"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Restaurando a relação com os filhos e consigo mesmo

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Por Cintia Liana Reis de Silva

Muitos pais e filhos levam relações conflituosas adiante por anos a fio, passando por fases mais complicadas e outras mais tranquilas, mas a problemática está alí, criando uma atmosfera familiar sempre saturada. Mas será que as pessoas estão, de fato, preocupadas em olhar com cuidado para essas dificuldades a fim de restaurar suas relações com os filhos e com o mundo?

Restaurar relações familiares acaba por ser uma tarefa de muita coragem, sobretudo com os filhos, pois para travar e reconstruir uma relação de afeto com eles se deve reconciliar antes de tudo com a figura internalizada dos pais, com a própria criança ferida, com a imagem interna e regredida que temos das nossas figuras de base. Esse é o único caminho para a transformação de nossas relações atuais, afinal nós somos o produto do tipo de relação que tivemos com nossos pais nos primeiros anos de vida, num meio que é foco de neuroses para todos nós seres humanos que é a família, isso já é científico há muito tempo. E que estamos fortemente propensos e repetir os mesmos erros dos nossos genitores também é fato, Bowlby já provou há muito tempo, e o único jeito de mudar isso é fazendo um trabalho psicoterapêutico, nada adianta forçar de fora pra dentro, o trabalho é de dentro pra fora.

Algumas teorias mostram que muitos homens e mulheres quando não conseguem procriar e não encontram nenhuma explicação médica, orgânica, é pelo fato de inconscientemente terem muito medo do desconhecido que mora dentro deles, do que trazem da relação mal resolvida com seus pais e na relação atual com o parceiro. Como diz Bowlby, “é na hora de tornar-se genitor que abrem-se feridas intergeracionais e como dar o que não se teve?”.

Na hora de gerar, o corpo reage de acordo com o conteúdo da mente e é importante que emerjam perguntas como, “como posso ser mãe se não ‘aceito’ e não sei lidar com a mãe que tenho e, consequentemente, com a minha mãe internalizada? Como posso me tornar mãe se não conheço bem os conflitos que tenho com o modelo de mãe que me foi dado?” Muitas mulheres conseguem gerar depois que iniciam suas terapias, algumas também depois de provarem ser mães através da adoção e de enfrentarem seus medos e fantasias a respeito da maternidade.

Todos nós podemos nos beneficiar com um bom trabalho psicoterapêutico, olhar para a necessidade de mudanças, de paradigmas existenciais, tocar em crenças guardadas, responder de modo mais responsivo, diferenciado e maduro às demandas da vida, aprender, reaprender, romper com tabus familiares, afinal nenhuma família é perfeita. Vamos lá, coragem, força, todos podem buscar mudanças e ajuda, por amor aos nossos filhos, por amor a nós mesmos e para descobrirmos um amor maior ainda que podemos sentir pelos nossos pais.

Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia de casal e família. Ela vive e trabalha na Itália.

Artigo publicado no site Indika Bem no dia 07 de fevereiro de 2013.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Terapia individual sistemica (e Terapia familiar)

Mandy Lynne

Por Norma Emiliano

O indivíduo sente que está mal e não consegue entender nem superar o estado de paralisação em que se encontra. Percebe que precisa de ajuda, há o desejo de conhecer mais profundamente seus conflitos e caminhar em direção à “felicidade”.

Cada pessoa é única no que diz respeito ao seu temperamento, composição genética, percepções e necessidades. Contudo, a formação da identidade se processa através das interações familiares contínuas. Assim, o sentido que cada pessoa  atribui  à  vida, à  família, aos  relacionamentos, às  suas  expectativas, bem  como  à  sua auto-estima  estão relacionados à sua família.  O ser humano nem sempre tem consciência disto.

A Terapia Sistêmica em sua origem dirigia-se exclusivamente ao atendimento de famílias. Ao longo do tempo, com desenvolvimento teórico, técnico e clínico, a abordagem sistêmica foi se reestruturando para atender clinicamente o sistema individual.

No atendimento individual, as  histórias  familiares  fornecem o nexo dos  fenômenos e constituem  os  recursos terapêuticos. “O espelho familiar vai circulando através das diferentes gerações de uma família, constituindo-se em elo entre passado e futuro.” (Gomel).  Desta forma, parte-se de algo que é “interno” para o indivíduo e o relaciona com algo que acontece entre as pessoas. “Forças  transgeracionais  exercem uma influência crítica  sobre  as  relações intimas atuais.” (Framo).  Consideram-se todas as informações levando-se em conta três gerações da família.

O foco da terapia é favorecer o auto conhecimento e possibilitar a descoberta de saídas para o impasse em que o indivíduo se encontra (processo de autonomia e mudanças de pautas disfuncionais).

A reconstrução das histórias, a analise e definição dos padrões relacionais repetitivos, possibilitam uma visão mais ampla  do  problema  podendo  trazer à consciência fatores  que  permitam  a  elaboração  de  conflitos, perdão, resignificação de atitudes, etc.

São fundamentais o desejo de mudança e a disponibilidade  do  indivíduo, assim como, que  o  vínculo  terapêutico favoreça o processo de mudança e ajude-o a se “diferenciar”, ou seja: ter capacidade de manter separados os sistemas emocionais dos intelectuais, usar mais a razão do que os sentimentos.

As intervenções consideram as  relações  entre o indivíduo  e  os outros  e  dele consigo mesmo.  Trabalha-se com a identidade pessoal e a identidade familiar nas vertentes do pertencer e do diferenciar-se, ajudando o indivíduo a sair da massa indiferenciada da família e a poder construir seu caminho, reconhecendo outras possibilidades.

A separação  da  família  de origem  é  um  processo  gradativo  e  que  não  se  esgota.  A Terapia individual sistêmica, agregando ou não, os diversos membros familiares, é indicada quando é o indivíduo busca a terapia com objetivo de desenvolver consciência do seu padrão de funcionamento e deseja adquirir  aprendizagens  que  são necessárias no momento, ou de realizar as mudanças que se fizerem necessárias.

Referência bibliográfica
Framo J.L.(2002). Uma abordagem transgeracional à terapia de casal, à terapia de família famíliar e a terapia individidual. In M. Andolfi (org.)

Fonte: http://pensandoemfamilia.com.br/blog/terapia-de-familia/terapia-individual-sistemica/

domingo, 30 de outubro de 2011

Família não é tudo igual

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Por Anna Paula Uziel
 
No Brasil, em 2010, uma em cada quatro crianças tinha apenas o nome da mãe na certidão de nascimento, segundo reportagem de O Globo do Dia dos Pais, que noticiou também que, no Rio de Janeiro, 83.307 crianças encontram-se nesta mesma situação. As histórias relatadas demonstram o quanto a participação de pessoas envolvidas afetivamente com as crianças faz diferença na vida delas e aponta para os impactos legais e simbólicos da inclusão do nome do pai biológico ou do padrasto no documento de identidade dos filhos. Em alguns casos, mesmo com os genitores mortos, tem sido possível garantir bens e benefícios para as crianças e adolescentes que têm a paternidade reconhecida. Um projeto em Volta Redonda e outras iniciativas no país promovem, com apoio do Ministério Público, a inscrição do nome do pai no documento dos filhos.
 
É um direito da criança saber o nome do pai. Entretanto, garantir o direito da criança a sua filiação, fundamental para todos, não pode significar imprimir um único modelo de família.
 
A Constituição Federal de 1988 passou a não considerar mais o casamento entre um homem e uma mulher como condição necessária para a constituição da família. Acabou também com os diferentes estatutos que tinham os filhos, classificados como biológicos, adulterinos, ilegítimos, adotivos, entre outros. Desde 1990, com o Estatuto da Ciança e do Adolescente (ECA), o estado civil não é mais impedimento ou restrição à adoção. Assim, é possível um homem ou uma mulher decidir ser pai ou mãe solteiro/a.
 
Além disso, em muitas comarcas brasileiras tem sido possível a adoção de crianças por casais de mesmo sexo. Com a decisão recente do STF pelo reconhecimento da união estável homossexual isso tende a aumentar. Nesses casos, nas certidões de nascimento constam os nomes de duas mulheres ou de dois homens.
 
Com o avanço tecnológico dos últimos 20 anos, é cada vez mais possível prescindir de corpos e pessoas para a geração de crianças. Ainda que não representem estatisticamente um número expressivo, casais heterossexuais, casais de mulheres e mulheres solteiras conseguem realizar o sonho da maternidade e da paternidade através das técnicas de reprodução assistida. Acrescentam-se ainda decisões recentes de adoção unilateral: a companheira da mulher que faz a inseminação consegue adotar a criança gerada.
 
Por sua vez, a lei 11.294 de 2009 permite a adoção do nome do padrasto pelo enteado que reconhece nessa figura uma relação de filiação. Reconhecimento da parentalidade sócio-afetiva.
 
Todos esses exemplos apontam para a pluralidade das famílias. Toda vez em que um pai existir, ele deve ser procurado. Quando um pai novo aparecer, deve ser considerado. E quando for o caso de uma inseminação com material de doador anônimo ou de uma adoção feita por uma mulher ou por um casal de mulheres, elas não podem passar pelo constrangimento de serem interpeladas pela suposta falta do pai. O direito das crianças a um pai não pode se transformar em uma exigência de um determinado modelo de família único ou obrigatório.
 
Anna Paula Uziel - Professora do Instituto de Psicologia da UERJ e Pesquisadora do CLAM/IMS/UERJ
 
 
Postado Por Cintia Liana