"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

adoção de crianças maiores na perspectiva dos pais adotivos (Parte 3)

Terceira e última parte do estudo científico.

Mandy Lynne

Vantagens da adoção de crianças maiores
No que se refere aos ganhos ou vantagens desse tipo de adoção, a praticidade por se tratar de uma criança maior e mais independente e não precisar dos cuidados básicos de um bebê, e o fato de não precisar fazer a revelação sobre a adoção, seriam as principais vantagens.

Sendo solteira, eu trabalho o dia todo, e ele, sendo maior, eu não tenho a necessidade de cuidar dele pequenininho, do básico (Entrevista 1).

[...] eu preferi adotar uma criança com idade... maiorzinho, porque trabalho sempre dá, mas dá menos aquele trabalho de fralda [...] era melhor pra mim[...] Dava trabalho, mas já andava, já... Não ficava muito no braço, porque a gente com essa idade já está com os ossos meio... Entendeu? [...] Tudo com ele foi mais prático, ele maior (Entrevista 3).
Outra vantagem que foi destacada diz respeito a não ter que se preocupar com a revelação da origem da criança, assunto que muito mobiliza pais e filhos. As entrevistadas 2 e 3 disseram, respectivamente:

[...] A adoção de uma criança mais velha tem uma grande vantagem, que é não ter o momento de contar [...]. É que ela já conhece a história dela [...].

Sugestões para outros adotantes de crianças mais velhas
Por fim, sobre as sugestões que eles poderiam dar a outras pessoas que desejam realizar o mesmo tipo de adoção, destacou-se o amor como elemento fundamental para uma adoção bem sucedida. Além disso, sugeriram: uma preparação prévia, como, por exemplo, um acompanhamento psicológico, freqüência aos grupos de apoio, leituras; a reavaliação dos próprios preconceitos; o fato de ter experiências prévias com crianças ou adolescentes; fazer previamente algum apadrinhamento e colocar limites desde o início. Dos quatro participantes, três recorreram à ajuda de psicólogos para si e/ou para os filhos. Apenas a participante dois, que é casada e já tinha experiência com a criação dos próprios filhos e de uma criança adotada ainda bebê, disse não ter procurado ajuda.

Solteira com crianças maiores tem que ter, assim, uma estrutura muito boa. Eu acho ideal para um casal pegar essas crianças maiores [...] E sonha muito com um pai [...] Eu acho que eu deveria ter me preparado mais para ele. Eu queria uma criança. Tudo bem, agora que eu tivesse um acompanhamento psicológico antes para eu tirar aquelas idéias românticas da cabeça, caí na real porque eu entrei na real sem ter tratamento nenhum, foi de choque (Entrevista 1).
Eu acho que vale a pena, sabe? Exceto pra quem vai adotar pela primeira vez e não tem filhos, eu acho que tem restrições. Agora se o casal é amadurecido, é um pessoal que tem vivências, não que tenha filhos, mas que tenha visto sobrinhos, que tenha vizinho novo, que sabe que aquilo é um comportamento natural [...] (Entrevista 2).
[...] eu acho que primeiro é baixar a guarda, tirar esse preconceito porque eu acho que existe uma série de preconceitos [...] (Entrevista 3).

[...] Primeiro seria apadrinhar [...] Depois do apadrinhamento com... com um bom tempo aí você vai saber quem é essa criança, de que forma você trabalharia essa criança [...] também não dar muita liberdade. Limites, logo de imediato (Entrevista 4).
Os participantes, com suas sugestões, corroboram o que vários autores assinalaram em relação ao cuidado que deve se ter em relação à adoção e, em especial, às adoções de crianças mais velhas (Andrei, D., 2001; Andrei, E., 2001; Dias, 2004, 2006; Schettini Filho, 1998; Vargas, 1998, 2001, 2006), ao preparo tanto dos pais quanto dos filhos. Levy (2005) acrescenta a necessidade de uma rede de apoio, especialmente para os que fizeram a adoção sozinhos e que precisam suprir todas as necessidade dos filhos. Dias (2004) pontua que o sucesso da adoção de crianças maiores depende de fatores como: aceitação da criança real e da sua história; respeito ao seu próprio ritmo; não exigir da criança mais do que ela pode dar; serenidade, paciência e equilíbrio, apoio dos familiares e amigos; busca de ajuda profissional e nos grupos de apoio onde os pais poderão conversar com outras famílias. Em suma, o sucesso dependerá muito mais dos pais na condução da adoção.

Considerações finais
Pode-se concluir que, apesar dos preconceitos vividos e de algumas dificuldades na adaptação das crianças adotados com mais idade, elas estão sendo bem sucedidas. O amor, a paciência, a compreensão e a maturidade afetiva dos pais para superarem as dificuldades, por um lado, e o desejo das crianças de pertencerem a uma família, por outro, foram alguns dos fatores responsáveis pelo sucesso dessas adoções. A ajuda profissional, como, por exemplo, o apoio psicológico e a busca por conhecimentos relacionados ao tema, também contribuiu. Vale salientar que a maioria freqüenta o grupo de apoio à adoção existente na cidade.


Sem dúvida, como foi referido por vários autores no decorrer do trabalho, trata-se de uma adoção que requer cuidados, porque a criança já traz a marca do abandono inicial e do tempo que permaneceu em instituições, especialmente com os adotantes sem nenhuma experiência com crianças. Isto não quer dizer que não sejam possíveis a superação e a adoção mútua, trazendo alegrias, capacidade de realização e comprometimento. É válido ressaltar também a multiplicidade de situações e de características pessoais dos pais e dos filhos que marcou cada adoção, de forma que não se pode generalizar. Cada família vai se adaptando  e criando seu próprio estilo e cultura.

Considera-se de fundamental importância avaliar os próprios preconceitos para que se possa ter uma sociedade mais humanizada e justa. É preciso também que o Estado, através de políticas públicas adequadas, e a sociedade civil, a partir de uma reeducação, se unam na luta contra a dura realidade das crianças institucionalizadas.

Cristina Maria de Souza Brito Dias
Professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco. Coordenadora do laboratório Família e Interação Social. Rua Conselheiro Portela, 130 A, apto 201, 52020-030, Recife, PE.
cristina_britodias@yahoo.com.br
Ronara Veloso Bonifácio da Silva
Concluinte do curso de Psicologia e Bolsista PIBIC/UNICAP. Rua Nelson Castro e Silva, 117, Jardim São
Paulo, 50910-440, Recife, PE, Brasil. ronara_veloso@yahoo.com.br
Célia Maria Souto Maior de Souza Fonseca
Professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco. Rua Edson Álvares, 211/102, Casa
Forte, 52061-450, Recife, PE, Brasil. celiasoutomaior@yahoo.com.br

Postado Por Cintia Liana

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