"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Adoção Tardia é Tudo de Bom!

Foto: Google Imagens

Uma cara amiga, que conheci nessa luta pelas crianças e pela adoção, nos cedeu sua história de adoção tardia, encontrou há pouco tempo sua filha de 12 anos.
Os nomes foram omitidos para preservar a identidade das pessoas envolvidas.
Quero parabenizá-la por toda sua maturidade e doação.
É para essas pessoas que temos que olhar e aprender, nessas pessoa que doam amor e que ao invés de alimentar o preconceito preferem pensar sobre possibilidades e transcender qualquer tipo de obstáculo, deixando prevalecer sempre o sentimento e o desejo de ter um filho. Para essas pessoas não existem barreiras.
Amiga, muita saúde para vocês e sua linda filha, que ela cresça em paz e se torne um adulto responsivo, responsável, diferenciado, feliz e que com certeza fará e já está fazendo outras pessoas muito felizes. Sei que com uma mãe como você “será tudo de bom”! Um abraço.


*Por uma mãe de verdade

Quem busca um filho busca a construção de um amor incondicional. E quanto mais idealizações forem construídas sobre a imagem desse filho, mais barreiras à satisfação haverá, ou seja, a idealização sobre o filho desejado limita as possibilidades de felicidade surpreendentes e espontâneas da vida. O que quero dizer é que, mesmo reconhecendo a naturalidade que há em se idealizar um filho, trabalhar nossas emoções para não tentar determinar como ele será abre um colorido leque de satisfação pessoal tanto nos pais quanto na criança. Um pouco de abnegação não faz mal a ninguém; pelo contrário, torna melhores as pessoas, e libertar-se do narcisismo ajuda a ser mais feliz.


Mas o que desejo, aqui, neste momento, é contar minha história de adoção.
Sou professora, tenho 34 anos de idade, e vivo uma relação conjugal muito boa há 12 anos. Eu e meu marido sempre gostamos de crianças e nosso desejo por filhos existiu desde o início do casamento, mas adiamos essa nossa felicidade por medo das dificuldades que enfrentaríamos como, por exemplo, falta de dinheiro para o sustento da criança e falta de tempo para nos dedicarmos à educação dela. Mas os anos se passaram tão rapidamente que, quando nos demos conta, já havia passado uma década de casamento. Nós continuávamos com dificuldades financeiras, porém já com um pouco mais de tempo livre. Decidimos, então, que eu tentaria engravidar. O bebê não veio. Fizemos exames, mas nenhum problema de infertilidade foi detectado. Mesmo assim, o bebê não veio. Não houve desespero por isso, até porque a ideia de adoção já era certa nos nossos planos mesmo se tivéssemos filho biológico.
Nós nos inscrevemos no Cadastro Nacional de Adoção, fomos nos informando sobre adoção através de literatura especializada e em grupos de apoio à adoção. Isso nos ajudou muito.
Decidimos que a idade da criança não deveria ser uma barreira para adoção, pois importaria que houvesse identificação entre nós e ela. Decidimos dar preferência para menina, pois ter uma filhinha já era um sonho antigo do meu marido. Mas a espera na “fila de adoção” é sempre angustiante. Em algumas comarcas, mesmo hoje sob a nova lei, a espera é muito demorada! Durante a espera, é comum que nos abata profunda tristeza. Parece uma gravidez sem fim e incerta.
É claro que os medos apareceram, medos diversos: pela idade da criança, pelo temperamento, pelas observações erradas que muitos fazem, pela aceitação da família, os preconceitos, os tabus, medo de ser infeliz, etc. Não nos permitíamos abater pelos medos, mas tivemos que conviver com eles até o dia em que decidimos adotar a nossa princesinha.
Viajamos mais de 2.000 km para conhecer nossa filhinha! Isso mesmo: mais de dois mil quilômetros. Tivemos essa indicação por meio de uma amiga muito querida que mantivera contato com a assistente social da comarca em que se encontrava nosso bebê de 12 anos.
Viajamos com a cara, a coragem, o amor e a fé. Prevaleceram o amor e a fé. Estamos muito felizes por isso!
Antes de chegarmos até a comarca, tivemos informações acerca da menina: 11 anos de idade (até então), magrinha, tímida, estava abrigada havia 3 anos aproximadamente e, a pior notícia, era vítima de abuso sexual. Depois, ainda soubemos que ela precisava fazer uso de antidepressivo. Claro, se um adulto faria uso desse tipo de medicamento, quanto mais uma criança naquela situação!
Ficamos temerosos principalmente por causa dos comentários preconceituosos de outrora que já povoavam nossas mentes. Mesmo assim, sabíamos que não seria certo desistir com base em ideias distorcidas de outras pessoas. Precisávamos entender o que Deus havia preparado para nós. Então viajamos.
Já no Fórum da cidade onde estava abrigada a nossa filha, nosso primeiro encontro foi especial, mas não houve sinos tocando, nem estrelinhas piscando, nem trombetas soando. Foi especial porque estavam ali pessoas que selariam destinos. Havia, na sala, uma criança frágil (já com 12 anos de idade), com mãozinhas geladas e tremidas e um semblante de profunda tristeza. O olhar triste e temeroso dela não dá para esquecer.
Se, para nós, aquela circunstância era difícil, para a menina era ainda pior. Isso é o que todos sempre deveriam lembrar. A criança é sempre mais frágil. É a criança quem mais sofre.
Saíamos os três todos os dias durante o período que estivemos lá. Conversávamos, passeávamos, e víamos nela uma menina normal, bastante meiga, inteligente, mas com falta de estímulos para aprendizagem e profunda carência afetiva. Víamos nela, também, as respostas positivas através do comportamento para as situações que provocávamos. Era uma criança sedenta por um referencial. Era o que precisávamos. Havíamos encontrado nossa filhinha!
Foi com lágrimas nos olhos e o coração aliviado que pedimos a guarda da nossa princesa de 12 anos.
Estamos muito felizes que a decisão foi tomada com base no amor e na fé.
Nossa filha não precisa mais dos antidepressivos, pois vive feliz e sorridente; ela não tem mais o semblante triste; já nos abraça e nos enche de beijinhos; corresponde aos nossos carinhos com desenvoltura e se relaciona muito bem com as pessoas; aprendeu muitas coisas e gosta de tudo que ensinamos. Alimenta-se bem, dorme bem, brinca bastante. Ela ficou mais bonita, mais educada, engordou mais de 4 quilos em apenas 1 mês. É muito meiga! O passado triste está se distanciando dela bem depressa.
Nós, os pais, sentimo-nos tão plenos e tão realizados que parece um sonho! As dificuldades que passamos são mínimas e as felicidades são imensas. A adaptação dela à nova vida foi mais simples do que imaginávamos.
Sentimos como se ela sempre estivera conosco, não conseguimos imaginar nossas vidas sem ela. Não nos fazem falta as fraldas que não trocamos, pois nos preenche totalmente o amor do hoje, do agora. A voz dela é música para meus ouvidos, a risadinha dela alegra a minha alma, o cheirinho dela me faz bem, vê-la dormindo tão serena é a mais doce visão. É minha filha, minha princesa meu bebê, e assim será pelo futuro. É alta, tem quase a minha altura, mas é meu meigo bebê, meu amorzinho, minha flor. O presente e o futuro são nossos, o passado não atrapalha nossa alegria.
Só há um adjetivo para resumir a experiência pela qual estamos passando: sublime.
Adoção tardia é tudo de bom! É preciso que o amor vença o medo ainda no coração de muitas pessoas.

Obrigada, meu Deus, pela vida dela em minha vida!

*C. S.


Foto: Google Imagens


Por Cintia Liana

4 comentários:

Unknown disse...

nossa, é linda a sua história e mais lindo ainda a sua ternura e amor.

Unknown disse...

Oi Cintia,


Bela história. Adoção tardia não é para qualquer um!
Na minha experiência em trabalhar em abrigos de menores carentes, notei que a maioria dos casais que queriam adotar, não tinha vocação para adotar, simplesmente não conseguiam ter filhos naturais e tentavam a adoção. Assim, aquela velha história: querem recém-nascidos; se possível sem nome ainda; saudáveis; da cor branca e meninas, dizem que são mais amáveis. Me parece mais uma coisa mesquinha do que um ato de amor. Começamos por aí. O que é vocação para adotar? Em primeiro lugar; deve-se ter uma vocação para o amor, isso é o mais importante. Em segundo lugar deve-se estar desprovido de romantismos e idealizações, deve-se ter uma visão clara da realidade, do mundo em que se vive e comprometer-se com ele. Em terceiro lugar, ser realmente adulto, capaz de se dedicar com generosidade e lucidez. Em quarto; ser capaz de construir um lar aberto, onde as discussões irão fluir, onde se respeitará a história de vida de cada um, para se formar uma nova história conjunta. Em quinto, contruir uma relação aberta, sem desejos egoistas e mesquinhos e em Sexto, comprometer-se com a criança exercendo realmente a Paternidade e a Maternidade. Desta forma, acredito, estaremos livres de preconceitos e prontos para uma adoção tardia.
Filho biologico é do coração, filho adotado é do coração, mas antes de tudo, são filhos. Felicidade, realização e concretização de um sonho, quando o processo de adoção é finalizado e o objetivo de apenas dar carinho e muito amor à criança é alcançado. Crianças precisam viver na harmonia, sentir-se amadas. Não importa a idade.
Em meu livro "A Casa das Fadas"trato sobre isso.

Abraços

Unknown disse...

Que historia linda, estou na fila a pouco tempo mas minha opcao foi 0-3 anos, até porque nunca tive filho e queria muito participar destas brincadeiras, primeiros anos de vida, brincadeiras, escola....Quero muito esse filho, estou muito ansiosa......

Edith Abreu disse...

Amei esta historia de final feliz, faz me pensar na minha filha que tem 12 anos e dizia que queria uma irmã gémea para não se sentir sozinha, e me diz que engravidar não mãe quando existem tantas crianças precisando de uma mãe.