"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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sábado, 11 de abril de 2015

A maternidade e a paternidade imperfeita

Descubra porquê aceitar a própria imperfeição na criação dos filhos é o melhor caminho para uma educação saudável e relacionamentos mais próximos.

Google Imagens

Por Professor Felipe de Souza 

Olá amigos!
Ser mãe ou ser pai é uma das tarefas mais desafiadoras que podemos enfrentar na vida, por uma série de motivos: confundir e não conseguir separar o filho(a) de quem somos, ter expectativas e sonhos que não são os mesmos das crianças, tentar fingir ser melhor e mais perfeito do que realmente se é, disciplinar alguém mas sem tirar a liberdade de escolha, enfim, entre outros fatores não é algo tão simples quanto amar e deixar acontecer.
No consultório, quando atendemos uma criança, conseguimos ver claramente como os seus “problemas” (se forem reais) estão relacionados com as pessoas que dela cuidam. Alguns pais pecam por excesso de cuidado, outros são displicentes, enquanto outros simplesmente não sabem o que fazer ou mimam demais ou são controladores demais.
Por isso, sempre atendemos os pais ou responsáveis – ou pelo menos acompanhamos em consultas a parte o que eles estão fazendo, pensando e sentindo. Isto não significa culpar os pais pelo comportamento dos filhos. Significa, de novo, a enorme responsabilidade que é ter alguém sob os seus cuidados.
O ponto-chave é que o que se é, é mais influente do que o que se faz. Como no ditado, faça o que eu digo e não faça o que eu faço, temos que pensar um pouco melhor. Segundo Joseph Chilton Pearce:
“O que somos ensina a criança muito mais do que o que dizemos, de forma que temos que ser o que queremos que nossas crianças se tornem”
(Em inglês: “What we are teaches the child far more than what we say, so we must be what we want our children to become”).
E como podemos entender essa frase? Bem, as crianças são muito espertas. Muito mais espertas do que queremos admitir. Assim, elas percebem a essência (ou personalidade profunda) de alguém e conseguem distinguir rápido o que as pessoas são do que elas dizem.
E é justamente por saber – ou intuir isso – que muitos pais acabam ficando desesperados quando se dão conta de que não conseguirão fingir algo que não são no longo prazo. Dependendo do jeito que cada um lida com sua própria imperfeição, as consequências de entender esta realidade podem provocar muitas emoções diferentes. O que quero compartilhar com vocês neste texto é que não há necessidade de esconder a imperfeição. O que chamamos de vulnerabilidade, em vez de ser uma fonte de afastamento, pode ser justamente a ponte para criar uma relação digna e de confiança.
A maternidade e a paternidade imperfeita
Não sei se ficou claro o que disse. É óbvio que não somos perfeitos. Como não somos perfeitos e como o que somos vai influenciar nos nossos filhos, isto pode provocar uma espécie de dissonância cognitiva. Se não somos perfeitos e queremos que nossos filhos fiquem bem, como vamos fazer se a nossa imperfeição vai criá-los?
Existem saídas adequadas e inadequadas para este problema. Esconder ou fingir ou criar torpor não vai adiantar. Fugir ou procurar recalcar também não. O melhor caminho passa pela aceitação. Aceitação da própria imperfeição e da imperfeição do filho(a).
Evidente que isto parece ir contra toda um ramo de literatura de auto-ajuda que objetiva criar filhos perfeitos, saudáveis, bem adaptados. No fundo, o que se busca é um ideal do herói. O filho(a) que tem sucesso, glórias, é reconhecido, quiçá famoso. Aquele que vai dar orgulho e tudo mais.
É preciso saber separar o longo preparo de educação (investir em escolas e cursos e atividades extras; além de procurar criar uma visão correta das ações – ética e moral), de uma expectativa que visa tapar uma falta daquele que cria.
Em outras palavras, o fato de aceitarmos a própria imperfeição não significa que não vamos procurar fazer o melhor que pudermos. E também não significa deixar que o filho ou filha faça qualquer coisa que quiser. Porém, a aceitação da condição humana (não somos sobre-humanos ou super-heróis) retira um peso desnecessário, tanto para os pais como para os filhos.
A ideia central é ser quem se é e tentar melhorar – na medida do possível.
A união pela vulnerabilidade
É bastante comum o conceito de que os filhos veem os pais como heróis, colocando-os em um pedestal de admiração. Embora isto possa ser positivo, em virtude da identificação, também não exclui certos problemas, dos quais o menor é a frustração quando a imagem da perfeição se quebra.
Outro problema é que cria uma dessemelhança muito grande entre o genitor e a criança, uma sensação de ser inatingível ou uma hierarquia muito rígida, com falta de autonomia. Mas o que é ainda pior é que o ideal do herói é bastante perverso no que tange às relações. Um herói, por definição, não precisa de ninguém. Em sua perfeição suposta, nada lhe falta. Ou então, tem que esconder de todos o seu ponto fraco.
O nosso argumento aqui, seguindo o trabalho de Brene Brown (The Gifts of Imperfect Parenting), é que é justamente este ponto fraco – ou estes pontos fracos – que vão permitir uma maior união.
Observe os filmes.  Nos momentos em que alguém mostra toda a sua vulnerabilidade, toda a sua insegurança, os seu medos, temores e angústias é o momento no qual há maior proximidade. Por exemplo, estes dias vi “A Arte da Conquista”, com Freddie Highmore e Emma Roberts e na cena em que a mãe do George Zinavoy (Freddie Highmore) conversa com ele sobre as suas dificuldades no relacionamento e nas finanças, é o momento da virada. Não vou contar mais senão perde a graça.
Mas é simples de entender: nos momentos mais vulneráveis, quando deixamos cair a máscara da persona de perfeição é que nos abrimos para um nível de relacionamento mais profundo. Em resumo, um pai herói ou uma mãe heroina parece ótimo, porém, eles não precisam de ninguém, nem de uma relação mais próxima com seus filhos. O pior é que escondem os seus pontos fracos, o que é percebido pela criança com facilidade. De maneira que a relação, baseada na ideia de perfeição, acaba sendo estruturada em uma mentira fundamental.
Em resumo, temos dois polos:
Maternidade e paternidade que quer perfeição: “Eu sou perfeito(a). Logo, seja como eu e seja perfeito(a). Falhas não serão toleradas”.
Maternidade e paternidade imperfeita: “Eu não sou perfeito(a). Mas procuro melhorar a cada dia, nisso, nisso e naquilo que tenho dificuldade. Espero que você (filho, filha) procure fazer o seu melhor. Quando precisar, nas suas dificuldades, estarei aqui”.
Referência bibliográfica
BROWN, Bene. The Gifts of Imperfect Parenting. Audiobook em inglês (recomendo!)
BROWN, Bene. A coragem de ser imperfeito. Rio de Janeiro: Sextante, 2013
Fonte: https://www.psicologiamsn.com/2015/04/maternidade-e-paternidade-imperfeita.html

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Bichos: por que tê-los?

Foto: Google Imagens


Por Bruna Menegueço, Cíntia Marcucci e Fernanda Carpegiani

Pode ser gato, cachorro, papagaio, peixe, periquito. Não importa. Conviver com um animal de estimação é um ensaio para lidar com a vida. Nas próximas páginas, você vai descobrir por que a infância fica muito mais gostosa com um bicho ao lado.

As 10 razões definitivas para você ter um amigo de estimação
Mamãe, papai e Totó... Segundo o veterinário Marty Becker, autor do livro O Poder Curativo dos Bichos (Ed. Bertrand Brasil), no vocabulário inicial infantil, cachorro e gato estão no mesmo nível de papai e mamãe – portanto, se o seu filho falou “au-au” primeiro que “mamá”, não precisa entrar em crise. E tem mais: entre as primeiras 50 palavras que uma criança diz, sete referem-se a animais de estimação. De onde será que vem toda essa magia que une pessoas e animais? Ora, ora, diante de tantos benefícios que eles trazem à nossa vida, fica fácil descobrir. Veja só: ter um bicho...

Aumenta o senso de responsabilidade
Eles são fofos e estão sempre prontos para brincar, mas precisam de cuidados. É bom que você saiba que essa parte vai ficar com você, mas dá para combinar que seu filho será responsável por algumas tarefas – as mais legais e divertidas –, como a troca de água e as brincadeiras diárias, por exemplo. Até ele se acostumar, você terá de lembrá-lo, como deve fazer sempre para que lave as orelhas no banho. É assim que ele vai entender que, se não cumprir com a sua responsabilidade, o bicho poderá sofrer.

Facilita a socialização
A companhia de um animal dá à criança a oportunidade de ensaiar para o contato com as pessoas e a gente não está falando aqui de tratar bicho feito gente. Juntos, eles aprenderão a respeitar o espaço um do outro. Enquanto o bicho estiver dormindo ou comendo, é fundamental que você ensine seu filho a deixá-lo quieto, caso contrário ele pode ficar nervoso. Afinal, quem não ficaria se fosse cutucado no melhor do cochilo? Se a criança for contrariada pelo pet, pode ser uma boa maneira de aprender a lidar com frustrações. Durante um passeio, muitas pessoas vão se aproximar para fazer carinho. Cachorro com criança, então, é combinar dois fatores atrativos enormes para começar um papo no parque. E seu filho vai interagir, você vai ver!

Fortalece o sistema imunológico
Não faltam pesquisas para provar o quanto essa informação é verdadeira. Um levantamento de estudos feito por pesquisadores do departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP) confirma a melhora da imunidade de bebês e crianças. Segundo os cientistas, a companhia de um animal reduz as chances de desenvolver resfriados, problemas estomacais e dores de cabeça. Tudo isso acontece só de acariciar um bicho. Os níveis de imunoglobulina A, um anticorpo presente nas mucosas que evita a proliferação viral ou bacteriana, aumentam, fortalecendo o sistema imunológico. Saúde à base de carinho. Em outro estudo, cientistas da Universidade Warwick, na Grã-Bretanha, afirmaram que crianças se recuperam mais rápido de doenças rotineiras quando têm um pet em casa.

Previne alergias
Sim, é verdade! Um exemplo clássico são os bebês que vão para a creche muito cedo. Eles ficam mais gripados ou têm mais infecções de garganta. Mas, por outro lado, o organismo desenvolve um processo imunológico que, mais tarde, reagirá melhor ao entrar em contato com esses fatores. Com a alergia é a mesma coisa. Se o seu filho tiver contato com o animal desde pequeno, o organismo passará a tolerar mais as reações alérgicas. Um estudo coordenado por Joachim Heinrich, cientista do Instituto de Epidemiologia de Munique, na Alemanha, comprovou a informação. Na pesquisa, 3 mil crianças foram monitoradas desde o nascimento até os 6 anos. Exames de sangue mostraram que aquelas que conviviam com cachorro dentro de casa apresentavam menos risco de desenvolver sensibilidade a pelos, pólen, poeira e outros agentes alergênicos inaláveis do que crianças sem cães.

Trabalha a autoestima
Quando percebe que o animal não precisa ser perfeito para ser amado – mesmo se é um cachorro que baba em tudo, ou um gato caçador que traz insetos de brinde para o dono –, a criança ganha mais um espaço para exercitar seus sentimentos. Assim, fica fácil para ela aceitar melhor seus erros e entender que sempre será amada pelos pais e pela família. No contato com os bichos, elas deixam os medos e as dificuldades de lado e dão risada, relaxam e se tornam mais tolerantes.

Torna seu filho mais inteligente
Uma pesquisa feita pelo norte-americano Robert Poresky, professor de desenvolvimento humano e estudos de família da Universidade Estadual do Kansas, mostra que as crianças que têm um pet possuem um desenvolvimento cognitivo, social e motor superior à média. Outro estudo norte-americano, dessa vez da Universidade Davis School de Medicina Veterinária, mostrou que os cães podem ajudar no aprendizado da leitura. Faz todo sentido. Quando estão aprendendo coisas novas, em especial na etapa de alfabetização, é fundamental que as crianças tenham alguém amoroso ao lado, que não olhe feio se errarem. E o máximo que o cachorro pode fazer é abanar o rabo ou comer um pedaço do livro para dar uma animada na brincadeira.

Desenvolve a capacidade afetiva
A companhia de um bicho mexe com o emocional, principalmente na infância, e faz nascer e crescer novos sentimentos. Cumplicidade, amizade, respeito, paciência e amor, do jeito mais sincero possível, e de ambas as partes.

Reduz o estresse
Um animal de estimação faz (muito) bem ao coração também. Enquanto abraça, brinca e acaricia o pet, o organismo diminui os índices de cortisol, hormônio do estresse, e aumenta os de serotonina, substância responsável pela sensação de bem estar. Resultado: menos tensões, pressão controlada e menor risco de sofrer problemas cardiovasculares. E antes que você pense: “Socorro, meu filho tem tudo isso?”, acalme-se. São mesmo coisas de adulto, mas que podem ser prevenidas desde bem cedo, o que não é nada mal.

Incentiva a fazer exercícios
Se o seu filho já tem mais de 5 anos, levar o cachorro para passear vai ser um dos pontos altos dessa companhia. Além de ser a desculpa que você precisava para tirar ele da frente da TV e exercitar mais do que os polegares no joystick. Uma pesquisa da St. George’s University, de Londres, Inglaterra, mostrou que nas famílias com cão as crianças dão 4% mais passos diariamente e os adultos 25%(!) a mais do que nas que não têm um bicho. Ou seja: é bom para todos em casa se mexerem mais e ficar mais saudáveis.

Ensina sobre a morte
Muitas vezes, o contato com o animal é a experiência mais próxima da natureza que a criança vive. Quando o bicho morre, ela passa pelo luto e é capaz de entender o ciclo da vida. Aproveite esse momento para conversar sobre a morte. A melhor maneira de seu filho entender é explicar de uma maneira simples. Fale a verdade, mas na hora de responder sobre a tradicional pergunta: “Para onde ele foi?”, você pode usar a criatividade. Muitas acham que o pet virou uma estrela ou que foi para o céu... Nessa hora, o simbolismo é fundamental porque a criança vai entender o que aconteceu à maneira dela.


Postado Por Cintia Liana

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Família e o processo de diferenciação na perspectiva de Murray Bowen

Foto: Google Imagens


Elizabeth Medeiros de Almeida MartinsI; Elaine Pedreira RabinovichI; Célia Nunes SilvaI,II

I Universidade Católica do Salvador, Brasil
II Universidade Federal da Bahia, Brasil

(...)
Bowen foi um estudioso, investigador e professor considerado um teórico inovador da terapia de família. Seu arcabouço teórico concentra-se em torno de duas forças vitais que se contrabalançam: aquelas que levam a pessoa à união com sua família e aquelas que a impulsionam para se libertar rumo à individuação. Quando ocorre um desequilíbrio dessas forças em direção à união, ocorre fusão, aglutinação e indiferenciação. Essas noções estão imbricadas, no estudo da complexidade da formação emocional do indivíduo, em torno dos conceitos de massa indiferenciada do ego; diferenciação do self; processo de projeção familiar; processo de transmissão multigeracional; posição entre irmãos; e triângulo, que apresentaremos a seguir (Bowen, 1989; Kerr & Bowen, 1989). São esses conceitos que exporemos a seguir, baseados no autor e em autores que o complementam.

Bowen e sua equipe, a partir de estudos sobre a esquizofrenia, em 1954, observaram um apego simbiótico do paciente à sua mãe, ampliando essa hipótese para os demais membros da família. Desse olhar para a família e para o seu processo emocional, Bowen construiu seus principais conceitos.

O conceito de massa indiferenciada remete ao de fusão ou aglutinação, termo utilizado por Minuchin (1982) para se referir a um estilo transacional caracterizado por um “sentimento de pertencimento que requer uma máxima renúncia de autonomia” (p. 60). Essa força de aglutinação em permanente tensão, exposta aos fatores externos que também exercem influência nas relações familiares, existe em todas as famílias, em variados graus de intensidade. O estresse originado de diferentes fatores psicossociais aumenta a força de união que age sobre a massa indiferenciada do ego, propiciando uma maior aglutinação de seus membros.

Foley (1990) refere-se a três maneiras utilizadas pelo casal para controlar a intensidade da fusão do ego com a massa do ego da família. A primeira se expressa pelo conflito conjugal. A segunda é marcada pelo aparecimento de uma disfunção em um dos cônjuges – assim, um deles cederá ao outro, tornando-se dependente. A terceira maneira usada pela díade conjugal, visando aliviar a situação estressante, é a transmissão da tensão para um ou mais dos filhos, que apresentará algum sintoma.

Toda criança nasce fusionada, indiferenciada em relação à sua família. Durante seu desenvolvimento, sua principal tarefa será diferenciar-se para alcançar autonomia e independência. Na família, as crianças experimentam tanto o pertencimento quanto a diferenciação. Pertencer significa participar, saber-se membro desta família, partilhar as suas crenças, valores, regras, mitos e segredos. Diferenciar refere-se à afirmação de sua singularidade, à sua individuação e ao seu direito de pensar e expressar-se independentemente dos valores defendidos por sua família.

Segundo Nichols e Schwartz (1998), a diferenciação do self, pedra fundamental da teoria de Bowen, é ao mesmo tempo um conceito intrapsíquico e interpessoal. “A diferenciação intrapsíquica é a capacidade de separar o sentimento do pensamento” (p. 312). Kerr e Bowen (1988) denominaram reação à resposta impulsiva.

A escala de diferenciação do self ajuda a compreender o processo de amadurecimento do indivíduo, as respostas significativas, o funcionamento e as disfunções ocorridas nos processos relacionais. Essa escala, de uma importância teórica mais do que classificatória, é dividida em quatro quadrantes: no quadrante inferior, a diferenciação do eu é mínima. As pessoas que funcionam nessa categoria vivem em um mundo de sentimentos e são quase inteiramente dependentes das demais. São pessoas incapazes de distinguirem a emoção da razão. São extremamente reativas e apresentam dificuldades relacionais. No segundo quadrante (25-50), estão aquelas pessoas ainda pobremente diferenciadas, mas capazes de funcionarem de maneira limitada. São pessoas facilmente influenciadas, pois não têm opiniões próprias. No terceiro quadrante (situado entre 50 e 75), estão pessoas que têm opiniões bem diferenciadas, conseguem assumir a “posição eu” e apoiar-se menos no julgamento dos outros. No quarto quadrante (situado entre 75-100), estariam aquelas dotadas de uma plena maturidade, que funcionariam com alto grau de independência. São pessoas seguras de si, com opinião bem definida, embora não necessitem expressá-las de forma dogmática ou rígida. Assumem responsabilidade por seus atos, são tolerantes a opiniões divergentes e não entram em debates para provar que estão certas.

A família é considerada uma unidade emocional. Segundo Papero (1998), “seus membros acham-se ligados uns aos outros de tal maneira que o funcionamento de cada um automaticamente afeta o dos demais” (p. 72). O sistema emocional responde de acordo com forças externas à família, incluindo a família ampliada, situações de trabalho e fatores sociais. “Para um indivíduo ou grupo em particular, as seqüências comportamentais e interacionais que refletem o sistema emocional possuem uma característica de repetição” (Papero, 1998, p. 74).

O sistema emocional humano é passível de ser influenciado pela ansiedade crônica, (Kerr & Bowen, 1988), um estado ou condição crônica de existência, independente de qualquer situação ou estímulo, gerando o apego ansioso, “uma forma patológica de ligação orientada pela ansiedade e pela emocionalidade que subvertem a razão e o autocontrole” (Nichols & Schwartz, 1998, p. 310).

Nichols e Schwartz (1998) ressaltam que o apego emocional é um dos aspectos fundamentais da diferenciação. A dinâmica básica subjacente ao apego emocional seria a alternância entre ansiedade de separação e de incorporação. “A fusão emocional entre a mãe e o filho(a) pode assumir a forma de um vínculo dependente afetivo ou uma luta conflituosa” (p. 314).

Projeção familiar é o processo pelo qual os pais transmitem aos filhos sua imaturidade e sua indiferenciação conforme expressas no relacionamento (Kerr & Bowen, 1988). A projeção é diferente do “cuidado” e se caracteriza por uma preocupação ansiosa, confusa e excessiva com um ou mais filhos ou filhas. O filho escolhido, objeto da projeção dos pais, torna-se o mais ligado a eles e, conseqüentemente, aquele com um nível mais baixo de diferenciação do self. Esse filho busca ativamente o papel de bode expiatório e “apesar disso, a ‘vítima’ recebe seu carinho, ainda que negativo” (Foley, 1990, p. 105).

A mãe transmite sua ansiedade ao transferir para o filho uma carga emocional de suas frustrações, ao invés de estimulá-lo no seu processo de diferenciação. Dessa forma, prejudica emocionalmente o filho, que se torna infantilizado, desenvolvendo aos poucos sintomas de imaturidade psicológica.

O processo de transmissão multigeracional, também exposto por Kerr e Bowen (1988), corresponde à passagem do processo emocional da família através de várias gerações, tanto do marido quanto da mulher. O fluxo de ansiedade de uma família pode ser tanto vertical quanto horizontal.

O fluxo vertical em um sistema inclui padrões de relacionamento e funcionamento que são transmitidos para as gerações seguintes de uma família principalmente através do mecanismo de triangulação emocional... questões opressivas familiares com os quais nós crescemos... O fluxo horizontal no relacionamento familiar inclui a ansiedade produzida pelo estresse na família conforme ela avança no tempo, lidando com as mudanças e transições do ciclo de vida familiar. (Carter & Mc Goldrick, 1995, pp. 11-12)

Eventos estressantes podem levar a família à disfunção por várias gerações posteriores. Retratam uma situação de aumento das tensões familiares eventos tais como: morte prematura, nascimento de uma criança deficiente, enfermidade, acidente, entre outros. Segundo Papero (1998), aplica-se o conceito de processo de transmissão multigeracional “ao modo pelos quais os processos de projeção familiar, repetidos de geração em geração durante longos períodos de tempo, levam diferentes ramos de uma família a alcançar níveis mais baixos ou mais altos de diferenciação” (p. 87).

A escolha do parceiro no matrimônio está relacionada ao nível de diferenciação do eu. A pessoa tende a escolher o parceiro com nível de diferenciação semelhante ao seu. Os vários filhos podem ter níveis diversos de diferenciação, mas não muito distantes daqueles alcançados pelos pais.

É importante a posição da pessoa na família de origem e nas relações futuras com o cônjuge (Bowen, 1991). A posição fraterna pode predizer algumas dificuldades conjugais. Aqueles que contraem matrimônio com cônjuge da mesma posição fraterna terão mais dificuldades de adaptar-se ao casamento do que aqueles que se casam com cônjuge de posição complementar. A relação entre irmãos é considerada “o primeiro laboratório social, no qual as crianças podem experimentar relações com iguais. Dentro desse contexto, as crianças apóiam, isolam, escolhem um bode expiatório e aprendem umas com as outras” (Minuchin, 1982, p. 63).

O conceito de triangulação se refere a um sistema inter-relacional entre três pessoas, envolvendo sempre uma díade e um terceiro, que será convocado a participar quando o nível de desconforto e de ansiedade aumentar entre as duas pessoas. Uma delas, então, buscará uma terceira para aliviar a tensão. Os triângulos aparecem no processo emocional interacional que se estabelece no sistema familiar e transgeracional. Calil (1987) considera o triângulo como “um bloqueador das emoções de um sistema” (p. 103).

Sair das triangulações orienta o outro a um relacionamento em nível superior de maturidade. Os triângulos, para Kerr e Bowen (1988), “são para sempre” (p. 135). Em situações de menor tensão, permanecem latentes, reaparecendo quando os conflitos recrudescem. Assim, os triângulos são susceptíveis à ansiedade, tornando-se mais ou menos ativos em situações de tensão. Nesse sentido, o processo de triangulação constitui um mecanismo de resposta que acontece nos processos relacionais ante situações estressantes.

Na família, observam-se vários triângulos que se formam e se desfazem de forma repetitiva. Os triângulos não são fixos nem estáticos, sofrendo deslocamentos, a depender do nível de ansiedade e da dinâmica interna da família. É importante ressaltar que estão ligados a uma unidade emocional mais ampla, de onde também recebem influência, denominada triângulos entrelaçados, onde “a ansiedade, incapaz de ser contida dentro de um triângulo, se expande para um ou outro triângulo” (Kerr & Bowen, 1988, p. 139). Esses autores denominam esse processo de ativação de triângulos imbricados, que podem ser de difícil observação.

Para Andolfi e Ângelo (1988), compreender a entrada de um terceiro elemento nas díades em situação de conflito “acrescenta uma dimensão desconhecida à interação, viabilizando alianças, além de uma nova relação de inclusão-exclusão... como também pode estimular a manifestação de recursos individuais ocultos e a evolução do sistema” (p. 33).

O entendimento dos processos de triangulação está ligado à compreensão de como se dá o processo de comunicação, como a partir da linguagem não-verbal – tom de voz, mudanças na postura corporal e outros sinais não verbais – que podem ou não ativar os triângulos.

A teoria boweniana enfatiza que, para compreender a família, é necessário desvelar o que acontece nas gerações que a precederam e ampliar o olhar para a família extensa, elucidando vários nós que, no estudo estritamente da família nuclear, podem permanecer obscurecidos. Cada indivíduo:

é parte de uma rede de relações que envolvem as respectivas famílias de origem.... Através de interações que permitem a cada pessoa experimentar o que é e o que não é admissível na relação, é criada a base de uma unidade sistêmica. (Andolfi, Ângelo, Menghi, & Corigliano, 1984, p. 18)

Não existem famílias isoladas, e sim uma complexidade social, econômica e política em que essas famílias estão imbricadas (Rabinovich, 2002). Pensar a diferenciação do self familiar atualmente requer entender as novas configurações da família em suas várias expressões do processo emocional societário. Note-se que o pólo de tensão nas famílias aumenta, complexifica-se e expande-se rapidamente, mediado pelos meios de comunicação e pelos avanços tecnológicos que ocorrem na sociedade contemporânea.

As famílias constituídas hoje passam por mudanças sucessivas, de modo que, “se reconhecermos que há novos e diversos tipos de famílias, também deveríamos, no mínimo reconhecer que o ciclo pelos quais elas passam também pode ser diferente” (Molina-Loza, 1998, p. 69). Na medida que há uma complexificação dos modos de vida devido a vários estresses, como o desemprego e a exclusão, Andolfi e Nichilo (1991, p. 11) consideram que a retomada das gerações anteriores, conforme proposto por Bowen, encontra uma variável não prevista por ele – o tempo – quando os valores das gerações anteriores não são mais compreendidos pelas gerações atuais.

Assim, compreender o limite da teoria de diferenciação do self passa pela compreensão da forma como as famílias estão estruturadas nos dias atuais.

Exporemos, a seguir, o estudo de caso a partir do qual os conceitos acima expostos serão apresentados e elaborados.

1 Dissertação apresentada à Universidade Católica do Salvador, em 2005, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Família na Sociedade Contemporânea. Orientação de Elaine Pedreira Rabinovich. Co-orientação de Célia Nunes Silva.
2 COFAM - Pertencente ao Movimento Familiar Cristão (MFC) de Salvador-BA, onde funciona o Curso de Especialização e Formação em Terapia de Família da Universidade Católica do Salvador (UCSAL).

Elizabeth Medeiros de Almeida Martins, Assistente Social, Docente da Universidade Católica do Salvador (UCSAL). Endereço eletrônico: elizabeth.martins@hotmail.com
Elaine Pedreira Rabinovich, Docente da Universidade Católica do Salvador (UCSAL). Endereço para correspondência: Rua Maranhão, 101. CEP 01240-001 - São Paulo-SP. Endereço eletrônico: elainepr@clas.com.br
Célia Nunes Silva, Médica, especilaista em terapia familiar. Docente da Universidade Federal da Bahia e da Universidade Católica do Salvador. Endereço eletrônico: celianunessilva@yahoo.com.br


Postado Por Cintia Liana

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Fofocando com os brinquedos

Foto: Luz Art. Google Imagens.

"Um fato curioso: nós acreditamos mais nas coisas que ouvimos acidentalmente do que nas que são ditas na nossa cara!

Com a criança por perto, comece a cochichar alto algum elogio a ela para outra pessoa (a avó, a tia, o ursinho de pelúcia ou finja falar ao telefone). Não olhe para a criança quando fizer isso. Comece falando alto, mas depois diminua o tom de voz, faça uma concha com as mãos como se estivesse falando um segredo.

Converse com uma boneca, por exemplo e pergunte a ela: "Hello Kitty, a Fulana pode jantar sem lavar as mãos?" Encoste o ouvido na boca da boneca "O QUÊ? Ah... obrigada, ela precisa mesmo lavar, né?" Depois "olha, eu falei com a Hello Kitty e ela disse que quer que você lave as mãos bem rápido e depois me dê um abraço".

Isso faz as coisas mais lentas para você, mas por outro lado ajuda a manter um ambiente leve e positivo."


Organização e compilação: Andréa Goulart


Por Cintia Liana

domingo, 1 de agosto de 2010

Criando seus contos de fadas

Foto: Google Imagens

"Os contos de fadas clássicos, como Chapeuzinho Vermelho foram criados para entreter e ensinar às crianças daquela época lições importantes, como não falar "lobos" estranhos.

A vantagem desta técnica é que seu filho nem vai notar que está aprendendo uma lição.

Um conto de fadas tem 3 partes:

* Introdução: use todos os sentidos da criança. Descreva o que a patinha vê, como cheiram as flores, a roupa dela, o que ela comeu de almoço, o sol quente no rosto dela, etc. A criança ficará interessada e prestará atenção.

* Meio: é aí que você ensina a lição. O que aconteceu com a patinha que não queria tomar banho ou que bateu no irmãozinho.

* Final Feliz: é necessário haver um final feliz, dá à criança uma sensação de ordem e segurança saber que a estória sempre termina com a patinha voltando para casa cheia de abraços, beijos, seu jogo favorito e que ela "viveu feliz para sempre".

Dicas para seus contos de fadas personalizados:

* Os personagens principais devem ser animaizinhos felizes, como Rui, o Ratinho ou Pepeu, o Peixinho.

* Evite usar crianças nas suas estórias. Elas podem fazer as coisas parecerem muito realistas ou assustadoras.

* Use sua voz dramaticamente: Fale alto ou cochiche quando você quer a atenção da criança ou para ajudá-la a lembrar-se da estória.

* Adicione ajudantes, como fadas, anjos, um sapo falante ou uma árvore amiga que vem sempre ajudar o herói da estória.

* Inclua um animal reclamão, teimoso, desobediente que sempre leva a pior (o mundo infantil é cheio de coisas que são ao mesmo tempo gostosas, mas perigosas).


Organização e compilação: Andréa Goulart


Por Cintia Liana