenário, crescia a luta por direitos, marcada também pelos debates sobre direitos sexuais e reprodutivos nas conferências sobre mulheres, população, desenvolvimento.

O movimento homossexual, posteriormente nomeado de GLBT, sigla que ressalta a diversidade, é peça fundamental, em todo o mundo, para a visibilidade dos grupos marginalizados contidos na sigla. Se, por um lado, podemos dizer que a imagem que se construiu da AIDS atrelada a gays aguçou o preconceito, por outro pôs no debate questões que antes eram tratadas no gueto, de forma bastante isolada, ou sequer eram tematizadas.

Na última década do século, nos diversos países do mundo surgem, de forma cada vez mais intensa, lutas pelo reconhecimento da conjugalidade para gays, lésbicas e travestis. A morte precoce dos parceiros e o aparecimento oportunista das famílias de origem, interessadas nos bens que seus familiares deixavam,  intimavam a criação de instrumentos legais que garantissem ao parceiro vivo bens patrimoniais e benefícios decorrentes da união afetiva. As respostas formais, legais, institucionais desde então têm sido bastante diversificadas. Em alguns países, como a Espanha, uma mudança legal garantiu não apenas direitos isolados, mas as mesmas condições em todas as esferas da vida, substituindo na lei a exigência de sexos distintos para ações cotidianas conjuntas de um par, como o casamento e a parentalidade. O governo espanhol tomou para si a luta pela garantia da igualdade de direitos, defendendo-a no parlamento e garantindo a sua aprovação.

Em outros países, como o Brasil, a conquista de direitos tem se dado prioritariamente no âmbito do Poder Judiciário, ainda que existam garantias pontuais, em municípios e estados, que concedem Previdência Social, por exemplo, enquanto a lei nacional não reconhece de forma ampla os direitos dos casais cuja composição escapa do standard.

O projeto da então deputada Martha Suplicy, de 1995, sofreu modificações que transformaram o seu caráter inicial, uma tentativa de escamotear a dimensão conjugal do que se gostaria de estabelecer. O substitutivo que tramita desde 1996 no Congresso interdita, por exemplo, a adoção em conjunto por pessoas do mesmo sexo, retrocesso na garantia de direitos. Este projeto modificado entrou em pauta e foi retirado estrategicamente inúmeras vezes, para que não se perdesse a chance de ser aprovado. A pressão da bancada religiosa continua sendo o principal motivo para não haver sequer votação.

Um dos maiores pontos de tensão na luta pelo direito ao reconhecimento da conjugalidade, seja entendida como casamento ou não, é a percepção, para alguns, de que se trata de uma prática integracionista: debate-se a legitimidade dessa bandeira, visto que é entendida por parte do movimento como uma submissão ao modelo heterossexista de organização da vida.

Nos últimos anos tem crescido o número de cartórios que registram as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, artifício utilizado para garantir direitos, para se registrar publicamente vidas em comum, oficializar uniões.

A família, tradicional base da sociedade, distante durante muito tempo do ideário daqueles que não viviam relações procriativas, passou a ser objeto de desejo de muitos. Mudança nas pessoas?! Vontade de se adequar a uma forma de viver que responda a padrões entendidos como de normalidade?! Conquista do direito de escolha?! Possibilidade de declarar o desejo de ter um filho com aquele/a que ama?! Não há resposta correta nem definitiva: os entendimentos são plurais.

Em relação à parentalidade, por mais que lideranças do movimento carioca entendessem-na como um direito de poucos e de segunda ordem, dada a urgência do combate à violência a que estão expostos gays, lésbicas e travestis, ela tem sido requisitada.

Cada vez mais filhos de relações heterossexuais anteriores convivem com seus pais e mães e parceiro/as, e as pessoas podem declarar a sua homossexualidade ou a sua travestilidade sem que isso as impeça de adotar uma criança. E já se pleiteia abertamente a reprodução assistida.

A morte da cantora Cássia Eller, em 2001, seguida da decisão da Justiça de conceder à Eugenia, sua companheira, a guarda de Chicão, seu filho, inaugurou nova história. A mãe, sendo uma figura midiática; a criança, tendo o pai morto; um avô, cuja imagem construiu-se como de um oportunista, tudo isso pode ter contribuído para a decisão favorável à guarda pela “mainha”, que também contou com a força da escola e da terapeuta do filho, que não se furtaram a declarar posições. Justiça, Medicina e educação, campos geralmente mais tradicionais, convocados, posicionaram-se pela manutenção do que foi entendido como núcleo familiar.

Em 2006, a decisão em Catanduva, pela inclusão dos nomes dos dois pais no registro civil de Isadora, foi um divisor de águas. Embora não tenha sido a primeira decisão neste sentido, teve excelente repercussão na mídia e abriu um precedente. Os juízes, se provocados, certamente concederão mais inúmeras adoções a pais e mães que se candidatem como casal, definindo certo entendimento da lei.

Aos poucos vão sendo combatidos os principais argumentos contrários à parentalidade por gays e lésbicas: formato de família ainda não reconhecido em lei que, portanto, poderia prejudicar a criança na vigência do casamento ou, mais ainda, em processo de separação; fantasma de abuso sexual, se forem dois homens, pelo risco da exacerbação de uma sexualidade incontrolável; confusão dos papéis de identificação para a criança. Os argumentos estruturam-se em paradigmas médicos e jurídicos para ter sustentação.

Embora não sejam comuns no Brasil – e eu não acredite que façam sentido – há pesquisas que demonstram não haver danos no desenvolvimento infantil entre crianças cujos pais e mães sejam gays e lésbicas. As semelhanças nos processos educativos são maiores segundo o gênero, ou seja, mulheres possuem formas mais próximas de cuidar, sejam elas hetero ou homossexuais, o mesmo ocorrendo entre os homens.

Podemos afirmar, como diz Miguel Vale de Almeida, que o acesso ao casamento ou à adoção de crianças parece ser a última barreira contra a igualdade formal entre a população presumidamente heterossexual e gays, lésbicas e travestis.

Anna Paula Uziel é Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pesquisadora associada do Centro Latino-americano em Sexualidade e Direitos Humanos (IMS/UERJ).

Referência:
GROSSI, Miriam; UZIEL, Anna Paula; MELLO, Luiz. Conjugalidades, parentalidades e identidades gays, lésbicas e de travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
MELLO, Luiz. Novas famílias. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
UZIEL, Anna Paula. Homossexualidade e adoção. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.


Por Cintia Liana

sábado, 1 de maio de 2010

Sonho e Luta pelas Crianças

Foto: Google Imagens


E por falar em Procuradora que agrediu filha adotiva de 2 anos... Por falar em "autoridade"...


No dia 31 de outubro de 2008 enviei o seguinte e-mail a alguns conhecidos, profissionais da área da infância, dizendo que não se tratava de nada pessoal (é claro que não!), mas de mais um dos meus apontamentos para pensarmos na vida das crianças abrigadas e em como poderíamos ajudar mais, refletindo sobre aossa postura enquanto profissionais, muito provavelmente seguros de nossas convicções secretas.

"Pesquisas com famílias adotivas revelaram dados surpreendentes em relação à questão das motivações inadequadas ou adequadas para o exercício da paternidade adotiva. A análise dos resultados mostrou que não existe correlação entre a motivação dos adotantes e o sucesso da adoção. Isso significa, a grosso modo, que a construção do vínculo afetivo pode ser tão poderosa e importante na dinâmica familiar que deixa em segundo plano a “inadequação” do motivo inicial ou outros motivos, pois outra história é capaz de ser construída posteriormente; exatamente ao contrário do que supõem muitos técnicos, ao afirmarem que a apreciação das motivações tem um interesse capital". (WEBER, 1997)

"Um casal que deseja adotar uma criança porque seu filho biológico faleceu pode parecer realmente inadequado. Os técnicos diriam que eles 'estão querendo substituir o filho falecido'. No entanto é preciso levar em conta a capacidade de reconstrução de sua própria história, de construção do apego, do fascínio da capacidade de amar". (WEBER, 1997)

Entendo que temos que ter cuidado com pseudo-análises psicológicas, principalmente feita por profissionais que não são psicólogos e se acham muito sensíveis como se esse fosse exclusivamente o único pré-requisito para ser tal profissional (sensibilidade).
Psicologismos baratos são desastrosos, principalmente se feitos por advogados, juízes e promotores, que podem usar o seu poder inadequadamente nesses casos. Maior desastre ainda, quando se trata da vida de crianças que não podem ser defendidas por suas mães e sim pelo Poder Público, que não lhe dispensa amor, muito menos materno, capacidade inerente ao ser humano e não a um sistema.
Vamos ter humildade e assumir o posto que nos foi dado, de acordo com nossa formação. Se quisermos ser psicólogos temos que fazer a faculdade, pós-graduação e não simplesmente nos acharmos preparados ou com vocação para a subjetividade. Isso é muito pouco, o caminho é muito mais longo.
Existe algo muito maior. Temos que dar conta de crianças que estão sofrendo nas instituições esperando por um pai e/ou uma mãe. Ninguém é capaz de mensurar essa dor.
Quem somos nós para dizer que uma pessoa "não está apta a adotar por estar, talvez, querendo substituir o filho falecido", enquanto milhares de crianças sofrem por desamparo? (WEBER, 1997)
Lembro que antes de tudo deve existir o desejo de adotar. Este sim faz a diferença, o desejo.

(E-mail enviado por Cintia Liana)

@@@@@@@@@@@@@@@@@

Complemento que faria hoje:

O contrário penso também que seja muito perigoso e anti ético, juízes desqualificarem o parecer de um psicólogo que diz que alguém, por motivo "comprometedor", não encontra-se apto psicologicamente a adotar uma criança. O outro, só porque tem mais autoridade, diz que "acha" que o cidadão tem sim "capacidade" de adotar. Se o psicólogo, que tem estudo específico e aprofundado na área para opinar, já atestou que não, a "autoridade" se baseia em que psicologia para desrespeitar a palavra do perito e, ainda por cima, colocar em risco a vida e o futuro da criança a ser adotada?

@@@@@@@@@@@@@@@@@


A promotora furiosa, levando para o lado pessoal, e usando propositalmente palavras difíceis, escreveu:

Foto: Google Imagens

“Em que pese você não ter formação jurídica, mas se interferiu no jurídico ao discorrer sobre profissionais da área, existe determinação na lei processual civil-Código de Processo Civil, que o aplicador do direito não está vinculado ao laudo técnico, sendo o mesmo, em algumas hipóteses, dispensável.”

A promotora explicou que o Juiz não tem que tomar sua decisão em cima do laudo pericial e sim formar sua convicção em cima de outros elementos ou fatos provados nos autos (CPC, artigo 436), já que “em algum caso, a opinião do perito poderá substituir-se à do Juiz, vinculando-se juridicialmente a convicção, mesmo quando a perícia é legalmente obrigatória. O laudo pericial não oferece prova, mas tão somente elementos para a convicção quanto aos fatos da causa. Como as demais provas, a perícia se sujeita à livre apreciação do Juiz (artigo 131 do CPC), pois é este quem, com exclusividade, procede à avaliação jurídica do fato.”

Discorreu sobre ela entender o quão é complexa a formação do psicólogo, mas que ela estava muito feliz com a escolha dela, que era concursada, bem sucedida, blá, blá, blá.
No final ela conclui de forma mais alienada ainda, dizendo que mesmo sem eu ter pedido para ela me dar um conselho ela me daria assim mesmo. Disse que eu devia aproveitar meu tempo livre para estudar e obter aprovação em concurso público, tornar-me independente.

Uma pessoa dessa pensa o que da vida? Que passar em concurso público é algo tão importante? Deve ser uma ambição? Com todo respeito aos que desejam passar em concurso público, nunca nem cogitei a possibilidade, nunca foi um desejo meu. Minhas ambições são outras que considero bem mais interessantes. Cada qual faz suas escolhas, não condeno a de ninguém mas, obviamente, prefiro as minhas.
Ela disse ainda para eu não perder tempo com bobagens, conjecturas, fantasias. Para eu colocar minha “cabeça no lugar” e que ela usava esse termo por ignorar o termo psicológico. Por final, disse que eu tenho valores, que eu os reconheça, que me desarme e que eu sorria para a vida. Ainda teve a hipocrisia de me desejar sucesso e dizer que estava torcendo por mim, mesmo morrendo de raiva de mim por eu ter enfrentado ela.

Enfim, ela se revoltou, como se meu texto inicial fosse uma afronta pessoal e quis me ofender. Acabei respondendo ao e-mail agressivo dela.

Foto: Gety Imagens


Respondi:
A minha vida, minha missão não é ficar sentada atrás de uma mesa de órgão público, garantindo um salário razoável, uma pseudo independência e fechando os olhos para as injustiças e negligências do Estado. Não generalizo e não falaria isso para todos, afinal tem concursado que trabalha muito e se preocupa de verdade.
Falei que a lei, em algumas situações, é muito arbitrária e incoerente. "Autoridades" são seres humanos e também são falhos.

Falei que eu era independente e que para isso não precisava de cargo público, que eu tinha uma mente livre com idéias igualmente libertadoras e que era uma pensadora, mobilizadora, profissional crítica e responsável com meus ideais, que trabalhava com amor e que escrever era uma terapia e não perder tempo como ela falou e que isso é que é viver com total independência.
A maior independência que podemos ter é a intelectual, a da alma e não a financeira, apesar desta última também ser importante. É a paz de saber que estamos agindo corretamente, ajudando pessoas.

Eu disse que eu não estava ali para falar mal de ninguém, que também sou humana e falha, mas que minha fala era de denúncia, de indignação e que tinha fundamento, que se não fizéssemos isso para melhorar algo o que faríamos? Ficaríamos comprando jóias caras, como fazem muitas vezes, no ambiente de trabalho? Esta última pergunta talvez tenha sido um pouco pessoal.

Escrevi de modo educado, se é que dá para ler isso e entender como algo educado.


Foto: Google Imagens

Entendi perfeitamente que, infelizmente o que fazemos aqui, por exemplo, a luta, a mobilização, a voz de esperança, de denúncia, em tantos lugares, para muitos deles - que estão lá com seu salariozinho garantido de R$ 10.000,00 e respaldados pela lei - é perda de tempo, coisa de gente que não tem o que fazer, que abrir a boca para denunciar, falar e desejar mudar alguma coisa está errado, é uma coisa absurda.

Ouvi dizer que até hoje ela fala mal de mim, que mandei ela ficar atrás de uma mesa. Mas o que ela não sabe, dentro da sua cabeça burguesa, vazia e alienada, é que tudo o que eu falei é coisa que só é dita por pessoas emocionalmente inteligentes, esperançosas, que podem até não ter a fantasia de mudar o mundo, mas que têm a gana de ajudar algumas pessoas. A indignação desta senhora, com o que eu quis contribuir com as sábias palavras de Lídia Weber (uma “perita” no assunto), é totalmente emburrecida.
De fato, a humanidade ainda tem muito o que crescer e dividir.

Até hoje tenho vontade de publicar essa discussão em alguma revista, suprimindo os nomes, é claro, pois poderia e nem gostaria de identificá-la. Mas nem que se tratasse de uma discussão pessoal eu não faria isso. O fato é que precisamos incentivar a abertura de consciência de algumas pessoas para que elas possam desejar melhorar as decisões para a sociedade mudar.
Infelizmente a sociedade depende, em parte, de gente que pensa pequeno desse jeito, que acha que querer melhorar e refletir sobre possíveis saídas mais eficazes para a resolução do problema do desamparo infantil é besteira e perda de tempo. Ela pensa pequeno, que devemos passar em concurso público para garantir um bom salário e independência financeira, só! A vida desta senhora é só isso! E o que seu dinheiro pode comprar. Pobre coitada.

Essa "autoridades"...

Enquanto uns querem acabar com a inspiração, a esperança, eu peço ao universo que conserve e fortaleça essa minha incansável vocação, esse dom e qualidade de saber sonhar e valorizar a importância da fantasia que leva a gana de realizar. Assim o sonho ganha sentido e sonho que se sonha junto é realidade. Sou feliz de conhecer tanta gente boa, preocupada com as crianças sem família. A nós, fortunados e ocupados com o próximo, que possamos sempre trazer riquezas para esse duro e lindo mundo.

Foto: Google Imagens

Percebo que existe um descaso profundo, como se muita gente não quisesse fazer contato com a dor das crianças. Se eles, ao menos, visitassem um abrigo e parassem tudo para ouvir o choro de uma dessas crianças...
Muitas pessoas ditas “autoridades” nunca entraram num abrigo de crianças, ou entraram com medo. Será que eles pensam, "não são meus filhos...?”, "O que os olhos não vêm o coração não sente", "não é comigo, não é com minha família, o que eu tenho a ver com isso?”, “Faço o que puder e dentro da lei".

Isso é muito injusto, uma nação deixar crianças crescendo em abrigos, que para elas são verdadeiros presídios infantis, são excluídos mesmo, por mais que o abrigo seja cuidadoso. Eles não têm uma vida livre, normal, eles são os abandonados sociais, os esquecidos, a minoria, se sentem o resto das crianças do mundo. Eu já ouvi isso e já percebi na fala de muitas crianças. Muitos sentem que não têm valor, que não são merecedores de amor.

O governo tinha que ser severo com esses pais biológicos e priorizar a criança e seu desenvolvimento e não deixá-las esperando por anos até esses pais poderem "pegá-las" de volta e reinserí-las num lar que pode continuar adoecido.
O que parece, a princípio, é que se defende primeiro o direito dos pais biológicos de não perderem o filho e não dos filhos terem uma chance de serem felizes fora do abrigo, constituindo nova família. Será que vale a pena passar 2 anos num abrigo, antes da nova lei 5, 10, 15 anos, num abrigo só para não separar a criança da família biológica? Que raio de laço de sangue é esse que faz sofrer? Que dilacera? Que tira o que pode haver de mais básico para o ser humano, que é o amor de pais e um lar digno?

Conheci adolescentes abrigados (de mais de um estado) que me disseram que chegaram no abrigo com 2, 3, 4 anos de idade e já estavam com 14, 15, 16 anos e só havia recebido visitas escassas de um ou outro familiar durante todos esses anos, estava esperando completar 18 para sair do abrigo e voltar a morar com a família de origem. Que garantia ele tem de que será bem recebido? Se não foi amado durante 18 anos porque será amado agora? Quem garante? Foram 18 anos vivendo no desamparo.

Eles acham que estão defendendo as crianças para não perderem a família biológica, mas será que já pararam para se perguntar se elas querem esperar anos pela família biológica? Já perguntaram o que elas perderam?E que família é essa que não faz parte, que não faz questão, que não cuida, protege e que não está ao lado?

Foto: Cintia Liana e o pequeno João, filho de uma amiga. Amizade esta conquistada durante palestras sobre adoção.

Devemos colocar a frente não somente os nossos conhecimentos técnicos, mas também a intuição, sensibilidade e o amor pelas pessoas, isso é essencial para o desempenho de um bom e consciente trabalho. Cautela e humildade também. Esqueçamos o poder, poder de quê? O poder tem que ser usado para o bem! Temos que criticar o sistema e sentir também como se do outro lado estivéssemos, do lado da comunidade. As pessoas precisam de apoio e auxílio antes de tudo e não de convicções ou bases em paradigmas ultrapassados sobre hereditariedade e laços consanguíneos.
Ter muito cuidado com a interferência dos nossos preconceitos no destino dos outros ainda é muito pouco para a realização de um trabalho deste nível.

Nós técnicos, analistas do homem, da mente, por exemplo, nunca devemos nos esquecer de uma frase maravilhosa do cronstrucionismo social "o olhar do observador deforma a realidade" e isso nos diz um pouco de nós, nos revela. Nunca vamos fazer uma análise igual, pois os analistas são pessoas diferentes, com referenciais diferentes.

Não somos "experts", nem engenheiros sociais, pois a realidade não é objetiva, nem representacional. Devemos ser arquitetos do diálogo, numa relação democrática, enxergando identidades não fixas e nos dando chances sempre de melhorar tudo e mostrando ao outro que também é capaz de construir novos significados.

Infelizmente alguns profissionais existentes em todas as áreas ainda insistem em permanecer com suas mentes respaldada nos paradigmas científicos ocidentais, empobrecendo e lentificando ainda mais ainda o desenvolvimento humano.
Alguns colegas se diferenciam, ganham destaque e são realmente especiais, iluminados e desapegados, querem conhecer mais do que lhe colocam como possibilidade nesta sociedade atrasada.

É bom lembrar, como diz o sábio Morin (2000), ainda estamos na pré-história da mente humana e, para ele, essa é uma perspectiva muito otimista.

Foto: Flávio Chiarini

Se vivemos histórias de adoção e temos a consciência conquistada através desta participação nessas histórias temos o dever de abraçar a causa das crianças abandonadas. Abraçar o ideal e a luta, para ver, um dia, todas as crianças inseridas em uma família substituta. Como os abrigos irão sobreviver sem essa clientela? Danem-se os abrigos! Devemos exterminá-lo e criar uma política eficaz do amor, da prioridade pelo humano menor. Essas crianças institucionalizadas também são nossa responsabilidade, são nossos filhos. Todos nós merecemos ser amados, crescer com dignidade, nos sentindo protegidos. Não tem amanhã, é agora!

Meu sonho não é passar em concurso público, nem garantir um salário razoável, meu sonho é bem maior, cara senhora. É correr o mundo, compartilhando o desejo e a luta por uma sociedade mais consciente, é ver, um dia, essas crianças da foto sorrindo ao lado e um pai e/ou uma mãe, como já tive o prazer de ver muitas, se sentindo completas e amparadas. Para isso, conto com muitos amigos de verdade, que mesmo sem salário ou pagamento material se preocupam com as crianças.
Amor pela causa das crianças desamparadas não é sonho, não é fantasia, é a chave para a realização, para uma mudança efetiva.


Fotos e composição de painel: Cintia Liana, no Dia das Crianças em 2007.


Observação sobre as fotos do post:
Nesta última foto do post, o painel, optei por preservar a identidade das crianças fotografadas cobrindo os olhinhos que são nossa maior forma identificação, no entanto conservei na foto as boquinhas com os sorrisos de um dia no parque de diversões do Salvador Shopping. Proposta do dia das crianças promovida pela Vara da Infância em 2007.
As fotos foram tiradas com a minha câmera fotográfica, mais um motivo para não expor o rosto das crianças sem a devida autorização.
Fora a minha foto com a criança, autorizada pela mãe, as outras são ilustrativas, fotos achadas no Google.

Por Cintia Liana

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Os Orfãos Sociais do Brasil

Tenho a honra de apresentar aqui um texto de Jotacê Freitas, marido de minha mãe e grande amigo meu, pessoa com quem eu aprendo muito.

Foto: Google Imagens

*Por Jotacê Freitas

Escrito em março de 2007

“(...)Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar."
Bertold Brecht

País dos contrastes, o Brasil acaba de pôr em jogo mais uma lei de adoção. Até então só podiam ser adotadas crianças que os pais tivessem morrido e fossem doentes terminais. Com a nova mudança na lei as crianças abrigadas em orfanantos poderão ser adotadas também por estrangeiros, desde que os pais dêem uma permissão aos interessados.Isso tem causado uma polêmica entre duas correntes de ‘compreensão’ dos direitos das crianças. Por um lado um grupo acha que é melhor que as crianças que têm família possam também ser adotadas, enquanto o outro grupo, teme que essa adoção venha causar mais danos a essas crianças, como o caso de venda de órgãos, trabalho escravo, abuso sexual e, que seria obrigação do Estado dar a essas famílias, aliás, a todos os cidadãos, condições para se manterem com honradez e dignidade. É o que está na Constituição Federal que ironicamente garante esse direito apenas com um salário mínimo.

Enquanto o tempo passa e as discussões seguem estéreis as crianças vão crescendo nos orfanatos e a idade avançada torna-se um fato negativo para sua adoção por uma família adotante.

Os centros das nossas cidades estão cheias de crianças nas sinaleiras e nenhuma medida é tomada para acabar com isso. O estatuto da criança e do adolescente com sua ‘proteção’ aos direitos da criança não admite que elas sejam ressocializadas em instituições de reclusão, pois estas acabaram se tornando faculdades para a marginalidade. Os maus tratos por parte dos órgãos públicos e a promiscuidade com que eram agrupados não foi positiva para educá-las e transformá-las em cidadãs. As escolas atualmente não passam de meros depósitos de crianças para o aumento da verba educacional e o desestímulo escolar, provocado por esse descaso, leva a criança para a rua e mesmo professores “comprometidos” não têm poder de influência sobre elas que vêem na rua uma solução imediata para solução dos seus problemas mais básicos e emergentes: comida e lazer.

Governo nada faz e as crianças vão crescendo nas sinaleiras, sob viadutos, em bancos de praças, exércitos do tráfico, órfãos sociais do Brasil, terra do Carnaval e do Futebol, até virarem índice de vítimas dos grupos de extermínio.

Os Juizados de Menores estão abarrotados de meninos e meninas que sofreram maus tratos dos pais e/ou familiares e, por não verem condições neles de criarem essas crianças, mantêm-nas sob sua guarda, enquanto os pais e os filhos são acompanhados psicologicamente até o momento do retorno ao lar. Raramente isso ocorre, as condições socioculturais dessas pessoas são precários e há pouca probabilidade deles se estabelecerem moral, social, afetiva e economicamente bem. A falta de oportunidades é gritante e a tendência é que esse abismo que separa os poucos abastados dos muitos despossuídos aumente cada vez mais.

Talvez o planejamento familiar seja a solução, mas tem encontrado barreira entre os grupos mais conservadores, principalmente os religiosos. E apenas o planejamento, sem uma mudança na escala social, não resolveria a questão, senão estaríamos apenas reduzindo o número de miseráveis de maneira controlada e científica, assim como se faz com as cobaias nos laboratórios.

Para o cidadão comum, o menor, o pivete, o moleque de rua, não passa de um marginal que tem que ser eliminado do convívio social, a qualquer custo. Ele espera a segurança pela qual paga com seus impostos. Não percebe o quanto essas crianças são vítimas do seu egoísmo, da sua alienação e insensibilidade social.

Os especialistas nos orientam a não dar esmolas a essas crianças para que elas não fiquem ‘viciadas’ na vadiagem e mendicância, mas até o momento nenhuma sugestão foi dada ou exigida do Governo para solucionar o problema. Dinheiro é o que não falta em nosso país, vemos constantemente na imprensa casos de desvios de verbas milionárias feitas pelos políticos e nada acontece, ninguém é preso e quando isso ocorre o dinheiro não volta mais aos cofres públicos pois já foi pulverizado em plantações de ‘laranjas’.

É óbvio que apenas a campanha do ‘não à esmola’ não resolverá o problema, o buraco é bem mais embaixo, precisamos de uma atitude contra a desonestidade reinante em nossa nação que tanto tem sangrado as veias dos pobres e honestos trabalhadores e desempregados das periferias.

*Jotacê Freitas, poeta e professor do Ensino Fundamental.