"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Família e seus complexos laços afetivos

Foto: Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva

Boadella (1974, p. 8) diz que o direito básico da criança é de existir no mundo, de sentir a sua própria identidade. Ele afirma que a criança necessita do contato íntimo com a pele da mãe, e que isso é que vai formar a base do seu contato com o mundo. O sentimento de identidade madura é desenvolvida também através da sensação de se sentir cuidado, que pode ser pelo reconhecimento do toque e do olhar. Essa troca da mãe com a criança, esses contatos-aproximação são a base da personalização e promove a capacidade da criança relacionar-se de forma mais amorosa com o adulto. Esse contato com a mãe é muito rico e é importante que as duas se experimentem tendo uma alegria recíproca Nesse contexto de envolvimento nos braços e no olhar da mãe, a criança irá aprender a “definir seus próprios limites, aprende a encarar-se e a outros seres humanos, e adquire seu sentimento de pertencer o mundo”.
No caso da família substituta, quando falamos de estabelecimento de novos vínculos parentais, nos remetemos a construção de laços afetivos e, posteriormente, não podemos deixar de fazer uma ligação com a idéia de formação do apego.

É neste sentido que Bowlby (1989) reforça a importância dos pais fornecerem uma base segura a partir da qual uma criança ou um adolescente pode explorar o mundo exterior e a ele retornar, certos de que serão bem-vindos, nutridos física e emocionalmente, confortados se houver um sofrimento e encorajados se estiverem ameaçados. A conseqüência dessa relação de apego é a construção, por volta da metade do terceiro ano de idade, de um sentimento de confiança e segurança da criança em relação a si mesma e, principalmente, em relação àqueles que a rodeiam, sejam estes suas figuras parentais ou outros integrantes de seu círculo de relações sociais”. (MONDARDO e VANLENTINA, 1998)

Mondardo e Valentina (1998) também expõem que as contribuições de Margareth Mahler ao desenvolvimento infantil fortalecem as idéias desenvolvidas por Bowlby em relação a construção de uma base segura aos filhos através dos cuidados parentais. Essas contribuições dizem respeito “à importância fornecida às relações de objeto precoces, ou seja, ao vínculo com a mãe, às angústias de separação e aos processos de luto nas etapas evolutivas”.

Na adoção a criança passa a ter um sentimento de pertencimento com os novos pais, figuras substitutivas, pois são pessoas que vão passar a apoiá-la a acolhendo na sua totalidade e lhe dando afeto. Ela irá ter uma oportunidade de desenvolver um apego seguro com esses novos pais, ao contrário do que possivelmente tinha com seus progenitores, que talvez pudessem ter nutrido por ela um sentimento de raiva e rejeição. (ANDOLFI, 2002)

Esses progenitores podem ter cumprido um mandato familiar na forma de uma tradição ou de um padrão intergeracional, no qual podem ter passado, como sua mãe, a avó da criança, um padrão de rejeição e falta de acolhimento. Essa genitora pode ter sofrido um processo de projeção familiar transmitido pela imaturidade e baixo nível de diferenciação do self da sua mãe. Diferenciação esta que significa adquirir autonomia “com habilidade de pensar, sentir e agir por si mesmo”, como um adulto responsivo. (ANDOLFI, 2002, p. 2)

Elizabeth Banditer (apud PONTES, 2001) diz sobre “o mito do amor materno”, que o apego é inerente à mãe. Tem que existir um contexto positivo, um solo fértil para alimentar a criança e criar uma relação de apego saudável.

Ela acredita que para que uma mulher possa ser a “boa mãe”, é preferível que ela tenha experimentado, em sua infância, uma evolução sexual e psicológica satisfatória, junto de uma mãe também relativamente equilibrada. Mas, se uma mulher foi educada por uma mãe perturbada, há grande probabilidade de que sinta dificuldade em assumir a sua feminilidade e maternidade. Quando for mãe, reproduzirá, diz-se, as atitudes inadequadas que foram as da sua própria mãe.

Para Bowen o indivíduo quando passa da condição de filho para a condição de genitor usará o mesmo modelo que foi aprendido com os pais. Ou seja, quando esse contexto social está modificado, quando esses papéis se invertem, o filho passa a ser pai, e se faz necessário algumas respostas efetivas, abrem-se feridas intergeracionais e vem a tona uma questão de base: “como se pode dar aos filhos aquele afeto verdadeiro e tangível que se pensa nunca ter recebido dos genitores, quando crianças ou adolescentes?”. (ANDOLFI, 2002, p. 5)

Banditer (apud PONTES, 2001) aponta que o amor materno não é um sentimento inerente à condição de mulher, não é algo determinante, mas algo que se adquire e esses sentimentos humanos de mãe podem variar de acordo com suas ambições ou frustrações, com a cultura e as flutuações sócio-econômicas da história. Banditer também explica que “o amor materno pode existir ou não, aparecer e desaparecer, se forte ou ser frágil, ter preferência por determinado filho ou não”. O amor materno acaba por ser “apenas um sentimento humano como outro qualquer e, como tal, incerto, frágil e imperfeito”
No que se refere a necessidade de afeição, Schettini (1997) afirma que sua satisfação é fundamental e indispensável para a harmonia do desenvolvimento. Durante o início da vida da criança é de extrema importância construir um ambiente de afeição, porque, desse modo, estaremos dando a estimulação sensorial, atenção e carinho adequados.
O autor completa afirmando que a qualidade desta freqüência, desse contato da criança com o adulto, refletirá em sua sobrevivência, pois crianças pequenas morrem por falta de afeição adequada. Figuras parentais é que proporcionam um lastro firme para o desenvolvimento sadio de um ser humano.
Assim mesmo não devemos esquecer que nunca é tarde para se ter uma família, qualquer criança abandonada é “adotável”. Ela se torna não adotável quando nos deparamos com o preconceito e a cultura de adoção somente de bebês. Ou seja, a responsabilidade do inchaço de crianças maiores nos abrigos é do preconceito, que reforça que bebês são os melhores para serem adotados, ao contrário do que diz a literatura científica, que explica que não existem dados que provem que uma criança maior tenha mais problemas na adoção que as menores.

Este é mais um trecho extraído da minha monografia de pós-graduação finalizada e 2008. Divido com vocês. Para citar:
Silva, Cintia L. R. de. Filhos da esperança: Reflexões sobre família, adoção e crianças. Monografia do curso de Especialização em Psicologia Conjugal e Familiar. Faculdade Ruy Barbosa: Salvador, Bahia, 2008.

A referência se encontra na barra de indicação de livros e artigos. Vocês podem achar pelo nome do autor, que está em ordem alfabética.

Por Cintia Liana

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Linda família

Foto: Tirada por Cintia Liana. Família de Léo e Fabiana, com o filho Leozinho, após a sua adoção, que hoje já está com 2 anos de idade.

O casal teve a felicidade de receber esta semana Isabelle, que veio pela via biológica. O casal hoje pode experimentar as duas vias diferentes de serem pais, a adoção (foto acima com Leozinho) e agora a biológica, mas que, com certeza, no amor não há diferença em relação a intensidade.

Tive o prazer de acompanhar a adoção do casal, quando eu era psicóloga do Juizado de Menores.

Parabéns, linda família!




Foto: Léo, Leozinho, Fabiana e Bel.

Fabi, obrigada pelas fotos!

Por Cintia Liana

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