Foto: Google Imagens
Escrito para o Baby Center Brasil
Após dois anos de casamento, resolvemos ter o nosso primeiro bebê. Parei o contraceptivo e, como não engravidava, meu ginecologista pediu alguns exames para mim e para meu marido. De acordo com os resultados, eu poderia engravidar.
Fiz uma estimulação dos ovários por mais ou menos oito meses, tomando medicamentos todos os meses. A cada mês uma expectativa, e nada!
Fui a outro ginecologista que me pediu mais exames e sugeriu uma cirurgia para dilatar o colo do útero. Fiz a cirurgia, fiquei dois dias internada e depois de algum tempo comecei a estimulação dos ovários novamente por mais um ano, mas sem sucesso.
Passei para um especialista, e ele me pediu mais exames complicados e muito dolorosos, como a histerossalpingografia (fiz um total de três), que diagnosticou uma obstrução em uma das trompas.
O médico sugeriu então uma fertilização in vitro. Como o tratamento é caro, entrei em depressão. Foi uma fase muito difícil, eu chorava muito e não suportava ouvir falar em gravidez, achava que todas as mulheres a minha volta conseguiam realizar uma coisa tão natural, menos eu!
Algum tempo depois, uma amiga me indicou outro especialista em infertilidade, que me pediu para repetir vários exames (os que mais doíam). Ele dizia que os exames anteriores eram antigos, com mais de 1 ano, e poderia ter ocorrido alguma mudança (a essa altura eu não sabia se essas mudanças eram para melhor ou pior).
Refiz os exames e ele me indicou o único hospital na época que realizava fertilização in vitro gratuitamente, porém era em São Paulo: o hospital Pérola Byington. Eu morava no Rio.
Eu e meu marido ficamos meses ligando para o hospital à espera da abertura da inscrição e, quando finalmente consegui uma senha, fui várias vezes para lá, viajava a noite toda. Várias vezes, o ano todo.
Finalmente fui me cadastrar na fila de espera para a fertilização, só que, para meu desespero, o número do meu cadastro era 2.235 e a fila estava atendendo o número 332. Além do que, todo o tratamento dependia de verbas do governo de São Paulo.
Um dia voltei chorando durante as seis horas de viagem de São Paulo para o Rio de Janeiro, porque, pelos cálculos que fiz, quando fosse convocada já estaria com mais de 39 anos e a possibilidade de sucesso na fertilização seria menor. Foram meses de choro e depressão, tinha dias que não queria me levantar da cama.
A grande decisão
Somente depois de 10 anos de casados começamos a olhar a adoção como uma opção mais concreta.
Três anos depois do início do processo no Pérola Byington, demos entrada nos documentos para poder participar do processo de habilitação para adoção. Foram dois anos de muita expectativa e ansiedade.
Para o cadastro, preenchemos um questionário com o perfil da criança. Como numa gravidez, não optamos por sexo, somente indicamos a faixa etária de 0 a 2 anos e cor parda ou negra. Para aumentar ainda mais a ansiedade, para essa faixa etária existe uma fila de espera.
Após a habilitação era impossível não me pegar às vezes sonhando acordada que a qualquer momento meu sonho de 10 anos de espera finalmente se realizaria.
Enquanto aguardava, participei (e ainda participo), uma vez por mês, do grupo de apoio à adoção "Adoçando vidas, um projeto de amor", que conta com uma psicóloga e uma assistente social.
Cada mês é abordado um tema diferente escolhido pelo próprio grupo. Todos os temas são voltados para adoção, tutela, adoção tardia, as mudanças que estão acontecendo nas leis e regras para adoção. Sempre que possível convidamos promotores e a juíza do fórum para uma palestra.
Ali trocamos ideias, dúvidas sobre o processo e mantivemos contato com outras pessoas que já tinham adotado ou estavam habilitadas e aguardando o telefonema (os "grávidos", como apelidamos).
Sempre que conversávamos, meu marido e eu fazíamos planos sobre o enxoval e a decoração do quarto. O grupo de apoio foi muito importante porque foi dele que recebemos conselhos de outros casais e orientação para economizar dinheiro e fazer uma poupança para comprarmos as coisas do bebê depois que ele chegasse.
O nosso perfil de bebê era muito abrangente, já que não determinamos o sexo. O que comprar? Azul ou rosa? Saída de maternidade ou roupinhas maiores? Berço ou minicama? Resposta: nada!
Ela chegou!
O telefonema foi num final de tarde, eu estava em casa cozinhando e, assim que a comissária se identificou, minhas pernas começaram a tremer. Ela não entrou diretamente no assunto. Perguntou como nós estávamos e se estávamos muito ansiosos.
Quando ela me disse "estou entrando em contato com você hoje para saber como está o casal e para dizer que temos uma criança dentro do perfil que vocês escolheram..." começaram as "contrações" e entrei em trabalho de parto.
Ela me deu informações sobre a criança: era uma menina de 8 meses. Iríamos conhecê-la no dia seguinte.
Assim que ela desligou, liguei para o trabalho do meu marido e dei um baita susto nele, pois não conseguia falar, eu só chorava. Depois de alguns minutos balbuciei: "Vamos conhecer a nossa filha amanhã".
Não dormi a noite toda, fiquei olhando para o teto tentando imaginar como seria essa menina, se eu iria sentir algo por ela de imediato ou se a convivência é que nos aproximaria.
Tive medo de a criança me estranhar, de chorar ou não aparecer nenhuma afinidade com ela, coisa que pode acontecer. Nesse caso o casal não é obrigado a ficar com a criança, e seu nome volta para a fila de espera.
Mas o momento que vimos o seu rostinho foi emocionante. Meu coração apertou, é uma sensação maravilhosa. Senti que ela era minha, a minha filha. Ela se encaixou completamente nos meus braços como se eles sempre tivessem pertencido a ela.
Hora das compras
Antes de ir conhecê-la, de manhã, corri até a loja de bebês mais próxima para comprar um kit básico, ou kit desespero, com o essencial que você precisa para as primeiras horas, até poder fazer uma lista mais detalhada.
A vendedora me orientou em relação ao tamanho. Comprei uma sandália, dois vestidos cor-de-rosa (é claro), enfeite para o cabelo (e se ela não tiver cabelo?), uma tiara, fraldas, pomada para assadura, toalha, sabonete e banheira rosa (é claro).
Mas a assistente social que a trouxe me entregou uma bolsa com algumas roupinhas, mamadeira e todas as orientações sobre vacinas, alimentação e consultas e exames médicos. Ela veio tão linda e bem vestida que parecia uma boneca.
Como a espera foi de dois anos, tivemos bastante tempo para escolher o nome: Maria Eduarda, lindo e forte como ela.
O resto das compras foi uma correria só, mas com uma alegria imensa. Eu entrava toda orgulhosa nas lojas com minha filha nos braços para escolher roupas, móveis do quarto, objetos de decoração... Tudo o que um casal compra ao longo dos nove meses compramos em uma semana!
Processo em andamento
Estamos juntos há cinco meses e nossa vida mudou completamente. Nossa filha é uma bênção, dorme a noite toda, come muito bem, tem uma saúde perfeita e agora é o centro das atenções. Tudo gira em torno dela.
Ela é o xodó de toda a família, e está completamente adaptada. É um bebê muito risonho.
Estamos ainda com a guarda provisória. Ela é fundamental para o processo de adoção para que haja a verificação de adaptação da criança ao casal e como está a família num todo (como, por exemplo, a criança foi recebida por parentes e amigos).
Nesse período são realizadas entrevistas com psicólogos e, segundo sabemos, a guarda definitiva pode variar de um a dois anos, de acordo com o fórum e o número de processos existentes.
Estamos tão entusiasmos que já pensamos em adotar um irmãozinho para a Duda.
Postado Por Cintia Liana
2 comentários:
Olá Cintia, tudo bem? Me chamo Caroline e estou no 8° termo da faculdade de Direito. Pesquisando sobre o tema adoção internacional na internet, encontrei seu blog e me encantei.Bom, resolvi escrever para parabenizá-la pelo blog e pelo seu trabalho. Muito lindo. E também agradecer pelas informações que foram muito úteis para o meu trabalho. Assim que eu tiver um tempo eu volto para pesquisar mais pelo seu blog, adorei. Espero que você nunca perca essa força de vontade, pois o mundo precisa de pessoas como você. Parabéns, mais uma vez. Beijos
Emocionante esse depoimento de uma atitude tomada pelo casal e que culmina com a chegada feliz de Maria Eduarda dando novo rumo a vida desse casal que a dez anos esperava o momento feliz de ter um filho.
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