"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sábado, 29 de novembro de 2014

A moda do diagnóstico de hiperatividade


Por Cintia Liana Reis de Silva
Texto escrito para este blog em 2011 e republicado no site Indika Bem em 28 de agosto de 2014.

Ela diz:
Oi, há quanto tempo…! Conheci seu trabalho e quero te pedir uma orientação. Minha filha  está precisando de ajuda, de terapia. Disseram que é hiperativa e que agora precisa voltar a tomar os remédios, porque está pior. Você pode me orientar?
Respondo:
“Oi, querida! Obrigada pela confiança em me expor o caso. Vou ousar falar algo, mas será bem resumido. Se quiser um dia conversar mais detalhadamente me fale.
Como sou especialista em Psicologia Conjugal e Familiar, tenho uma natural tendência a enxergar o comportamento da criança num contexto maior, principalmente, na família, respaldada em teorias sistêmicas. Vejo o problema ou o comportamento desagradável como um sintoma do que podemos chamar de “adoecimento” familiar e nela mesmo, na própria família, sua estrutura e organização, encontramos muitos motivos para a criança apresentar tais sintomas.
Hoje está sendo vastamente discutido essa insistência de alguns profissionais, principalmente inexperientes ou com uma visão reducionista da psique, em rotular, classificar a criança como hiperativa e, o pior de tudo, medicá-la (não sou contra a remédios, quando necessário).
Não questiono o diagnóstico de forma tão segura porque não conheço o caso profundamente, as avaliações e exames aplicados, o diagnóstico detalhado e tampouco a idade de sua filha.
Um diagnóstico de hiperatividade para uma criança com menos de 7 anos, por exemplo, normalmente é muito precipitado e perigoso, pois até essa fase ela passa por diversas mudanças e estímulos, alterando seu comportamento de forma veloz e, mesmo a hiperatividade propriamente dita, pode ser um sintoma de um problema na família, ou a relação da criança com sua própria história de vida e ele pode vir a tona através de uma patologia ou na alteração do comportamento e sua relação com o mundo.
Atualmente, sou uma profissional que só atende a criança se os pais aceitarem fazer duas sessões ao mês de terapia comigo pois, antes de tudo, eles precisam mudar seus padrões, inclusive enxergar os intergeracionais e aprender a decifrar aspectos subjacentes de sua relação com o filho. A minha experiência e os teóricos dizem que não adianta, que é inútil tratar a criança e depois reinseri-la no mesmo ambiente “adoecido”, o ambiente que a faz adoecer.
Os pais, muitas vezes, “fogem” porque se sentem em culpa, mas se já tiveram o filho, porque não encarar a “responsabilidade” de mudar a vida de todos?
Esse adoecimento é bem mais natural do que pensamos. Como se diz muito por aí, “isso acontece nas melhores famílias”. Essa frase nos remete a um alívio, para com facilidade aceitarmos o problema e encarar as mudanças, pois é difícil ser a exceção negativa.
Temos que desmascarar essa história de que família boa e feliz é a família perfeita, porque esse é um ideal, não existe família perfeita. É ainda mais bonito ver alguém lutando para se entender e ser cada vez mais saudável.
É bem mais fácil quando se assume a responsabilidade de transformar, apesar de ser mais complicado entender todo esse processo, mas colocar o foco na criança é maquiar a verdadeira face do problema maior, entende? Isso é tão claro hoje para mim…
Espero ter ajudado, iluminado um pouquinho. Estou a disposição para conversar.

Por Cintia Liana Reis de Silva
Fonte: http://www.indikabem.com.br/filhos/a-moda-do-diagnostico-de-hiperatividade
Fonte da imagem: www.melhoramiga.com.br (Créditos e Divulgação)

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