"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Adoção e paternidade

Cacau Waller

No próximo domingo se comemora o dia dos pais e paternidade é uma relação afetiva que liga a criança ao outro, ao mundo externo. O pai, diz a psicologia, é quem dá o limite, o contorno do diferente. Hoje, garantem os psicólogos, os homens estão mais conscientes do seu papel e buscam cada vez mais atuar na construção psico-afetiva dos filhos, não apenas sendo o provedor do sustento como já foi no passado.

Esse desejo de cuidar se reflete também na adoção. A psicóloga Soraya Pereira, presidente da ONG Aconchego que há 15 anos trabalha com a adoção no Distrito Federal, diz que o homem, quando toma a decisão de adotar, ou ser pai, é mais consciente. "Ele sabe do seu desejo e da batalha para realizá-lo e o que temos percebido nesses 15 anos é um desempenho cada vez melhor e mais proveitoso desses pais."

Soraya explica que "hoje temos mais homens querendo exercer a paternidade e que buscam realizar este desejo." Nos encontros sobre adoção realizados pela ONG é cada vez maior o número de homens interessados no assunto - principalmente na adoção tardia, quando o candidato não está a procura de um recém nascido. Segundo Soraya "eles são mais tolerantes e investem no aprendizado da paternidade com muito carinho e disciplina."

ALGUNS EXEMPLOS
Dr. Benedito é médico e pai por adoção de João Paulo. E conta como a vida dele se transformou quando conheceu o filho: "Membro da Associação dos Voluntários, que criamos no HUB, certo dia fui instado por uma dedicada voluntária que visitasse uma criança na Enfermaria da Clínica de Cirurgia Pediátrica, já a seus cuidados. Lá chegando, veio à meu encontro uma criança correndo, trôpega, cabelos ralos, desnutrido, aparentando 1 a 2 anos, com colostomia, sonda na bexiga e arrastava uma bolsa coletora de urina, abraçou-me e disse: “papai”.Médico há 38 anos, àquela época já acostumado a ver maselas humanas, fui tocado pelo seu olhar que me convidava à uma grande e surpreendente viagem.

Ele transmitia-me: olhe bem nos meus olhos, olhe forte e veja eu tenho um problema, mas não sou um problema. Venha, siga-me, eu o levarei a um mundo por todos sonhado, mas habitado por poucos. Um mundo de tolerância, generosidade, solidariedade e compaixão. Mesmo com meu sofrimento eu sou feliz e gostaria que você também experimentasse as emoções de amor e felicidade. Eu não preciso de pena ou caridade, mas de uma oportunidade de me tornar uma pessoa e ser útil ao mundo no qual eu vivo.

Naquela época, aos 64 anos, vivendo sozinho, pai de quatro filhos já adultos e avô de seis netos, mesmo sabendo do enorme desafio não hesitei em aceitar aquele convite. Começou aí então, uma longa história de superação. Em vários momentos ele se confrontou com sua finitude, seu corpo esteve severamente enfermo. Vieram inúmeras intervenções cirúrgicas e muito, muito sofrimento. João Paulo viveu em 20 metros no corredor daquela enfermaria por 3 anos. " Hoje João Paulo é um adolescente de 15 anos e continua ensinando e aprendendo junto com o pai as grandes lições do amor incondicional. E o próprio médico é quem diz "Hoje decididamente não sou a mesma pessoa. A cada momento me convenço que acertei em aceitar aquele convite. Ele tem me ensinado o amor incondicional.

Amor incondicional não é um sentimento focal, direcionado à uma pessoa ou coisa, é difusa, passa-se a gostar mais da vida, a acreditar que a raça humana é viável, ele é terapêutico na medida em que cura nossos medos, dá verdadeiro sentido a vida, ele é transcendente, não é estático é dinâmico, gera anseio de evoluir através dele."

Deusdedit é pai de nove filhos. Quatro biológicos e cinco adotivos. Entre eles, gêmeos que chegaram em casa com quase 5 anos de idade. Hoje os meninos que têm 16 anos riem ao lembrar do quanto chamava a atenção aquela família tão diferente, com pais brancos e filhos brancos e negros. Separado, hoje Deusddedit vive com cinco dos nove filhos, três adotados e dois biológicos - mas os laços de sangue não fazem a menor diferença para eles. Geraldo vai ser pai no final do mês. Murilo será o primeiro menino de uma família também construída pela paternidade biológica e adotiva. Isadora, a filha mais velha tem 10 anos. Depois veio Maria Vitória, que chegou por meio da adoção. A menina que está com quase três anos tem deficiência auditiva. Mas para Geraldo também não existe diferença.

Benedito, Deusdedit, Geraldo são apenas alguns pais modernos que acreditam e exercitam com consciência e determinação o cuidar, tão fundamental na vida de uma criança. São homens interessados em acertar e fortalecer a filiação e a paternidade. E acreditam que a adoção é apenas uma outra maneira de ser pai!
SERVIÇO:

O Aconchego faz palestras sobre adoção, abertas à comunidade, todo segundo sábado do mês às 17 horas no Colégio Leonardo da Vinci - Asa Sul (703 Sul)O Grupo de Adoção Tardia (para quem pretende adotar crianças com mais de 2 anos de idade) se reúne duas vezes por mês. Na primeira sexta-feira, às 19 horas, na sede do Aconchego CLN 106 bloco A - subsolo - loja 38). E no terceiro sábado do mês, às 9 horas no Colégio Leonardo da Vinci da Asa Sul.A entrada é sempre gratuita.



Postado Por Cintia Liana

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