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Por Cintia Liana Reis de Silva
A adaptação nos casos da adoção tardia não é mais difícil e nem
sempre demora mais, mas é diferente. Em todo caso, a adoção em todas as idades
faz-se necessário um tempo de adaptação. Nesse aspecto também entram variáveis, como seu temperamento, seu modo de
sentir e lidar com seu histórico, suas memórias, “fantasmas” e medos e a
base que os novos pais proporcionam a esta criança.
No caso da criança maior, ocorre que ela tem uma maior consciência
do que está acontecendo no momento da adoção e a criança menor tem uma menor
consciência. Essa consciência da criança maior pode até ser usada de maneira
positiva no estabelecimento dos novos vínculos. Assim como os seus sentimentos
devem ser respeitados e validados, o que ela sente é muito importante.
Na adoção da criança maior o processo de luto pela “perda” da
família de origem, pela perda "do que poderia ter sido", pela dor do sentimento
de abandono e rejeição vem junto com o início da adaptação, já no caso do bebê
esse processo de consciência das perdas e da rejeição sofrida vem após a
adaptação, quando crescem um pouco mais, mesmo assim os bebês também sofrem
pelo corte do vínculo com a mãe ou com a família de origem, e o tamanho desse
sofrimento vai depender também do tempo
que passou com eles e do apego desenvolvido. Após os 6 meses de vida e em
convivência com a mãe biológica o sofrimento pelo corte do vínculo é
infinitamente maior, porque o apego já foi desenvolvido e estabelecido.
O pai da teoria do apego, John Bowlby,
descreve as fases de luto, que são entorpecimento e negação, anseio e
protestos, desorganização e desespero, recuperação e restituição. Nessas fases
toda a ansiedade também pode ser manifestada através de sensações e agitação
noturna, até no caso de adoção de bebês.
A criança maior já conhece o que as une aos novos pais adotivos, o
bebê pequeno entenderá o vínculo da adoção mais tarde e poderá elaborar o luto
da perda da família de origem depois.
A criança maior muitas vezes tem o desejo consciente de fazer “dar
certo” a nova relação parental, mesmo passando por um momento de possíveis
turbulências e ajustes no novo núcleo familiar. Os pais devem ter delicadeza e
paciência nesse momento. Não existe relação perfeita, criança perfeita, ou
melhor, elas são perfeitas nessa imperfeição, isso faz delas humanas e é por
serem humanas é que são capazes de empatizar, de sentir e de amar. Todos
precisam de tempo para se adaptar aos laços que estão sendo formados e
fortalecidos, todos estarão aprendendo.
É preciso se reeducar e estar mais sensível às nuances, ter
paciência e confiança na escolha que foi feita. Toda relação
necessita de cuidado, respeito e aceitação.
Por Cintia Liana Reis de Silva
Um comentário:
Muito oportuno este texto. Atualmente, estamos vivenciando este processo de adaptação. Digo estamos, porque entendo que a adaptação é um processo vivido pela criança e pela nova família, embora para a criança que chega, trazendo sua bagagem de experiências, sem dúvida, é mais difícil lidar com os sentimentos de perda e ansiedade.
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