Fonte da imagem: www.babyboom.be (créditos e divulgação)
Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado do Guia Indika bem no dia 09 de abril de 2015
Aqui na Itália uma das perguntas mais frequentes quando nasce uma criança é, “dorme tutta la notte?” (dorme a noite toda?). Acredito que no Brasil essa pergunta também seja corriqueira.
Uma noite ou várias noites mal dormidas e ainda com o choro de um bebê, é algo que não se pode ignorar, é um evento capaz de tirar a paz das pessoas, mesmo quando se trata de um filho. O choro faz emergir muitos medos e fraquezas dos pais, faz nascer vários fantasmas e dúvidas sobre o universo psíquico da criança.
O sono das crianças é um tema delicado e a sociedade em geral crê muito e conhece pouco, e entre essas crenças está a de que o recém nascido deveria dormir continuamente e “bem”, logo que nasce. As mães se sentem pressionadas, pois a fazem acreditar que se a criança não dorme a culpa é delas e escutam frases do tipo, “ele é muito apegado você!”. Mas é claro que o bebê deve desejar estar nos braços da mãe! É a natureza! Esse tipo de opinião é desrespeitosa e não enxerga as particularidades dessa díade, mãe e bebê, não respeita essa relação que deve ser alimentada de calor e intenso contato no início, para que depois a criança adquira aos poucos a verdadeira autonomia.
A mãe precisa de tempo, espaço, respeito e de que acreditem nela e na relação mãe e bebê para que se sinta segura para olhar para a sua cria sem culpa e sintonizar com a sua energia, com a essência do seu filho, para intuir e enxergar o que é preciso, e só assim poderá se instalar mais tranquilidade no lar, e o bebê se sentirá mais sereno, além disso, deve entender que todo recém nascido precisa de tempo para se habituar aos horários dos adultos, aos horários impostos, pois na barriga ele não tinha nada disso. É uma mudança muito radical, consequentemente, não podemos simplificar esse fenômeno dando regras ao bebê.
A madrugada é muito longa e muito tranquila para o universo do recém nascido. Quando uma mãe entende e aceita esse fato, o seu esforço de se levantar durante a noite se torna menos intenso e cansativo, passa a ser algo muito mais natural, pois não sente culpa por achar que o fato da criança acordar a noite e chorar é por uma situação mal administrada por ela. Uma criança acorda e chora para pedir alimento, braços, presença, mais calor, mais conexão, segurança, mais disponibilidade emocional e aos poucos ela vai construido a própria identidade, o tempo do seu sono, e esse tempo vai se prolongando, ela vai aprendendo a autoregular-se, porque a mãe começou a construir e a dar à ela o suficiente “sustento emocional interno”. (Gutman, 2008)
A idade em que a criança começa a dormir durante toda a noite varia muito, então determinar isso se transforma em uma avaliação autoritária e cheia de preconceitos, compreensível só à razão e não à emoção. Não significa que um recém nasido esteja bem só porque dorme toda a noite, mesmo que isso seja consfortável para os adultos. (Gutman, 2008, p. 192)
Para se chegar ao estágio das noites inteiras tranquilas, nós psicólogos de família perguntamos aos pais o que pode estar acontecendo e o que esse bebê pode estar querendo comunicar, quando ele continua com um sono agitado e acorda muitas vezes durante a noite. Em outros textos meus escrevi bastante sobre a fusão emocional mãe e bebê, dessa forte ligação, onde o bebê reflete a alma da mãe, o que ela sente, ignora, rejeita, os seus medos e inseguranças, pois até mais os menos os dois anos após o parto são como um corpo só. Um comportamento maduro, além da mãe indagar-se sobre o que sente, seria o casal questionar como está a relação e se o pai está apoiando bem a mãe nesse momento. Isso só viria a favorecer a tranquilidade de toda a família, pois essa tranquilidade se reflete no sono do bebê.
No livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”, a psicóloga argentina Laura Gutmam afirma o que eu acabei de expor no parágrafo anterior e diz ainda que a conduta de raiva, de implorar que o bebê não atrapalhe o sono desperta profundamente aquilo que estava adormecido no nosso ser interior (p. 191).
Em geral o que se vê é uma declarada presunção, um grande autoritarismo ao ousar dizer o que é “normal” ou não, o que é “sadio” ou não, ignorando a idade da criança, as particularidades do presente a família, a alma da mãe e do bebê e as necessidades dos mamíferos, impondo que a criança, que acabou de nascer, se separem do corpo da mãe imediatamente, para que ganhe uma falsa “independência”, sem nem antes ter sentido o prazer do que é “pertencer”, o prazer da segurança do calor da mãe, com a ilusão de que que estaria se “acostumando mal”. Mas sentir a segurança passada pela mãe é se acostumar mal? Como se tornar uma adulto inteiro, seguro, se a criança não teve a oportunidade de experimentar essa relação intensa com o mãe? Se lhe foi negado esse seu único desejo e direito?
Concordando com Gutman, a mãe deveria ter o apoio de todos para dedicar-se inteiramente nos primeiros meses aos cuidados do filho e tê-los nos braços sempre, amamentá-lo, ou contrário disso se vê puerperas desestruturadas psiquicamente, com medo, inseguras, criticadas, regredidas e assustadas sem ter a condição de se darem conta e acolherem o seu mundo interno, e assim a criança sente as mesmas inseguranças. Ajudar mãe e bebê é dar tempo e eles de renascerem e estabelecerem novos ritmos a favor da serenidade da psiquê da mãe e do crescimento sadio do filho.
Se fazer perguntas como, “por que não domir abraçada ao meu filho se esse é o nosso desejo?”, “por que não ficar com ele todo o tempo nos braços se esse é o nosso desejo?”. Não tenha medo, pois recebido o calor necessário, ele aprenderá a dormir sozinho e um dia não precisará tanto dos seus braços, então aproveite. Se pensarmos bem, o mais comum é encontrarmos pessoas carentes, com um baixo senso de autovalorização, que sentem que não receberam o suficiente dos pais, que não tiveram o calor que tanto desejavam e aquilo que não se teve na infância não será nunca mais satisfeito na fase adulta.
Como diz Gutmam, para criar bem um filho é preciso generosidade e uma ampla visão.
Por Cintia Liana Reis de Silva
Fonte: http://indikabem.com.br/filhos/o-sono-dos-recem-nascidos-e-das-criancas-e-o-que-ele-pode-comunicar
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