Foto: Google Imagens
Rosa Morena, produção Brasil/Dinamarca, é o filme de estreia do diretor brasileiro Carlos Oliveira. E já em seu primeiro filme, de roteiro também seu com Morten Kirkskov, Carlos apresenta uma direção segura e um estilo de filme que não é comum por aqui.
Rosa Morena é um drama denso, realista e acima de tudo emocionante. Thomas é um homossexual dinamarques, que por essa condição, em seu país não pôde adotar uma criança. Vem então ao Brasil, onde tem um velho amigo, Jacob, em busca desse filho adotivo. Até aí temos o velho clichê do europeu rico que vai aos paises pobres em busca de filhos adotivos. Mas os clichês param por aí.
Não mais disposto a esperar pelos tramites legais da adoção, Thomas busca seu objetivo querendo “comprar” um filho. Aí já temos um primeiro questionamento. O fato de se comprar uma criança de uma mãe, mesmo em dificuldade é correto? O filme porém não para por ai, assim como Thomas busca comprar, existe os que querem ganhar em cima desse interesse, fazendo disso, como é frisado em certa altura do filme, um grande negócio.
Thomas tenta uma primeira vez, se aproximando de uma mãe humilde e fazendo uma proposta. Porém não é bem vinda. A esposa de Jacob, interpretada pela ótima Viviane Pasmanter, trabalha com comunidades carentes e conhece uma mulher grávida que tem interesse no “negócio”. Thomas conhece e se aproxima da mãe e de sua familia. Passa então a conviver, conhecer e até se envolver com ela. Essa aproximação acaba trazendo problemas e tensão.
O filme tem vários acertos. O roteiro muito bem escrito, a direção de fotografia Philippe Kress é muito bem realizada. Interessante notar como é muito mais um estilo europeu que brasileiro. O olhar da periferia, da pobreza é diferente de como é retratado nos filmes brasileiros. Pois como o diretor salientou, o Brasil que vemos alí é a partir da visão de um europeu.
A escolha do elenco também é um ponto certo. Rostos menos conhecidos e o ótimo roteiro dá naturalidade as interpretações. Você acredita em cada personagem. Viviane Pasmanter é o rosto mais conhecido, e ainda assim, não é um rosto óbvio. O filme não se vende pelo elenco famoso e sim pela questão que coloca.
Ainda temos trilha sonora. Algo que ainda é um problema na maiorida dos filmes brasileiros, aqui é outro dos pontos mais fortes. O responsável é o compositor dinamarques Frithjof Toksvig, desconhecido por aqui, mas em seu país é um compositor bem requisitado para trilhas de cinema, séries e comerciais.
“Rosa Morena” é um filme que questiona, mas não julga. Faz melhor. Nos coloca situações para que o espectador avalie, pense, se questione. E também chama atenção tanto para a lentidão na justiça para uma adoção (existem mais de 80 mil crianças orfãs no Brasil), para também o quanto é “facil” burlar a lei e conseguir esse filho por outras vias. Mais que certo ou errado, o filme nos apresenta uma realidade muito particular dessa situação, questionando mas não colocando um ponto final.
Cinema brasileiro com um outro e novo olhar. O jovem diretor Carlos Oliveira, que hoje vive na Dinamarca, trás uma autênticidade ao cinema brasileiro que vemos pouco. O cinema que por aqui costuma se resumir a comédias e filmes de ação, encontra nesse drama um debate sobre questõres muito próximas a nossa realidade. E aí é a grande chave do filme.
“Rosa Morena” não é um filme sobre favela, sobre pobreza, é sobre relações humanas e busca de um sonho. O quanto custa buscar o seu sonho e até onde podemos ir por eles.
Jair Santana
Postado Por Cintia Liana
2 comentários:
Pra quem está acompanhando a Mostra de SP, o filme Rosa Morena foi dos melhores apresentado. Uma bela surpresa pra um filme que ninguem tinha comentado ainda.
Como foi bem colocado, parece um filme europeu filmado em São Paulo.
É de uma semsibilidade impar.
Maria Amelia
Maria Amélia, obrigada pela informação. Fico feliz com a notícia da repercussão do filme na Mostra de SP.
Bom para as crianças que esperam por suas famílias.
Um abraço.
Postar um comentário