Cintia Liana em entrevista
Parabéns a todos os psicólogos, sobretudo àqueles que amam a profissão e se dedicam com a "alma".
Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado em 10 de março de 2010 no blog Fina Presença
Dar conselhos não é profissão, conselhos se dá de graça
Dar conselhos não é profissão, conselhos se dá de graça
Dando continuidade às reflexões sobre o que sofrem os psicólogos com a falta de informação do que seja tal profissão, tenho outra consideração a fazer.
Já ouvi a frase: “ela era a psicóloga e eu é quem estava dando conselhos”. Essa frase é tão estúpida que chega a ser engraçada.
Para dar conselhos basta abrir a boca (sei que existem pessoas que nos iluminam com suas palavras em determinados momentos) e para ser psicólogo se deve estudar 5 anos, fazer pós graduação, psicoterapia e outros tantos estudos para não cair na mediocridade.
Em primeiro lugar psicólogo não dá conselhos, “ele te dá uma lanterna, para você achar o caminho meio a escuridão que pode estar instalada em determinado momento, em determinada situação”.
Se essa pessoa soubesse um pouquinho da complexidade desta profissão jamais diria tal besteira.
Vou mostrar então um pouquinho desta complexidade.
Para ser um psicoterapeuta precisa-se ter em mente não só a necessidade da neutralidade, mas prioritariamente o entendimento de que neutralidade absoluta não existe. O psicólogo não é uma caixa preta, livre da subjetividade, ao contrário. Gonzáles Ray (apud SILVA, 2008) explica que ele faz parte do cenário. O que faz dele competente não é a neutralidade, é a consciência do lugar dele naquele cenário, como ele pode funcionar ali da melhor forma e ajudar o paciente a se dar conta do que é necessário para o seu crescimento.
É indicado que o psicoterapeuta faça terapia não só por que precisa experimentar o caminho da subjetividade, da transpessoalidade, sentir que existe um grande material inconsciente, mas também para saber qual é o seu lugar dentro de cada história, como cada história que ouve o toca, se toca, por que e como pode entender isso. Ou seja, além de ser uma busca da subjetividade é um reconhecimento da vivência desta subjetividade.
Existe a modalidade “aconselhamento psicológico” dentro da área, mas ainda assim não se trata conselhos. O profissional, no geral, auxiliará a pessoa a achar o caminho mais maduro, dentro de um sentido maior da situação, que será processado no sething terapêutico.
Na psicoterapia ninguém te dirá em como fazer nada e nem se baseará em tuas experiências pessoais, pois o psicólogo não faz isso, por mais que suas experiências o tenham ajudado a construir o seu self. O profissional conhece um conjunto de seus pressupostos teóricos, epistemológicos, é cuidadoso e sensível à sutileza das características singulares da subjetividade, onde podemos encontrar o passado e o presente e todos os aspectos da existência. (SILVA, 2008)
No sething o profissional pode auxiliar “na integração de elementos de sentido e de significação que caracteriza a organização subjetiva de um âmbito da experiência do sujeito, ação, construção, história, transações e trocas sociais e cultura como configurações subjetivas da personalidade. É um complexo de articulações e possibilidades contraditórias e processos de ruptura. Está ligado à diversidade de questões presentes no sujeito cotidiano, irregular.” (SILVA, 2008)
Ele terá consciência dos mecanismos de defesa do paciente, de algumas memórias anteriores relatadas, ajudará a fazer livres associações, a enxergar sua sombra, reforçar aspectos positivos, entender os padrões, te situar dentro dos grupos, dos sistemas, ver tua função e papéis em que está assumindo dentro da cada grupo e muito, muito mais.
Então por favor, dê conselhos, mas não desqualifique o psicólogo que te ouve. Por mais que sejam bem vindos em alguns momentos e que alguns amigos o façam com muito boa intenção, nos ilumine e que eles ajudem bastante, mas a verdade é que os conselhos falam muito mais da gente do que de qualquer outra coisa, mesmo que ajudem. Não pagamos por conselhos e nem precisamos estudar para aconselhar ninguém.
Com todo respeito às outras profissões, mas ainda temos que ouvir que manicure é meio psicóloga, aquela certa amiga também, a secretária, o taxista... O mundo é repleto de gente que quer ouvir uma história interessante, transformar algumas em fofoca e dizer o que acha para se sentir mais sábio. O mundo está cheio de “achismos” também. Para se ajudar alguém e atendê-la em seus questionamentos e anseios é preciso ter noção da grande responsabilidade disto, de respeito pela vida alheia e da necessidade de preparo adequado.
Se a profissão de psicólogo se resumisse em dar conselhos, ouvir e em ser experiente nem existiria faculdade para isso e nem as diversas especializações, era só esperar uma boa idade chegar e se intitular tal profissional.
Fecho com um pensamento de Hermann Hesse que resume tudo isso:
"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo.
Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma.
Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave.
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo."
Referência: (Meu livro)
Silva, Cintia L. R. de. Filhos da Esperança: Reflexões sobre família, adoção e crianças. Rio de Janeiro: Agbook, 2011.
Silva, Cintia L. R. de. Filhos da Esperança: Reflexões sobre família, adoção e crianças. Rio de Janeiro: Agbook, 2011.
Por Cintia Liana
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