Foto: Google Imagens
Por Cintia Liana Reis de Silva
Este é um assunto pouco discutido e podemos dizer que se caracteriza ainda um tabu. De fato, quando é indicada aos adotantes uma criança que sofreu algum tipo de abuso sexual, isso pode acender uma luz vermelha, uma luz que indique perigo, vem o medo e muitas dúvidas sobre como conduziriam a educação deste filho. Talvez porque nem os próprios adultos, muitas vezes, sabem como conduzir suas memórias de descobertas "sexuais" infantis ou lidam bem com estas, então fica difícil ensinar e entrar em contato com as descobertas e dúvidas do outro, mais ainda de uma criança que sofreu algum tipo de abuso. É difícil para todo mundo.
Esse é um medo que existe mas, infelizmente, nem sempre os técnicos que trabalham nas VIJ’s ou até mesmo os coordenadores de abrigos sabem se aquela criança passou por alguma situação ou foi abusada sexualmente de fato, seja no seio da família de origem, seja no próprio abrigo, a não ser que haja algum sinal mais evidente.
Pode ocorrer que uma pessoa, que foi abusada quando criança, rejeite o fato e não aceite essa informação, crescendo sem entrar em contato direto com esse material insconsciente, por mais que isso possa vir à tona em alguns momentos, comportamentos, escolhas ou reações involuntárias.
Nos abrigos podem ocorrer muitas dessas cenas, onde a descoberta do corpo, da sexualidade e das sensações estão contidas num ambiente cheio de crianças vivenciando as mesmas percepções e em desenviolvimento físico pleno, a grande maioria vindas de lares desequilibrados e desestruturados.
Esse fato, nos revela a grande importância de uma nova exigência na lei, que desde 2007 se deve acabar com o regime dos chamados “abrigões” e que agora os abrigos devem seguir a linhas arquitetônicas e operacionais das chamadas “Casas Lares”, onde essas casas de acolhimento são organizadas e divididas em apartamentos independentes, cada uma com uma mãe social, normalmente com no máximo 12 crianças, dois ou três quartos, com mais um pequeno quarto para a mãe social. Para que, assim, seja reproduzido, com a maior fidelidade possível, a rotina de uma casa de família, de um lar de verdade e a criança se sinta inserida nele.
Desta forma, crianças podem ter mais contato com outras da mesma faixa etária, num ambiente mais controlado e perto da mãe social na maior parte do tempo. Porque pode acontecer e acontece de meninos maiores buscarem menores para cometerem pequenos ou grandes abusos sexuais e até mesmo violações propriamente ditas.
Acontece também da criança ter sofrido algum tipo de abuso pelo pai ou mãe de origem, ou ter vivido num ambiente promíscuo, onde o comportamento sexual era confuso e elas viam ou participavam de alguma cena de sexo.
É chocante para quem fica sabendo ou lê, mas acontece, é uma triste realidade. Assim como a mãe que vende o corpo da própria filha ou a usa para não perder o companheiro. Assim, como outras que a abandonam, por menor que seja a filha, por ter ciúmes do marido.
O filme “Precious” pode provocar dor no estômago e vontade de chorar. Ela, uma jovem que mora com a mãe, uma mulher agressiva, cresce subjulgada e violentada pelo próprio pai e engravida duas vezes deste. Consegue encontrar sua dignidade quando conhece uma professora e colegas de classe de um curso de reforço escolar, únicas pessoas que se importam verdadeiramente com ela.
A criança, depois de adotada, pode revelar se algo leve ou grave já acorreu com ela, por menor que tenha sido o abuso sofrido e, sem medo de enfrentar essa realidade, os pais devem tentar entender até que ponto ela se sente ferida e se este sofrimento lhe traz sérios prejuízos psíquicos, um comportamento que lhe renda uma falta de respeito ou até de nojo e culpa com seu próprio corpo, assim como outros pequenos ou grandes reflexos, como sentimento de inferioridade, fixação em alguma parte sexual do corpo, ou distanciamento emocional e social. Esse sofrimento pode não ser o centro de sua vida, mas pode dificultar suas relações sociais e familiares, tudo vai depender do grau do abuso e em como ela lida com esta memória.
A culpa pode existir, mesmo que tenha sido só uma pequena brincadeira de cunho sexual no abrigo, mesmo que ela não tenha tido responsabilidade, pelo fato de muitas vezes a criança sentir um certo prazer com algumas brincadeiras de conteúdo erótico no início da infância, o período que Freud, o criador da psicanálise, nomeou de “período de imoralidade infantil”. Essa fase é natural, engloba as descobertas de algumas zonas erógenas do corpo e de algumas sensações sexuais sentidas através do toque dessas partes. Quando essas descobertas vão sendo feitas, com uma boa educação e bons exemplos, vai sendo entendido que tudo tem seu momento certo para acontecer, como e onde, assim como o respeito com o próprio corpo e com o corpo alheio.
Importante lembrar que não é porque uma crianças foi abusada é que se tornará um “monstro” abusador ou vai seduzir todos os homens que encontrar pela frente e lhe dará problemas o resto da vida. Uma criança que foi abusada, como qualquer outra, precisa curar suas feridas e ser vista com respeito, tendo a devida educação, de acordo com suas necessidades e carências. É claro que, se o caso exige preparo, o casal que a adotará deve ser bem escolhido, para lhe dar o suporte específico enquanto pais e lhe proporcionar sem medo o acompanhamento psicológico indicado com profissional responsável e habilitado porque, a depender da gravidade da situação e em como a criança o encara, é natual que se sinta mal, assustada, desamparada, desnortada ou sem dignidade.
(...) “Uma das consequências do abuso sexual é a sexualização traumática. A criança submetida a abuso sexual pode desenvolver scripts não-adaptativos para o comportamento sexual e, quando adultas, podem acreditar que o sexo é necessário para obter afectos ou carinho dos outros, levando-as a ter sexo consensual precoce e com múltiplos parceiros sexuais (Cinq-Mars et al., 2003; Fergusson et al., 1997 apud Souza, 2011).
De acordo com Freitas (2010), a arteterapia nesses casos também é muito bem vinda, pois proporciona múltiplas possibilidades de cura, transformação e resignificação de fatos.
Com um filho biológico os pais também terão os momentos específicos e até difíceis na educação sexual. Com uma criança que viveu num abrigo e passou por alguma siuação de abuso poderá ser um pouco diferente, porque eles deverão ter uma maior abertura, preparo e sensibilidade para acolher alguma dor, medo ou trauma, ouvir alguma queixa, trabalhar a noção de respeito corporal, sexual, reforçar algumas regras, assim como fortalecer aspectos positivos, conhecer e trabalhar momentos anteriores ao momento em que se encontraram e se tornaram família.
De qualquer modo, tudo vai depender do tamanho da situação ocorrida, de como a criança lida com suas memórias, o amor que os pais têm para dar, o preparo e como esses pais vão lhe dar suporte.
Cintia Liana
Referência:
*Freitas, Walkíria de Andrade Reis. Arteterapia em consultório, uma viagem interior. Ed. Agbook, 2010.
Souza, J. F. S. de. Abuso Sexual e suas Sequelas. Disponível em:
http://cyberbiologiaecybermedicina.blogspot.com/2007/12/abuso-sexual-e-suas-sequelas.html. Acesso em 27 de fevereiro de 2011.
*Disponível para venda em:
http://www.agbook.com.br/book/25954--ARTETERAPIA_EM_CONSULTORIO
Por Cintia Liana
Este é um assunto pouco discutido e podemos dizer que se caracteriza ainda um tabu. De fato, quando é indicada aos adotantes uma criança que sofreu algum tipo de abuso sexual, isso pode acender uma luz vermelha, uma luz que indique perigo, vem o medo e muitas dúvidas sobre como conduziriam a educação deste filho. Talvez porque nem os próprios adultos, muitas vezes, sabem como conduzir suas memórias de descobertas "sexuais" infantis ou lidam bem com estas, então fica difícil ensinar e entrar em contato com as descobertas e dúvidas do outro, mais ainda de uma criança que sofreu algum tipo de abuso. É difícil para todo mundo.
Esse é um medo que existe mas, infelizmente, nem sempre os técnicos que trabalham nas VIJ’s ou até mesmo os coordenadores de abrigos sabem se aquela criança passou por alguma situação ou foi abusada sexualmente de fato, seja no seio da família de origem, seja no próprio abrigo, a não ser que haja algum sinal mais evidente.
Pode ocorrer que uma pessoa, que foi abusada quando criança, rejeite o fato e não aceite essa informação, crescendo sem entrar em contato direto com esse material insconsciente, por mais que isso possa vir à tona em alguns momentos, comportamentos, escolhas ou reações involuntárias.
Nos abrigos podem ocorrer muitas dessas cenas, onde a descoberta do corpo, da sexualidade e das sensações estão contidas num ambiente cheio de crianças vivenciando as mesmas percepções e em desenviolvimento físico pleno, a grande maioria vindas de lares desequilibrados e desestruturados.
Esse fato, nos revela a grande importância de uma nova exigência na lei, que desde 2007 se deve acabar com o regime dos chamados “abrigões” e que agora os abrigos devem seguir a linhas arquitetônicas e operacionais das chamadas “Casas Lares”, onde essas casas de acolhimento são organizadas e divididas em apartamentos independentes, cada uma com uma mãe social, normalmente com no máximo 12 crianças, dois ou três quartos, com mais um pequeno quarto para a mãe social. Para que, assim, seja reproduzido, com a maior fidelidade possível, a rotina de uma casa de família, de um lar de verdade e a criança se sinta inserida nele.
Desta forma, crianças podem ter mais contato com outras da mesma faixa etária, num ambiente mais controlado e perto da mãe social na maior parte do tempo. Porque pode acontecer e acontece de meninos maiores buscarem menores para cometerem pequenos ou grandes abusos sexuais e até mesmo violações propriamente ditas.
Acontece também da criança ter sofrido algum tipo de abuso pelo pai ou mãe de origem, ou ter vivido num ambiente promíscuo, onde o comportamento sexual era confuso e elas viam ou participavam de alguma cena de sexo.
É chocante para quem fica sabendo ou lê, mas acontece, é uma triste realidade. Assim como a mãe que vende o corpo da própria filha ou a usa para não perder o companheiro. Assim, como outras que a abandonam, por menor que seja a filha, por ter ciúmes do marido.
O filme “Precious” pode provocar dor no estômago e vontade de chorar. Ela, uma jovem que mora com a mãe, uma mulher agressiva, cresce subjulgada e violentada pelo próprio pai e engravida duas vezes deste. Consegue encontrar sua dignidade quando conhece uma professora e colegas de classe de um curso de reforço escolar, únicas pessoas que se importam verdadeiramente com ela.
A criança, depois de adotada, pode revelar se algo leve ou grave já acorreu com ela, por menor que tenha sido o abuso sofrido e, sem medo de enfrentar essa realidade, os pais devem tentar entender até que ponto ela se sente ferida e se este sofrimento lhe traz sérios prejuízos psíquicos, um comportamento que lhe renda uma falta de respeito ou até de nojo e culpa com seu próprio corpo, assim como outros pequenos ou grandes reflexos, como sentimento de inferioridade, fixação em alguma parte sexual do corpo, ou distanciamento emocional e social. Esse sofrimento pode não ser o centro de sua vida, mas pode dificultar suas relações sociais e familiares, tudo vai depender do grau do abuso e em como ela lida com esta memória.
A culpa pode existir, mesmo que tenha sido só uma pequena brincadeira de cunho sexual no abrigo, mesmo que ela não tenha tido responsabilidade, pelo fato de muitas vezes a criança sentir um certo prazer com algumas brincadeiras de conteúdo erótico no início da infância, o período que Freud, o criador da psicanálise, nomeou de “período de imoralidade infantil”. Essa fase é natural, engloba as descobertas de algumas zonas erógenas do corpo e de algumas sensações sexuais sentidas através do toque dessas partes. Quando essas descobertas vão sendo feitas, com uma boa educação e bons exemplos, vai sendo entendido que tudo tem seu momento certo para acontecer, como e onde, assim como o respeito com o próprio corpo e com o corpo alheio.
Importante lembrar que não é porque uma crianças foi abusada é que se tornará um “monstro” abusador ou vai seduzir todos os homens que encontrar pela frente e lhe dará problemas o resto da vida. Uma criança que foi abusada, como qualquer outra, precisa curar suas feridas e ser vista com respeito, tendo a devida educação, de acordo com suas necessidades e carências. É claro que, se o caso exige preparo, o casal que a adotará deve ser bem escolhido, para lhe dar o suporte específico enquanto pais e lhe proporcionar sem medo o acompanhamento psicológico indicado com profissional responsável e habilitado porque, a depender da gravidade da situação e em como a criança o encara, é natual que se sinta mal, assustada, desamparada, desnortada ou sem dignidade.
(...) “Uma das consequências do abuso sexual é a sexualização traumática. A criança submetida a abuso sexual pode desenvolver scripts não-adaptativos para o comportamento sexual e, quando adultas, podem acreditar que o sexo é necessário para obter afectos ou carinho dos outros, levando-as a ter sexo consensual precoce e com múltiplos parceiros sexuais (Cinq-Mars et al., 2003; Fergusson et al., 1997 apud Souza, 2011).
De acordo com Freitas (2010), a arteterapia nesses casos também é muito bem vinda, pois proporciona múltiplas possibilidades de cura, transformação e resignificação de fatos.
Com um filho biológico os pais também terão os momentos específicos e até difíceis na educação sexual. Com uma criança que viveu num abrigo e passou por alguma siuação de abuso poderá ser um pouco diferente, porque eles deverão ter uma maior abertura, preparo e sensibilidade para acolher alguma dor, medo ou trauma, ouvir alguma queixa, trabalhar a noção de respeito corporal, sexual, reforçar algumas regras, assim como fortalecer aspectos positivos, conhecer e trabalhar momentos anteriores ao momento em que se encontraram e se tornaram família.
De qualquer modo, tudo vai depender do tamanho da situação ocorrida, de como a criança lida com suas memórias, o amor que os pais têm para dar, o preparo e como esses pais vão lhe dar suporte.
Cintia Liana
Referência:
*Freitas, Walkíria de Andrade Reis. Arteterapia em consultório, uma viagem interior. Ed. Agbook, 2010.
Souza, J. F. S. de. Abuso Sexual e suas Sequelas. Disponível em:
http://cyberbiologiaecybermedicina.blogspot.com/2007/12/abuso-sexual-e-suas-sequelas.html. Acesso em 27 de fevereiro de 2011.
*Disponível para venda em:
http://www.agbook.com.br/book/25954--ARTETERAPIA_EM_CONSULTORIO
Por Cintia Liana
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