"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A adoção de crianças maiores na perspectiva dos pais adotivos (Parte 1)

Partes mais importantes e resultados de estudo científico.

Mandy Lynne

Título em Inglês:
Older children adoption from the perspective of the adoptive parents

Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo investigar a adoção de crianças maiores porque é menos realizada pelos candidatos à adoção. Neste sentido, pretendeu-se compreender, junto aos adotantes, como percebem e vivenciam essa adoção. Foram realizadas quatro entrevistas, conduzidas de forma semidirigida e individual. Os resultados revelaram que a motivação dos pais adotivos esteve relacionada ao puro altruísmo e ao desejo de se realizar enquanto mãe/pai, como também à praticidade e desejo de companhia. Apesar do preconceito sofrido por causa do passado da criança e de algumas dificuldades adaptativas, pode-se concluir que, com amor e ajuda profissional, as adoções estão sendo bem-sucedidas.

Palavras-chave: adoções necessárias, preconceito, cultura de adoção.

Apresentação e discussão dos resultados

Motivações para a adoção
Através dos relatos dos quatro participantes, pôde-se observar que a motivação para a realização desse tipo de adoção foi devida, principalmente, ao puro altruísmo e ao desejo de se realizar enquanto mãe/pai, através de uma forma mais solidária de parentalidade. A praticidade e o desejo de ter uma companhia também se destacaram como fatores motivadores.

Dois entrevistados adotaram crianças que se encaixam no primeiro grupo referido por Elena Andrei (2001), enquanto dois adotaram crianças bem mais velhas, inseridos no grupo dois, por estarem sensibilizadas com a situação dos menores. Esses resultados reforçam as palavras de Schettini Filho (1998, p. 12), quando diz: “O desejo de adotar se explica das mais variadas formas que estão vinculadas à história e à necessidade do adotante [...] Enfim, as pessoas adotam filhos motivadas por circunstâncias físicas, sociais e emocionais”.

Recortes de algumas falas ilustram a motivação:
Eu já tinha vontade de adotar [...] os meninos são mais difíceis de serem adotados; e quanto mais velho, mais difícil [...] Eu procurei um menino que as pessoas não queriam mais adotar (Entrevista 1).

[... ] eu pretendia adotar uma novinha, mas... uma outra novinha... mas aí apareceu a criança, apareceu uma menina e que... eu a conheci e que teve certa dificuldade de encontrar uma família pra ela. Então, aquilo ali me sensibilizou muito [...] (Entrevista 4).

Essas falas confirmam os resultados de uma pesquisa realizada por Ebrahim (2001) que detectou que 51% dos adotantes tardios adotaram mais por se sensibilizarem com a situação de abandono das crianças.

A necessidade de companhia transpareceu na fala do único homem participante:
[...] eu procurei, assim, já uma criança que estivesse numa idade já elevada que pudesse também ser um torcedor do Sport e que juntos pudéssemos ir ao shopping, tudo o que tivesse lazer, certo? Participasse comigo até nas horas de alegrias e de tristezas (Entrevista 4).

Tempo de adaptação
Com relação ao tempo para a adaptação da criança, dependendo da forma como se deu a separação da família biológica, do tempo que passou no abrigo ou em situação de negligência ou de abandono, da ocorrência de outras separações e maltratos, a adaptação a uma nova família pode ficar mais lenta ou difícil (Vargas, 2006). No entanto, ela é possível, pois “o sentimento de família não é um instinto, mas sim uma construção resultante de uma íntima e sadia convivência” (Andrei, D., 2001, p. 93). O sucesso depende também da forma como os pais lidam com as dificuldades.

As respostas quanto a esse tema foram bem heterogêneas: uma relatou que a filha se adaptou muito bem desde o início (ela estava com 3 anos e meio de idade e passou por algumas famílias); uma disse que o filho foi se adaptando aos poucos (adotou um garoto com 3 anos que estava abrigado), e dois participantes disseram que os filhos ainda estão se adaptando (estes foram adotados com 9 e 10 anos e também estavam abrigados).

Foi horrível! No primeiro mês foi um menino maravilhoso; tomava banho todo dia, ia para escola todo dia sem reclamar; uma maravilha, um menino maravilhoso. No segundo mês, quando ele viu que não voltava mais, ele começou a ficar à vontade e aí ele começou, e até hoje, não quer escovar dente, só toma banho quando quer, para ir para escola é a maior dificuldade, às vezes passava dois, três dias sem ir. Hoje em dia é mais difícil ele não ir (Entrevista 1).

No início acho que foi bem complicado. [...] Pensei em colocar ele de volta, acho que num abrigo aí. Em qualquer lugar porque já estava cansando [...] Ainda está se adaptando, muito. De vez em quando tem uns problemazinhos. Quando eu penso que ele já está melhor, ele parece que dá uma regressão e começa a dar ‘nó cego’[...] A rebeldia dele, as ignorâncias [...] a brincadeira dele... quando está brincando é só porrada, mordida, empurra [...] Ele agora está bem melhor [...] (Entrevista 4).

O conteúdo destas respostas ressalta o que Vargas (1998) afirmou, baseada em um estudo realizado sobre adaptação de crianças adotadas, no qual observou que, dentre os vários comportamentos que essas crianças podem apresentar, destacam-se os comportamentos regressivo e agressivo. Outro autor complementa: “quando os requisitos básicos da liberdade e da privacidade faltam, e é justamente isso o que acontece nas Instituições, planta-se sem querer as sementes da revolta e da rebeldia, que brotarão na primeira oportunidade” (Andrei, D., 2001, p. 94). Por outro lado, é válido destacar que alguns comportamentos elencados pelos pais (rebeldia, dificuldade com higiene pessoal e escolaridade) fazem parte da fase pré-adolescente em que essas crianças se encontram, não sendo especificidade apenas da adoção.

Em compensação, outra participante fala da facilidade com que a filha se adaptou:
A adaptação dela foi rápida. Acho que em uma hora (risos). Já falava ‘mainha’, ‘painho’. Na verdade, ela estava muito carente, procurando uma família... (Entrevista 4).

Vale salientar que essa participante possuía experiência prévia de criação dos filhos biológicos e uma filha adotada ainda bebê, o que, certamente, lhe forneceu mais condições para lidar com a adoção de uma criança mais velha.

Cristina Maria de Souza Brito Dias
Ronara Veloso Bonifácio da Silva

Célia Maria Souto Maior de Souza Fonseca


Postado Por Cintia Liana

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