"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sábado, 12 de março de 2011

A ordem de chegada dos filhos na adoção

Foto: Google Imagens

Minha querida,
Vc poderia dar uma breve explicação sobre aquela teoria da constelação familiar (ordem de chegada dos filhos, idade de chegada dos filhos)?
Me ajude a entender aquele texto colocado "aqui" anteriormente.
Obrigada!!!
Beijos,
D.

***

D.,
eu sempre me pergunto até que ponto devemos respeitar isso o que ele diz sobre a ordem de chegada dos filhos na adoção, mas a mente guarda muito mais mistério que não poderemos descobrir em mais 1.000 anos de estudos e pesquisas científicas.

Quanto mais estudo mais me surpreendo com o potencial da mente e em como ela atua na vida cotidiana.

Ele fala que "A violação da ordem natural do sistema causa emaranhados."

Nunca li algo que Hellinger tenha falado diretamente da ordem de chegada dos filhos e desta hierarquia necessária aplicado aos casos de adoção, mas sobre a sua teoria ouvi profissionais se referindo a ordem de chegada nesta vertente, que na adoção também deve ser respeitada a hierarquia de chegada. Vou explicar o que penso.

Eu entendo assim, tua filha chegou primeiro, ela sempre terá o seu lugar na história da família como a que tem mais tempo de vida junto a vocês, assim como na filiação biológica.

No caso da adoção, sua filha poderá ter irmãos mais velhos que ela. Quando esses irmãos mais velhos começam a fazer parte da dinâmica cria-se uma nova dinâmca hierárquica e eles vão ocupando os seus postos naturais frente à família, os mais velhos têm um lugar característico, assim como os mais novos e os do meio (isso pode não ser uma regra intocável, mas acontece).

Sempre ouço os irmãos do meio reclamarem de tantas coisas, todos os do meio que ouço se queixam, acho que até existe um teórico que fala sobre isso, que o do meio se esforça para ter uma identidade e ocupar um lugar de respeito entre os 3 irmãos, porque a nossa mente não lê o 2º no caso de 3, e sim o do meio, que fica "oprimido" entre os dois, não tem um lugar estabelecido, ele não é o mais velho nem o mais novo, que é muito mais fácil de absorver no psiquismo e culturalmente. O mais velho e o mais novo têm uma absorção hierárquica mais fácil e no modo de serem tratados pelos pais.

Não é porque ninguém é mau ou bom, lúcido ou estúpido, mas é como a mente trabalha e lê automaticamente essas questões tão subjetivas e históricas, que vêem tatuadas em nossas células.

Acredito que ele fala que poderá existir um emaranhado na medida em que o filho mais velho ocupa o lugar do mais velho na hierarquia e se comportará como tal, mas o mais novo tem muito mais tempo de vivência no seio da família e como ficará essa percepção da dinâmica? Ou vocês respeitarem a hierarquia respeitando a ordem de chegada por adoção. Será que isso é possível? Mas será que pode gerar uma crise em pequenos detalhes que deixamos passar no cotidiano? O X da questão são os detalhes, o invisível, o sutil, o que não se vê, isso tem mais poder que tudo.

Acho que é mais ou menos tbm assim para a repetição de nomes na família. Já isso não é de Helliger, é mais de originário da psicanálise e da terapia sistêmica relacional.

É bonito, é bom, é gostoso homenagear, mas a criança tem que ter seu nome próprio, aquele que é só seu, sua identidade, o nome carrega conteúdos inconscientes fortíssimos na seio de uma família e quando você repete o inconsciente familiar repete muita coisa. O que a criança fará? Como ela se comportará? Ou ela será super diferente daquele que originou seu nome ou igual a ele. E quando ela será ele mesma, quando todos a tratam como o "dono" do nome? As expectativas que se colocam sobre uma criança ninguém vê, mas ela sente e reage e ninguém sabe porque ela está revoltada.

E o pior, já deram o mesmo nome com alguma expectativa de repetição para pertuar alguma coisa na família, entende? Não têm tantos casos onde o Júnior é um terror? rsrs

Numa palestra, uma habilitanda me disse:

- Ah, eu vou colocar em meu filho o mesmo nome do meu pai, mas não para ele ser como meu pai. Como eu amava tanto o meu pai, eu vou fazer isso para homenageá-lo, assim sentiremos que ele está perto de nós.

Aí eu perguntei:
- Mas vc observa que seu filho ainda nem chegou e você já está dando a responsabilidade a ele de trazer o teu pai de volta? Olha que responsabilidade grande ele tão pequinino já tem!

Ela ficou sem resposta, porque na verdade era isso também com a intenção do nome repetido (claro que não só), e a criança não tem que se sentir responsável por trazer de volta, ao seio da família, alguém que já se foi. O luto tem que ser feito, o morto deve ganhar o seu lugar na família, os fatos têm que ser aceitos e encardos. É bonito homenagear? É, mas pode ser um fardo para a criança ser usado para isso.

Deixo claro que te passo uma informação científica. Quando ele diz que na adoção os pais devem respeitar também a ordem de chegada dos filhos, não estou dizendo que sou a favor ou contra você adotar um filho mais velho que sua primeira filha, entende? Eu não seria tão ousada a esse ponto, de inferir em decisão tão séria, até porque sou super a favor de adoções de crianças maiores e são muito necessárias.

Beijos saudosos, minha querida D.!

Cintia Liana

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Por Cintia Liana

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