"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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sábado, 12 de maio de 2012

Filha procura mãe biológica


Estive olhando sua página na internet (blog), pois estava procurando assunto relacionado ao tema (mães que abandonam) e acabei encontrando sua página. Vou torcer para que a senhora leia meu e-mail e responda.

Minha historia é a seguinte:

Me chamo Clarisia Laiana da Silva e Silva (tenho orkut e facebook onde conto minha historia, inclusive na página da Sandrinha, comunidade procuro mãe biológica), tenho 27 anos, nasci em 1 de abril de 1985. Nao sei qual foi a maternidade, nao sei nada, apenas a data que consta na certidão (adoção a brasileira). Minha mãe biológica me abandonou logo após o nascimento, não sei nada a meu respeito, minhas origens. Fui adotada e dentro do possível bem criada, bons colégios, uma boa casa e meus pais são carinhosos, mas não tenho irmãos adotivos.

Só me contaram oficialmente da adoção aos 21 anos, mas sempre soube que era adotada, a gente sabe, sempre sabemos, não precisa contar, parece que uma voz, algo dentro de nós diz que fomos rejeitadas. Por mais amor que uma criança receba no lar adotivo, a rejeição sempre estara em primeiro lugar. Essa é a ordem dos fatos. Primeiro há uma rejeição, para que depois aja a adoção. Posso falar por mim, nunca se supera um abandono, é insuperável, e não acredito que exista alguém neste mundo que conviva felizmente com isso.

Sou casada, formada, tenho dois filhos maravilhosos, e já passei necessidade, mas jamais abandonaria meus filhos.

Até hoje procuro minha mãe biológica, mas até agora nada, chego a acreditar que ela sabe que estou a sua procura, mas não quer ser encontrada.

Na verdade estou mandando este e-mail, porque muito se fala a respeito do abandono materno, focando apenas na adoção, mas não há muitos estudos a respeito dessas mulheres.

Tenho a impressão que depois que uma mulher abandona sua filha, ela some, desaparece do cenário mundial. Nao sei se isso é real ou se é apenas um mecanismo de defesa de minha parte, visto que sou uma filha abandonada que tenta compreender o porque da mae ter escolhido esta péssima opção.

Ja fiz psicoterapia, fui a igreja, conversei com outras pessoas a respeito, mas não adianta, essa dor não passa. Acredite, não existe nada pior do que ser abandonada pela própria mãe. Uma mulher que decidi entregar seu filho a adoção nao sabe o que é amor. Escuto pessoas que dizem que quando a mãe entrega a criança com todos os cuidados a um hospital, a um casal, ela na verdade está protegendo o filho, mas discordo.

Todos os dias eu penso onde ela está... E principalmente... Será que ela se arrependeu? Já que a maioria segue com sua própria vida sem olhar para trás...

São perguntas que ficarão para sempre sem respostas. Mas acredito que um dia eu retorne para a psicoterapia, não para superar o que é insuperavel, mas é bom buscar ajuda sempre.

Obrigada.

************
 
Obrigada por responder, fiquei muito feliz. Em relação a minha história pode publicar, pode colocar meu nome verdadeiro (Clarisia Laiana da Silva e Silva Tavares. Data de nascimento: 1º de Abril de 1985. Fortaleza, Ceará). Até porque não tenho problema algum em expor, pelo contrário, já coloquei minha história no orkut, no facebook, tem até foto minha, até já pensei em colocar uma foto minha quando bebê.
 
Penso que falar, mostrar, divulgar, me faz bem, quando conversamos e mostramos nossos problemas para as pessoas parece que a nossa dor melhora, sinto uma sensação de alivio, me sinto mais confortável em dividir a minha angústia, até porque sei que existem muitas pessoas passando pelo mesmo problema. Pode postar meu e-mail, minha história, as pessoas vão ler e se identificar e quem sabe aconteça um milagre, alguém ler e reconhece minha história, até a própria mãe biológica, nada é impossivel.  Mais uma vez obrigada por responder meu e-mail, obrigada pela atenção.

As dúvidas são muitas, lendo seu -email em relação a pessoa que doou o 3º filho... Sempre penso, o que leva uma mãe a doar todos seus filhos? Ou o que leva uma mãe a doar apenas um de seus filhos? Acredito que quando uma mãe entrega um filho, ela deve estar em um momento de grande desespero, ou infelizmente ela também ja foi abandonada. Eu nao fui abandonada apenas pela minha mãe biologica, fui abandonada por duas familias, a familia materna e paterna. Por isso quando penso na minha mãe biológica, logo tenho a certeza de que se tratava de alguem sem extrutura familiar alguma. O problema é que adoção (que para mim é um ato de amor e coragem, pois ainda há muito preconceito) dá a oportunidade de que a criança cresça em um lar, receba amor, atenção e se desenvolva, mas em contrapartida continuamos (isso é fato) a viver com a rejeição. E a esperança de um dia encontrá-la. O que nós filhos queremos (não todos é claro, mas a maioria) nossos pais adotivos, a sociedade, os amigos, o dinheiro, ninguém pode nos dar, apenas ela, a mãe biológica.
 
Infelizmente não temos o apoio necessário para encontrarmos nossa origem biológica. Graças a Deus existem comunidades, "Filhos adotivos do Brasil" que dá apoio, sites, blogs que falam da adoção, psicólogos, e a nossa fé.
 
É assim que eu vivo cada dia, buscando respostas, tentando entender, não é facil, penso em minha mãe biológica todos os dias, possíveis irmãos, avós, pai, minha história... E não vou desistir de encontrá-la.
Obrigada
abraços

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ser ou não ser parecido, eis a questão

Foto: Google

Vocês já se perguntaram porque há pais e filhos por adoção fisicamente muito parecidos?

Uma vez uma professora em meu quinto ano de faculdade em 2000, mãe adotiva, me falou que alguns estudiosos dizem que filhos se tornam parecidos com seus pais adotivos por imitarem gestos faciais na convivência, com isso a musculatura tende a funcionar do mesmo modo e os traços faciais acabam por ficar parecidos com os dos pais, chegando a tornar-se bastante semelhantes, como era o caso dela e da filha, que eram surpreendentemente muitíssimo parecidas.

Em 2008, como aluna especial do mestrado em Infância e realidade brasileira da UFBA - oportunidade que fez-me descobrir não querer seguir a carreira de mestre, muito menos na UFBA - ouvi da professora que há uma nova teoria em psicologia que explica o motivo de nos tornarmos parecidos com quem convivemos.
A explicação é que nosso organismo passa a funcionar de maneira parecida com pessoas que vivem no mesmo ambiente, pois são estimulados do mesmo modo ou de modo bem parecido, mesma alimentação, estímulos sensoriais, culturais, emoções, ou seja, vivência de um mesmo cenário. Mas é claro que dentro disso moram variáveis, pois somos seres diferente, que podem sentir e reajir de forma diferente do outro frente a uma mesma situação, não é tudo tão exato.

O que ocorre é que com essa convivencia tão próxima o nosso organismo passa a funcionar de forma parecida, em sintonia, sincronizada e se renova, se expressa de modo semelhante, o jeito de falar do outro influencia, um tom de voz é mais estimulado naquele ambiente, um repertório comportamental e tudo isso vai formando um conjunto de características comuns a todos que fazem parte daquele ambiente, do que é mais aceito, mais valoriado e a aparência física responde a tudo isso.

Já assistiu tanto uma atriz ou um ator que chegou a sentí-lo em seu próprio rosto, como se você fosse ele? Ou se percebeu falando perecido?

Um estudo em relação a isso foi feito. Colocou-se 10 mulheres convivendo numa mesma casa para verificar a veracidade desta hipótese. Um dos pontos verificados foi que as mulheres passaram a menstruar na mesma época do mês.

Não precisamos nem ir tão longe para testarmos isso. É só perguntar a mãe e filha que moram juntas. Elas provavelmente menstruam nos mesmo dias do mês. Coincidência? Não.

Schettini (1998) salienta que a semelhança aparece, também como uma aspiração tanto dos pais quanto dos filhos numa tentativa de reduzir a inexistência dos laços de sangue. A busca pela semelhança é um empreendimento mútuo de pais e filhos adotivos numa tentativa de selar, definitivamente, a ligação parental.

Ainda entendendo e concordando com este parágrafo de Schettini, acredito que devemos nos libertar do material e procurar olhar para aspectos mais sutis. Ficar procurando semelhanças físicas pode gerar muita ansiedade. Valorizando mais o sutil podemos realizar muito mais, pois o exercício do desapego nos liberta e nos torna mais maduros.

Por Cintia Liana

Referência:

Schettini, L. F.. Compreendendo o filho adotivo. Recife: Ed. Bagaço, 1998.