Esse texto é excelente, mas eu alargaria as possíveis características apresentadas também às pessoas que não se sentiram amadas pelas mães como gostariam ou de acordo com as suas expectativas e não somente as filhas de mães "sem amor".
Sem contar que o ser humano deve passar a vida debruçado em "resolver", em "desemaranhar" a sua relação com a mãe (também com o pai), que é sempre uma relação "conflituosa" e isso não significa ser agressiva ou desarmoniosa.
******************************
Mãe e filha. Google imagens
Durante os anos em que
pesquisei e escrevi Mean mothers, eu
falei com outras mulheres sobre as nossas experiências em comum. A história de
cada mulher é diferente; talvez o que há de comum é a descoberta de que não
estamos sozinhas, que não somos as únicas meninas ou mulheres que tiveram mães
incapazes de nos amar. Os tabus sobre “desrespeitar” os pais e os mitos da
maternidade, que retratam todas as mães como amorosas, só servem para isolar as
filhas não amadas. Essa descoberta aumenta a mágoa e as feridas, mas não se
resume a isso.
O
seguinte catálogo do que pode acontecer com uma filha que cresce sem o amor e o
apoio de uma mãe não é uma pesquisa científica; não deve ser generalizado para
todos os casos. Novamente, eu não escrevi como psicóloga ou terapeuta, mas como
uma companheira de viagem.
Na
infância, a criança pega o primeiro vislumbre de si mesma no espelho que é o
rosto da mãe. Se a sua mãe for amorosa, o bebê se sentirá seguro e protegido;
ele aprende tanto que é amado quanto é amável. Essa sensação de ser amável,
digno de afeto e atenção, de ser visto e ouvido, torna-se o alicerce sobre o
qual ele construirá as suas mais profundas certezas-de-si, e fornecerá a
energia para o seu crescimento.
A filha de uma mãe fria –
emocionalmente distante, que não interage com o bebê, ou até mesmo crítica ou
cruel – aprende lições diferentes sobre o mundo e sobre si mesma. O principal
problema, é claro, é o quão dependente uma criança humana é da mãe para sua
nutrição e sobrevivência. O resultado disso é um apego inseguro, caracterizado
como “ambivalente” (a criança não sabe se quem vai aparecer é a mamãe boa ou a
má) ou “esquiva” (a criança quer o amor de sua mãe, mas tem medo das
consequências dessa busca). O apego ambivalente ensina à criança que o mundo
dos relacionamentos não é confiável; o apego evitativo configura um terrível
conflito entre as necessidades da criança, tanto pelo amor de sua mãe quanto
pela proteção contra os abusos físicos ou emocionais dela.
O ponto chave é que a necessidade
da criança pelo amor de sua mãe é uma força motriz primordial, e essa
necessidade não diminui com a indisponibilidade – coexiste com o terrível e
prejudicial entendimento de que a única pessoa que supostamente te amaria sem
condições, não o ama. A luta para lidar com isso é poderosa. Ela afeta muitas,
se não todas as partes do self – especialmente na área dos relacionamentos.
O trabalho de Cindy Hazan e
Philip Shaver (entre outros) mostrou que as experiências da primeira infância
foram altamente preditivas sobre os relacionamentos românticos e as amizades
feitas na vida adulta. Não vai surpreendê-lo afirmar que as feridas mais comuns
são aquelas relacionadas ao self e à área de conexão emocional.
Não devemos olhar para estas
feridas para se lamentar ou jogar toda a responsabilidade por quem somos nas
costas de nossas mães, mas para nos tornarmos conscientes delas. A consciência
é o primeiro passo para a cura de uma criança não-amada. Muitas vezes, nós
simplesmente aceitamos esses comportamentos em nós mesmos sem saber o seu ponto
de origem.
1. Falta de consistência
A filha não-amada não
sabe que é amável ou digna de atenção; ela pode ter crescido se sentindo
ignorada ou criticada. A voz da sua mãe continua ecoando na sua cabeça, dizendo
que ela não é inteligente, bonita, gentil, amorosa, digna… etc,. Aquela voz
materna internalizada continuará a minar suas realizações e talentos, a menos
que haja algum tipo de intervenção. Filhas, por vezes, falam sobre o sentimento
de que estão “enganando as pessoas” e expressam o medo de serem “descobertas”
quando alcançarem o sucesso no mundo.
2. Falta de
confiança
“Eu
sempre me pergunto”, uma mulher um dia me confessou, “por que alguém iria
querer ser meu amigo. Eu não posso evitar de pensar que há algum tipo de
interesse oculto”. Estes problemas de confiança emanam do senso de que os
relacionamentos são fundamentalmente não-confiáveis, e fluem tanto nas amizades
quanto nos relacionamentos amorosos. Como Hazan e Shaver relatam em seus
trabalhos, a filha ambivalente necessita de validação constante que a confiança
se justifica. Em suas palavras, essas pessoas “experimentam o amor como algo
que envolve obsessão, um desejo de reciprocidade e de união, altos e baixos
emocionais, atração sexual extrema e ciúme”. A confiança e a incapacidade de
estabelecer limites estão intimamente ligados.
3.
Dificuldade para impor limites
Muitas
filhas, presas entre a necessidade de atenção da mãe e a sua ausência, relatam
não conseguir impor limites em seus relacionamentos adultos. Uma boa parte das
filhas não-amadas relatam problemas em manter estreitas amizades femininas, que
são complicadas devido a questões de confiança (“Como vou saber se ela é
realmente minha amiga?”). Não são capazes de dizer “não” (“De alguma forma,
sempre acabo sendo um capacho, fazendo muito, e geralmente me acabo me
desapontando no final”), ou querem ter um relacionamento tão intenso que a
outra pessoa se afasta.
4.
Dificuldade para ver o self com precisão
Certa
vez uma mulher compartilhou o que aprendeu na terapia: “Quando eu era criança,
minha mãe sempre se focava em denunciar os meus defeitos e ignorava minhas
realizações. Depois da faculdade, eu tive vários empregos, mas, em cada um
deles, meus chefes se queixaram de que eu não estava me esforçando o suficiente
para crescer. Foi só então que eu percebi que eu estava me limitando, adotando
a visão que a minha mãe tinha sobre mim no mundo. “Grande parte disso tem a ver
com tudo o que você ouviu quando criança e internalizou. Essas distorções na
forma como vemos a nós mesmos podem se estender para todos os domínios,
incluindo a nossa aparência. (Quando eu vasculhei minhas fotos do tempo de
adolescência, olhei para aquela menina como a minha mãe, chamando-a de “gorda”.
Ela também me chamava de “mal amada”). Outras filhas relataram sentirem-se
surpresas quando obtiveram sucesso em alguma coisa, assim como são hesitantes
para tentar algo novo, de modo a reduzir a possibilidade de falha. Isto não é
apenas uma questão de baixa autoestima, mas algo bem mais profundo.
5. Atitudes
escapistas
A
falta de confiança ou o medo, por vezes, coloca a filha não-amada em uma
posição defensiva, de modo que ela evita se machucar por um mau relacionamento,
em vez de se motivar a encontrar um amor estável. Essas mulheres, na
superfície, podem agir como se quisessem estar em um relacionamento, mas em um
nível mais profundo, menos consciente, o escapismo é o seu motivador. O
trabalho de Hazan, Shaver e Bartolomeu confirma isso. Infelizmente, a evitação
impede que a filha não-amada encontre o tipo de relação amorosa que ela procura.
6. Ser
excessivamente sensível
Uma
filha não-amada pode se tornar muito sensível aos insultos, reais ou
imaginários. Um comentário aleatório pode carregar o peso de alguma experiência
da infância sem ela mesmo estar ciente disso. “Eu tive que me concentrar nas
minhas reações”, disse uma mulher, agora na casa dos quarenta anos. “Às vezes,
eu confundo o que é dito, como brincadeiras ou outra coisa, e acabo me
preocupando até me abalar e perceber que a pessoa realmente não quis dizer nada
do que havia imaginado”. Elas tendem a pensar demais e ruminar muito as
situações ruins.
7. Replicar
o vínculo com a mãe nos relacionamentos
Infelizmente,
tendemos a ser atraídos pelo que já sabemos – aquelas situações em que, apesar
de representarem momentos de infelicidade, não deixam de ser
“confortáveis”, por nos serem familiares. Isto, às vezes, tem o efeito de
replicar, de maneira não-intencional, a relação maternal. “Eu me
casei com a minha mãe, com certeza”, diz uma mulher: “Ele aparentava ser
completamente diferente da minha mãe, mas, no final, acabou me tratando da
mesma maneira. Como a minha mãe, ele alternava entre a
indiferença e a atenção, às vezes fazia críticas horríveis, depois demonstrava
alguma forma vaga de apoio”. Ela acabou se divorciando do seu marido e de sua
mãe.
Fonte: PsychologyToday traduzido
e adaptado por Psiconlinews
Nenhum comentário:
Postar um comentário