Elena Kalis
Por Cintia Liana Reis de Silva
Porque os bebês babam e colocam
objetos na boca
Philippe Ariès foi um importante historiador e medievalista francês da família
e infância.
Seu nome é o mais forte quando se trata da história social da criança. Em meu
primeiro livro, "Filhos da Esperança", eu o cito, e falo que na idade Média as
pessoas não tinham noção das particularidades da criança, da sua ingenuidade,
delicadeza, por exemplo. Elas eram vistas e tratadas como mini adultos. Imagine a falta de
informações e conhecimento acerca da infância naquela época! Ainda hoje sabemos e respeitamos muito pouco as crianças. Eu me lembro disso
quando alguém olha para minha filha colocando um brinquedo na boca e pergunta
se os dentinhos estão nascendo, com a certeza de que isso tem relação direta, mas sabia que a necessidade e a ansiedade de colocar os objetos na boca e babar não é
por causa dos dentes?
A fase oral, primeira
fase do desenvolvimento psicossexual infantil descrita por Sigmund Freud, o pai
da psicanálise, inicia desde o nascimento (hoje já se sabe que inicia na gestação) e vai até aproximadamente os 18 meses
de vida da criança. Alguns estudiosos verificaram que já no segundo trimestre de gestação os bebês, dentro da barriga da mãe, já chupam o polegar com desenvoltura e com vigor em média 18 vezes por hora.
A boca é a primeira zona erógena.
Erógena é o nome dado a uma zona de prazer. Esse fenômeno da oralidade e da
busca pelo contato físico e do calor faz com que o bebê procure o seio da mãe
para sugar, ou seja, essa procura pelo seio não é por causa dos dentes, mas já
é a fase oral em ação, onde todo o contato de prazer do bebê com o mundo é
através da boca, dos lábios, da língua, da gengiva e está associado a
alimentação. Enquanto é alimentada, a criança é também confortada, aninhada,
acalentada e acariciada. Quando o bebê ingere o alimento é como se ele o
incorporasse e é assim também com o seio materno, com a figura materna, é como
se ele incorporasse a mãe, isso reforça o sentimento de ser continuidade dela nos primeiros dois anos de vida.
É através da boca que o bebê tem
o maior sentimento de descoberta, ele baba de desejo quando vê um objeto que lhe
interessa experimentar. A sensação é de experimentar uma experiência em 4 D. As terminações nervosas ajudam a entendem o que estão mordendo.
O balbucio, o início da fala,
assim como o nascimento dos dentinhos fazem parte desta fase. Os dentinhos começam
a aparecer a partir do 6º mês mais ou menos. Alguns bebês ganham os primeiros
dentes aos 10 meses que vão até o início das 3 anos, aproximadamente, mas bem
antes disso, já no terceiro mês, além do seio da mãe, demonstram esse imenso desejo de sugar, primeiros suas próprias mãozinhas,
apertam as gengivas, fazem barulhinhos com a boca, depois experimentam outras coisas, até os dedos dos pés, encostam a boca em tudo e seu mundo vai se ampliando.
A visão não é o forte do bebê,
que continua a desenvolver a sua capacidade visual nos primeiros meses, e
começam a enxergar com a mesma nitidez formas e cores, exatamente como nós
adultos, a partir do 7º mês.
O conflito característico da fase
oral é o desmame, que pode gerar reflexos como inapetência, vômito, hábito de ranger dentes, inibições da fala.
A criança amamentada o suficiente, ou seja, até mais ou menos os 2 anos de
idade, como indica a Organização Mundial da Saúde, terá maiores chances de preservar mais fortemente aspectos como
segurança e ingenuidade.
A não satisfação, conflitos ou traumas orais podem ser encontrados em pessoas que
comem demais, em fumantes ou em traços como, ganância, dependência,
intolerância, agitação, curiosidade e fofoca.
Por vários motivos o desmame deve ser feito com muito cuidado e delicadeza
e entender e saciar o desejo de colocar algumas coisas na boca é essencial para
o bebê, para que ele sinta o prazer de descobrir um pouco mais do mundo que o
cerca, o mundo do qual faz parte. Ele
cresce e entra em outras fases sucessivas, descobrindo outras zonas do corpo e
ganhando consciência delas.
Por Cintia Liana Reis de Silva
Por Cintia Liana Reis de Silva