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Por Augusto César Maia
O aspecto emocional tem profunda influência sobre o desenvolvimento integral do ser humano, pois este é basicamente um ser emocional. As emoções desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da personalidade e na formação do caráter da criança. Por isso, os pais precisam reconhecer que os afetos de seus filhos são importantes para o desenvolvimento deles. O problema não está nas emoções, ou naquilo que se sente, mas nas experiências de vida que cada um teve ou tem, pois a criança se educa emocionalmente a partir dessas experiências. Nossos atos, comportamento, maneiras de pensar e sentir sofrem influência das experiências que tivemos e temos.
O olhar daqueles que cercam o bebê tem uma extrema importância em seu desenvolvimento emocional. Logo após o nascimento, os pais ensinam por meio de gestos, voz, brinquedos e roupas a que sexo o bebê pertence e quais as emoções a serem expressas em função do mesmo.
Os homens tradicionalmente passam por experiências que lhes desencorajam chorar ou a transparecer emoções. Desde cedo, são ensinados a não se “exporem”, com frases do tipo: “homem que é homem não chora”, “seja homem e pare de chorar”. Essas experiências sinalizam ao menino que revelar emoções é um sinal de fraqueza e que ser homem é ser forte. Afinal, aprendem desde cedo que “macho, que é macho, aguenta tudo firme e não dá um pio”, ou seja, “homem que é homem, suporta tudo calado”.
Contudo, existe uma exceção principal à regra de que os homens não demonstram emoções – a raiva. Os homens aprendem que é certo demonstrar raiva, pois ela é considerada um sinal de força em nossa cultura machista. Um homem pode ficar bravo, nervoso, ou uma fera, e sua atitude será interpretada como “virtudes varonis” em nossa sociedade. Afinal, homem é assim mesmo!
Montserrat Moreno, uma estudiosa contemporânea, assevera que “esta imagem, nós não a fabricamos do nada, mas a construímos a partir dos modelos que a sociedade nos oferece. E é a sociedade e não a biologia ou os genes que determina como devemos ser e nos comportar, quais são nossas possibilidades e nossos limites”. Portanto, todos nascem com a capacidade de sentir emoções. Não obstante, nem todos estão sujeitos às mesmas normas, conceitos familiares e sociais que controlam, modificam e reprimem as emoções de acordo com o sabor sociocultural da época.
Portanto, as emoções devem ser entendidas dentro de um contexto global, como um todo “biopsicossocioespiritual”, que não se desagrega.
Emoções (do latim emovere, “movimentar”, “deslocar”) são, como sua própria etimologia sugere, reações manifestas diante de condições afetivas de intensidade variável que nos mobilizam para algum tipo de ação. Ou seja, as emoções são estados afetivos ou sentimentos que experimentamos quando nossas necessidades são satisfeitas ou frustadas – algo que influencia todos os outros aspectos do nosso comportamento.
Durante o desenvolvimento emocional, de uma forma ideal, deve-se preparar as crianças para serem bem-sucedidas no que se refere a lidar com aspectos frustrantes ou desagradáveis da vida, assim como para poder apreciar os aspectos agradáveis.
As emoções influenciam nosso comportamento de várias formas importantes: podem levar-nos da passividade para um envolvimento ativo; podem dirigir o curso de nossas ações aproximado-nos ou distanciando-nos de nossos objetivos; podem ainda dificultar nossa percepção da realidade, levando-nos a agir inadequadamente.
Ligações emocionais
É uma afirmação óbvia a de que nossas relações interpessoais começam a partir da relação da criança com a pessoa que cuida dela. Inicialmente, esta interação é uma forma de assegurar a sobrevivência, alimentando-a quando tem fome, acalmando-a quando está inquieta, limpando-a quando está suja – uma relação que reforça a dependência da criança.
Por muitos anos, considerou-se que a criança estivesse passivamente envolvida nessas primeiras interações. Atualmente, sabemos que ela desempenha um papel ativo em todas as facetas de sua socialização, determinando de algum modo o que acontece com ela. Por exemplo, inicialmente, o choro da criança é sempre o mesmo, quer ela esteja com fome, sentindo dor ou algum desconforto. Com um mês de idade, identificam-se dois tipos de choro: o de fome e o de dor. Assim, a criança é capaz de comunicar aos que cuidam dela quais são suas necessidades imediatas. Isso significa participação ativa.
Entre o primeiro e segundo meses, dois comportamentos significativos aparecem: o contato olho a olho e o sorriso espontâneo, que marcam o início da ligação emocional da criança com aqueles que a cercam. Parece haver um período crítico entre os 4 e 12 meses de idade, durante o qual essa ligação precisa ser formada. Se for negada à criança a oportunidade de estabelecer um vínculo afetivo com as primeiras pessoas com quem mantém contato, possivelmente sofrerá síndrome de privação afetiva, bem como de depressão anaclítica ou hospitalismo. Esses estados patológicos foram inicialmente identificados por René Spitz, que atribuiu sua causa à privação materna, sofrida durante o período crítico para o estabelecimento da ligação. Pesquisas mais recentes sugerem que tanto a privação sensorial como a materna (ou a da pessoa que dela cuida) contribuem para essas primeiras patologias no desenvolvimento afetivo. Embora os efeitos da privação sensorial e emocional não sejam irreversíveis, como se acreditava, quanto mais tempo a criança sofre essa negligência, mais difícil será superá-la.
Os sentimentos e emoções são forças poderosas para aperfeiçoar e tornar a nossa personalidade mais atraente. Eles dão colorido e variedade à vida. Não são faróis para nos guiar, mas forças poderosas que devem ser dirigidas com sabedoria. Se as emoções forem bem canalizadas pela mente, com expressões e desabafos adequados, poderão ser de grande utilidade para todos. Quando são mal administradas, podem se tornar muito nocivas. Portanto, as ligações emocionais da criança com a mãe e o pai desde cedo são vitais para uma vida saudável.
Augusto César Maia é doutor em Psicologia
[Fonte: Vida e Saúde – Mar 2010, p.47 a 49]
O olhar daqueles que cercam o bebê tem uma extrema importância em seu desenvolvimento emocional. Logo após o nascimento, os pais ensinam por meio de gestos, voz, brinquedos e roupas a que sexo o bebê pertence e quais as emoções a serem expressas em função do mesmo.
Os homens tradicionalmente passam por experiências que lhes desencorajam chorar ou a transparecer emoções. Desde cedo, são ensinados a não se “exporem”, com frases do tipo: “homem que é homem não chora”, “seja homem e pare de chorar”. Essas experiências sinalizam ao menino que revelar emoções é um sinal de fraqueza e que ser homem é ser forte. Afinal, aprendem desde cedo que “macho, que é macho, aguenta tudo firme e não dá um pio”, ou seja, “homem que é homem, suporta tudo calado”.
Contudo, existe uma exceção principal à regra de que os homens não demonstram emoções – a raiva. Os homens aprendem que é certo demonstrar raiva, pois ela é considerada um sinal de força em nossa cultura machista. Um homem pode ficar bravo, nervoso, ou uma fera, e sua atitude será interpretada como “virtudes varonis” em nossa sociedade. Afinal, homem é assim mesmo!
Montserrat Moreno, uma estudiosa contemporânea, assevera que “esta imagem, nós não a fabricamos do nada, mas a construímos a partir dos modelos que a sociedade nos oferece. E é a sociedade e não a biologia ou os genes que determina como devemos ser e nos comportar, quais são nossas possibilidades e nossos limites”. Portanto, todos nascem com a capacidade de sentir emoções. Não obstante, nem todos estão sujeitos às mesmas normas, conceitos familiares e sociais que controlam, modificam e reprimem as emoções de acordo com o sabor sociocultural da época.
Portanto, as emoções devem ser entendidas dentro de um contexto global, como um todo “biopsicossocioespiritual”, que não se desagrega.
Emoções (do latim emovere, “movimentar”, “deslocar”) são, como sua própria etimologia sugere, reações manifestas diante de condições afetivas de intensidade variável que nos mobilizam para algum tipo de ação. Ou seja, as emoções são estados afetivos ou sentimentos que experimentamos quando nossas necessidades são satisfeitas ou frustadas – algo que influencia todos os outros aspectos do nosso comportamento.
Durante o desenvolvimento emocional, de uma forma ideal, deve-se preparar as crianças para serem bem-sucedidas no que se refere a lidar com aspectos frustrantes ou desagradáveis da vida, assim como para poder apreciar os aspectos agradáveis.
As emoções influenciam nosso comportamento de várias formas importantes: podem levar-nos da passividade para um envolvimento ativo; podem dirigir o curso de nossas ações aproximado-nos ou distanciando-nos de nossos objetivos; podem ainda dificultar nossa percepção da realidade, levando-nos a agir inadequadamente.
Ligações emocionais
É uma afirmação óbvia a de que nossas relações interpessoais começam a partir da relação da criança com a pessoa que cuida dela. Inicialmente, esta interação é uma forma de assegurar a sobrevivência, alimentando-a quando tem fome, acalmando-a quando está inquieta, limpando-a quando está suja – uma relação que reforça a dependência da criança.
Por muitos anos, considerou-se que a criança estivesse passivamente envolvida nessas primeiras interações. Atualmente, sabemos que ela desempenha um papel ativo em todas as facetas de sua socialização, determinando de algum modo o que acontece com ela. Por exemplo, inicialmente, o choro da criança é sempre o mesmo, quer ela esteja com fome, sentindo dor ou algum desconforto. Com um mês de idade, identificam-se dois tipos de choro: o de fome e o de dor. Assim, a criança é capaz de comunicar aos que cuidam dela quais são suas necessidades imediatas. Isso significa participação ativa.
Entre o primeiro e segundo meses, dois comportamentos significativos aparecem: o contato olho a olho e o sorriso espontâneo, que marcam o início da ligação emocional da criança com aqueles que a cercam. Parece haver um período crítico entre os 4 e 12 meses de idade, durante o qual essa ligação precisa ser formada. Se for negada à criança a oportunidade de estabelecer um vínculo afetivo com as primeiras pessoas com quem mantém contato, possivelmente sofrerá síndrome de privação afetiva, bem como de depressão anaclítica ou hospitalismo. Esses estados patológicos foram inicialmente identificados por René Spitz, que atribuiu sua causa à privação materna, sofrida durante o período crítico para o estabelecimento da ligação. Pesquisas mais recentes sugerem que tanto a privação sensorial como a materna (ou a da pessoa que dela cuida) contribuem para essas primeiras patologias no desenvolvimento afetivo. Embora os efeitos da privação sensorial e emocional não sejam irreversíveis, como se acreditava, quanto mais tempo a criança sofre essa negligência, mais difícil será superá-la.
Os sentimentos e emoções são forças poderosas para aperfeiçoar e tornar a nossa personalidade mais atraente. Eles dão colorido e variedade à vida. Não são faróis para nos guiar, mas forças poderosas que devem ser dirigidas com sabedoria. Se as emoções forem bem canalizadas pela mente, com expressões e desabafos adequados, poderão ser de grande utilidade para todos. Quando são mal administradas, podem se tornar muito nocivas. Portanto, as ligações emocionais da criança com a mãe e o pai desde cedo são vitais para uma vida saudável.
Augusto César Maia é doutor em Psicologia
[Fonte: Vida e Saúde – Mar 2010, p.47 a 49]
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